Palácio Nacional de Mafra – 300 anos do lançamento da primeira pedra

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ez no passado dia 17 de Novembro 300 anos que foi lançada a primeira pedra do Palácio Nacional de Mafra (PNM). As entidades com responsabilidades na gestão deste notável conjunto patrimonial organizaram um vasto programa comemorativo, que teve início há um ano, no dia 17 de Novembro de 2016, e culminou com a inauguração da Exposição “Do Tratado à Obra – Génese da Arte e da Arquitectura no Palácio de Mafra” no dia 17 de Novembro de 2017, seguida do concerto de encerramento das comemorações.

No mesmo dia, foi ainda lançado o 35º número da revista Monumentos, uma edição da Direcção-Geral do Património Mundial, dedicada ao palácio. No início do corrente mês de Novembro, foi reaberta ao público a Sala do Trono do palácio, após obras de restauro das pinturas neoclássicas que revestem o tecto e as paredes da sala (graças ao mecenato da Fundação BCP), da autoria de Cirilo Volkmar Machado e Domingos Sequeira.

O Palácio Nacional de Mafra é uma obra maior do Barroco, em Portugal e na Europa, e o mais importante monumento representante deste estilo em Portugal, nomeadamente do barroco joanino. Foi mandado construir pelo Rei D. João V em cumprimento de um voto para obter sucessão do seu casamento com D. Maria Ana Josefa, Arquiduquesa da Áustria ou, há quem diga, a cura de uma doença de que sofria, e inclui uma basílica de grandes dimensões, um convento, um palácio real, uma magnífica biblioteca com mais de 40 mil volumes, e outras instalações.

O instrumentário da basílica inclui o único conjunto conhecido de seis órgãos construídos para execução simultânea, bem como dois carrilhões, ambos do século XVIII (torres Norte e Sul), fabricados na Flandres, os maiores do mundo.

A Exposição “Do Tratado à Obra – Génese da Arte e da Arquitectura no Palácio de Mafra”, curada por Sandra Vaz Costa (historiadora de arte da Direcção Geral do Património Cultural – DGPC), Sérgio Gorjão (museólogo do PNM/DGPC) e Paulo Pereira (professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa) e com design de José Dias, comemora os 300 anos do lançamento da primeira pedra do imponente edifício barroco mandado erguer pelo Rei D. João V.

Espalhada ao longo de várias salas do palácio, foca-se na construção do monumento, mais propriamente no trabalho do alemão Johann Friedrich Ludwig, conhecido em Portugal como João Frederico Ludovice, o arquitecto principal, também autor, entre outros, do projecto da Capela de S. João Baptista da Igreja de S. Roque, mas também de outros arquitectos que contribuíram para a sua edificação. Inclui gravuras, materiais e instrumentos de construção, modelos de estátuas e vários objectos, de pesos a cabrestantes e compassos a moitões, contando com uma parceria com a Faculdade de Arquitectura de Lisboa, que, segundo a directora-geral do Património Cultural, Paula Silva, fez um varrimento de laser 3D que foi aproveitado para uma maqueta de madeira do palácio que ainda não está disponível, mas fará em breve parte da exposição.

Trata-se de uma mostra inédita que, tal como o seu catálogo, envolve as mais recentes investigações de reputados especialistas sobre a génese do pensamento e da cultura artística e arquitectónica barroca. A mostra ficará patente ao público português até 31 de Maio de 2018, seguindo-se uma itinerância na Baviera, na Alemanha, país de origem do arquitecto régio João Frederico Ludovice, que se viria a naturalizar português, a quem João V confiou a concepção deste monumental conjunto arquitectónico.

Uma mostra em processo

Segundo declarou Paulo Pereira ao jornal Público, a mostra era para ser apenas uma exposição de módulos informativos relativos a Ludovice, mas foi ganhando peso a hipótese de mostrar muitas das peças que fazem parte das reservas do palácio, que têm um valor imenso e raramente foram expostas. Este curador realçou também o foco na “materialidade da obra” e o facto de a mostra incluir tratados de arquitectura do século XVIII, vindos da biblioteca do PNM, que dão uma ideia das técnicas e conhecimentos que foram necessários para criar a obra. E ainda a envergadura dos trabalhos, que, na recta final da construção, envolveram cerca de 45 mil homens, após um mandato do rei a obrigar todos os operários do reino a irem para Mafra – que levou a que houvesse um período em que no resto do país não tivesse havido reparações nem novas obras. Referiu ainda que o objectivo é que esta recolha e investigação dêem origem a algo mais permanente, havendo a intenção de constituir um museu da obra, que pode reunir muitos dos materiais que se podem ver na exposição.

Numa organização conjunta da Direcção Geral do Património Cultural/ Palácio Nacional de Mafra, Câmara Municipal de Mafra, Escola das Armas, Paróquia de Mafra e Tapada Nacional de Mafra, o programa comemorativo dos 300 anos, pautado pelas palavras-chave “qualificar” e “conhecer”, pretendeu dar a conhecer o diversificado conjunto patrimonial, candidato a Património Mundial da UNESCO, através da promoção de iniciativas como conferências, exposições, recriações históricas, lançamento de livros, concertos, espectáculos piro-musicais ou videomapping. Ao mesmo tempo, estas comemorações são sinónimo de investimento na qualificação dos espaços e dos mais singulares equipamentos, destacando-se a recuperação dos notáveis carrilhões do Palácio (cujo processo de concurso se encontra em fase de conclusão) e das pinturas murais da sala do trono, inaugurada no início do mês, assim como a melhoria das acessibilidades físicas e de comunicação (elevador, acesso à Basílica, nova sinalética e tabelas nas salas, e instalação de áudio-guias).

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