Sporting | Ricciardi diz que nunca foi “presidente sombra” e alerta para situação financeira do clube

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] candidato à presidência do Sporting José Maria Ricciardi desmente que tenha sido “um presidente sombra” nos últimos anos e alertou para as dificuldades de tesouraria que o clube pode enfrentar esta época.

“Nunca fui presidente sombra nem andei a dar ordens dentro do Sporting. São mitos que se criam. Resolvi avançar [com a candidatura], porque o Sporting está numa situação muito difícil. É resolúvel, mas está a subestimar-se a situação”, frisou Ricciardi, em entrevista à agência Lusa.

O banqueiro, de 63 anos, considera que os opositores nas eleições de sábado “ainda não se aperceberam da situação em que o clube se encontra”, apontando-lhes “inconsciência e imaturidade, que nada tem a ver com idade”.

“Estávamos à espera que aparecesse uma candidatura que desse garantias de experiência, de conhecimento, de saber lidar com investidores, maturidade e experiência de gestão, porque, hoje em dia, o Sporting é uma realidade empresarial. Achámos que as outras candidaturas não nos ofereciam isso”, referiu à Lusa.

Ricciardi rejeitou que tivesse contribuído para os problemas que afetaram o BESI e lembrou que continuou a ser “presidente do banco de investimentos mais importante do país durante quase mais três anos”, e que foi distinguido com o “prémio de melhor banqueiro da Europa”.

O presidente a ser eleito no sábado vai suceder a Bruno de Carvalho, ex-líder dos ‘leões’, que foi destituído pelos sócios em 23 de junho e o qual foi apoiado, durante muito tempo, pelo próprio José Maria Ricciardi. O volte-face, segundo Ricciardi, aconteceu com a reeleição de Bruno de Carvalho, no ato eleitoral de 2017.

“É alguém que destruiu o trabalho positivo que estava a fazer, em certos aspetos bastante positivo mesmo. A partir da reeleição, quando teve quase 90%, começou-se a degradar com toda a gente. Foi piorando até ao jogo com o Atlético de Madrid. Nunca tinha visto na vida um presidente desvalorizar a sua própria equipa de futebol. Arruinou o trabalho positivo que tinha feito”, reconheceu.

A situação financeira do clube e da SAD merece a preocupação do candidato, que começou por lembrar a ‘herança’ deixada por Bruno de Carvalho. De acordo com Ricciardi, “só uma equipa de gente experimentadíssima e com capacidade para se relacionar rapidamente com investidores” poderá fazer face a um “défice de tesouraria para a época toda que pode atingir os “122 milhões de euros (ME)”.

A ausência da fase de grupos da Liga dos Campeões de futebol também merece a atenção do candidato, numa altura em que as verbas pagas pela UEFA aos clubes que nela participam são cada vez maiores.

“Estamos a caminhar para uma primeira divisão europeia em que as diferenças entre os clubes que lá estão e os que não estão são cada vez mais profundas. Se nós falharmos agora, o que, se certas candidaturas ganharem, tem probabilidade alta, nunca mais lá vamos”, sublinhou.

Contudo, José Maria Ricciardi acredita que o primeiro grande desafio do próximo presidente do Sporting passa pelo reembolso do empréstimo obrigacionista de 30 ME, que deveria ter sido efetuado em maio e acabou adiado para novembro.

“É a primeira vez que o Sporting ou qualquer clube de futebol não honra o compromisso na data do empréstimo. Se falhar este pagamento, vai ser catastrófico. Será que os sócios têm consciência da dificuldade que isto representa, da credibilidade que se tem de ter, do conhecimento dos mercados de capitais? Sei que há muitos que não valorizam isso, mas é altura de começarem a pensar nisso, porque, depois, não há futebol”, vincou.

Por outro lado, Ricciardi reforçou a intenção de presidir ao conselho da administração da SAD, caso seja eleito presidente do clube: “Não quero que se passe o que se passou no Belenenses. O presidente do clube deve ser o presidente do conselho de administração da SAD, mas isso não significa que não possa haver um presidente executivo na SAD, no dia a dia.”

Aposta no título e gestão “racional” das modalidades

José Maria Ricciardi pretende também trabalhar para o título de campeão nacional de futebol logo no dia seguinte às eleições no Sporting, está confiante no trabalho desenvolvido na Academia e quer inverter a gestão financeira nas modalidades. O candidato pela lista B assegurou que, em caso de triunfo no ato eleitoral de sábado, começará imediatamente a trabalhar para recuperar um título que escapa aos ‘leões’ desde 2002.

“Em 2002, estive no autocarro da equipa e vi mais de 500 mil sportinguistas na rua, a celebrar. Não se via um centímetro quadrado de chão. Depois, nesta última final da Taça de Portugal, vi centenas de crianças e adolescentes a chorar e disse a mim mesmo que o Sporting é um clube extraordinário. Ao fim de tantos anos sem ganhar, ainda tem toda esta gente nova e que sofre desta maneira pelo clube. A minha primeira grande medida é dar uma grande alegria a toda esta gente, que é sermos campeões outra vez”, afirmou à Lusa.

Ricciardi admitiu que o Sporting parte em desvantagem perante os rivais Benfica e FC Porto na luta pelo cetro, mas recorreu ao exemplo dos portistas na última temporada.

“Quando se diz no início que vamos ser campeões nacionais, isso coloca logo uma pressão tremenda na equipa. O FC Porto, no ano passado, dizia-se que era a equipa mais fraca, não tinha condições de comprar jogadores por causa do ‘fair play’ financeiro, tinha um novo treinador e acabou por ser campeão. Portanto, acho que está tudo em aberto”, referiu.

O banqueiro, de 63 anos, reforçou a confiança em José Peseiro e lembrou que o técnico não ganhou o campeonato e a Taça UEFA em 2005 “por uma unha negra”: “É preciso apoiar quem lá está. Gostava muito de ter o Mourinho ou o Guardiola como treinador, mas isso não é possível. Para mim, neste momento, o melhor treinador do mundo é o José Peseiro.”

Apesar das reservas de outros candidatos para com a aposta em José Eduardo para o cargo de diretor para o futebol, Ricciardi manifesta total confiança no antigo futebolista dos ‘verde e brancos’: “O José Eduardo foi campeão duas vezes pelo Sporting. A maioria destes senhores que criticam o José Eduardo não faz ideia do que é ser campeão nacional, nunca esteve lá dentro.”

De resto, deixou algumas críticas aos opositores: “O Dr. [Frederico] Varandas deu um ‘tetra’ ao Benfica, um campeonato ao FC Porto e um sétimo lugar ao Sporting. O [João] Benedito nunca esteve no futebol na vida. Essa história de o José Eduardo estar fora do futebol é um argumento infundado. Está mais dentro do que qualquer um deles, porque foi profissional de futebol toda a vida e ganhou campeonatos, coisa que eles não sabem o que é, não fazem ideia.”

Por outro lado, Ricciardi considerou que o Sporting “tem uma das melhores academias do mundo”, onde se formaram “dois dos melhores jogadores do mundo”, e que deve voltar “a apostar tudo na formação”.

“Nestes últimos anos, deixou-se de apostar tanto na academia, para se comprar cerca de 150 jogadores, alguns dos quais nem se percebe como foi possível contratar. Houve esta interrupção, mas vem aí uma nova linha de jogadores excecionalmente bons entre os 13 e 15 anos. Daqui a dois ou três anos, vamos começar a ter uma quantidade maior de jogadores da formação”, transmitiu.

Já no que diz respeito às modalidades, o candidato pela lista B acredita que é possível continuar a ter sucesso sem ser necessário gastar cerca de 20 milhões de euros todas as épocas, bastando, para isso, “uma gestão e um controlo orçamental mais racionais”.

“Não podemos ter modalidades sem orçamento e, como não há orçamento, não há responsabilização de quem lá está, nem a monitorização dos desvios. O Sporting é gerido como não se gere uma empresa há 50 anos. Isso faz com que se gaste mais dinheiro do que o necessário, caso houvesse um rigor e um controlo muito apertado. E isto não põe em causa as vitórias nas modalidades”, apontou.

As eleições no Sporting estão marcadas para sábado. Além de José Maria Ricciardi, concorrem ao ato eleitoral João Benedito (lista A), Pedro Madeira Rodrigues (C), Frederico Varandas (D), Rui Jorge Rego (E), José Dias Ferreira (F) e Fernando Tavares Pereira (G).

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