h | Artes, Letras e IdeiasA apoteose do concerto grosso Michel Reis - 29 Mai 201929 Mai 2019 Os Concerti Grossi, Op. 6, HWV 319-330 (ou Doze Grandes Concertos), de Georg Friedrich Händel, compostos para um trio concertino de dois violinos e violoncelo e uma orquestra de cordas ripieno em quatro partes com cravo continuo, contam-se entre os melhores exemplos no género concerto grosso barroco. Em grande parte compostos de material novo, foram publicados pela primeira vez em Londres por John Walsh em 1739, e tornaram-se, na segunda edição de 1741, a Opus 6 de Händel. Têm como modelo os antigos concerti da chiesa e os concerti grossi da camera de Arcangelo Corelli, em vez do concerto veneziano de três andamentos posterior de Antonio Vivaldi, tanto do agrado de Johann Sebastian Bach. Apesar do modelo convencional, Händel incorporou nos andamentos destes concertos toda a gama dos seus estilos composicionais, incluindo sonatas trio, árias operáticas, aberturas francesas, sinfonias italianas, árias, fugas, temas e variações e uma variedade de danças. Devido às mudanças nos gostos populares londrinos, a temporada de 1737 foi desastrosa para a empresa de Händel, a segunda Royal Academy of Music, que naquela época administrava sozinho, e também para a sua companhia rival, a Opera of the Nobility. No final da temporada, Händel sofreu um colapso físico e mental, que resultou na paralisia dos dedos de uma mão. Persuadido por amigos, acabaria por ir para as termas de Aix-la-Chapelle (Aachen), onde experimentaria uma recuperação completa. Doravante, com excepção das óperas Giove in Argo, HWV A14 (1739), Imeneo, HWV 41 (1740) e Deidamia, HWV 42 (1741), Händel abandonaria a ópera italiana em favor do oratório inglês, um novo género musical por cuja criação foi grandemente responsável. O ano de 1739 assistiu à primeira apresentação do seu grande oratório Saul, HWV 53, da cantata Ode para o Dia de Santa Cecília, HWV 76, segundo um poema do poeta inglês John Dryden, e do renascimento da sua ópera pastoral ou serenata inglesa Acis e Galatea, HWV 49. No ano anterior, tinha produzido o oratório bíblico Israel no Egipto e em 1740 compôs L’Allegro, il Penseroso ed il Moderato, HWV 55, uma ode pastoral baseada na poesia de John Milton. Händel compôs os Doze Grandes Concertos para a temporada de 1739-1740 do teatro The Lincoln’s Inn Fields, situado na Portugal Street em Londres, para serem executados nos intervalos dos seus oratórios, como um recurso para atrair público. Após o sucesso dos seus concertos para órgão Op. 4, o seu editor John Walsh encorajou-o a compor um novo conjunto de concertos para compra por assinatura sob uma Licença Real adquirida especialmente. Havia pouco mais de 100 inscritos, incluindo membros da família real, amigos, patronos, compositores, organistas e administradores de teatros. Walsh vendeu com sucesso a sua própria edição de 1715 dos célebres doze Concerti grossi, Op. 6, de Corelli, publicados pela primeira vez postumamente em Amesterdão, em 1714. A escolha posterior do mesmo número de opus para a segunda edição de 1741, o número de concertos e a forma musical não podem ter sido inteiramente acidentais, pois Händel, nos seus primeiros anos em Roma, havia encontrado e caído sob a influência de Corelli e da escola italiana. Os doze concertos foram produzidos num espaço de cinco semanas entre o final de Setembro e Outubro de 1739. A composição dos Concerti grossi, Op. 6, tendo em conta o curto período de tempo sem precedentes da sua composição, de apenas pouco mais de um mês, parece ter sido um esforço consciente de Händel para produzir um conjunto de “obras-primas” orquestrais em homenagem aos sempre populares 12 Concerti Grossi, Op,. 6 de Corelli, bem como um registo duradouro das suas habilidades composicionais. Apesar da convencionalidade do modelo corelliano, os concertos são extremamente diversos e em parte experimentais, tirando proveito de todos os géneros musicais possíveis e influenciados por formas musicais de toda a Europa. Sugestão de audição da obra: G. F. Händel, Concerti grossi, Op, 6 Nos. 1-4 The English Concert, Trevor Pinnock – DG Archiv Produktion, 1984</strong