Festival | This is My City 2016 arranca na sexta-feira com Balla e Rui Reininho

Música, ideias, imagens. O This is My City chegou bem de saúde à edição número 10, mas quem o organiza pensa em mudanças para o futuro. Até lá, vive-se Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]asceu de forma espontânea, entre duas lojas, no coração da cidade chinesa, para além da muralha. Manuel Correia da Silva e Clara Brito, ambos designers, tinham um espaço no Beco da Melancia; o fotógrafo António Falcão era o proprietário da livraria Bloom, no Largo do Pagode do Bazar. A Macau dos festivais era sobretudo institucional, com os cartazes do costume. Fazia falta outro tipo de cultura – a dos livros, a de uma certa música, a das ideias, a dos conceitos.

A vontade de um punhado de gente resultou num acontecimento que, logo nos primeiros anos, contou com a adesão de muito público. O interesse de quem se juntava aos finais de tarde e noites no bazar levou a uma maior organização: o This is My City (TIMC) foi crescendo, chamando gente de fora, e assim passaram dez anos, ocupando diferentes espaços, sempre na cidade.

A edição que assinala a década prolonga-se ao longo de duas semanas e arranca com música, que chega de Portugal. É talvez o ponto mais forte do programa, aquele que mais público será capaz de captar: a organização traz à cidade o projecto Balla, “num formato inédito”, com um convidado especial: Rui Reininho, a voz dos GNR. “Tem algumas figuras que fazem também parte desta cidade”, destaca Manuel Correia da Silva, responsável pelo evento.

A abrir o concerto da próxima sexta-feira, dia 2 de Dezembro, vai estar o trio de Macau “Turtle Giant”, constituído por Beto, Frederico Ritchie e António Conceição. O palco escolhido para o início desta edição é um regresso ao início de tudo: o TIMC volta ao Largo do Pagode do Bazar.

“O This is My City tem sempre tentado ocupar o espaço da cidade: o que acontece não é dentro de paredes. Mesmo aqueles que não pensam em participar passam por nós, e podem usufruir e experienciar daquilo que oferecemos”, aponta Correia da Silva. O concerto no bazar começa às 18h30.

Ainda na sexta-feira, mas já no Kampek, outro tipo de música: DJ Balla e Rui Reininho, promete a organização, vão proporcionar aos que se juntarem à festa “uma noite para não esquecer”. O japonês DJ Shintaro também vai actuar.

Imagens e ideias

A 6 de Dezembro, o TIMC aproveita a passagem por Macau do projecto “No Trilho dos Naturalistas”, um documentário constituído por quatro episódios coordenador por António Gouveia. Na Casa Garden vai ser mostrada uma parte deste projecto: “Angola 58’” é realizado por André Godinho. O projecto conta com a participação de Alexandra Cook, uma professora de Filosofia da Universidade de Hong Kong com um forte interesse em estudos ambientais.

Três dias depois, a 9 de Dezembro, o regresso do PechaKucha: um formato de intervenção pública que junta a projecção de imagens às ideias deixadas por vários oradores, num tempo fixo que permite um maior dinamismo. O TIMC trouxe este tipo de palestras a Macau pela primeira vez em 2010. O Albergue SCM recebe de novo a edição de 2016, a partir das 18 horas.

À mesma hora, no mesmo espaço, são projectadas várias curtas-metragens do realizador Maxim Bessmertny.

À semelhança do que já tinha acontecido no ano passado, também em 2016 o This is My City organiza um Instameet. O tema é a cidade – o evento do TIMC vai ter uma página própria. O encontro acontece no dia 10, entre as 12h e as 18h, no Macau Design Center.

Pensar ao lado

De regresso à Casa Garden, no dia 13 de Dezembro, para uma exposição e uma palestra sobre um projecto de pesquisa acerca de uma cidade que nos é próxima: Shenzhen. “Unidentified Acts of Design”, de Luisa Mengoni e Ole Bouman, explora a ideia do design que surge fora das quatro paredes de um estúdio.

Os autores vão estar presentes para uma discussão sobre “actos de design fora do formato”. Manuel Correia da Silva desdobra o conceito: nesta sessão, vai debater-se “aquilo que se tem passado em Shenzhen com o impacto da tecnologia”. “O tecido industrial de Shenzhen absorveu muito do topo da tecnologia. Há franjas que se estão a construir em torno dessa tecnologia, com criativos de todo o mundo que vão para lá para criarem os seus produtos e as suas start-ups, com todo o impacto que tem tido naquela cidade”, refere.

Esta palestra vai ao encontro de um dos objectivos do TIMC – pensar Macau no contexto dos vizinhos. “Acho que é importante. Macau tem de ser uma cidade mais para fora. Temos de começar no Delta e achamos que Shenzhen deverá ser o primeiro passo, a conhecer e a ligar, para que possamos estar mais actualizados, regionalizados e internacionalizados”, defende Correia da Silva.

O fim de um ciclo

Dez anos depois dos encontros espontâneos no bazar, Manuel Correia da Silva faz um balanço “muito positivo” do evento. “São dez anos na cidade pós-99, que tem 17. Fazemos parte desta nova cidade. Não somos muito mais novos do que ela”, nota.

“Fomos capazes de fazer algo que, de espontâneo, se tornou parte de um espaço que fomos capazes de ocupar, com um festival que tem um formato diferente, que se propôs apresentar um conteúdo diferente”, continua o designer e responsável por um evento que nunca quis ser mainstream.

“Não queríamos esse papel, já está ocupado e não é o nosso. Mas em Macau, não se sendo mainstream, às vezes é muito difícil sobreviver. Fomos capazes de o fazer, estamos cá, fazemos um óptimo saldo, mas sentimos que se fecha um ciclo”, continua o presidente da +853, a associação que organiza o festival.

Numa década, assinala Correia da Silva, “a cidade mudou muito e, por isso, não faz sentido manter o festival como ele é hoje em dia”. O público não sentirá a necessidade de reflexão que os organizadores entendem ser necessária. “Não sabendo exactamente o que vai acontecer no futuro, há algo que é certo: as coisas não vão continuar a ser como foram, achamos que temos de revitalizar-nos, adaptar-nos e, por isso, estamos a trabalhar com essa ideia, pelo que queremos que esta edição sirva para marcar esse ponto”.

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