EntrevistaY Ping Chow diz que comunidade chinesa em Portugal apoia candidatura de Ho Iat Seng Andreia Sofia Silva - 20 Mai 2019 Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, há muito que conhece o presidente da Assembleia Legislativa e afirma que a maior parte da comunidade chinesa em Portugal apoia a candidatura de Ho Iat Seng a Chefe do Executivo devido às ligações do candidato a Zhejiang. O responsável defende também a criação de grupos externos à Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, para promover maior representatividade nas eleições Estamos no Porto, onde o Chefe do Executivo termina a sua visita oficial a Portugal. Que balanço faz desta viagem? [dropcap]A[/dropcap]cho que é uma visita sempre interessante, dignifica Macau e cria relações com a região. Mas os macaenses e a comunidade chinesa ainda não se relacionam, porque os macaenses vivem num bloco e os chineses vivem noutro. Gostaria de ver melhores relações entre Macau e Portugal, por motivos históricos. Mas o que tenho reparado é que os anteriores Chefes do Executivo têm uma relação menos próxima com a comunidade chinesa em Portugal, porque são todos de Macau. Nós, a comunidade chinesa, gostaríamos de ter um Chefe do Executivo que conseguisse ter uma relação mais próxima connosco. A comunidade chinesa em Portugal gostaria de participar e promover as eleições para o próximo Chefe do Executivo, porque Macau pode trazer bastantes oportunidades à comunidade chinesa que não é de Macau. O futuro Chefe do Executivo pode não ter origem de Macau, e falo nisto porque o presidente da Assembleia Legislativa (AL) é uma pessoa conhecida e tem relações com a comunidade chinesa em Portugal, por ter ligações a Zhejiang (Ho Iat Seng nasceu em Macau em 1957). Mais de 60 por cento da comunidade é desta província. A Liga dos Chineses, uma vez que a maior parte dos membros são de Zhejiang, dá o seu apoio e gostaria de divulgar ou promover a vinda dele ao país. Embora a eleição não dependa dos portugueses nem dos chineses daqui, a eleição dele pode beneficiar as relações entre o Governo e os chineses residentes em Portugal e pode também trazer grandes benefícios para a comunidade. Concretamente, que tipo de apoios pretendem dar a Ho Iat Seng? Alguns membros do Instituto para a Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Oriente conhecem a realidade e gostam da cultura chinesa. Mesmo em Macau há falta do ensino de sinólogos. Quando Macau era administrado por portugueses não foi criado um instituto para sinólogos, há mais ingleses sinólogos do que portugueses. Fizemos uma reunião, aliás proposta por Júlio Pereira, ele esteve em Macau há pouco tempo e não há um instituto nesse sentido. Neste momento, a China quer abrir-se ao mundo e deveria aproveitar Hong Kong e Macau para promover esse conhecimento sobre os chineses para que haja uma compreensão por parte dos europeus, e vice-versa. É algo que ainda falta muito. Quando estiver com o senhor Ho (Iat Seng), vou-lhe sugerir isso. Quero levar cartas de apoio de associações portuguesas. Neste momento, já tenho três que manifestaram o apoio à candidatura. A única coisa que podemos fazer é mostrar o apoio, porque não temos direito de voto. Podemos sugerir uma estrutura que venha a colaborar com Macau. Isso seria muito importante, uma estrutura ou influência a nível civil ou oficial. Como pode ser feita a aproximação entre o próximo Chefe do Executivo e a comunidade chinesa residente em Portugal? Macau é um território que dá muita oportunidade de negócios. Pessoalmente, acho que Ho Iat Seng é um bom candidato porque, em primeiro lugar, sempre foi empresário. Posso dizer ainda que é uma pessoa honesta, porque nunca se meteu em negócios mais obscuros, como o jogo ou o imobiliário. Como ele tem uma boa relação com a comunidade chinesa daqui e com as entidades da China, pode trazer muitos benefícios. É uma pessoa boa para Macau e tem apoio do Governo chinês. Também pode ser interessante porque a comunidade chinesa de Zhejiang está espalhada por todo o mundo, sobretudo Portugal, França e Espanha. Se Macau quer abrir um pouco mais tem a comunidade do lado dele e é difícil fazer esse contacto por parte do actual Chefe do Executivo ou de outros candidatos com origem diferente. Está à espera de outros candidatos? O que posso dizer, do que conheço, é que Ho Iat Seng é uma pessoa de fácil acesso. Gostava que fosse ele porque já o conheço, sei o que vai fazer com a comunidade chinesa e o que pode fazer por Macau. Através da comunidade chinesa de Portugal, acredito que podem ser estabelecidas relações com Macau. Ele não esquece os seus amigos, mesmo numa posição mais importante. Tem acompanhado o seu trabalho como político na AL? Francamente, falo com alguns amigos, mas não conheço muito sobre o trabalho ao nível da produção de leis. Conheço mais a sua personalidade. Ser presidente da AL e encarar um grupo de deputados críticos é muito difícil. Acho que tem feito um bom trabalho e por isso tem sido um bom político. Sobre a pouca participação nas eleições por parte da comunidade chinesa a residir fora de Macau. Como olha para o sistema de eleição do Chefe do Executivo? O sistema pode ter mais pessoas no colégio eleitoral, para que haja maior diversidade. Poderiam ser criados representantes externos para a comissão eleitoral. Não devia ser um grupo constituído apenas por pessoas ricas e importantes, mas também por pessoas de outras classes sociais. Chui Sai On está de saída do Executivo, que avaliação faz do seu trabalho? Macau desenvolveu-se muito, porque o Governo chinês também apoiou bastante. Sei que as pessoas são felizes em Macau e recebem um cheque todos os anos. Em termos económicos fala-se muito da necessidade de diversificação, mas a verdade é que isso ainda não se materializou. Macau tem poucas coisas para desenvolver porque o território é muito pequeno, mas que se de pode desenvolver na relação com a CPLP e o mundo exterior. Chui Sai On falou imenso na questão das startups, por exemplo. O que é muito bom. Falava há pouco de o facto das empresas portuguesas não conseguirem apresentar ao Fórum Macau projectos que atinjam o valor mínimo permitido para ter acesso ao fundo de investimento, na ordem dos 50 milhões de dólares. Tudo isso tem os seus próprios interesses. Mas o problema do Fórum Macau é que os empresários portugueses têm tirado pouco proveito dele, ou não conseguem aproveitar. A sede do Fórum Macau vai ser transferida para a RAEM. Isso pode levar a uma flexibilização do financiamento? Acho que sim, porque com o Fórum Macau em Pequim é mais difícil aos empresários portugueses, ou de países de língua portuguesa, estarem lá. Passando para Macau vai facilitar muito o trabalho. Marcelo Rebelo de Sousa disse na China que é preciso que os chineses invistam mais na economia real. Concorda? Isso tem vindo a acontecer. Há muitas PME que se querem internacionalizar ou aumentar a notoriedade do seu produto na China. Mas o que acontece é que a lei laboral em Portugal é muito rígida e às vezes os empresários chineses encontram dificuldades. É muito difícil trazer técnicos necessários para trabalhar.