Sem ideias

[dropcap style=’circle’]À[/dropcap]s vezes acontece. Especialmente quando não se faz o trabalho de casa, e foi isso que disse ao editor do Hoje Macau antes de começar este texto. Não a parte da preguiça, claro, mas a da falta de ideias. Mas, em boa verdade, basta abrir os jornais para surgirem umas quantas. Algumas, todavia, não dão muitas linhas como é o caso da próxima: lia a semana passada neste mesmo jornal que um director de uma ahmm… respeitável empresa de junket disse à imprensa que o combate à corrupção na China lhes estava a prejudicar o negócio e por isso consideravam fechar portas.
Irreal não é? Certamente, para nós que já aqui andamos há uns tempos sabemos que para cá de Bagdad se passam coisas inenarráveis, mas esta… caramba! O lado positivo é o cair oficialmente a máscara, o resto é surreal apesar de existirem efeitos conexos positivos deste levantar de ferros dos junkets como se notou ontem no discurso do Chefe do Executivo ao apelar no fórum Mundial de Turismo para a junção deste com a cultura. Naturalmente, esta união de facto, numa primeira análise, aponta para a produção de cultura comercial para entreter as massas mas contra o qual nada me impele. Resta-nos aguardar que a política cultural venha a ser desenhada não só para entreter as massas mas também para apoiar a produção cultural de base pois sem ela não será possível chegar a lado nenhum. Os sinais, todavia, parecem positivos notando-se que a palavra está a chegar aos actos e o fenómeno das indústrias criativas a começar a ser entendido. A TDM também parece estar a aquecer os motores o que só pode ser saudado.
Continuamos a folhear os jornais e algures lê-se que os americanos acham que Macau deve avançar rapidamente para as directas. A notícia não deixa, por um lado, de gerar um certo desconforto e, por outro, gerar mesmo alguma irritação ao despoletar aquela sensação de que os americanos metem mesmo o bedelho em todo lado achando que o mundo vive, ou deve viver, à imagem deles. Ainda bem que assim não é, claro! Com o nível dos candidatos políticos que têm em casa, com eleições de resultados duvidosos (como o célebre caso da Florida), com tiroteios em universidades dia sim dia não, com uma infra-estrutura em cacos e uma dívida publica superior a 100% do GDP mais valia que estivessem calados e arrumassem a casa primeiro. Depois olhamos para Portugal e pensamos em escrever uma comédia. Daquelas rocambolescas, à Vasco Santana, plena de mal entendidos e confusões, o que não seria mau se olhássemos exclusivamente por essa perspectiva e nos olvidássemos da quantidade de vidas em jogo. Senão vejamos os ingredientes da trama: um líder socialista ansioso por poder mas aos papéis e a piscar os olhos em todas as direcções menos na dos que o querem ver dali para fora depois de ter interrompido uma série de vitórias do PS. O pessoal do PC e do Bloco a esfregarem as mãos enquanto exclamam para os seus botões, “É desta! É desta!” ainda que para isso tenham de abençoar a Europa e o euro, a menos que o PS dê uma improvável volta de 180 graus; o próprio PS serve de alavanca da comicidade fazendo jus à expressão partido, com uns a renegarem acordos com a direita e outros a dizerem exactamente o mesmo se for com a esquerda. Depois como personagem equivoca da história, surge um presidente desejoso de abençoar os afilhados enquanto estes vão roendo as unhas por começarem a perceber que não vão conseguir vender mais propriedade pública depois de todas as promessas que foram fazendo aos amigos e a outros, leia-se futuros amigos estrangeiros. Na plateia, senta-se o Zé a olhar para a batalha campal com discussões de pouco conteúdo, ignorante que o mundo em geral, apesar do que lhe vão dizendo, está-se nas tintas se Portugal implode ou não. O único problema para o resto do mundo seria mesmo o Cristiano Ronaldo ir no embrulho, mas esse também pode ser nacionalizado espanhol e o assunto morria aí; porque, em boa verdade, a diplomacia económica do tal de Portas serve apenas para vender chouriços, produtos baratos e pouco mais. Basta olhar para o nosso caso aqui, insertos no maior mercado do mundo e onde AEICEP tem apenas dois executivos: um aqui e outro em Xangai. É assim…
Viramos a página, porque em Portugal o resto é apenas futebol, ou lá o que lhe chamam por lá, pois joga-se mais em debates televisivos do que no relvado, mas ao virar a página percebemos que a comédia não é um exclusivo português ao vermos a entrevista de Cameron ao Channel 4 britânico onde literalmente se engasga e não responde porque é que o país que dirige votou a favor de colocar a Arábia Saudita na presidência do conselho de Direitos Humanos da ONU. Isto quando todos sabemos que direitos humanos é coisa que não existe por aquelas bandas, quando todos nos começamos a aperceber que a raiz do mal é mesmo a Arábia Saudita, quando todos se começam a entender que grande parte da instabilidade no Médio Oriente é provocada pela família Saudi, quando cada vez se tornam mais evidentes as ligações entre o terrorismo internacional e o dinheiro dos monarcas absolutistas do petróleo. Depois estes que dão palmadas nas costas do Saudi (ajoelham-se?) têm a lata de falar da China, um verdadeiro Jardim da Celeste comparado com aquele tenebroso país que transformou Meca num centro comercial, onde se culpam os peregrinos por se terem atropelado uns aos outros mas não as condições impróprias do local, e onde falar de direitos das mulheres é igual a ofensas ao profeta.
Voltamos a Macau onde a notícia que a manutenção do canídromo foi sujeita a uma mini sondagem promovida pelos Kai Fong nos chama a atenção por concluir que metade dos inquiridos quer ver aquela coisa dali para fora. Mas a alegria desvanece-se quando percebemos que dos que apoiam a saída do canídromo do Fai Chi Kei ninguém o faz pelas condições tenebrosas dos caninos mas por questões mais prosaicas como o barulho, a parca contribuição para a zona, ou a necessidade de habitação social. Enfim, todas razões legitimas, mas…
Para não terminar numa nota menos positiva folheei mais um pouco os jornais e descobri duas notícias agradáveis: a primeira vem da Tanzânia e diz-nos que apanharam uma matrona chinesa, de seu nome Yang Feng Glan, considerada a maior traficante de marfim operando impunemente naquele país há cerca de 14 anos e sendo responsável pelo abate de cerca de 800 elefantes. Lindo! Depois de pagar a brutal multa que lhe aplicaram deviam mandá-la para a Arábia Saudita. A outra refere que os cientistas descobriram um cogumelo que cresce nas torrentes de lava do Hawaii; uma variante ainda sem nome da espécie Dictyophora que provoca o orgasmo imediato, atenção, imediato, na maioria das mulheres que o cheiram. Uma torrente de lava, ao alcance do nariz, portanto. Se quiserem saber mais, o estudo está a ser conduzido por John C Holliday e Noah Soule. Até para a semana, caros leitores.

MÚSICA DA SEMANA
Música para se sentir feliz. Ao ouvir, duvido que não se lhe assome um sorriso aos lábios ou que o pé não bata pelo menos um bocadinho. Se o movimento chegar às ancas… missão cumprida!
Lykke Li – “I’m Good, I’m Gone (Fred Falke Remix)”
“Yeah, I’m workin’ a sweat
But it’s all good
I’m breakin’ my back
But it’s all good
‘cause I know I’ll get it back
Yeah, I know your hands will clap”

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