Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? | A empregada do bar

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]inda atordoada tento perceber porque não me consigo mexer. Começo a sentir partes do corpo. Começo a sentir os meus seios inchados a serem pressionados por qualquer coisa. É uma corda. Estou toda atada. Não sei porque fiz isto. Porque vim contigo para o quarto. Agora sei porque não me consigo mexer. Mas porque estou atada deste modo estranho? Jamais alguém viu o frio na alma do outro. Jamais alguém viu o desencontro entre a mágoa e a máscara do outro. Jamais alguém viu o espasmo final do outro. Aquele espasmo trémulo, recolhido nos escombros da própria existência. Aquele espasmo turbulento que esconde pranto. Aquele espasmo de quando a esperança se apaga. Porque a esperança também se apaga. Por vezes apaga-se assim sem morte. Por ter sido apenas uma insinuação. Um golpe de asa. Um ‘one night stand’. Os meus olhos vagueiam em redor. Não é o fim da festa. Aqui não há traição. Pelo menos a isso poupas-me. Estás agora com um sorriso maldoso. Não é um sorriso de defesa. Dói-me este poder ser e não ser realmente. És um animal ferido. Mais ferido que eu. Existe tão pouco amor neste mundo.

Apontas para o pénis e forças-me a abrir a boca. Nunca fiz isto assim. Sem me conseguir mexer. Volto a tentar mexer-me. Os braços não respondem. Reparo agora que a corda me aperta outras partes do corpo. Arregalo os olhos quando me apercebo que estou no ar. Suspensa. Posição horizontal. Pernas abertas. Braços esticados. A cabeça puxada para trás. Sei disto. Sei do fetiche japonês. As cordas estão apertadas com tanta força que a minha circulação sanguínea demora a recuperar. Sinto um leve formigueiro aqui e ali. Sei disto mas nunca estive numa situação assim. Nunca fiz uma coisa destas nesta posição e muito menos sem me poder mexer. Terei certamente sonhado com isto. Estarei porventura a sonhar? Fazes com que perceba que esta é a realidade e que de algum modo irei ser castigada por acabar na cama com uma pessoa que não conheço. Abres-me a boca e forças a entrada. Sinto tudo no céu da boca. Tento acenar com a cabeça. Por uma razão qualquer fico extremamente húmida. Contra o que quero. Quero fugir. Não. Não quero. Não quero fugir. Quero ver o que me vais fazer. Quero sentir o que me vais fazer. Apertas os meus lábios enquanto introduzes o teu membro mais duro que nunca. Está mais quente do que eu estava realmente à espera. O sabor levemente salgado. Agarras-me a cabeça e lentamente começas a mover movê-la para trás e para a frente. E sorris. Continuas a sorrir. Acho que te odeio quando sorris. Toda a minha vida sexual passa diante de meus olhos num ápice. Não sou propriamente uma novata mas sinto-me como se o fosse. Lembro-me da primeira vez que dei prazer a um homem desta forma. Foi na praia. Tinha 15 anos. Em Boracay. Estava apaixonada por ele. Ele também se forçou. Era 10 anos mais velho que eu. Mas eu queria. Queria muito. Na minha inocência da adolescência acreditei que ele se iria casar comigo. Foi pouco tempo antes de o meu pai ter conseguido trabalho em Manila. Com ele a coisa foi bem diferente. Ele não se demorou. Ele não tinha truques como tu. Depois de o ter chupado continuou. Continuou e fez o que tinha que fazer na parte de baixo. Doeu-me. Saiu sangue. Não foi muito. Lembro-me de ter achado que não tive prazer nenhum. Duas semanas depois estava em Manila. Nove meses depois um bebé. Nunca mais o vi depois de nos termos mudado para capital. Hoje o bebé não é mais bebé. Hoje o meu pai já não tem trabalho. Hoje sou eu que tenho que enviar dinheiro para toda a família.

Deste vazio de dentro de mim algo nasceu que eu não posso tocar. Algo que eu não posso explicar. Uma dor que eu não consigo ilustrar. Que se esconde. Que me puxa para o abismo. E sei que tu também. Tu também tens um vazio que pariu algo que não podes tocar. Algo que devias deixar escondido. Mas não deixas. É o demónio. Decido que devo deixar tudo e fazer tudo. Decido mostrar que sei como fazer isto. E que gosto. E que estou a gostar. E que estou mesmo a gostar. Porque na realidade estou mesmo a gostar. Soltas um “mhhm” enquanto começas a girar os ancas para a frente e para trás com mais força. Com mais rapidez. Empurras-me a boca que deixo aberta. Suspendes o movimento por um momento. E lentamente, em crescendo, recomeças. Até que deixas de segurar na minha cabeça. E empurras o pénis até ao fundo da minha garganta. Sinto-me amordaçada pelo teu sexo. Lágrimas. Lágrimas rolam pelos meus olhos. Não por medo. Por prazer. Parte de mim gosta de ser usada desta forma. Estupidamente quero te dar prazer. Quero que te sintas bem. Estupidamente acredito que sentes algo por mim. Estupidamente acredito que me vais salvar. Que tudo se vai resolver e que temos um futuro em conjunto. Dás-me um estalo. E outro. E continuas o teu movimento. E rapidamente recuas e ordenas-me que te diga que és um homem horrível. “És um homem horrível” digo a medo. Mas o medo faz-me ficar mais húmida. Libertas-me apenas levemente. Apenas o suficiente para que eu me consiga apoiar de novo na cama. E ordenas-me para que estique os braços e me apoie bem. Viras-me o corpo. Reforças a posição das minhas pernas. Levantas-me o rabo. Tento esticá-lo. Faz tudo o que queres fazer. Oh, sim, faz tudo o que queres fazer de mim. Começas a dar palmadas, uma atrás da outra, na minha bunda redonda. Sinto o sangue a ferver. Os teus dedos brincam com a minha vagina. Os sucos escorrem. E penetras-me. Mais violentamente que nunca. Em estocadas precisas maceras-me o sexo. E em intensidade crescente sinto a vagina a dilatar-se. Transpiras. Transpiro. Paras antes do clímax. “Oh” sussurro. A minha voz é luxúria. Enfias dois dedos no meu ânus. “Ohhhh”. Seguras com força a carne nas bochechas do rabo e violentamente fazes aquilo que nunca antes algum homem tinha feito comigo. “Estou-me a vir” gritas. A tua voz é cortada por um grande gemido. É o ponto de ruptura. Dói. Dói-me tanto. Dói-me tanto, tanto, tanto. Mas não consigo dizer nada. Não consigo soltar um qualquer som. E, quando estás quase a vir-te, retiras o pénis de dentro de mim. “Ahhhhhhhh”. E o esperma que se vomita sobre o meu corpo. Sinto-me usada. Sinto-me tão usada. Tu ainda gemes. Levemente. Depois do orgasmo o sémen ainda pinga do teu pénis flácido. Reparo como pinga sobre o soalho do quarto. Não consigo pensar. Estou sem forças. Dás-me uns minutos antes de me voltares a suspender os braços e me colocares numa nova posição. Ainda nem te disse o meu nome. Sabes como me chamo? “Nicole” digo-te. Pareces surpreendido. Sorris. Ah como te odeio quando sorris. E desapareces. Quando voltas trazes uma garrafa de litro e meio de água. “isto ainda não acabou”, dizes, “agora vai ser a melhor parte”.

José Drummond
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