FMI | Sede pode mudar-se para a China daqui a dez anos

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sede do Fundo Monetário Internacional (FMI) poderá ser transferida para a China daqui a dez anos, reflectindo o crescente poder económico do país, declarou ontem Christine Lagarde, directora-geral da instituição.

“Se estivéssemos a ter esta conversa daqui a dez anos, poderíamos não estar sentados em Washington. Estaríamos na nossa sede central em Pequim”, afirmou Lagarde, numa conferência no centro de estudos Center for Global Development, na capital dos Estados Unidos.

Lagarde afirmou que a mudança é “uma possibilidade”, já que os estatutos do FMI referem que a sede da instituição deve estar instalada na maior economia do mundo. No entanto, a francesa afirmou que para que isso aconteça, a China deve cumprir “os compromissos” de abertura e maior transparência do seu sistema financeiro.

A sede do FMI, organismo criado em 1944, encontra-se desde a fundação em Washington. Os Estados Unidos contam actualmente com a maior percentagem de votos na instituição, o que implica o direito de veto.

O crescente peso das economias emergentes, sobretudo da China, aumentou a pressão sobre o FMI para que dê mais voz a estes países, como reconhecimento da sua cada vez maior influência global.

A China é a segunda maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos, e nas últimas três décadas cresceu a um ritmo de quase 10% ao ano, num “milagre” sem precedentes na História moderna. Os economistas esperam que o Produto Interno Bruto chinês supere o dos Estados Unidos ao longo da próxima década.

Em outubro passado, a moeda chinesa, o renminbi, aderiu formalmente ao cabaz de moedas do FMI, um instrumento criado pela instituição com a finalidade de permitir liquidez aos países-membros.

Motor para o mundo

Por outro lado, “o crescimento da China continuará a ser um dos principais motores para uma recuperação firme da economia mundial”, disse na segunda-feira o economista-chefe do FMI. Maurice Obstfeld, conselheiro económico e director de pesquisa do FMI, fez os comentários quando o FMI reviu as previsões de crescimento da China de 2017 e 2018 para 6,7% e 6,4%, respectivamente.

O relatório actualizado da Perspectiva Económica Mundial, publicada na segunda-feira em Kuala Lumpur, capital da Malásia, que veio dias depois da China ter divulgado o seu desempenho do segundo trimestre mais forte do que o esperado, foi uma reflexão do primeiro trimestre sólido, apoiado pelo alívio político anterior e reformas no lado da oferta, incluindo os esforços para reduzir o excesso de capacidade no sector industrial, referiu o FMI.

“Observamos um crescimento muito forte e, especialmente, maior que nossa actualização, o número do segundo trimestre de 6,9% também supera as expectativas. Claramente o crescimento está a avançar”, assinalou Obstfeld.

“O forte crescimento chinês impulsiona o crescimento, particularmente na região asiática, mas também em todo o mundo”, referiu, notando que a China é um grande contribuinte para o crescimento geral e tem um efeito de arrasto muito extenso na economia mundial.

“É muito significativo para a economia mundial que a China não apenas cresça com uma taxa forte, como também cresça de forma estável, de forma confiável sem grandes flutuações”, destacou Obstfeld.

O economista expressou as preocupações do FMI com o crescimento impulsionado por crédito da China e algumas vulnerabilidades nos seus sistemas financeiros que podem desacelerar o crescimento, mas também apontou que o governo chinês reconheceu claramente essas questões e tomou acções concretas. A recente coordenação intensificada entre o Banco Popular da China e o Conselho de Estado na supervisão financeira “é um grande avanço” que levará a uma supervisão mais efectiva dos mercados financeiros, acrescentou.

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