Ronald Lou, líder do grupo New Power of Melco Crown: “Trabalhadores têm menos coragem de sair à rua”

Trabalha há mais de dez anos no sector Jogo e passou por várias operadoras. Ronald Lou lança críticas a várias operadoras, nomeadamente no que aos salários diz respeito, e diz ainda que a não proibição total de tabaco nos casinos pode continuar a gerar conflitos entre jogadores e funcionários

Está a trabalhar como supervisor de mesas de jogo e é director de um novo grupo de funcionários, o “New Power of Melco Crown”. Por que decidiu criar esta organização?
Em muitas operadoras de Jogo já existem “sindicatos”, mas a Melco Crown ainda não tinha. Espero, com isto, ajudar os meus colegas a organizar um grupo para que seja uma ponte de comunicação entre a empresa e os funcionários. O grupo começou a ser pensado há meio ano e estamos agora no processo de oficializar a organização.

Até ao momento, quanto membros é que o grupo tem?  Como é que os funcionários vêem esta organização?
Tem mais de cem membros e existe uma grande fatia de funcionários que não têm vontade em participar no grupo, uma vez que a operadora tem 12 mil funcionários. Lamento que o grupo não seja ainda tão conhecido, mas há mais pessoas que nos conhecem e que querem ser membros.

Já começaram a tomar acções?
No final do mês passado entregámos uma carta ao departamento de recursos humanos da operadora, queixando-nos da questão da posição para estagiários denominada “high dealer” nos casinos.

Essa posição fica entre croupiers e supervisor de mesas e existem cerca de mil funcionários nessa posição, que não foram promovidos como a empresa prometeu, certo? Como está essa situação?
A empresa respondeu-nos, mas de forma muito oficial, e não mostrou uma resolução muito concreta. Vários high dealer já foram promovidos, mas a operadora mantém a sua forma de gestão e é difícil conseguirmos o que pedimos. Se houver vontade de fazer mais queixas sobre este assunto da parte dos funcionários, vamos continuar a agir.

Já existem diversas associações de funcionários do Jogo, tais como a Forefront of the Macau Gaming e a Associação de Empregados das Empresas de Jogo de Macau da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM).  Qual é a posição que vão tomar? Existe por exemplo a possibilidade de participarem em manifestações?
Vamos tentar que o objectivo seja servir as classes de trabalhadores mais baixas e tentar ao máximo ajudar os funcionários dos casinos. Não excluímos também integrar ou realizar manifestações, mas depende da situação. Sabemos que o ambiente económico não está tão bom como há dois anos e, na altura, os trabalhadores tinham mais coragem em sair à rua. Agora, têm receio, porque pensam mais em manter o emprego e já não é fácil fazer protestos. Temporariamente. Vamos observar a situação calmamente.

Tem uma relação próxima com o grupo Forefront of the Macau Gaming e a Associação dos Direitos dos Funcionários de Jogo, liderada por Cloee Chao?
Temos muitas oportunidades de cooperação, porque temos o mesmo objectivo: trabalhar em prol dos funcionários de Jogo. ronald lou melco

Há quanto tempo trabalha nesta área?
Trabalho na área de Jogo já há mais de dez anos. Comecei por trabalhar como croupier no casino Lisboa, mudei uma vez para o do Galaxy e desde há oito anos até ao momento que trabalho como supervisor de mesas na Melco Crown. Posso dizer que passei por várias eras do sector do Jogo: desde ainda não ser permitido licenças, até à abertura do mercado, passando pela crise económica em 2008, até hoje. Tenho observado a mudança dos casinos. Portanto, penso fazer alguma coisa em prol deste sector, contribuindo para a indústria e para os funcionários.

Está agora na Melco Crown, passou por outras operadoras, como avalia a situação da sua operadora, comparando com outras?
Cada operadora tem as suas características. Por exemplo, o bónus de Verão – muitas operadoras oferecem um bónus equivalente ao salário mensal aos funcionários, o que faz com que os trabalhadores possam ter 14 meses de remuneração por ano. No entanto, a Melco Crown é muito especial, criou um plano denominado “Ovo de Ouro” e a empresa não oferece nenhum bónus de Verão até 2017, ano em que os funcionários podem receber os bónus de três anos de uma só vez. Na realidade, é uma medida para manter os funcionários, porque depois de 2017 não vão abrir mais empreendimentos de Jogo e, na altura, os recursos humanos vão ser estáveis e não haverá grandes mudanças. Além disso,  a Melco fala sempre em determinadas percentagens de promoção de funcionários, mas de facto isto são palavras vazias, porque não consegue fazê-lo. Sobretudo quando há grandes saídas de funcionários. Portanto, o meu sentimento de pertença à empresa não é assim tão grande, nem o de outros colegas, como é do meu conhecimento.

Consegue falar das condições de outras operadoras ?
Por exemplo, a Wynn tem sucesso nas regalias dadas aos funcionários, portanto o número de perda de mão-de-obra é o menor. Como eles têm bónus de Verão todos anos, os 13 meses da remuneração ficam escritos em todos os contratos de trabalho, além de que, como já foi anunciado, vão ser distribuídas mil quotas em acções para os trabalhadores. A operadora do Lisboa [SJM] e da Galaxy são mais práticas: por exemplo, os funcionários conseguem subir de posição depois de um ano de estágio, algo que pode demorar três a cinco anos na Melco Crown. Mas não foi criada nenhuma posição instável como a de high dealer.

As receitas de Jogo caíram para menos de 20 mil milhões de patacas. A Galaxy foi a primeira empresa que anunciou que não iria aumentar os salários do pessoal superior da administração e até o Governo precisou de tomar medidas de austeridades. Acha que as operadoras de Jogo estão a sentir pressões?
Para dizer francamente, é verdade que existe pressão. Mas temos de ver que antigamente era muito fácil ganhar grandes quantias de dinheiro, basta olhar para o director-executivo da Galaxy Macau, Francis Liu, que conseguiu subir na lista de pessoas mais ricas. Agora, as operadoras estão apenas a ganhar menos, mas já estão a tomar estas medidas, por quê? Será que está a perder dinheiro? Não. Acho que só querem criar uma imagem de fachada para os trabalhadores, a dizer que as empresas não estão boas e inclusive os cargos superiores vão ter os salários congelados. Isto para que se crie um ambiente que justifique o despedimento dos funcionários. Isso não é verdade e, mesmo que se sofra pressões, não se deve fazer isso.

Mas existem outras opiniões de que se a remuneração dos funcionários de Jogo diminuir, estes também não se podem queixar porque têm ganho um salário alto, comparado com outros sectores…
Não se pode dizer isso. O nível de remuneração dos funcionários de Jogo, por exemplo o dos croupiers nunca aumentou. Há 20 anos, os croupiers ganhavam 20 mil patacas por mês, enquanto nos outros trabalhos só se ganhavam duas a três mil. Actualmente, eles continuam a ganhar 20 mil. Se se fizer as contas à inflação e ao desenvolvimento económico, o salário deveria chegar às 50 mil patacas. De certa maneira, os salários dos funcionários do Jogo estão a ser cortados. O que se mostra de que se ganha muito bem é aparência. Outra coisa é que os outros sectores não trabalham por turnos, não têm de ouvir todos os dias jogadores a entrar em conflito com eles quando perdem dinheiro, não fumam passivamente por causa de clientes. Acham que o dinheiro é ganho por nós sem esforços? Alguém já disse que o salário ganho não chega para as despesas médicas com as doenças, olhe que pode ser verdade.

Quais são as doenças mais comuns que os funcionários de Jogo apanham?
Por exemplo no sistema respiratório, como a rinite alérgica, devido ao ar poluído por tabaco onde trabalhamos durante um longo tempo dentro dos casinos, sem apanhar sol. É horrível. Bem como no estômago, não temos refeições a horas regulares. Insónias… Vi também muitas vezes supervisores a desmaiar quando trabalham.

Concorda então com a medida de proibição total de tabaco nos casinos? 
Concordo absolutamente, mas não posso dizer que todos concordam. Mas pelo menos os da linha frente concordam. Posso contar uma experiência minha: há dez anos, quando trabalhava como croupier, a distância entre mim e o jogador era muito pouca e o jogador estava a fumar e a soprar o fumo de propósito para a minha cara. Mas o supervisor não me permitiu virar a cara, senão poderia levar um raspanete do cliente. Onde está a justiça e o respeito? Ninguém consegue aceitar ser ofendido deste jeito.  
 
Os clientes provenientes da China, comparado com o número antes à queda das receitas, são cada vez menos?
O que observei é que caíram, mas pouco, tanto nas zonas comuns, como nas zonas VIP. Os casinos de Macau ainda dependem muito dos jogadores da China, senão, não ganharíamos nada. 

A renovação das licenças de concessão de Jogo vai ser revista este ano. Viu algumas medidas feitas pelas operadoras de Jogo propositadamente para isso?
Até ao momento não reparei nisso na Melco Crown, aliás ficou por cumprir a questão da promoção dos funcionários, como prometido. Para mim, é muito fácil: fazer o que o slogan da Melco Crown diz: “um facto conquista milhares de palavras”. O que se deve fazer é cumprir as promessas. 

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anon
anon
7 Set 2015 15:36

A aparencia que se ganha bem é de nao ter escolaridade nenhuma e entrar como 20.000 patacas como croupier… um estudante universitario entra a 15-16.000 patacas….
Dao uma plateleira de ouro e ainda tem a mania de ir a rua… tenham vergonha na cara
10 anos na carreira e ainda é supervisor… Diz pouco…