Admiração chinesa por Putin reflecte sentimento anti-ocidental

Reportagem de João Pimenta, da Agência Lusa
[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ilhões de chineses declararam-se fãs do líder russo, Vladimir Putin, segundo uma pesquisa ‘online’ realizada nas vésperas da sua visita à China, ilustrando o ressentimento antiocidental no país, apesar das reformas económicas pró-capitalistas das últimas décadas.

“É seguro afirmar que Putin tem mais apoiantes na China do que qualquer outro líder estrangeiro”, afirmou Li Xing, diretor do Centro de Estudos da Eurásia, da Beijing Normal University, citado pelo Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês.

Dezenas de biografias e ensaios sobre Putin estão hoje disponíveis na China, onde o atual Presidente, Xi Jinping, pôs fim à noção de liderança coletiva que perdurou no país nas últimas décadas, assumindo-se como o líder chinês mais forte desde Mao Zedong, o fundador da República Popular.

“Putin: Ele Nasceu para a Rússia”, “O Punho de Ferro de Putin”, “Putin: O Homem Perfeito aos Olhos das Mulheres” e “O Charme do Rei Putin” são alguns dos títulos expostos nas livrarias chinesas.

Coletâneas de discursos e entrevistas de Putin estão também publicadas na China, numa distinção rara para um estadista estrangeiro.

Uma pesquisa ‘online’ realizada pela emissora estatal China Media Group, ao longo de uma semana, com a questão “Quem é fã de Putin?” foi preenchida por cerca de dez milhões de internautas chineses, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua.

“Putin tornou-se um ícone político, duro e implacável, na resistência à hegemonia do ocidente”, afirma um estudante chinês de 26 anos, formado em Relações Internacionais. “Ele é um grande estadista, que renovou as esperanças e a fé do povo russo após a desintegração da União Soviética”, acrescentou.

No Sina Weibo, o Twitter chinês, um internauta explica a admiração dos chineses por Putin assim: “Gostamos dele porque o mundo ocidental teme-o”.

O próprio Presidente chinês, que este ano emendou a Constituição para poder permanecer no poder sem limite de mandatos, admitiu já que ele e Putin têm “personalidades semelhantes”.

A admiração é reciproca. Numa entrevista recente a uma emissora estatal chinesa, Vladimir Putin afirmou que Xi é o único líder mundial que ele convidou para a sua festa de aniversário.

“Bebemos um ‘shot’ de vodka e comemos umas salsichas no final de um dia de trabalho”, afirmou.

O líder russo considerou Xi um “parceiro agradável” e “um amigo de confiança”.

A Rússia e a China alinharam já posições nas Nações Unidas, ao oporem-se a uma intervenção na Síria e anularem tentativas de criticar as violações dos direitos humanos pelos dois países.

Moscovo apoia a oposição de Pequim à navegação da marinha norte-americana no Mar do Sul da China.

Ambos os países realizaram já exercícios militares conjuntos, incluindo no Báltico. A Rússia partilhou também com a China alguma da sua tecnologia militar mais avançada.

A nível económico, no entanto, a cooperação segue aquém da cooperação política e no âmbito da segurança.

A China é o principal parceiro comercial da Rússia, enquanto a Rússia surge em décimo lugar entre os parceiros de Pequim. O comércio bilateral fixou-se, em 2017, em 90 mil milhões de dólares (76 mil milhões de euros).

Em comparação, as trocas comerciais entre Pequim e Washington ascenderam a 636 mil milhões de dólares (538 mil milhões de euros), no mesmo período, com os EUA a registaram um deficit de 375,2 mil milhões de dólares (mais de 317 mil milhões de euros).

Putin visita entre hoje e domingo a China, onde participará no fórum da Organização de Cooperação de Xangai, organização que reúne vários países da eurásia e é dedicada a questões de segurança.

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