As primeiras embaixadas católicas à China

[dropcap]O[/dropcap] Cristianismo entrou de novo na China em 1583 através do padre jesuíta Matteo Ricci (cujo nome em chinês era Li Ma-tou), a trabalhar no Padroado Português, reinava ainda a dinastia Ming. Longe da memória estavam já os privilégios dos cristãos durante a anterior dinastia, a Yuan dos mongóis. Nos artigos ‘Os primeiros cristãos na China’ e ‘Os primeiros católicos na China’ publicados no HojeMacau a 19 e 26 de Fevereiro de 2016 a História contada leva-nos a deixar aqui um aditamento para a complementar.

O franciscano Frei Lourenço de Portugal em 5 de Março de 1245 foi designado pelo Papa Inocêncio IV (1243-1254) embaixador ao Khan dos mongóis, enquanto outra expedição aos mongóis da Pérsia (os Il-Khan) era feita pelos dominicanos. Na China dominavam já a Norte os mongóis. Frei Lourenço tinha sido ministro provincial da Província de Santiago de Compostela e o Papa nomeou-o Penitenciário Apostólico em S. João de Latrão, passando dois anos como Legado Apostólico no Oriente, durante o conflito entre Roma e Bizâncio. Mas só regressou à Santa Sé em 1248 e assim não foi como embaixador ao Oriente, pois logo em 1245 o Papa enviara à corte mongol o italiano Giovanni del Carpini. Este chegou a 22 de Julho de 1246 à capital Karakorom, onde existia uma tenda a fazer de capela nestoriana. Trazia uma carta para o “Rei e povo tártaro” e vinha negociar com o novo Khan, Guyuk, uma aliança contra o Islão, pois pensava-se ser a campanha mongol contra o Islão. A missão de del Carpini nada conseguiu por não levar presentes e também não prestou homenagem, não se tendo prostrado perante o khan, pois só se prostrava perante Deus. Assim falhou esta embaixada, tal como a de 1252, quando o Rei de França Luís IX mandou o franciscano Guilherme de Ruysbroeck à corte dos Khan, com resultados iguais aos da primeira missão. Chegaram no ano seguinte e encontraram uma grande tolerância dos mongóis à religião, havendo nestorianos, budistas e islamitas na corte.

Os irmãos Pólo, Mafo e Nicolo, o pai de Marco Pólo, encontraram-se com os nestorianos quando chegaram em comércio ao reino dos mongóis. Recebidos por Kublai Khan, o imperador Shi Zu, fundador da Dinastia Yuan, na sua nova capital Khambaliq (Beijing), construída em 1267. O Grande Khan em 1269 nomeou-os embaixadores e partiram para em seu nome pedirem ao Papa o envio de cem sábios, sendo mandados para a China apenas dois dominicanos que nunca lá chegaram.

Em 1286, o Khan da Pérsia, Argun enviou a Roma o nestoriano Bispo Rabban Sauma (Bar Sauma, 1225-1294, mais tarde Vigário-Geral da China, título que recebeu do Patriarca nestoriano de Bagdad, segundo António Carmo) a dizer estar Kublai Khan disposto a receber os católicos.

Franciscanos com os mongóis na China

Meritório trabalho de missionário realizou o franciscano Giovani Montecorvino, escolhido como Legado e Núncio da Santa Sé pelo primeiro Papa franciscano Nicolau IV (1288-1292). Montecorvino partiu em 1291 “cheio de presentes e munido de cartas para o Khan Argun, para o grande Imperador Kublai Khan, para Kaidu, príncipe dos Tártaros, para o Rei da Arménia e para o Patriarca dos Jacobitas. Os seus companheiros eram o dominicano Nicolau de Pistoia e o comerciante Pedro de Lucalongo”, segundo o P. Manuel Teixeira.

Estava investido de toda a autoridade para tratar com o grande Khan, mas ao chegar a Dadu (Beijing) em 1294, ficou a saber ter Kublai Khan morrido e Timur (Imperador Cheng Zong, 1294-1307) sucedido no trono. Este, sem ser Cristão, não pôs obstáculos ao zelo missionário que ali se estabeleceu e pôde-se pregar livremente o Evangelho. Montecorvino em 1300 baptizara já seis mil cristãos quando lhe foi permitida a construção de uma igreja em Dadu e cinco anos depois.

“Em 1305 levantou uma segunda igreja mesmo em frente do palácio do Imperador, juntamente com oficinas e habitações para duzentas pessoas. Aqui reuniu cerca de cento e cinquenta rapazes, de sete a onze anos de idade, ensinou-lhes latim e o grego e estabeleceu as horas canónicas cantadas, como nos seus conventos da Europa, com grande gosto do Imperador, que se deleitava a ouvir as vozes melodiosas das crianças. Eram também estas crianças que faziam o ofício de acólitos, ajudando à missa”, segundo o padre Manuel Teixeira, que refere Montecorvino “familiarizou-se com a língua nativa, podendo assim pregar e traduzir para chinês o Novo Testamento e os Salmos. As maiores dificuldades e obstáculos encontrados na árdua empresa da evangelização da China vieram-lhe da parte dos nestorianos, que então abundavam na China.”

Os sucessos da missionação de Giovani Montecorvino levaram o Papa Clemento V (1305-1314) a enviar sete bispos franciscanos encarregados de o consagrar pela bula Summus Archiepiscopus, mas a Dadu só chegaram três, Geraldo, Peregrino e André de Perúgia. Estes em 1308 nomearam-no Arcebispo de Pequim e Patriarca de todo o Oriente e rumando para Quanzhou sucederam-se uns aos outros como bispos na Sé de Zaiton, estabelecida por Montecorvino. Em 1312, o Primaz de Pequim e de todo o Extremo Oriente recebia mais três novos prelados franciscanos e instituía novas dioceses, para além das já existentes. Depois de trinta e oito anos de vida apostólica na China, Giovanni Montecorvino, com 81 anos, morreu na sua sede Arquiepiscopal de Pequim em 1328. Dez anos após a sua morte, o último dos soberanos da dinastia mongol Yuan, Shun Di (1333-1368), enviou ao Papa uma embaixada, solicitando o envio de mais missionários e um outro legado pontifício. Apelo correspondido, pois o Papa Bento XII nomeou João de Marignoli legado pontifício, seguindo com ele mais vinte e dois padres, que chegaram em 1342 a Dadu, após uma viagem de quatro anos. Mas Marignolli, apercebendo-se que os mongóis nunca conseguiriam conquistar a estima das populações que ocupavam, regressou à Europa em 1345.

Então, o Papa Inocêncio VI ordenou ao superior dos franciscanos o envio de missionários para a China, sendo nomeados três bispos para a Sé de Dadu, mas nenhum aí chegou.
O Khan da Pérsia, Timur (1336-1405) em 1362 começou a perseguir os cristãos, levando à dispersão destas comunidades para a Índia do Sul. Quando o católico quarto bispo de Quanzhou, Giacomo da Firenze foi martirizado em 1363, encerrou-se mais um ciclo da evangelização cristã na China.

Na China, a queda da Dinastia Yuan deu-se em 1368 e com a chegada dos sedentários chineses Han, que formaram a Dinastia Ming, os cristãos saíram do país e acompanharam os mongóis para as terras do Norte.

Durante a Dinastia Yuan, os franciscanos converteram mais de trinta mil chineses, maioritariamente de etnia mongol e como os católicos foram seus protegidos, quando a Dinastia Ming se sentou no trono da China proibiu o Cristianismo. Só duzentos anos depois, em 1583, o jesuíta Matteo Ricci conseguiu reestruturar a missão Católica na China, esquecido que estava o período de terror na qual a população chinesa Han vivera, pois classificada no nível mais baixo do escalão social mongol.

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