Poesia de Georg Trakl

Ao anoitecer meu coração

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o anoitecer ouvem-se os morcegos trissar.

Dois cavalos pretos saltam sobre o prado

O ácer vermelho rumoreja.

Ao viandante aparece a pequena taberna à beira da estrada.

Delícia saborear vinho novo e nozes.

Delícia vacilar bêbedo na floresta ao crepúsculo.

Através da ramagem negra tinem aflitos os sinos.

Sobre o rosto goteja o orvalho.

 

Zu Abend mein Herz[1]

 

Am Abend hört man den Schrei der Fledermäuse.

Zwei Rappen springen auf der Wiese.

Der rote Ahorn rauscht.

Dem Wanderer erscheint die kleine Schenke am Weg.

Herrlich schmecken junger Wein und Nüsse.

Herrlich: betrunken zu taumeln in dämmernden Wald.

Durch schwarzes Geäst tönen schmerzliche Glocken.

Auf das Gesicht tropft Tau.

[1] TRAKL, GEORG. (2008). Das dichterische Werk: Auf Grund der historisch-kritischen Ausgabe. Editores: Walther Killy e Hans Szklenar. Munique. Deutscher Taschenbuch Verlag, p. 20.

 

Dia de Todos os Santos
a Karl Hauer

Triste aliança, homenzinhos, mulherinhas,

Espalham hoje flores azuis e encarnadas

Sobre as suas sepulturas, que timidamente se aclararam.

Agem como pobres marionetas perante a morte.

 

Oh! Como parecem existir aqui cheios de angústia e humildade,

Como sombras de pé atrás de negros arbustos.

No vento de outono, lamenta-se o choro das crianças não nascidas,

Também se vêem luzes perderem-se na loucura.

 

Os suspiros dos amantes sopram nos ramos

E lá apodrece a mãe com a sua criança.

Irreal parece a dança dos seres vivos

E admiravelmente espalha-se no vento nocturno.

 

Tão confusa a vida deles, tão cheia de lúgubres tormentos.

Tem piedade, Deus, do inferno e do martírio das mulheres,

E do seu lamento mortal, desesperançado.

Sozinhas, em silêncio, vagueiam na sala das estrelas.

 

Allerseelen[1]
An Karl Hauer

Die Männlein, Weiblein, traurige Gesellen,

Sie streuen heute Blumen blau und rot

Auf ihre Grüfte, die sich zag erhellen.

Sie tun wie arme Puppen vor dem Tod.

 

O! wie sie hier voll Angst und Demut scheinen,

Wie Schatten hinter schwarzen Büschen stehn.

Im Herbstwind klagt der Ungebornen Weinen,

Auch sieht man Lichter in der Irre gehn.

 

Das Seufzen Liebender haucht in Gezweigen

Und dort verwest die Mutter mit dem Kind.

Unwirklich scheinet der Lebendigen Reigen

Und wunderlich zerstreut im Abendwind.

 

Ihr Leben ist so wirr, voll trüber Plagen.

Erbarm’ dich Gott der Frauen Höll’ und Qual,

Und dieser hoffnungslosen Todesklagen.

Einsame wandeln still im Sternensaal.

[1] TRAKL, GEORG. (2008). Das dichterische Werk: Auf Grund der historisch-kritischen Ausgabe. Editores: Walther Killy e Hans Szklenar. Munique. Deutscher Taschenbuch Verlag, p. 21.

 

Os camponeses

 

À frente da janela, ressoam o verde e vermelho.

E na sala baixa enegrecida pelo fumo,

Sentam-se os criados e as criadas à refeição;

Servem o vinho e partem o pão.

 

No silêncio profundo do meio-dia,

Uma escassa palavra, por vezes, cai.

Os campos, sem cessar, cintilam

E o céu é de chumbo e vasto.

 

Grotesca a brasa cintila no fogão,

E um enxame de moscas zumbe.

As criadas estão à escuta, tontas e caladas,

E o sangue martela as suas frontes.

 

E às vezes cruzam-se olhares cobiçosos,

Quando um odor animal enche todo o quarto.

Monocórdico um criado faz as suas orações,

E debaixo da porta, um galo canta.

 

E de novo no campo. Um horror frequente apodera-se

Deles no fragor das espigas frementes,

E, tinindo, baloiçam, indo e vindo,

Numa cadência fantasmagórica, as foices.

 

Die Bauern[1]

 

Vorm Fenster tönendes Grün und Rot.

Im schwarzverräucherten, niederen Saal

Sitzen die Knechte und Mägde beim Mahl;

Und sie schenken den Wein und sie brechen das Brot.

Im tiefen Schweigen der Mittagszeit

Fällt bisweilen ein karges Wort.

Die Äcker flimmern in einem fort

Und der Himmel bleiern und weit.

Fratzenhaft flackert im Herd die Glut

Und ein Schwarm von Fliegen summt.

Die Mägde lauschen blöd und verstummt

Und ihre Schläfen hämmert das Blut.

Und manchmal treffen sich Blicke voll Gier,

Wenn tierischer Dunst die Stube durchweht.

Eintönig spricht ein Knecht das Gebet

Und ein Hahn kräht unter der Tür.

Und wieder ins Feld. Ein Grauen packt

Sie oft im tosenden Ährengebraus

Und klirrend schwingen ein und aus

Die Sensen geisterhaft im Takt.

 

[1] TRAKL, GEORG. (2008). Das dichterische Werk: Auf Grund der historisch-kritischen Ausgabe. Editores: Walther Killy e Hans Szklenar. Munique. Deutscher Taschenbuch Verlag, p. 20-21.

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