h | Artes, Letras e IdeiasIV – O liu Carlos Morais José - 25 Fev 202225 Fev 2022 Se andarmos mais 150 quilómetros para Leste, encontraremos a montanha da Raiz (柢山 Di Shan) onde, estranhamente, apesar de ser percorrida por inúmeros rios, praticamente não existem árvores ou plantas relevantes. Tal acontece talvez devido ao carácter extremamente rochoso do solo, mas outras explicações mais subtis e misteriosas são igualmente avançadas pelos que perto dela habitam. Este local fica perto de uma cidade hoje chamada Chenzhou (郴州) que se situa na parte mais a sul da província de Hunan. Foi ali, nessas águas pouco fertilizantes, que nasceu o liu, um peixe de grande porte cujo corpo se assemelha a um búfalo. Apesar de ser um peixe, é afirmado ostentar uma bela cornadura, uma longa cauda de serpente e duas asas, constituídas por um formoso conjunto de penas que lhe saem das costelas. Não se pode classificar o liu como um animal aquático ou terrestre porque, por vezes, permanece nos rios, doutras vezes vagueia pela terra e é mesmo, abrindo as suas magníficas asas, também capaz de voar. No Verão, é possível encontrá-lo com alguma facilidade, mas, durante o Inverno, o liu aproveita para hibernar em grutas secas. O liu emite um som parecido com o bramido do iaque, mas atinge uma intensidade tão alta que tudo estremece nas suas redondezas. Outro dos seus costumes é, durante o verão, tomar prolongados banhos de sol. Segundo antiquíssimas crenças, quem comer deste peixe não apenas se livra de indesejados inchaços como fica curado de quaisquer pústulas malignas ou carbúnculos. A carne de liu tornou-se, por isso, num produto altamente cobiçado entre os curandeiros que tudo fazem e muito pagam para a obter. Contudo, é difícil e até arriscado caçar um liu, devido ao seu tamanho, cornos afiados e extrema ferocidade, que dispara exponencialmente quando se vê encurralado. Por outro lado, como é capaz de levantar vôo, facilmente escapa mesmo a homens organizados em bandos de caçadores. Então, na maior parte dos casos, os que pretendem apanhá-los, para aproveitar o seu valor medicinal, esperam pelo inverno para os surpreenderem em plena hibernação, dormitando pelas grutas despojadas da montanha da Raiz.