Inglaterra alcança primeira final do Euro 2020

Ao comando da resiliência emocional, a Dinamarca mostrou ser uma das boas surpresas do torneio. Mas com a derrota frente aos Três Leões, por 2-1, o barco nórdico atracou, finalmente. Os ingleses chegam agora à sua primeira final da competição, tendo falhado a ocasião em 1968 e 1996. A lidar com os erros do passado e a incerteza do futuro, Inglaterra não vacilou e vai agora ter pela frente a Itália, para se saber qual é a melhor selecção da Europa

 

Por Martim Silva

Com o fardo emocional de nunca ter disputado uma final na competição europeia de selecções e sem levantar um troféu internacional desde 1966, as tropas britânicas de Gareth Southgate tomaram conta do momento e deram alegria aos seus adeptos, algo há muito desejado. No meio de tanta ansiedade e nervosismo, Inglaterra e Dinamarca jogaram por um lugar na final de Wembley… em Wembley.

O jogo, do ponto de vista estético, foi aborrecido no seu cômputo geral, mas na primeira parte até se viu bom futebol. Inglaterra apostou em Bukayo Saka de início, tendo sido esta a única novidade no onze de Southgate. Mas os seus jogadores continuaram a ter dificuldades em parar a equipa de Kasper Hjulmand, especialmente nas alas.

Com o esquema dinamarquês de três centrais, os dois alas Stryger Larsen e Joakim Mæhle, acabavam sempre por arranjar metros para correr devido à pressão que os avançados Harry Kane, Raheem Sterling e Saka exerciam nos centrais nórdicos. O resto do campo ficava em marcação individual porque Mason Mount fechava num dos dois médios da Dinamarca, sendo que Kalvin Phillips e Declan Rice controlavam o outro centro campista e Mikkel Damsgaard, que recuava no terreno. Os laterais ingleses, Kyle Walker e Luke Shaw só saltavam para pressionar os alas da equipa de Hjulmand quando a bola era atacada num dos seus lados. Se os dinamarqueses eram capazes de ultrapassar a pressão de Inglaterra, especialmente nas costas dos avançados britânicos, tinham caminho livre para explorar e aproveitar situações de igualdade numérica. Foram também capazes de virar o sentido de jogo para o lado contrário, colocando as alas inglesas em situações de 2v1, devido à demora da basculação do meio-campo de Rice e Phillips.

Em organização ofensiva, a Dinamarca foi certeira em fazer com que um dos dois médios ingleses mais recuados pudesse ser atraído para outras zonas do terreno, abrindo espaço no miolo para Martin Braithwaite e Kasper Dolberg aparecerem como opção de passe. Mas apesar de alguns solavancos, a equipa dos Três Leões continuou a ter a primazia de não sofrer golos. Contudo, nesta meia-final do Euro 2020 isso não se concretizou.

Logo aos 30 minutos, um golão de livre directo do jovem Damsgaard pôs fim às aspirações inglesas de acabar a competição sem qualquer golo sofrido. Jordan Pickford, guardião inglês, nada pôde fazer face a um remate tão potente e tão bem colocado. Mesmo com o golo, os nórdicos não tiraram o pé do acelerador, mas 9 minutos após uma bela combinação entre Kane e Saka, e com um movimento notável de Sterling no ataque às costas da linha defensiva nórdica, Simon Kjær fez um auto-golo, empatando a partida. Com igualdade no marcador e muito equilíbrio entre as duas selecções, foi necessário novo prolongamento nas meias-finais. O jogo continuou mais parecido à segunda parte do que à primeira. Contudo, Inglaterra ainda beneficiou de um par de ocasiões soberanas com Kasper Schmeichel em grande plano. Mas aos 109 minutos de jogo, o sonho dinamarquês chegou ao fim, fruto de um penálti duvidoso sofrido por Sterling. Schmeichel defendeu o remate de Kane mas acabou por falhar o ressalto e sofrer o golo fatal.

Na paz do Senhor

Na ocasião histórica, a de chegar a uma final europeia, Southgate começou por reconhecer as mais-valias do adversário. “Eu achei que chegaríamos à final, mas também achei que iriamos ter vários tipos de desafios. A Dinamarca é subvalorizada enquanto equipa e causaram-nos alguns problemas.”, reconheceu o seleccionador elogiando também a capacidade dos seus pupilos. “Considerando a pouca experiência internacional de alguns jogadores, eles fizeram um trabalho incrível. Estou muito orgulhoso dos jogadores, fizemos parte de uma ocasião fantástica. Os adeptos foram incríveis a noite inteira.”, concluiu.

À espera de um desfecho mais justo, Kasper Hjulmand, deixou críticas ao penálti sofrido por Sterling. “Muitas coisas estiveram contra nós. O penálti gera dúvidas e estavam duas bolas em campo.”. Apesar da desilusão de não conseguir dar um último passo para revalidar a conquista de 1992, o seleccionador nórdico não poupa nos elogios aos seus jogadores. “Fizemos o que podemos, é uma grande desilusão falhar a final porque tivemos oportunidades para isso. Contudo, também existe um certo orgulho com esta viagem que alcançámos.”, sentenciou.

 

Ex-árbitro acusa organismo europeu de “corrupção”

Grande parte dos oficiais de jogos de futebol fazem algo mais do que soar um apito num relvado. Björn Kuipers, árbitro holandês, é dono de vários supermercados e barbearias. Felix Brych, juiz alemão, é doutorado em Direito. Slavko Vincic é esloveno e tem a sua própria empresa. Mas nenhum destes árbitros chega perto da fortuna do ex-oficial Jonas Eriksson, árbitro sueco, que em 2007 vendeu 15% da sua participação numa empresa de direitos desportivos (IEC) por mais de 10 milhões de euros.

Porém, não é a fortuna de Eriksson que fez notícia esta semana. O ex-árbitro sueco, agora comentador de televisão na SVT, acusou, numa publicação no Instagram, a UEFA de criar um “mundo sujo, político e falso”.
Na mesma publicação, o árbitro começou por recordar a última partida do Euro que apitou, entre Portugal e País de Gales para a meia-final do Euro 2016, assumindo não entender a escolha arbitral que o organismo europeu fez na final desse ano. “E mesmo tendo ficado feliz e orgulhoso como me correu o jogo, houve uma enorme decepção em mim e na minha equipa. Por que razão não nos deixaram arbitrar a final?”, começou por indagar o agora comentador.

Mas Eriksson continuou a descrever o processo de escolha dos oficiais dos jogos de maneira detalhada. “Os que são escolhidos, os que estarão na final, não são os melhores do torneio. A decisão é feita por quem manda na UEFA e não tem nada a ver com o que fizeram no Europeu. Os outros árbitros, mesmo sem o saberem, têm os contactos certos ou são provenientes de países importantes, e isso permite-lhes arbitrar até mais longe.”

O multi-milionário sueco falou ainda do meio que rodeia a escolha dos árbitros. “No futebol fala-se sempre de fair play e respeito, de que as regras devem ser as mesmas para todos (…). Mas quando a questão é a arbitragem, isso acontece à porta fechada, com agendas políticas e onde o que menos importa é o futebol.”, sentenciou o ex-juiz.

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