h | Artes, Letras e IdeiasÉ isto António de Castro Caeiro - 14 Set 201814 Out 2018 [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]isto. Uma caixa fechada. O escândalo. O escândalo. Cheguei tarde. Não te conheci. Caixa fechada. Não há corpo. Toda a filosofia do ocidente o diz. O padre diz que não te conheceu. E conheceu-te. Tiveste filhos. Tiveste aspirações, desejos, amores. É isto. O escândalo. O escândalo. Seguimos em frente, João. Chegamos tarde. Cheguei tarde. Era uma feijoada. Era um jantar. A única a oportunidade. Era um dia de calor. Ficamos. Foste. É um escândalo. O escândalo. Seguimos em frente. A memória. A fé. A saudade. Seguimos em frente. Levaste gente sem número como o número dos grãos da areia. Foste ao litoral. Vieste ao interior. Tiveste filhos. Onde estás tu só com pele? Seguimos em frente. Numa aldeia próxima de Lisboa, com o cão negro de nome de presidente. Falamos de literatura. É preciso fazer. É preciso fazer. Livros são como hortas. E os teus filhos ficaram meus irmãos. E o teu filho é meu irmão. Cita o Evangelho. Voltarei. Voltarás. Não chorarei mais. A alegria é a esperança. Não faz mal. O amor é mesmo assim. Eras o meu pai. És o meu pai. Já não há nada. Nunca há nada sem ti. E eu entrego o coração. O meu coração é teu. Tenho mulher e filhos. Tenho-te a ti, meu amor. Tu segues o teu caminho. Eu perdi-te. Sei que o amor existe. E choro por ti. Tudo passa. Nada fica. Nada ficará. Eu encontro-te no teu corpo. Eu encontro-me no teu corpo. Eu encontro-te no teu corpo.