Automobilismo | Um título português com muita influência chinesa

No passado domingo, António Félix da Costa conquistou o título do Campeonato FIA de Fórmula E. A vitória do português somou mais um troféu ao palmarés onde figuram duas vitórias no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3

 

[dropcap]A[/dropcap]ntónio Félix da Costa, duas vezes vencedor do GP de Macau de Fórmula 3, celebrou no domingo a conquista do título do Campeonato FIA de Fórmula E. Antes disso, na primeira das três jornadas duplas do campeonato de carros eléctricos disputadas no aeroporto Berlim-Tempelhof, ouviu-se “A Portuguesa” duas vezes. Contudo, os mais atentos terão ouvido também a “Marcha dos Voluntários” na consagração do piloto português. Isto porque o primeiro título internacional do automobilismo lusitano numa competição de viaturas eléctricas foi conquistado com a preciosa ajuda de uma equipa chinesa, a DS Techeetah. Antes do sucesso trazido pelo piloto de Cascais, a equipa conquistou o seu primeiro título de pilotos na temporada 2017/2018, através do francês Jean-Éric Vergne, numa época em que também assegurou o segundo lugar no Campeonato de Equipas. A partir da temporada 2018/2019, a Techeetah associou-se à DS Automobiles, tornando-se DS Techeetah, uma associação que se tem mostrado proveitosa para ambas as partes.

Na temporada 2018/2019, a equipa conquistou os ceptros de Campeã de Equipas e Campeã de Pilotos, com Jean-Éric Vergne, e no defeso contratou Félix da Costa que estava ao serviço da BMW.
Apesar de ser a equipa oficial do construtor automóvel DS Automobiles, que faz parte do Grupo PSA, como a Citroen e a Peugeot, e que fornece a motorização dos monologares pretos e dourados, a estrutura que levou Félix da Costa à conquista deste êxito para o automobilismo português é detida pela empresa chinesa SECA (Xangai) Limited.

Com sede em Xangai, a SECA é uma empresa líder no mercado chinês na área do marketing e gestão desportiva. A empresa é especializada na representação de talentos do desporto, gestão de eventos e desenvolvimento de conteúdos. Com fortes relacionamentos no desporto, entre os accionistas da empresa contam-se a China Media Capital (CMC) Holdings e Yao Ming, estrela incontestada do basquetebol chinês e membro do “NBA Hall of Fame”.

Se Yao Ming dispensa apresentações, a CMC, fundada e presidida por Ruigang Li, é um dos mais prestigiantes nomes no mundo dos investimentos e da gestão operacional no universo dos media e entretenimento na China e nos mercados globais. Com sede em Xangai, a CMC ajudou a criar e a desenvolver várias referências e líderes emergentes nos sectores dos media e entretenimento.

Do Vizela…

Apesar da entrada do capital chinês logo na segunda época da Fórmula E, a base operacional desta estrutura está desde o primeiro dia em Inglaterra. O esqueleto da equipa manteve-se praticamente inalterado na sua filosofia, e parte técnica continua a ser inteiramente europeia, liderada pelo britânico Mark Preston, que esteve mais de uma década ao serviço da McLaren na Fórmula 1, e que conta também Xavier Mestelan Pinon, um dos homens por trás do sucesso passado da Citroen no WRC e no WTCC.

Contudo, o presidente da DS Techeetah é o chinês Edmund Chan, nascido no Canadá, e que entre muitos cargos e negócios em várias actividades desportivas, é sócio fundador da Kosmos, em parceria com o futebolista espanhol Gerard Pique e o CEO da Rakuten, Hiroshima Mikitani. Curiosamente, o “patrão” Félix da Costa também faz parte da administração do Futebol Clube de Vizela. Isto, porque a empresa SECA Corporate, sediada em Hong Kong, entrou no capital da SAD do FC Vizela, em Abril de 2017, detendo 80 por cento das acções.

…à EFACEC

Igualmente ligada a este sucesso do automobilismo nacional, com forte componente chinesa, estará a portuguesa Efacec, recentemente nacionalizada, devido à participação de Isabel dos Santos na companhia portuguesa, arrestada pela justiça na sequência do caso “Luanda Leaks”.
Pioneira na mobilidade eléctrica e líder na produção de carregadores rápidos e ultrarrápidos para veículos eléctricos, a Efacec está a participar, de forma activa, em alguns dos maiores mercados de mobilidade eléctrica, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

A sua presença ao lado da equipa chinesa não é inocente e esta segunda temporada a patrocinar a equipa de capitais chineses era vista como “uma nova oportunidade para potenciar novos negócios e reforçar o posicionamento da empresa como referência nos domínios da mobilidade, energia e ambiente” e a “entrada no mercado da região Ásia-Pacífico constitui uma aposta estratégia da Efacec. A parceria com a CMC oferece todas as condições para a Efacec elevar a notoriedade da marca e conquistar novos negócios na região”.

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