Portugal diz que desvalorização da moeda chinesa não tem impacto nos Panda Bonds

[dropcap]A[/dropcap] desvalorização da moeda chinesa, que se tem verificado nos últimos dias, não terá impacto nas ‘Panda Bonds’ que Portugal emitiu em Maio deste ano, graças à cobertura de risco cambial, segundo o IGCP.

Em resposta à Lusa, o Coordenador do Núcleo de Emissões e Mercados da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Tiago Tavares, salientou que, “relativamente à desvalorização ou valorização da moeda chinesa, importa salientar que o IGCP efectuou a cobertura total do risco cambial associado à primeira emissão de ‘Panda Bonds’”.

Em Maio, Portugal colocou dois mil milhões de renmimbi em ‘Panda Bonds’ a três anos com juros anuais de 4,09%, anunciou em comunicado o Tesouro português.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, afirmou depois, em Junho, que a taxa da emissão de dívida em moeda chinesa foi de 0,62% a três anos após aplicada a cobertura de risco.

De acordo com Filipe Garcia, presidente da consultora IMF, as flutuações cambiais chinesas não alteram as condições, quer do reembolso dos cupões quer do montante final da operação, por estarem “acauteladas pela cobertura da taxa de câmbio”.

O economista disse, em declarações à Lusa, que mesmo que não houvesse cobertura de câmbio “era bom [para Portugal] que a moeda caísse”.

David Silva, analista da corretora Infinox, detalha esta questão à Lusa, referindo que “Portugal colocou dois mil milhões de renminbis, o que equivalia a cerca de 260 milhões de euros ao câmbio no momento da emissão, pelo que, neste momento, o Estado necessitaria de um valor inferior a 260 milhões para ressarcir os seus credores”.

Tiago Tavares, questionado sobre planos para novas emissões, disse ainda que “o programa aprovado pelas autoridades chinesas expira daqui a dois anos e o montante do programa ascende a RMB [renmimbi] cinco mil milhões, cuja primeira emissão foi de RMB dois mil milhões, não estando prevista qualquer calendarização para uma nova emissão”, garantiu.

Por sua vez, David Silva estima que, tendo em conta que “a China utilizou a desvalorização da sua moeda para fazer face ao novo ataque por parte dos Estados Unidos, o renmimbi poderá continuar a perder algum valor propositadamente por mais algum tempo”.

Para o especialista, “o principal ponto passará por perceber quanto custará novamente esta operação, uma vez que o actual ‘rating’ de Portugal e a procura verificada na primeira emissão levam a crer que os investidores chineses iriam voltar a aderir em grande número a nova emissão”.

Para Filipe Garcia, esta questão sempre esteve mais relacionada “com o interesse político do que financeiro. Porque já na altura [da primeira operação] era mais barato Portugal emitir em euros”.

Segundo um comunicado divulgado no ‘site’ do IGCP, em Maio, a procura dos investidores pelos títulos “foi forte”, 3,165 vezes o montante colocado, tendo permitido rever em baixa a taxa de juro para 4,09%.

Mário Centeno reconheceu em Junho que os 0,62% (taxa da emissão) correspondem a “um esforço muito grande da República Portuguesa”, sublinhando que “o prémio que está a ser pago é exactamente” aquele, “para diversificar as suas fontes de financiamento”.

Mário Centeno admitiu que “se calhar [a decisão] é hoje mais questionável do ponto de vista estritamente financeiro do que quando foi tomada”, porque se trata de “um processo muito longo” e actualmente as taxas dos títulos de dívida de Portugal estão muito mais baixas no mercado.

A moeda chinesa voltou ontem a desvalorizar-se face ao dólar norte-americano, depois de sinais de estabilização terem acalmado os mercados financeiros, que registaram quedas acentuadas na segunda-feira com a desvalorização abrupta do yuan. Um dólar norte-americano valeu ontem 7,0488 yuan, mais 0,4% do que na terça-feira.

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