Ucrânia | China pede respeito à “integridade territorial de todos os países”

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O embaixador chinês nas Nações Unidas (ONU) pediu ontem, perante o Conselho de Segurança, respeito pela “integridade territorial de todos os países”, numa reunião sobre os referendos de anexação levados a cabo pela Rússia na Ucrânia.

“A China tomou nota dos últimos desenvolvimentos da situação na Ucrânia” e “a nossa posição” é “clara e consistente, ou seja, que a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas”, disse Zhang Jun, num momento em que Pequim é acusado pelo ocidente de complacência face à invasão russa da Ucrânia.

A posição da China foi registada numa reunião do Conselho de Segurança para abordar as crescentes tensões resultantes da decisão de Moscovo de mobilizar parcialmente as reservas do exército e realizar referendos para anexação dos territórios ucranianos ocupados.

Na semana passada, à margem da Assembleia-Geral das Nações Unidas, os chefes da diplomacia chinesa e ucraniana já se haviam encontrado e Pequim já havia pedido respeito pela “integridade territorial de todos os países”.

Contudo, no encontro de ontem, Zhang Jun afirmou que o isolamento e as sanções à Rússia só “levarão a um beco sem saída”. Na reunião, a embaixadora norte-americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield apresentou uma resolução condenando a Rússia pela realização dos referendos.

“A Rússia começou esta guerra, e espero que cada membro deste Conselho faça a coisa certa ao defender o direito internacional e a Carta da ONU, pedindo à Rússia que acabe com isso agora “, disse a embaixadora.

“É por isso que apresentaremos uma resolução condenando estes falsos referendos, apelando aos Estados-Membros para que não reconheçam qualquer alteração do estatuto da Ucrânia e obrigando a Rússia a retirar as suas tropas da Ucrânia. Os falsos referendos da Rússia, se aceites, abrirão uma caixa de Pandora que não podemos fechar. Pedimos que se juntem a nós para reafirmar o nosso compromisso com a Carta da ONU e enfrentar esse desafio de frente”, apelou Thomas-Greenfield.

Espera-se que a resolução, apresentada juntamente com a Albânia, seja amplamente simbólica, uma vez que a Rússia quase certamente a bloqueará, uma vez que tem poder de veto como membro permanente do Conselho de Segurança.

Contudo, a embaixadora norte-americana frisou que tentará levar a votação à Assembleia-Geral da ONU caso a Rússia “escolha blindar-se da sua responsabilização”.

“A Rússia realiza referendos simulados, em áreas controladas pelos militares russos e seus representantes, coagindo as pessoas a ‘votar’ sob a mira de armas. Em seguida, usa esses referendos para tentar dar uma aparência de legitimidade às suas tentativas de anexação do território de outro Estado soberano. A pressa para a Rússia instituir e concluir essas tentativas de anexação destrói até mesmo a fachada de legitimidade”, avaliou a norte-americana.

Por sua vez, o representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, disse que os referendos foram realizados “de forma totalmente transparente e respeitando todos os padrões internacionais”, negando as acusações de intimidação dos eleitores.

O diplomata acrescentou ainda que havia uma centena de observadores internacionais de mais de 40 países, que se “surpreenderam com o entusiasmo dos eleitores”, e questionou o motivo de os meios de comunicação ocidentais não terem mostrado essa perspetiva, nem se terem preocupado em entrevistar essa população.

Embora os referendos tenham significado uma nova reviravolta no conflito ucraniano, as posições não mudaram muito na ONU: os países latino-americanos, como o Brasil ou o México, e países africanos ou árabes expressaram as suas críticas, mas sem se juntarem aos duros posicionamentos ocidentais e fazendo apelos bastante genéricos à negociação.

Tal como fez o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, no sábado passado, o embaixador Nebenzya também se dirigiu aos países em desenvolvimento, exortando-os a não seguir cegamente os Estados Unidos.

“Para os países em desenvolvimento eu digo: não se enganem, o objetivo do ocidente não é outro senão que a Rússia desmorone”, disse Nebenzya, que também detalhou supostas pressões sobre países europeus – citando Itália, Hungria e Sérvia – para se distanciar da Rússia e apertar as suas sanções contra Moscovo.

Na reunião, também a ONU deixou claro que não reconhecerá o resultado dos referendos, enquanto o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que participou por videoconferência, pediu um isolamento da Rússia em todas as organizações internacionais.

As autoridades pró-Rússia nas regiões ucranianas de Zaporijia, Kherson e Lugansk reivindicaram uma vitória do “sim” à anexação pela Rússia, estando ainda a aguardar-se pelos resultados da quarta região ucraniana ocupada pela Federação Russa. No passado, em 2014, a Rússia já havia usado o resultado de um referendo realizado sob ocupação militar para legitimar a anexação da península ucraniana da Crimeia, no Mar Negro.

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