h | Artes, Letras e IdeiasXunzi 荀子 – Elementos de ética, visões do Caminho Hoje Macau - 9 Fev 2021 O Enriquecimento do Estado, Parte II O modo de assegurar a suficiência do estado é manter frugais os gastos, enriquecer o povo e guardar bem quaisquer excedentes. Os gastos mantêm-se frugais através do ritual e o povo é enriquecido através da governação. Quando se enriquece o povo, serão grandes os excedentes. Pois quando se enriquece o povo este terá riqueza. Quando o povo é rico, os campos serão fartos e bem mantidos. Quando os campos são fartos e bem mantidos, a sua produção será cem vezes maior. Os superiores tiram segundo o modelo apropriado e os inferiores mantêm os seus gastos frugais de acordo com o ritual. E então os excedentes se acumularão como colinas e montanhas. Se parte deles não for gasta ocasionalmente, não haverá sequer onde os guardar. Por que se preocuparia então a pessoa exemplar com a falta de excedentes? Aquele que souber como manter frugais os gastos e enriquecer o povo terá a reputação de ser ren [humano] e yi [justo], de ser sage e ser bom, dispondo, além disso, de riqueza acumulada como colinas e montanhas. Não há outra razão para estas coisas; são o produto de se manterem frugais os gastos e de se enriquecer o povo. Se não se souber manter frugais os gastos e enriquecer o povo, então o povo será pobre. Quando o povo é pobre, os campos serão parcos e daninhos. Quando os campos são parcos e daninhos, não darão sequer metade do que é normal. Então, mesmo que os superiores gostem de tirar do povo, invadindo-o e dele roubando, a sua colheita será esparsa e haverá mesmo alguns que tentarão manter frugais os gastos sem ritual. Como resultado, terão a reputação de serem gananciosos por lucro e rapaces, sendo o seu verdadeiro ganho esvaziado e exaurido. Não há outra razão para estas coisas senão o desconhecimento de como manter frugais os gastos e enriquecer o povo. O “Anúncio ao Príncipe Kang” diz, “Quão vastamente cobre o Céu todas as coisas! Segue a virtude e enriquecerás a tua pessoa”. Isto exprime o que quero dizer. No ritual, a nobreza e a plebe têm o seu estatuto próprio, anciãos e jovens têm a sua distância própria, ricos e pobres, humildes e eminentes, todos têm o seu peso próprio. Assim, o Filho do Céu usa uma veste-dragão vermelha e chapéu alto cerimonial. Os senhores feudais usam vestes-dragão negras e chapéus altos cerimoniais. Os oficiais usam chapéus de pele e vestes simples. De oficial para cima, todos devem ser regulados pelo ritual e pela música. As massas e plebe devem ser controladas por disposições legais. Depois de estimar o território, estabelece-se o estado. Depois de calcular os benefícios, eleva-se o nosso povo. Certificamo-nos de que as pessoas são adequadas às suas tarefas e que dessas tarefas surgem benefícios, sendo estes suficientes para nutrir o povo. Certificamo-nos de que em todos os casos os lucros e despesas em roupa, comida e bens variados se adequam uns aos outros, certificando-nos de guardar quaisquer excedentes no tempo certo. A isto se chama “um arranjo equilibrado”, o qual estendemos desde o Filho do Céu até à plebe, independentemente da grandeza ou pequenez das suas tarefas. Por isso se diz, “Na corte ninguém obtêm a sua posição por sorte. Entre o povo, ninguém ganha a vida por sorte”. Isto exprime o que quero dizer. Aligeira os impostos sobre os campos, faz justas as tarifas nos mercados e passagens [de montanha], reduz o número de mercadores, faz por raramente usar trabalho forçado e não requisites as pessoas em tempo de trabalho agrícola. Se fizermos estas coisas, o estado será rico. E a isto se chama enriquecer o povo através da governação. Nota Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE – 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, a par do próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.