Tudo é disperso, nada é inteiro

“Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro”
Fernando Pessoa (1888 – 1935) em

 

[dropcap]T[/dropcap]odos sabemos que uma evidência não é absoluta garantia da extinção da polémica – “a nossa História pertence-nos é como a colonização: reprimiu-nos mas não nos roubou as almas, transformou-nos mas não nos mudou a identidade”. Uma divergência nunca se deve transformar numa dissidência. Por vezes o inaceitável é facilmente aceitável, fruto do sistema que criámos para “viver”. Não no que somos, mas sim como vivemos/pensamos. Um escândalo em câmara lenta vai deixando de escandalizar, de forma lenta – existe mas torna-se dissolúvel. Já poucas ou nenhumas forças nos restam para lutar.

Não podemos viver de abstrações filosóficas ou doutrinárias.
Temos de transgredir, transformar o presente.
A vulneralidade não será uma experiência existencial?
Omite-se a verdade conscientemente.

Interrogação do poder fundador das palavras – crítica da linguagem (?) – ou palavras exaltadas.
A sociedade civil tem de ter capacidade intectual para resolver alguns dos vários problemas que se nos colocam neste “mundo” contemporâneo. Não podemos esperar por ordens superiores para organizar diferentemente as “nossas” vidas. Valores, normas, estratégias, ética, criatividade, lazer, solidariedade, para combater causas “imperiais”, ambiente, património, racismo, xenofobia, repressão consumo, autoritarismo, capitalismo, globalização, energia, destroços, remendos do dia a dia,…… ou seja tornar o ilimitado limitado – sem silêncios discretos. Temos de procurar uma maior dignidade para as nossas vida. Não nos podemos excluir da mudança. Temos de saber cruzar, intersectar a consciência global com a inquietação individual (procurar um mundo de recolhimento intelectual). A ignorância é a causa podre do desrespeito. Respeitar é conhecer. Até porque nunca é tarde para emendar, mas é preciso corrigir o rumo. Falta-nos a capacidade da incapacidade. Temos de saber governar o “nosso” poder. Não podemos usar o “nosso” poder para nos destruirmos – usemos a “nossa” Voz.

É o iludir da razão, desiludindo os pensamentos. Sem justificações.
As misérias vêm ter connosco. São as misérias que nos conhecem. O que estamos a viver e a forma como vivemos é um problema político, que exige respostas cívicas. É que não poucas vezes protegemos o atrevimento, a ignorância, o demérito, a incompetência, a deslealdade. Esta misteriosa continuidade entre aparição e dissolução, entre presença e indefinição. Fazemos escolhas por defeito. Desprezamos o pensamento. Improviso?

Mudados os tempos, de tolerantes e livres, os tempos de ontem, a inflexíveis e obstruídos, os tempos de hoje…mudados os tempos.

Temos de saber reinventar as nossas aspirações – “ com o optimismo de quem anseia alívio e sem a euforia de quem espera transformações”. Sociedade obediente, silenciosa e submersa como se nos estivessem a pagar a ociosidade e os privilégios (?). Sem modelo, nem definição.

O grande problema são as visões monolíticas da sociedade. Não existem contradições (pensamentos).
Hesita-se muito entre a teoria e a prática, ou por outras palavras, entre a acção e o pensamento, mas, ao não se saber gerar pensamento, não se estimula o debate de ideias. Procuram-se…

É preciso termos tolerância contra os dogmas e pragmatismo contra a utopia. Até porque não vamos incutir ao povo noções desajustadas da realidade.

Como alguém disse: “Utopia é pensar que podemos continuar como até aqui, quando tudo indica o colapso de uma civilização baseada na competição, na ganância, na opressão, na exploração e na violência contra o outro, seja o humano, o animal ou a Terra”.

Os pavões não dormem à noite e só gritam quando sentem o tigre…..

“A tempestade não suspendeu a viagem, mas ofereceu a oportunidade para descobrir o que significa estarmos no mesmo barco.”

Luís Vaz de Camões em , Canto IV

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