Património | Lau Veng Seng defende protecção de Lai Chi Vun

Coloane é, em todos os aspectos, um local apetecível para o sector do turismo. Numa altura em que se discute a demolição dos estaleiros de Lai Chi Vun, o lugar vago é uma mina imobiliária. Porém, Tommy Lau garante que o local será preservado

Vítor Ng

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm corrido rumores que a zona onde estão os antigos estaleiros de Lai Chi Vun servirão para a construção de hotéis. A lógica daria validade a este tipo de comentários, uma vez que são terrenos que aguçam o olhar de qualquer investidor do sector da hotelaria. No entanto, durante o almoço de Primavera, o deputado nomeado Tommy Lau, com conhecidos interesses no sector imobiliário, adiantou que não ouviu falar nisso, acrescentando que “o Governo faz as coisas de forma transparente”. O tribuno acrescentou ainda que, “se a informação fosse verdade, o público saberia, por isso, a população não precisa se preocupar com isso”.

Em termos de salvaguarda de património, Lai Chi Vun tem dominado a actualidade. O director do Instituto Cultural, Guilherme Ung Vai Meng, deixou claro que para a zona não está previsto qualquer empreendimento comercial. A ideia será devolver à população algo com um valor histórico acrescentado.

É nessa linha que Tommy Lau segue. “Como todos sabem, os estaleiros antigamente serviram para indústria naval de Macau”, um sector que, na sua queda, arrastou a preservação das construções em Lai Chi Vun. O deputado acrescentou ainda que as instalações carecem de recuperação imediata e emergente, de forma a garantir a segurança de quem por lá passa. Tem sido esse o discurso do Governo.

Se a precaução é importante, a defesa de um património que conta a história de Macau não é de menor relevo. Nessa perspectiva, o deputado considera que se deve auscultar a população e fazer algo pelos moradores e visitantes que queiram espreitar um pouco o passado da indústria náutica que se fixou em Coloane.

Tommy Lau afirmou ainda que, na sua opinião, “é necessário um planeamento completo para a zona dos estaleiros”. No entanto, salvaguardou que “não vale a pena restaurar aqueles que estão irreparavelmente degradados e, por razões de segurança, devem ser demolidos”.

Turismo histórico

Apesar de afastar a hipótese de construção de hotéis em Lai Chi Vun, o deputado considera que “os restantes estaleiros podem contribuir para o turismo de Macau”. Lau Veng Seng adiantou que “os estaleiros podem tornar-se cafés ou salões de exibição, para os visitantes poderem ficar com conhecimento sobre a sua história”.

No que toca a preservar um local com história de finalidades comerciais, o deputado adianta que “a Lei da Salvaguarda do Património Cultural já entrou em vigor, portanto, há uma política excelente para proteger os patrimónios”. O tribuno reiterou a sua convicção de que todos os agentes sociais irão obedecer à lei.

Neste capítulo, Ung Vai Meng adiantou que a zona não será convertida “numa rua de lembranças”.

Que futuro?

Avançam já em Março as demolições de dois dos 16 estaleiros que têm estado ao abandono. Esta decisão do Governo foi fonte de consternação para a população local, que teme pela manutenção da própria vila uma vez que desapareçam as estruturas que deram origem ao povoado.

A pequena vila de Lai Chi Vun mantém o traço arquitectónico do passado, como sempre foi, e para David Marques, porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, ligado à Associação de Moradores de Coloane, a demolição não irá afectar as moradias. “Até agora, não há ninguém que corra o risco de perder a sua casa, mas falei com um vizinho que defende que, se retiram todos os estaleiros, então também podem retirar a aldeia, porque deixa de existir uma razão para que a povoação continue a existir. Isto pensando a longo prazo.”

Nesse sentido, o representante dos moradores, assim como a população no geral, defende que sejam pensadas actividades culturais que dêem vida ao lugar, que devolvam dinâmica a um local votado ao abandono.

Macau terá uma boa oportunidade para mostrar com quantas linhas se cose a defesa do património cultural do território. Se avança um projecto com pouco impacto em Coloane, que respeite um passado fabril da altura em que a cidade estava mais virada para o mar, ou se ganham as forças da massificação turística, com mais um projecto megalómano.

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