Tudo o que precisa saber sobre Zhang Yimou

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie O’Yang, apresenta 12 figuras do cinema chinês, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.
por Julie Oyang

 

 

Embora muitos sejam literalmente desconhecidos no Ocidente, a China tem sido, desde a fundação da República Popular, berço de alguns realizadores de gabarito internacional. Mas por vezes ficamos com a sensação que o cinema chinês se resume a um nome: Zhang Yimou.

Alegadamente um dos maiores cineastas de todos os tempos ultrapassou a barreira da nacionalidade. Seja qual for o tema que tratam, os seus filmes são visualmente deslumbrantes. Zhang Yimou é um criativo, simultaneamente criador de imagens sagaz e empreendedor. Por um lado existem realizadores e por outro lado existe Zhang Yimou.

A de “Art” ( Arte).  Os principais interesses de Zhang são a fotografia e a literatura. Estudou na Academia de Cinema de Pequim e a sua paixão transportou-o para a vanguarda do cinema internacional, com a estreia do seu primeiro fime, Sorgo Vermelho (1987) protagonizado por Gong Li.

B de “Businessman” (Homem de Negócios). Zhang é realizador, mas também é um homem de negócios. Zhang Yimou é uma marca, que se expandiu com o seu inconfundível cunho à ópera e aos musicais, mantendo sempre cenários espectaculares.

C de “Challenge One-child Policy” (Desafiar a Política do Filho Único). É alegadamente pai de 7 crianças, nascidas de 4 relações. Em 2014, o Gabinete de Planeamento Familiar, em consonância com a política do filho único, exigiu que Zhang pagasse uma multa por nascimentos não planeados e para cobertura de gastos com a segurança social no valor de 7.48 milhões de RMB (cerca de 1,2 milhões de dólares americanos). Diz-se que Zhang pagou a multa.

D de “Dedication” (Dedicação). Na sequência do sucesso dos filmes artísticos, Zhang decidiu fazer filmes comerciais (Herói, O Segredo dos Punhais Voadores) e também explorar um cinema mais auto-biográfico (Um Segundo).

E de “Collective Experience” (Experiência Colectiva). Zhang parece interessar-se pelo contexto de todas as coisas. Zhang Yimou: “Durante milhares de anos tem existido a tradição de nos ensinar a pensar em termos da experiência colectiva, por isso é raro conseguirmos agir em função dos nossos desejos e das nossas emoções.”

F de “Fight and Love with a Terracotta Warrior” (Luta e Ama com um Guerreiro de Terracota).  Em 1990, no filme Hong Kong, interpretou Tian Fong, a personagem masculina principal.

G de “Gong Li” (Gong Li). A actriz Gong Li foi decoberta por Zhang enquanto estudava na Academia de Cinema. As suas relações pessoais e profissionais recebiam eram seguidas de perto pela comunicação social, enquanto trabalharam juntos numa série de filmes aclamados e marcantes. Esta atenção lançou-os no mundo do estrelato internacional. Zhang Yimou e Gong Li são o equivalente de Roberto Rossellini e Ingrid Bergman.

H der “Host” (Anfitrião). Zhang é o anfitrião criativo da Pátria. Acreditava que as audiências ocidentais podiam construir uma ideia da China através dos seus filmes, que via como exccelentes veículos de promoção da cultura chinesa.

I de “Industry” (Indústria). Zhang Yimou é um dos poucos realizadores que quebrou as regras do cinema chinês e que desafiou as convenções. O realizador contrbuiu imenso para a indústria cinematográfica chinesa e estabeleceu novos padrões.

J de “Justice” (Justiça).  A História de Qiu Ju, de 1992, é uma comédia dramática protagonizada por Gong Li. Conta a história de uma camponesa, Qiu Ju, cujo marido foi agredido na virilha pelo chefe da aldeia. Qiu Ju, apesar de estar grávida, viaja até à cidade mais próxima à procura de justiça. Os críticos cinematográficos interrogaram-se se este não seria um filme de propaganda para apoiar o esforço do Governo na implementação do “Estado de Direito”.

K de Akira Kurosawa (Akira Kurosawa). O realizador japonês foi o seu guia espiritual. Zhang é largamente influenciado pelo grande mestre.

L de “Loyalty” (Lealdade). Nos seus filmes mais recentes, Zhang aborda os heróis nacionais, os oficiais leais, as pessoas honradas, os governadores criteriosos, os artesãos habilidosos que, como ele próprio, dão contributos extraordinários ao seu país.

M de “Meaning” (Significado).  Zhang Yimou transmite um significado mais profundo nos seus filmes através da utilização de elementos chineses.

N de “Nimbleness” (Agilidade). Zhang é um estratega ágil e vende as suas obras com sucesso.
O de “Olympics” (Olimpíadas). O que é que aconteceria se juntássemos um realizador apaixonado por efeitos visuais deslumbrantes com a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos? Obtinhamos um bilhete para a entrada da China no palco mundial como superpotência emergente. Bom trabalho!

P de “Pioneer” (Pioneiro).  Um pioneiro na sua visão do passado da China, as suas narrativas transportam sempre um significado simbólico.

Q de “Quote” (Citação). “Como o mundo seria maravilhoso se as pessoas tivessem corações como os dos cães.”

R de “Revolution” (Revolução). Teve uma relação complexa com a Revolução Cultural.

S de “Soft Power” (Poder Persuasivo). A Grande Muralha (2016) realizado por Zhang Yimou é uma co-produção entre a China e Hollywood, protagonizado por Matt Damon, Willem Dafoe e a superstar chinesa Andy Lau.  Este filme é um exemplo dos esforços para alcançar um novo tipo de poder, o poder persuasivo chinês, que pretende colocar a China num lugar de destaque no palco mundial.

T de “Tea” (Chá). Impression Dahongpao (2010) é um recinto de espectáculos que cobre quase um hectare. Com um orçamento de 200 milhões de yuan, cerca de 29 milhões de dólares americanos, o espectáculo ao vivo de 70 minutos apresenta uma configuração com um ângulo de 360 graus e tem capacidade para acolher de 2.000 espectadores, evidenciando o cenário magnífico da Montanha Wuyi e da sua rica cultura do chá.

U de “UFO” (OVNI). Corre o rumor que no Verão de 1985, Zhang Yimou e Chen Kaige estavam a filmar juntos quando viram um OVNI! Esta experiência pode ter estado na base da criação da comédia O meu Povo , a minha Pátria (2020), produzido por Zhang Yimou.

V de “Visual” (Visual). Zhang é um mestre da cor. A cor nos seus filmes é uma linguagem profunda e misteriosa e ter o poder de influenciar as nossas almas.

W de “West” (Ocidente). O impressionante conjunto das obras de Zhang Yimou apresentam sistematicamente aos olhos admirados das audiências ocidentais uma cultura que se vai alterando sob a batuta da globalização, relacionando ideias e implicações sobre o poder, a soberania, a justiça e a modernidade chinesas. Pela primeira vez é nos apresentada a Terra do Dragão situada no globo.

X de “Xi’an” (Xi’an). Nasceu em Xi’an, o berço da civilização chinesa. A antiga metrópole foi o ponto de partida da primeira Rota da Seda.

Y de “Yearning” (Anseio). Os seus primeiros filmes eram arrojados, histórias apaixonantes que se centravam em mulheres que combatiam a opressão. Zhang retrata o olhar feminino consumido pelo anseio.

Z de “Zhang Ziyi”. A actriz de Memória de uma Geisha e de O Tigre e o Dragão tornou-se a segunda superstar lançada por Zhang Yimoua, a seguir a Gong Li.

Zhang Yimou nasceu a 14 de Novembro de 1951, em Xi’an. É um realizador chinês, actor e produtor.

A não perder: Sorgo Vermelho (1987), Lanternas Vermelhas (1991), To Live (1994), Herói (2002), O segredo dos Punhais Voadores (2004), A Grande Muralha Wall (2016) Cerimónia de Abertura dos Jogos Olimpícos de Pequim (2008)

 

Julie O’Yang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram seleccionadas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.

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