h | Artes, Letras e IdeiasThe Ritz-Carlton Bar & Lounge Pedro Lystmann - 10 Nov 2015 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]minha impressão da imagem Ritz-Carlton, em geral, não é favorável mas é baseada em escassos exemplos. Não conheço muitos. O de Cantão e o de Kuala Lumpur exploram uma propensão demasiado conservadora para o meu gosto. O de Hong Kong, de desejo amodernado, recolhe mais o meu favor, não total. O seu bar Ozone, sito no 118° andar, para além de oferecer uma vista inédita, demonstra uma dedicação generosa (mas não particularmente ousada) à bebida. O antigo hotel, em Central, era clássico e sóbrio, fininho. O de Macau não poderia senão adaptar-se ao gosto local. Mas nada disso obsta a que, como já tantas vezes aqui foi dito, no meio das dúvidas que o gosto regente impõe, a oferta não seja de excelente qualidade. O que me aborrece é que continue a não haver em Macau um único bar de hotel em que haja uma ousadia contemporânea que, acrescente-se, o de Hong Kong também não cumpre com distinção. Não se espere igualmente uma clientela arrojada nas suas ideias, desejos ou aparência, antes o amolecimento habitual. Hier findest du keine Anita Berber. Cumpre-se em pleno a maldição de Auden. Este bar do Ritz-Carlton tem, no entanto, uma bondosa vantagem sobre muitos outros bares de hotel de Macau (e de repente estou a lembrar-me dos bares dos hotéis Wynn, Wynn Encore, Star World, New Emperor, Four Seasons): abre às 10 da manhã para as bebidas individuais e serve bebidas misturadas a partir das 2 da tarde. Inclino-me, contudo, a concordar parcialmente com uma das suas funcionárias que me confessou que ninguém pede cocktails às 10 da manhã. O seu desenho, pouco aventureiro como se esperava de um Ritz-Carlton em Macau, contém algumas boas surpresas. Entra-se para um salão de pé direito muito alto e com uma iluminação sóbria situado num 51°andar. As paredes exibem revestimentos em madeira e, por trás do balcão, abre-se, com estrondo, uma grande superfície em vidro cujo efeito diurno ainda não recebi. O balcão, longo, mostra-se muito confortável, oferece um indispensável foot rail e os bancos altos têm um pequeno amparo que previne quedas para trás. Deixo um elogio à escolha de recusar abusar da sua situação num 51° piso e de se refugiar num recolhimento que a sua banda – felizmente quase imperceptível – nunca ousa ferir. Este bar é longe para quem parte de Macau. O mesmo acontece com, por exemplo, o Bar Azul, o Lan ou o Macallan. Mas, como acontece com este último, em que a oferta de mais de 400 whiskys e whiskeys promove deslocação própria, o bar do Ritz-Carlton merece também uma viagem particular. O que ele introduz é uma não muito ousada mas suficiente especialização em gin: 17 marcas diferentes, provenientes da Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e Escócia. Estes podem combinar-se segundo receita do próprio cliente que tem à sua escolha 9 flores, especiarias ou frutas diferentes e 5 marcas diferentes de água tónica. O resto do cardápio não causa grandes surpresas e é muito parecido como o do bar Ozone, a instalação de Hong Kong da mesma marca hoteleira: poucos champagnes, 11 chás diferentes, 9 cocktails de assinatura, 7 clássicos, uns 5 mocktails, os espíritos habituais, algum vinho, a habitual escolha banal de cervejas e, marca importante de intenções sérias, uma dedicação muito bem cumprida ao gelo. Recordo que o Ozone, em Kowloon, mostrou de início uma inclinação para o gin, com cerca de 6 entradas diferentes. Desconheço se esta se mantém. Estamos num universo onde não se podem esperar grandes surpresas. Começa a ser evidente que não será em hotéis que aparecerá um bar de características excepcionais no que pertence à excepcionalidade e rotatividade das bebidas e à hodiernidade do seu desenho. Pode dizer-se que o gin, e especialmente o gin tónico, ganhou uma fama que aborrece, que esta oferta de 17 marcas não causa grandes frissons e que um gin tónico é uma mistura que se alcança com facilidade em casa. É verdade. Mas este conjunto de marcas pode ser utilizado para martinis secos não em lista mas já intensamente desejados, ou em outras misturas. Como seria de esperar, o nível do serviço e o sentido de hospitalidade é elevado e o bar percorre-se sem percalços com a ajuda pronta e muito profissional do pessoal de serviço (que não me parece conter staff local). Como tal, a pequena especialização gínica, o cuidado no desenho (mesmo que conservador), o serviço, a hospitalidade e a dimensão imperial das suas paredes e dos corredores que levam às casas de banho e aos elevadores e a um outro espaço de lounge a uso, aconselham visita. Por enquanto parece que este lugar escapou à maldição que percorre a maioria dos bares das albergarias de Macau: a ausência de clientela. Resta ver se permanecerá em roteiro ou se a sua frequência não passa de uma moda. Na próxima semana, acrescentar-se-á a estas fúteis linhas uma apreciação do bar Heart, sito no Ascott, e uma reformulação da lista de bares de hotel que se apresentara aqui há cerca de um ano. Tendo desaparecido o Crystal Piano bar e o Jaya (penso), continuamos reduzidos a 13 pobres instalações. (continua)