Kimi Räikkönen | Em 2000 foi recusado, hoje seria algo extraordinário

Dos vinte pilotos que perfazem a grelha de partida do mundial de Fórmula 1 de 2021, apenas dois não participaram no Grande Prémio de Macau e um deles não o fez porque não foi aceite à partida. Contudo, quem rejeitou a sua participação na altura sempre disse que, quando este deixasse a Fórmula 1, gostaria de o convidar para um dia correr no Circuito da Guia. A oportunidade ainda não surgiu, mas poderá estar para breve.

Estávamos no ano 2000 quando Kimi Räikkönen se sagrou campeão britânico de Fórmula Renault. Mesmo sem ter qualquer experiência na Fórmula 3, Steve Robertson, o seu “manager” da altura, queria que o jovem de 21 anos participasse no Grande Prémio. “O ‘manager’ do Räikkönen pediu-me um convite para a prova e disse-me: ‘aponta aí as minhas palavras, ele vai estar na Fórmula 1 no próximo ano’. Na altura não acreditei nele. Era algo improvável e uma cantilena que ouvimos dezenas de vezes”, dizia frequentemente Barry Bland, o mentor da Fórmula 3 em Macau, quando questionado qual era o piloto mais promissor que um dia lhe tinha “escapado”.

Steve Robertson sabia o que dizia. Um mês antes do Grande Prémio de Macau, no circuito italiano de Mugello, Räikkönen testara pela Sauber, tendo impressionado a equipa suíça. Apesar de ter sido logo contratado, a Sauber quis manter o seu novo piloto em segredo, até porque havia dúvidas se a FIA lhe daria a Super-Licença que o autorizaria a participar nos Grande Prémios em 2011. Barry Bland, o homem que geriu os destinos da Fórmula 3 no território de 1983 a 2015, reconhecia que “apesar de provavelmente me arrepender de não o ter convidado, ele não se qualificava para um convite, mas não deixa de ser uma pena”. O inglês acreditava que “um dia que ele deixe a Fórmula 1, pode ser que tentemos convencê-lo a correr connosco. Não será fácil, quem sabe…”

Infelizmente, Barry Bland, que faleceu em Julho de 2017, não teve essa oportunidade. Räikkönen continua a bater recordes de participações na categoria máxima do automobilismo e quando a temporada de 2021 arrancar a 28 de março no Bahrein, o piloto nórdico vai para o seu 331º Grande Prémio de Fórmula 1. Todavia, “Iceman” sabe que o seu percurso na Fórmula 1 está a chegar ao fim e não rejeita aventurar-se noutras disciplinas do desporto automóvel.

Depois da Fórmula 1

Quando perdeu o seu lugar na Ferrari, no final do ano 2009, o campeão do mundo de 2007 decidiu deixar o “Grande Circo” para experimentar os ralis, cumprindo duas temporadas do Campeonato do Mundo de Ralis (WRC) e realizando duas excursões em competições da norte-americana NASCAR. Em 2012, o finlandês regressou à categoria rainha do automobilismo com a Lotus F1 Team, para voltar à Ferrari em 2014, onde completou cinco épocas consecutivas antes de rumar à Alfa Romeo Racing.

Numa entrevista dada à revista holandesa “Formule 1”, o piloto de 41 anos abriu um pouco o livro do que quer fazer no pós-F1: “Há uma série de coisas engraçadas que posso fazer, mas não penso nelas até terminar com a Fórmula 1. Não sei se será ralis, NAScAR ou algo completamente diferente”.

Questionado se gostaria de participar nas 24 Horas de Nurburgring, uma das provas principais das corridas de GT, com o seu grande amigo e compatriota Toni Vilander, Räikkönen não negou que isso “poderia ser divertido”, sorrindo, algo raro no piloto nórdico, mas relembrando que “há muitas coisas giras para fazer”. Pois bem, pode ser que lhe tome o gosto pelas corridas de GT e que duas décadas depois os astros se alinhem…

Raras excepções

Diz a história que Alan Jones foi o único campeão do mundo de Fórmula 1 que regressou ao Circuito da Guia para conduzir numa outra corrida que não a do Grande Prémio. O campeão do mundo de 1980 voltou ao território para alinhar na Corrida da Guia de 1987, aceitando o convite da Toms Toyota para conduzir um dos Toyota Supra (MA70). Infelizmente, a presença de Jones foi curta, pois abandonou à sétima volta com um problema no turbo do seu carro.

É muito raro ver um piloto de Fórmula 1 a regressar ao Grande Prémio de Macau, até porque nem sempre as regras o permitiram. Em 1985, o português César Torres conseguiu o então presidente da FISA, Jean-Marie Ballestre, a retirar a proibição da vinda de pilotos de Fórmula 1 a Macau. E logo nesse ano, a organização conseguiu convencer o francês René Arnoux, que havia sido despedido da Scuderia Ferrari, a aventurar-se na corrida. Sem qualquer experiência de Fórmula 3 no seu currículo, o ex-campeão europeu de F2 qualificou-se a meio da tabela e terminou em sexto no cômputo das duas mangas.

O último piloto ex-F1 que quis correr em Macau foi Nelson Piquet Jr em 2016. Todavia, o piloto brasileiro, que até tinha um acordo com a equipa Carlin para estar à partida da corrida de Fórmula 3, foi barrado pela FIA. Segundo o então Presidente da Comissão de Monolugares da FIA e agora responsável máximo da Fórmula 1, Stefano Domenicali, a participação de Nelsinho ia “contra o espírito da categoria”.

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