O sino como sinal de aviso

O Governador Izidoro Francisco Guimarães (1851-1863), que em três anos reverteu o enorme défice das finanças de Macau sem impor nenhum tributo, apenas fiscalizando com rigor os existentes e em severa economia conseguiu depois aumentar as despesas anuais com as obras públicas. Efectuou ainda durante a sua governação a reconstrução do Bazar, destruído por os incêndios de 1856 e de Dezembro de 1862, aproveitando com aterros sobre o rio torná-lo maior e melhor arranjado. Mas já no ano seguinte Marques Pereira referia, “No Bazar, há uma acumulação de casas e habitantes, muito e muito além do que o local permite.”

Era então Inspector dos Incêndios o macaense Bernardino de Senna Fernandes (1815-1893), organizador da Polícia e promovido a Major Comandante do Corpo de Polícia de Macao, quando este foi criado por Portaria de 11 de Outubro de 1861 pelo Governador Guimarães, que determinou a formação dessa Força da Polícia, proveniente do Corpo de Polícia do Bazar e inicialmente formado em 1857 com 50 portugueses por o chinês Aiong-Pong. Sobre o assunto, o padre Manuel Teixeira prova com um documento de 25 de Agosto de 1862: . A 30 de Agosto, o Conselho do Governo declarou ser isso verdade. Daqui se vê que, já antes de 1862, Senna Fernandes era Inspector de Incêndios, tendo reorganizado esse serviço, exercendo o cargo gratuitamente. Num dos seus relatórios dizia: . Aqui temos um corpo de bombeiros já organizado.

Sino em vez de canhão

O coronel de Engenharia José Rodrigues Coelho do Amaral (1808-1873), como Governador tomou posse a 22/6/1863, quando Macau, após 19 anos fora do domínio do Estado da Índia, voltou a ficar a ele subordinada. Iniciava-se a modernização com a iluminação da cidade, dando nome às ruas e números às casas, havendo em 1864 uma regulamentação urbanística com o cadastro de todas as ruas divididas pelas zonas da cidade, freguesias da Sé, S. Lourenço e Sto. António e o Bazar, assim como das povoações da península, mas fora da muralha da cidade. Na altura, as muralhas começaram a ser desmanteladas para permitir rasgar novas ruas e colocar canos de esgoto.

O Governador Coelho do Amaral convenceu-se ser o sinal de incêndio por meio de tiros na Fortaleza do Monte inconveniente e alarmante e fez adaptar o sistema usado em Portugal, com o sinal por meio de badaladas nos sinos das freguesias; porém, não deu bom resultado, pois os chineses revoltados por não ter a cidade aviso e não se prestar grande atenção ao referido sinal, cortavam as cordas que prendiam os badalos dos sinos, a manifestar o seu desagrado. Os pedidos dos chineses eram constantes para se restabelecer o antigo sinal de incêndio por meio de tiros no Monte. No Boletim Oficial de 23 de Maio de 1870 apresentava-se a solução encontrada para proteger as cordas dos sinos, que passaram a estar fechadas por uma caixa, sendo a chave guardada na Estação de Polícia de cada zona e estipulado o número de badaladas correspondentes a cada uma onde ocorria o incêndio. Assim, se o incêndio fosse na freguesia da Sé, a chave encontrava-se no Quartel de S. Domingos e davam-se 12 toques no sino.

Na zona de S. Lázaro badalava-se por 13 vezes, estando a chave na Estação de S. Lázaro. Para as freguesias de Santo António, tocava-se 14 vezes e 15 na de S. Lourenço, estando a chave na Guarda do Hospital. Já o Bazar, dividido para Norte, entre rua dos Coulaus e Patane, era preciso ir à Estação de Santo António ou à de S. Lázaro para ter a chave e badalava-se 16 vezes, enquanto no Bazar Sul, entre a Rua dos Coulaus e a Ponte da Rede (Estrada Marginal), ia-se à estação mais próxima das acima indicadas e tocava-se por 17 vezes.

O Capitão comandante F. J. de Souza Alvim do Quartel da Polícia de Macau no Bazar, no Boletim do Governo de Macau de 24 de Dezembro de 1866 fez saber pela Repartição dos Incêndios, .

Serviço de incêndios oficializado

O Governador José Maria da Ponte e Horta (1866-1868) tomou posse a 26 de Outubro de 1866 e três meses depois tornava oficial o serviço de Inspector de Incêndios. Era este já antes de 1862 realizado de forma particular por Bernardino de Senna Fernandes e o Governador por Portaria n.º 45, de 27 de Dezembro de 1866 nomeou-o para o lugar de inspector dos incêndios como Major Honorário com a gratificação de 30 mil réis. Aceitou o cargo, mas não a gratificação, segundo o padre Manuel Teixeira, que refere, entre os seus colaboradores, cita [num relatório de 19/2/1868] Fermino Machado, e o tenente Frederico G. Freire Corte Real, ajudante do Corpo da Polícia, têm acudido a todos os incêndios e além deles, os voluntários António Romero e Manuel Martins do Rego, tendo este último corrido grave risco de vida pelo abatimento dum muro que teve lugar durante o sinistro.

Ainda no Boletim do Governo de 31 de Dezembro de 1866, por Portaria N.º 46 o Governador determina, que o mesmo Sr. inspector dos fogos compenetrando-se bem da valiosa significação e séria importância do seu lugar, haja de me propor todas quantas medidas julgar necessárias e oportunas, assim como o for entendendo e experimentando no desempenho sucessivo da sua importante comissão.

O Major Honorário Bernardino de Senna Fernandes, por motivos de saúde pediu a sua exoneração de inspector dos fogos a 11 de Março de 1872, aceite no dia seguinte pelo Governador António Sérgio de Sousa (1868-1872), que exarou a Portaria n.º 11, onde refere ter ficado muito satisfeito pelo modo desinteressado como exerceu semelhante lugar por espaço de cinco anos. Na mesma data, o Governador nomeou interinamente inspector dos fogos o capitão Frederico Guilherme Freire Corte Real, sem vencimento enquanto exercer as funções de capitão fiscal do Corpo de Polícia.

Assim, a fundação oficial da Repartição do serviço de incêndios e a nomeação oficial do seu primeiro inspector data de 27 de Dezembro de 1866.

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