Yuan entra no clube das moedas fortes

O FMI aprovou ontem a entrada da divisa chinesa na cesta de moedas usadas pela instituição. Muito vai mudar: na China e no mundo

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]egunda maior economia do planeta e detentora da maior fatia do comércio global, a China conseguiu ontem uma vitória crucial no seu esforço de internacionalizar o yuan e transformá-lo em numa moeda da reserva global que possa desafiar a supremacia do dólar.
Reunido em Washington, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deve aprovar a inclusão do yuan na cesta de moedas utilizadas pela instituição em empréstimos de emergência como complemento às reservas dos seus países membros. A entrada do yuan no clube integrado pelo dólar, euro, libra esterlina e yen reflecte o crescente peso da China no comércio global e a expansão do uso do yuan em pagamentos internacionais.
No ano passado, a China superou a União Europeia e respondeu pela maior fatia das exportações e importações mundiais, com 15,5%. Em 2014, a China aparecia em terceiro lugar no ranking, com 8,9%. Há três anos, o yuan era a 12.ª moeda mais usada em pagamentos globais, segundo dados da Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (Swift), responsável pela rede que permite o envio de dados sobre movimentações financeiras entre instituições bancárias. Desde então, o yuan subiu sete posições e entrou no grupo das cinco moedas mais usadas em transacções internacionais.
Com uma fatia de 2,45%, o yuan aparecia no mês passado atrás do yen (2,88%), da libra esterlina (9,02%), do euro (28,53%) e do dólar (43,27%). A decisão de ontem responderá a uma antiga aspiração chinesa, que esperava a entrada do yuan na cesta de moedas em 2010, quando foi realizada a última revisão da composição dos Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), uma espécie de moeda internacional que pode ser usada para complementar as reservas dos membros do FMI.
Com isso, os empréstimos de emergência desse tipo feitos pela instituição passarão a ter participação do yuan, em percentagem a definir.
Além de elevar o estatuto da moeda chinesa, a mudança é importante pelas repercussões de longo prazo na economia do país. Para que o yuan entre no clube do SDR, o governo chinês comprometeu-se com uma série de reformas no seu sistema de câmbio e de transacções internacionais, com gradual liberalização das contas correntes e de capitais, na direcção de uma economia mais aberta e mais exposta às forças de mercado.
Um desses ajustes foi a mudança no cálculo da cotação do yuan adoptada em Agosto, que levou à maior desvalorização da moeda desde 1994. Interpretado pelo mercado como um sinal de nervosismo das autoridades de Pequim em relação à desaceleração da economia do país, o movimento estava relacionado com exigência do FMI de um sistema de câmbio menos controlado.
“A decisão do FMI fortalecerá os reformadores na China”, disse o economista David Dollar, que foi director do Banco Mundial na China de 2004 a 2009 e hoje está no Brookings Institution, em Washington. “É um sinal importante.”
Em artigo publicado na revista Caixin no dia 10 de Novembro, o presidente do Banco do Povo da China, Zhou Xiaochuan, disse que as autoridades de Pequim adoptarão uma série de reformas com o objectivo de tornar o yuan uma moeda internacional livremente conversível até 2020.
Entre as mudanças, mencionou a redução das restrições sobre o mercado de capitais e maior transparência e previsibilidade na comunicação do Banco Central. Três dias depois da publicação do seu artigo, Christine Lagarde divulgou uma nota na qual defendeu a inclusão da moeda chinesa no SDR. Segundo a directora do FMI, técnicos do Fundo concluíram que o yuan atende aos critérios definidos e recomendaram a inclusão da moeda chinesa.

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