Outras caravelas

Quando os cavalos estão com sede e a praça cheia, levamo-los a beber aos poços de Monsanto.
No topo da cidade aterram aviões regressados da guerra das estrelas.
E o bulício entre tempos cruzados sacode a vista do alto.
Um rei que se julgara perdido regressa enfim, teletransportado, envolto em matéria rarefeita.
O rio secou, é agora uma pista de aterragem de lava prateada, densa, brilhante,
Qual magma iluminado.
Custa a crer que tivesse saído daqui matéria oscilante e com ela navegado mundo.
Agora no frontispício deste livro que alguém escrevera, soletrando-o.
A capital, o país, a Europa, o gelo, as brasas, parecem lendas.
Neste ecrã vagueia-se pelo tempo em várias dimensões e todas as visitações são estranhas.
Descendo encontra-se muito caos. Os organismos de circuito fechado defendem-se em absoluto.
Dizem que é vida, e olhada assim, é tão singular como será por ventura estar aqui.
Entretanto os meus cavalos já devem ter bebido, vou sair da fórmula, pegar nas rédeas e olhar um pouco mais a cidade.

Caravelas?

Foi quando descemos da Arca
Havia animais- amámos os animais- e todas as aves do céu.
Éramos humanos, lembrávamo-nos de Deus.
Que a Terra já está no tempo da memória
Nem sempre ela rodou, e quando fixou o eixo
Nossas caravelas deixaram as águas para se encontrarem no deserto.
Nenhum sábio foi escutado, nem se sabia se sábios havia…
Foi tudo de repente.
Escuto agora, que Noah, um menino, apareceu.
Voltou a criança perdida, que estando despida
Foi à procura do Jardim.
Foge tudo. Fugimos uns dos outros em camadas etárias desenvoltas.
Que estando na roda – a roda gira – e sempre nos encontraremos nas entradas como nas saídas.
A vida era uma história de terror, aqui se nota a grave batalha dos titãs.
Muitos deixaram o planeta e nunca mais foram vistos, resgatados pelo grande guindaste
Do sistema paralelo, mas não se sonharia com a presença do infinito temporário
Nessa rede de circulação de sangue fechado.
Alguns, de tão rudimentares, queriam ser muitos, e se fosse apenas um, queria ter de tudo em abundância. De tanto ser nada perdeu-se a abastança.
Depois enlouqueceram quando a vaga [zumbie] resolveu atacar a frágil cobertura vegetal.
Atiravam-se uns contra os outros como choques elétricos e nunca mais houve trovoada.
Cada dia tinha então vinte e quatro horas quando o sol era um motor sem freio.
Nós aqui, somos sistemas extrassolares, nem nunca vimos sol.
Que entretanto explodiu muito antes do previsto instante que davam como certo.
Mas nada era certo nesse planeta.
Acertavam em coisas que nunca o pensamento teve.
Aqui, estrela paralela, estamos abismados com o filtro das coisas vindas
Pois que de todas as funções foi a emoção que retivemos.
Como foi possível ter a ideia das coisas e nunca as ter experienciado?
Que o amor era um nome que enganou a todos e mesmo assim ele parecia sempre novo.
Tudo é espantoso quando os cavalos bebem água numa grande clareira que já não há
E ficamos no som do Universo a ver como se pode criar uma ilusão.
Nós não temos corpo, a manifestação está distante.
Que tudo é maravilhoso, mesmo quando encontramos uma frecha
Para um abismo repleta de flores.

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