Atão e os amaricanos?

[dropcap]A[/dropcap]tão os amaricanos?!” é a morte da argumentação, a resposta imediata de quem não tem resposta e quer desviar a conversa para outro assunto. A avaliar pela quantidade de vezes que se vê esta pérola de relativismo, até parece que está cientificamente provado que quem critica o Governo chinês é, por inerência, um ianque defensor do império norte-americano.

Só pode, não é? Quem se insurge contra violações dos direitos humanos contra os uigures tem, obrigatoriamente, um busto do Nixon na mesa de cabeceira, sonha com o sorriso torto do Dick Cheney, idolatra o Pinochet, defende todas as guerras, é peão do Pentágono e da CIA, por aí fora. Com sentido de humor e ironia, proponho aplicar este absurdo a situações quotidianas. Sei lá, alguém queixa-se que a cerveja não está suficientemente fresca. “Ai não está fresca, então e os ataques de drones no Afeganistão?!”, e pronto, a temperatura da cerveja passa a ser irrelevante.

Um amigo revela que tem o pé dormente. “Ai está dormente?! Então e o regime de tortura permanente de Guantánamo e os black sites da CIA, ãh?!” Resolvido. Vemos este tipo de lógica também aplicado à dicotomia Hitler vs Estaline. Se alguém menciona os horrores do Holocausto só pode ser fã das depurações estalinistas. Um mundo a preto e branco, facebookiano, onde o “whataboutism” impera. Um mundo que pertence às trincheiras da doutrina, à fé fervorosa num determinado quadrante político, ao fundamentalismo.

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