Zoom admite ter encerrado conta de activistas chineses que assinalaram Tiananmen

[dropcap]O[/dropcap] serviço de videochamada Zoom admitiu ter encerrado temporariamente a conta norte-americana de activistas que assinalaram o 31º aniversário do massacre da Praça de Tiananmen, suscitando dúvidas sobre a independência da empresa face a Pequim.

Activistas dos direitos humanos exilados nos Estados Unidos usaram o programa para organizar uma vigília virtual com mais de 250 pessoas, visando homenagear as vítimas da intervenção militar que, na noite de 03 para 4 de junho de 1989, pôs fim a sete semanas de protestos pró-democracia. O episódio é considerado tabu na China, não sendo reconhecido por Pequim.

Uma semana depois, a conta foi encerrada sem explicação, e só voltou a ser reactivada na quarta-feira, segundo Zhou Fengsuo, co-fundador da associação de activistas e uma das pessoas mais procuradas por Pequim depois de Tiananmen.

A empresa admitiu que encerrou a conta e que voltou a restabelecê-la mais tarde. “Como qualquer empresa global, devemos respeitar as leis em vigor nas jurisdições em que operamos”, disse um porta-voz da Zoom Video Communications. “Quando uma reunião é organizada em vários países, os participantes nesses países devem respeitar as respectivas leis locais”, acrescentou.

Os activistas manifestaram indignação, acusando a empresa de ter agido sob pressão do regime chinês. “Neste caso, a Zoom é cúmplice da tentativa de apagar a memória do massacre de Tiananmen, em colaboração com um governo autoritário”, afirmou a organização China Humanitária, em comunicado.

A organização disse que o Zoom é um serviço “essencial” para manter contacto entre as pessoas na China, apesar da censura. Pequim criou um sistema sofisticado de censura para proibir qualquer informação que deslegitime o Governo. O seu vasto mercado constitui regularmente um dilema para os gigantes tecnológicos norte-americanos, que se orgulham em permitir total liberdade de expressão nos Estados Unidos.

A Zoom Video Communications registou um crescimento astronómico desde o início do confinamento a nível global, com empresas, escolas, indivíduos e instituições a recorrerem aos serviços de videochamada para manterem as suas operações, durante a pandemia.

As receitas da Zoom para o primeiro trimestre fiscal mais do que duplicaram, em relação ao mesmo período do ano passado, para os 328 milhões de dólares, com os lucros a dispararem de 198 mil dólares há um ano para os atuais 27 milhões de dólares.

A subida da sua cotação já coloca a Zoom com um valor bolsista de 59 mil milhões de dólares, mais do que a soma do valor de mercado de cada uma das quatro maiores transportadoras aéreas dos EUA, que viram o seu negócio pulverizado pelo surto do novo coronavirus, que reduziu dramaticamente as viagens aéreas.

A empresa foi fundada há nove anos por vários sócios, entre os quais o actual presidente executivo, Eric Yuan.

11 Jun 2020

Zoom | UM atenta às falhas de segurança da plataforma

A plataforma de videoconferências Zoom ganhou destaque em tempos de pandemia e é já a ferramenta de eleição de empresas e escolas para promover trabalho e ensino à distância. Contudo, ciberataques e preocupações de privacidade têm sido associadas à Zoom, ao ponto de já ter sido alvo de um aviso da DSEJ

 

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de Macau (UM) está alerta e preparada para lidar com falhas de segurança e privacidade associadas à plataforma de videoconferência Zoom. Quem o diz é o professor do departamento de ciências informáticas da UM, Miguel Gomes da Costa Junior, que adoptou a ferramenta desde o dia em que passou a leccionar à distância.

“Na UM, temos usado o Zoom para entrevistas, defesas de tese e aulas. Logo no início da quarentena, quando a UM adoptou o uso do Zoom, todas as informações de segurança foram passadas aos nossos Gabinetes para as Tecnologias de Informação e Comunicação (ICTO) e pelo Centro para a Melhoria do Ensino e da Aprendizagem (CTLE), para evitar surpresas desagradáveis”, explicou ao HM Miguel Gomes.

A verdade é que em tempos de quarentena, a plataforma assumiu o papel de ferramenta de comunicação de eleição, não só por utilizadores comuns, mas também por empresas e estabelecimentos de ensino, ultrapassando naturais candidatos como o Skype (Microsoft) ou o Hangouts (Google).

Contudo, a popularidade do Zoom tem crescido a par com as preocupações ligadas à sua fiabilidade e nível de exposição a ciberataques, já que existem denúncias associadas a invasões de videoconferências, um fenómeno que o próprio gabinete do FBI em Boston apelidou de “Zoombombing”.

“As principais denúncias referem-se a invasões em videoconferências e reuniões, o chamado ‘Zoombombing’, uma analogia ao ‘Photobombing’, termo usado quando um estranho invade uma foto alheia. Há relatos de reuniões que foram invadidas por estranhos nos EUA, que partilharam imagens e linguagem inapropriadas ou de ódio e, em alguns casos, tomaram o controlo da reunião”, explicou o professor da UM.

Dos relatos divulgados pelo FBI, duas escolas secundárias do estado de Massachusetts reportaram casos de aulas que foram invadidas. No primeiro caso, um indivíduo acedeu a uma aula que estava a ser leccionada através do Zoom e, após ter proferido algumas obscenidades, enunciou a morada da professora responsável pela lição. Já no segundo caso, um outro indivíduo passou a estar visível, mostrando suásticas tatuadas no corpo.

Conveniência perigosa

A popularidade do Zoom é explicada, sobretudo, pela facilidade de utilização, permitindo, na sua versão gratuita, que até 100 utilizadores possam participar, em simultâneo, numa videoconferência. O acesso é feito através de um link ou número de identificação partilhável com qualquer pessoa, não existindo, por definição, necessidade de uma password para entrar.

“As pessoas começaram a usar contas gratuitas sem estar atentas a aspectos básicos como, não clicar em links ou documentos estranhos recebidos através do chat durante as reuniões ou activar os recursos de segurança que o Zoom oferece, como tornar as reuniões privadas, criar uma ‘sala de espera’ para filtrar quem pode entrar na reunião e controlar a partilha de ecrã”, explicou ao HM Miguel Gomes.

Eric Yuan, CEO do Zoom, já veio a público admitir a existência de falhas de segurança, mas prometeu que “todas as questões estão a ser levadas a sério”, tendo sido introduzidas algumas alterações. Por exemplo, a inclusão de um ícone dedicado às configurações de segurança ou a impossibilidade de aceder à reunião antes do anfitrião.

DSEJ | Sem queixas

Contactada pelo HM, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) revelou que até ao dia 8 de Abril, “não recebeu qualquer queixa relacionada com a utilização da plataforma Zoom”. Na resposta enviada, a DSEJ confirma ainda que foram 14 as escolas de Macau que usaram o Zoom como auxiliar de ensino, sublinhando que apesar “de não recomendar plataformas específicas”, apoia as escolas na criação de um “mecanismo próprio de segurança da informação”. Segundo a DSEJ, foram ainda enviadas às escolas, via Instituto de Acção Social (IAS), orientações de segurança para a utilização do Zoom. Das medidas de segurança fazem parte, a necessidade de actualizar a aplicação de telemóvel para a versão mais recente, definir senhas de acesso para as reuniões, evitar aceder à plataforma através de contas de terceiros, prestar atenção a actividades suspeitas e fornecer as senhas de acesso apenas aos participantes.

14 Abr 2020