MNE | China e Europa devem rejeitar uma nova Guerra Fria

O chefe da diplomacia chinesa, Qin Gang, defendeu na sexta-feira que a China e a Europa devem “rejeitar a mentalidade da Guerra Fria”, numa altura em que a União Europeia (UE) discute o reajustamento da relação com Pequim.

“Hoje em dia, algumas pessoas estão a insistir na narrativa da democracia contra a autocracia e até a falar de uma nova Guerra Fria”, disse Qin numa conferência de imprensa durante uma visita a Oslo.

Para Qin, uma nova Guerra Fria terá um resultado “ainda mais desastroso” do que a anterior, numa referência à divisão entre o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco de leste, sob a liderança da União Soviética.

Uma nova Guerra Fria “prejudicará seriamente as relações e a cooperação entre a China e a Europa”, avisou Qin, citado pela agência francesa AFP.

Os comentários de Qin em Oslo surgiram numa altura em que os chefes da diplomacia da UE se reuniram em Estocolmo, na vizinha Suécia, para falar a uma só voz contra a China.

“Temos de reajustar a nossa posição em relação à China”, disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, na abertura da reunião.

Ucrânia, Taiwan, direitos humanos e a situação da minoria muçulmana uigur na China são algumas das questões que opõem Pequim e o Ocidente.

A UE não defende especificamente uma dissociação, mas propõe uma diminuição do risco nas relações com a China para evitar tornar-se demasiado dependente do gigante asiático (ver caixa).

Visita calculada

Qin Gang termina em Oslo uma digressão pela Europa que incluiu Alemanha e França.

“Sinto que a Europa tem um desejo urgente de aumentar a coordenação e a comunicação com a China e de desenvolver uma cooperação mutuamente benéfica”, afirmou, em jeito de balanço da visita, segundo a agência espanhola EFE.

Qin acrescentou que “enquanto a Europa e a China se mantiverem empenhadas na paz para a coexistência, permanecerem independentes, se empenharem na cooperação mútua e mantiverem o diálogo e a consulta”, podem “ultrapassar as dificuldades e alcançar um crescimento sustentado”.

A visita de Qin ocorre também numa altura em que a UE está a discutir um novo pacote de medidas contra a Rússia, que inclui empresas da China e de Hong Kong.

Durante a visita à Alemanha, na terça-feira, Qin Gang advertiu a UE de que a China tomará medidas de retaliação se o bloco europeu sancionar empresas chinesas.

Os aliados ocidentais de Kiev, incluindo a UE, têm imposto sucessivos pacotes de sanções à Rússia desde que invadiu a Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022. A China tem assumido uma posição de neutralidade no conflito, apesar das relações próximas com a Rússia.

Contra excessos

O chefe da diplomacia europeia anunciou na sexta-feira que a maioria dos Estados-membros concordou em acabar com “dependências” excessivas da China, mas rejeitou que a União Europeia (UE) esteja a caminhar para o proteccionismo económico. “Posso anunciar que a generalidade dos ministros gostou do documento que apresentámos, com as linhas gerais da recalibração da nossa relação com a China […], de acabar com as dependências quando são grandes demais e, por isso, um risco”, disse Josep Borrell, no final de uma reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, em Estocolmo, na Suécia.

A prioridade dos 27, sustentou o alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros, tem de ser “equilibrar as balanças comerciais” com Pequim. Contudo, Josep Borrell assegurou que a União Europeia “não está a caminhar em direcção ao proteccionismo”.

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