h | Artes, Letras e IdeiasXian Xing Hai ao serviço da Revolução José Simões Morais - 27 Out 2017 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] génio de Xian Xing Hai (冼星海), como músico e compositor, contrasta com as grandes privações e dificuldades materiais por que passou durante toda a vida e a sua luta quotidiana, levada pela vontade de aprender e de aperfeiçoamento, transmitiu-a pela acção política, aliando-a com a sua obra artística. No artigo da semana passada, escrevemos sobre a sua vida, desde 1905, quando nasceu em Macau, onde passou os primeiros seis anos, até regressar com trinta anos a Xangai, após os estudos feitos em Singapura, Cantão e Pequim e entre 1929 e 1935 em Paris. As criações durante a estadia em França marcaram a primeira das suas quatro fases musicais e “inclinam-se para o recital, o canto e a música de câmara”, como refere Wang Ci Zhao no artigo ‘A Vida e a Obra do Compositor Xian Xing Hai’ (R.C. n.º 26, II Série), de onde retiramos as citações. Já em Xangai, no Verão de 1935 começou a trabalhar no manuscrito que viria a ser a sua primeira sinfonia, terminando dois anos depois o esboço inicial da partitura da obra ‘Emancipação Nacional’, ou ‘Libertação do Povo’. Em 1936, “com o apoio de amigos conseguiu colocação na Companhia de Discos Bai Dai e na Companhia Cinematográfica Xin Hua, como compositor”, segundo Wang Ci Zhao, que adita, “Quando começou a guerra de resistência contra o Japão, em 1937, participou na ‘Associação de Canto para a Salvação Nacional’ de Xangai, como funcionário dos Assuntos Gerais. Deixou Xangai com o ‘II Grupo Ambulante de Teatro no Tempo da Guerra’ e passou por Suzhou, Nanjing, Kaifeng e Luoyang, para chegar em Outubro a Wuhan, centro da resistência”. Veiga Jardim no artigo ‘Três Compositores de Macau’, na Revista Macau de Fevereiro 1994, refere, “Nessa época turbulenta, a sua arma foi a música, através da qual retratava os anseios de liberdade da nação chinesa. Compõe neste período a obra que o tornaria imortal: a Cantata do Rio Amarelo, mais tarde transformada, por membros da Sociedade Filarmónica Central da China, no Concerto para piano do mesmo nome. Após um breve período a trabalhar em estúdios de cinema, em 1938 é apontado director da Academia de Música da cidade de Lu Hsun (Yanan).” Já Wang Ci Zhao diz, “Em Abril de 1938, ingressou na III Repartição do Departamento de Política do Conselho Militar do Governo Nacionalista, dirigida por Guo Moruo [que em conjunto com Lu Xun, pseudónimo literário de Zhou Shuren, entre 1927 e 1928 tinham desencadeado o movimento literário revolucionário] e assumiu, juntamente com Zhang Chu, as responsabilidades do Trabalho Musical da Guerra de Resistência, ao mesmo tempo que se dedica às actividades de criação musical”. Nesta segunda fase, “As criações realizadas durante a estadia em Xangai e Wuhan, de 1935 a 1938, são principalmente adaptações musicais para o cinema progressista e canções de salvação nacional. O estilo é claramente influenciado pela nova música da China, cujo autor mais representativo é Nie Er. O seu conteúdo reflecte o ardor patriótico e as exigências anti-monárquicas e anti-feudalistas”, Wang Ci Zhao. Em Wuhan, conheceu Qian Yun Ling (钱韵玲), filha de Qian Yi Shi (um conhecido membro do Partido Comunista) e a 20 Julho de 1938 celebraram o noivado, tendo Zhou Enlai patrocinado a viagem de lua-de-mel. Assim partiram de Wuhan para Xian e encontrava-se já casado quando chegou a Yanan. “Em Novembro de 1938 aceitou o convite do recém-criado Instituto de Artes de Lu Xun, de Yanan, para onde se deslocou com a mulher para desempenhar as funções de professor do Departamento de Música, assumindo a responsabilidade pedagógica dos cursos principais, nas áreas de Teoria da Composição, História da Música e Direcção de Orquestra”, segundo Wang Ci Zhao. A situação na China Desde a morte de Sun Yat-Sen em 1925, na China vivia-se tempos difíceis, ocorrendo a luta interna no Guomintang, liderado por Chiang Kai-shek (1887-1975), que em 1927 expulsou os comunistas do Partido Nacionalista. A 18 de Setembro de 1931 o exército japonês invadiu Shenyang, ocupando em quatro meses todo o Nordeste chinês (Liaoning, Jilin e Heilongjiang), cometendo graves atrocidades contra o povo chinês. Depois criaram o Estado do Manchukuo (1932-1945), com a capital em Changchun, na província de Jilin e colocaram o antigo imperador manchu Pu Yi, destronado em 1912 pela República de Sun Yat-sen, de novo como imperador, agora da Manchúria. Wang Ming (1905-1974), chefe do Partido Comunista entre 1931 a 1935, era um dirigente pró-soviético e encontrava-se quase sempre em Moscovo. Por isso, em Janeiro de 1935 Mao Zedong ficou como líder do Partido Comunista e do Exército Vermelho. Tal deveu-se aos muitos erros estratégicos de comando em Outubro de 1934, quando o Exército Vermelho teve de retirar-se das províncias de Fujian e Jiangxi, dando-se início à Longa Marcha, que ocorreu até 1936 e durante a qual os comunistas, liderados por Mao Zedong, conseguiram evitar ser aniquilados pelas tropas de Chiang Kai-shek. Dos iniciais 130 mil participantes sobreviveram 30 mil, com quem Mao montou o seu exército. Esperava-se que a Guerra Civil travada na China entre o Partido Nacionalista (GMT) e o Comunista (PCC) fosse suspensa para combater os invasores japoneses, mas tal não aconteceu. Os estudantes, descontentes com a política do Guomintang de não resistência à ocupação japonesa e virado apenas para o combate contra o PCC, a 9 de Dezembro de 1935 saíram em protesto à rua em Beiping (Beijing). Conhecido por Movimento de 9 de Dezembro de 1935, este movimento estudantil, que se estendeu a outras cidades, procurou colocar o foco na resistência à invasão japonesa. Também a tentativa do Partido Comunista, em conjunto com muitos dos líderes do GMT, para terminar com a guerra civil e combaterem juntos os japoneses, foi minada por Chiang Kai-shek. Este, tirando partido dessa aliança, tentou derrotar as forças comunistas em 31 de Outubro de 1936, quando deu ordens aos seus exércitos para atacarem o dividido Exército Vermelho, que em conjunto com as tropas do GMT combatiam os japoneses. Valeu ao Exército Vermelho os generais Zhang Xueliang e Yang Hucheng, à frente do exército nacionalista da região centro, não acatarem as ordens e assim conseguiu sair incólume do episódio conhecido por Incidente de Xian. Em 12 de Dezembro 1936, com a prisão de Chiang Kai-shek (libertado uma semana depois) e outros 12 comandantes, terminou a guerra civil, passando-se então a combater os japoneses. Mas era já demasiado tarde! A 7 de Julho de 1937 os japoneses invadiram Beijing (Pequim) e depois atacaram o resto do país. Em 12 de Novembro de 1937 conquistaram Shanghai (Xangai), tendo morrido 60 mil pessoas e daí dirigiram-se para a capital da China, Nanjing, onde o Guomintang estabelecera a sua capital em 1928. Após um cerco, a 13 de Dezembro a cidade cedeu e deu-se o massacre de Nanjing. Os japoneses ocuparam grande parte da China até ao fim da II Guerra Mundial, quando o Japão se rendeu incondicionalmente em 1945, ano em que faleceu Xian Xing Hai. “Em Novembro de 1938 aceitou o convite do recém-criado Instituto de Artes de Lu Xun, de Yanan, para onde se deslocou com a mulher para desempenhar as funções de professor do Departamento de Música, assumindo a responsabilidade pedagógica dos cursos principais, nas áreas de Teoria da Composição, História da Música e Direcção de Orquestra.” Wang Ci Zhao