Heart bar e lista

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o segundo andar do Ascott, estalagem de abertura recente e causadora de fracos entusiasmos, abre-se um amplo bar de zonas diversas com balcão e espaço para multidões. Chama-se Heart.
Umas grandes portas anunciam um terraço de dimensões consideráveis, com várias zonas de sofás próprios à bebida e ao convívio em ambiente de luzes mornas, lânguidas, predisponentes a indecências.
A sua administração parece deficiente. Não houve uma abertura pública a sério. Ninguém conhece o sítio e os corredores e elevadores que nos levam ao bar parecem ter sido abandonados.
O menu tem pequenos erros e nas suas prateleiras exibem-se muitas bebidas que não constam da ementa que é, no mínimo, para um sítio desta dimensão, ridícula. Apenas contém 2 ou 3 entradas para cada categoria: cervejas (uma checa), vinho tinto ou branco, champagnes, espíritos, cocktails (muito poucos e escolhidos sem imaginação, acho que 3), e um tíbio etc.
Não há melhor sítio ao ar livre que o Heart, nem nenhum outro bar de hotel em Macau consegue receber grupos grandes como este pode vir fazê-lo. Tendo testemunhado a ineficiência do serviço estremeço, divertido, ao pensar no que aconteceria se os serviçais aqui empregados se vissem confrontados com uma invasão de massas sedentas. Aqueles não parecem perceber muito bem o que se passa à sua volta.
Há cerca de três semanas, a propósito da competição da Drinks International que elege o melhor bar do mundo, notou-se que esta eleição toma como critérios principais a qualidade dos cocktails, a sua constante re-invenção, a hospitalidade ou a oferta generosa de algum tipo particular de bebida, como acontece com o uísque no Macallan. Nenhum destes requisitos se atinge no Heart. Não há neste desaproveitado bar bebida nenhuma que se não alcance facilmente em casa, mas não existem, em Macau, sítios que possam receber ao ar livre como este poderia fazê-lo.
Sendo assim, a antiga lista de bares de hotel, conseguida nesta página em inícios de 2015, sofre ligeira alteração. Perde duas entradas e ganha outras tantas:

1. Whisky bar, Hotel Star World – balcão longo, bebidas generosas, excelente varanda, uma geografia variada, staff simpático, competente e com vários anos de serviço, dos únicos bares de Macau em que há uma clientela habitual e ruidosa – marca que o traz a primeiro lugar. Tem uns snacks muito decentes e boa localização. Há noite enche-se de clientela local. Contras: decoração de uma banalidade exemplar.
2. Ritz-Carlton bar and Lounge, Hotel Ritz-Carlton – Bom nível de bebidas mesmo que não em quantidade. Pequena especialização numa bebida, o gin, dá um rosto próprio. Os mimos que o pessoal de serviço presta demonstram dedicação séria. Design conservador mas com personalidade. Abre às 10 da manhã. Contras: é longe.
3. Macallan, Complexo Galaxy – excelente serviço e hospitalidade, boas bebidas feitas por barmen muito competentes e hospitaleiros, talvez os melhores de Macau. Balcão único, curvo e confortável. Invejável lista de mais de 400 uísques de diversas origens. Pode encomendar-se comida do restaurante italiano contíguo. Contras: temática deslocada em Macau, com lareira.
4. Lan, Hotel Crown Towers – uns janelões muito bem lançados, bom serviço, desenho cuidado, pé direito altíssimo. Por vezes tem pianistas japonesas. Generosa carta de vinhos. Contras: não tem balcão. Para algumas pessoas ou desígnios poderá ser demasiadamente aberto ao lobby do hotel. Encontra-se presentemente junto de intermináveis obras, o que lhe diminuiu consideravelmente o apelo.
5. Convívio Agradável, Hotel Sofitel, Ponte 16 – Excelente serviço e sentido de hospitalidade, bebidas de qualidade. Não é longe do centro e tem 2 mesas com vista triste para a Avenida Almeida Ribeiro. Tem comidas. Contras: coitadinho, é tão feioso que é quase cómico.
6. Bar Azul, Hotel Four Seasons – expressa desejo por um desenho próprio, boas bebidas, próprio para um encontro íntimo, injustamente desconhecido. Contras: muito vazio, ambiente triste, excepto em dias de prova de vinhos que se cumpre, habitualmente, às sextas-feiras.
7. Windsor, Hotel New Emperor – tem um longo balcão e localização imbatível, no centro da cidade. Há noite acolhe uma fauna muito local. Contras: tem 3 anos e parece que tem 13, decoração inspirada no Centro Comercial Imaviz, em Lisboa.
8. Heart, Hotel Ascott – Só figura nesta posição porque tem um terraço de sedução imbatível. Contras: ementa muito fraquinha e serviço deficiente. Não parece ter clientes.
9. Cinnebar, Hotel Wynn – tem espaço exterior, staff competentíssimo e amável, boas bebidas, excelente ginger margarita. Contras: o tipo de freguesia, demasiado aberto ao corredor do hotel que o acolhe.
10. Cristal, Hotel Wynn Encore – desenho próprio, sofás confortáveis, excelente ginger margarita (partilha lista com o Cinnebar). Tem um candelabro do século XIX. Contras: tipo de freguesia, demasiado aberto ao exterior.
11. Vida Rica, Hotel Mandarin – boa qualidade de serviço, fica num dos 2 hotéis de Macau que não é piroso, tem vista e sofás muito confortáveis. Contras: construído em profundidade torna-se desconfortável navegá-lo. É irritante, ninguém sabe porquê.
12. 38 Lounge, Hotel Altira – tem vista e varanda, exibe vontade de mostrar desenho, fica num dos 2 hotéis de Macau que não é piroso. Contras: não tem balcão, tem problemas de iluminação e uma atitude indecisa.
13. Lyon’s, Hotel MGM – pouco que se recomende para lá de ter um balcão enorme e ser relativamente central. Bom para um copo solitário de fim de tarde ao balcão. Contras: quase tudo.

Nota: O Crystal Piano bar, Galaxy – tinha balcão convidativo, vista junto dos seus janelões, staff muito acolhedor e Saketinis amorosos. Já não existe. Penso que o Jaya, no Hotel Sheraton, também já não recebe.

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