Sexanálise VozesSexy 2016 Tânia dos Santos - 29 Dez 2015 – Nunca gostei das festas. – Festas? – Sim, as festas natalícias. O tempo em que se festeja a possibilidade de procriação assexuada. Uma mitose espontânea, que nem a biologia sabe explicar muito bem. – Pois. O Antisexo. – Somos obrigados a ver a família e a fazer revisões anuais. – Claro… e as recordações de 2015? – Sexo a mais e sexo a menos, dependendo do mês. Cinema e umas leituras. Ainda tive umas viagens por aí. Momentos de genialidade alcóolica, mas raros, porque a regularidade levar-me-ia ao alcoolismo. O teu? – O meu ano foi aborrecido. Pessoas aborrecidas, trabalhos aborrecidos, encontros aborrecidos. Não sei que te diga para além de que 2015 foi uma merda. – De que signo és? Posso ver o que te reserva para o próximo ano. A astrologia não foi afectada pelo meu cepticismo. – Eu só quero saber de sexo. Não quero saber de amor, quero saber de sexo. Não sei se é uma opção. – Queres um 2016 exclusivamente sexual? – Nem sei o que isso quer dizer, mas talvez. – Queres foder todos os dias? Com pessoas diferentes? Ter a excitação de corpos novos contanstantemente ou ter o conforto de um a quem já lhe conheces os cantos. – Talvez. Quero que 2016 traga a revolução no sexo ou… a re-significação do sexo. Justifico-me com a minha constante depressão, mas quero daquelas epifanias sexuais que tornam a metafísica do mundo reduzida ao glorioso acto de foder. – Não sei se isso te faz um tarado ou intelectualmente interessante. – Gosto de acreditar que faz de mim um e outro, em simultâneo. – E vais chegar à restruturação do significado do sexo como, exactamente? – Espero que com muito sexo e muita introspecção. – Não percebo como é que chegaste a esta necessidade de filosofar sexualmente. Não que o sexo e a filosofia se oponham, mas tão pouco são compatíveis, talvez complementares. Parece que te obrigas ao dualismo razão/emoção com a desculpa que queres foder bastante. – Se calhar deverias pensar o que queres que 2016 te traga, sexualmente. Talvez assim me compreendas melhor. – Nem é preciso pensar muito: um menáge à trois. Sou muito mais prática a operacionalizar os meus desejos sexuais. Um menáge à trois ainda não está na lista de experiências sexuais vividas. – Pois, ok. Tens algum amante regular agora? Quem seriam os participantes? – Não, não tenho. Estou a pensar ser o elemento extra de um qualquer casal. – E pronto? – Pois. – Vais o quê? Pôr um anúncio? ‘Disponibilidade para noite louca de sexo com casal que procure expandir a sua lista de experiências’. – Epá… não faço ideia. Tu é que me pediste a resolução sexual para o próximo ano, ainda não ruminei a ideia. Não sei como se faz, ou como se começa, só sei que gostaria. – Bem, se entretanto arranjar uma amante e ela estiver para isso, informar-te-ei com todo o gosto desta possibilidade. – Achas que pode contribuir de alguma forma para a transcendência sexual que procuras para o próximo ano? – Tenho a absoluta certeza de que sim. – Depois como seria? Eu, tu e esta hipotética outra. – Não sei. Imagino que jantariamos os três juntos, alguma conversa e intimidade não magoaria e depois… minha casa. – Mas marcávamos um dia? Ou sairíamos várias vezes os três a ver no que dava? Se haveria química. – Boa pergunta. – Para além do mais, precisariamos de um encontro de discussão de logística. Definir o que é ou não permitido. – Estás a destruir toda a minha fantasia pornográfica. – Não percebo porque é que o meu pragmatismo o magoaria. Mas preciso de saber as regras, nós três precisamos de perceber as regras. Há risco de cairmos em constrangimento. Tipo, sexo vaginal depois de anal é expressamente proibido. Ainda pior inter-participantes. – Tu… Já estiveste com uma mulher? Sabes como se faz? – Como se faz o quê? – Enfim, estar com uma mulher. – Fazer-lhe um minete? – Sim… – Essa é mesmo uma preocupação real? – Não, só curiosidade. – Sabes tu? – Acho que sim. Nunca se queixaram. – Se de facto estás a propor-te como um participante para a minha experiência de 2016, porque não um homem? – Hein? – Eu, tu e um hipotético outro. – Estás a destruir a minha fantasia pornográfica de novo. – E dupla penetração? Não estou a ver o que seja mais pornográfico que isso. – Pois, está bem. Mas não sei se conseguiria estar na presença de um pênis erecto, para além do meu. – Ok. Entendi. E nós? – Nós? – Claro. Sei lá eu se o nosso tesão vale a pena. – Isso é um convite para experimentar? – Talvez.