Presidente do CCB quer transformá-lo numa “cidade aberta” para o público

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente do Centro Cultural de Belém, Elísio Summavielle, quer deixar uma marca de “cidade aberta” no funcionamento deste equipamento cultural, com uma programação “eclética e coerente” para os públicos que tem recebido, ao longo de 25 anos.

Numa entrevista à agência Lusa, a propósito da efeméride, que se cumpre no dia 21 de março, com a celebração de um “Dia Aberto”, o responsável recordou que esse conceito de “cidade aberta” é inspirado no arquiteto Vittorio Gregotti, autor do projeto do CCB, em conjunto com Manuel Salgado.

“Em 1992, Vittorio Gregotti falava nesse conceito de cidade aberta para o funcionamento do CCB. É nele que se inspira esta ideia de uma programação mais aberta, com a qualidade e diversidade que estamos a atingir cada vez mais”, avaliou Elísio Summavielle.

Depois de terminada a Presidência Portuguesa da União Europeia, o CCB começou a apresentar uma programação cultural dirigida a vários públicos, com espetáculos que passaram pela música erudita, o jazz, o pop e o rock, a dança e o teatro, abriu uma Sala de Leitura, ciclos dedicados à literatura, acrescentando ainda as atividades pedagógicas para os mais novos na Fábrica das Artes.

Para os próximos anos, o presidente do CCB quer projetos de maior ambição, com mais eventos de verão, ao ar livre, nos jardins, nomeadamente, já este ano, com festas e cinema, para celebrar, entre outros temas, os 50 anos dos acontecimentos de maio de 1968.

“O próprio público fará esse julgamento, mas temos uma programação mais eclética. Criámos temporadas e ciclos sobre as artes, o pensamento”, recordou, acrescentando que o centro cultural também tem procurado criar projetos em parceria, como já aconteceu com o Teatro Nacional de São Carlos, na ópera.

Ainda nas parcerias, o responsável considera importante reforçá-las também noutras áreas, como na música contemporânea: “Há qualidade na produção artística dos nossos jovens, e é papel do CCB estimular a criação nas artes performativas”.

Uma das novidades introduzidas por Elísio Summavielle – que entre os seus antecessores teve Vasco Graça Moura – nomeado pelo ministro da Cultura João Soares, foi o cinema: “Tal como eu previa, está a ser um sucesso. Temos tido casa, senão cheia, quase, para ver grandes filmes, com um auditório de 1.500 lugares para pessoas que gostam de ver cinema à moda antiga”.

Para o presidente do CCB, há, sem dúvida, “muito público grisalho”, de pessoas aposentadas, que têm tempo, e frequentam o centro cultural, procurando iniciativas na área da literatura e do pensamento, debates, ou círculos literários.

“Mas também temos os mais jovens, as crianças, na programação da Fábrica das Artes, acompanhados muitas vezes pelos avós”, apontou, sobre o tipo de público que frequenta o equipamento cultural.

O projeto foi muito contestado ainda antes de acolher, em 1992, a sede da Presidência Portuguesa do Conselho Europeu, mas, ao longo dos anos, foi conquistando o reconhecimento entre os espaços culturais de referência em Lisboa.

Este grande complexo arquitetónico – uma das maiores obras públicas do Estado Português do século XX – suscitou polémica logo no final dos anos de 1980, com a escolha da sua localização, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, monumento do século XVI classificado Património Mundial pela UNESCO, devido às linhas despojadas e monolíticas escolhidas para o edifício.

Outra mudança polémica foi o fim do Centro de Exposições do CCB, que acabou por ser encerrado para acolher, em junho de 2007, o Museu Coleção Berardo, com as peças cedidas ao Estado pelo colecionador e empresário José Berardo, em regime de comodato, durante dez anos, entretanto renovados.

Questionado sobre essa relação com o Museu Coleção Berardo – que renovou, em 2017, o acordo com o Estado para se manter instalado no CCB, e que começou no ano passado a cobrar bilhetes, anteriormente gratuitos – Elísio Summavielle indicou que o centro cultural não recebe nada dessa receita.

“As receitas de bilheteira revertem para o Museu Coleção Berardo e a sua programação e recursos humanos. A manutenção do espaço, energia, segurança continuam a ser custos assegurados pela Fundação CCB”, disse.

Nestes 25 anos, a programação de espetáculos levou, aos palcos do CCB, música, teatro, dança, artistas nacionais e estrangeiros de várias áreas, como a coreógrafa Pina Bausch, a meio-soprano Cecília Bartoli, os maestros Jordi Savall, Ton Koopman e Jos van Immerseel, os pianistas Maria João Pires, Keith Jarrett e Bernardo Sassetti, o compositor Philip Glass, a banda Sigur Rós, e outros músicos como Anner Bylsma, Jean-Guihen Queyras e Roel Dieltiens.

Foi no CCB que se estrearam os portugueses The Gift e atuaram, entre outros, os Madredeus, os GNR, Sérgio Godinho, Luís Represas, Jorge Palma, Mariza, Camané, Fausto e Jorge Palma.

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