Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteRodrigo Brum, ex-secretário-geral-adjunto do Fórum Macau: “Grande Baía é da máxima importância” Depois da experiência no Fórum Macau, Rodrigo Brum está à frente da nova Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa na Grande Baía. Sobre o projecto, defende mais divulgação e que os países lusófonos invistam em bloco para materializar a verdadeira expressão do seu peso económico O projecto da Grande Baía foi anunciado em 2017. Tem havido a evolução certa ou há ainda muito a fazer, no relacionamento com Macau? Evolução, para mim, é sempre algo positivo. Obviamente, que estes anos incluíram dois ou três de covid-19, e há que ter isso em conta. Considero que o sucesso de Macau está ligado ao sucesso da Grande Baía. Estão interligados. Sim. Em certa medida, até o sucesso da própria China. Há três grandes projectos de iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, da qual todos ouvem falar porque tem sido lançado nos últimos dez anos. Além disso, tem um carácter mais internacional porque atravessa vários países e continentes, e envolve infra-estruturas e financiamentos em inúmeros países. Em Macau todos falam da Grande Baía, mas em Portugal quase não se ouve falar do projecto. Mas os dois estão muito interligados, porque a China vê a Grande Baía como o fornecedor de produção para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Portanto, o comércio que vai surgir com a “Faixa e Rota”, tem como base muito do sucesso e produção que resultar da Grande Baía. Considera que o sul da China continua a ser um vector de dinâmica económica. É efectivamente. Mas há ainda uma terceira iniciativa chinesa que é o Fórum Macau. Essa é a ponte de ligação das outras duas iniciativas aos países de língua portuguesa. Mesmo em Macau, há um pouco o desconhecimento destas várias realidades e da interligação entre eles. Em relação à própria Grande Baía, já nos anos 90, no período de administração portuguesa, e eu fiz parte desse processo, falávamos muito no delta do rio das pérolas como aquele triângulo entre Cantão, Hong Kong e Macau, a fim de valorizar a posição de Macau com estas duas regiões. Vale notar que em 1 por cento de área da China, ocupada pela Grande Baía, temos cerca de 5 por cento da população, aproximadamente 86 milhões de habitantes, mas temos 11 ou 12 por cento do PIB (Produto Interno Bruto) chinês. Estamos a caminhar para 15 por cento, e esse é, de facto, o motor da China. Que explicação encontra para estas estatísticas? Por ser a área mais dinâmica do país, que tem maior crescimento de PIB da China. Quando, em 2019, arrancámos com este projecto, numa das primeiras vezes que falei deste assunto referi dez por cento de PIB, o que já era significativo. Esse dinamismo traduz-se no facto de o PIB naquela área, que tem uma dimensão significativa, terá uma expressão cada vez maior. Isto demonstra que a área da Grande Baía é de máxima importância na China, empresas e países que querem fazer negócio com o país. Este projecto não tem ainda a divulgação equiparada ao peso e importância que realmente tem. Relativamente aos países de língua portuguesa, a Grande Baía é também uma área importante, como é para todos os países. Estes países têm um interesse ainda maior tendo em conta que a China determinou que Macau é o elo de ligação com os países de língua portuguesa. Não é o único ponto e nem é obrigatório que se use Macau [como plataforma comercial), mas há uma decisão política no sentido de privilegiar o território nesse sentido. Então, há essa vantagem. São países desiguais em termos económicos, e também o serão em matéria de investimento. Como se podem reduzir esses desequilíbrios? Não queria fazer propaganda das minhas funções (risos), mas tenho de falar da nova Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa (PLP) na Grande Baía. Essa foi a razão de ser dessa Câmara, dado existir uma desigualdade muito significativa entre as diferentes velocidades e dimensões dos diversos países. Desde logo, o Brasil que representa 75 a 80 por cento do comércio do bloco dos países portugueses com a China, percentagem essa que tem vindo a aumentar. O segundo país é Angola, com cerca de 15 por cento do comércio, mas desequilibrado, pois as exportações incidem no petróleo; e depois os restantes sete países que andam ali entre cinco a seis por cento. O conceito de PLP não está, aliás, devidamente clarificado nem é facilmente reconhecido pelas pessoas, sendo confundido muitas vezes com o termo PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). É importante perceber que há um núcleo de países que representam a quarta ou a quinta língua mais falada na Internet e o idioma mais falado do hemisfério sul, pelo que seria importante que o conceito de PLP fosse tão facilmente identificado como é o de PALOP ainda hoje [anos depois da sua criação]. Mas voltando às desigualdades. Como se podem combater? Uma das formas é o funcionamento em conjunto. Criando organizações de âmbito comercial e económico que articulem estes nove países de forma englobada, porque para os PLP, se estiverem cada um a negociar com a China, é absolutamente insignificante para o país. Mas até para a Grande Baía é insignificante, para um importador em Xangai por exemplo. Mas se for feito em conjunto gera-se uma força maior para negociar com a China. Os PLP devem apoiar-se uns aos outros e funcionar de forma articulada. Isso também é vantajoso para a China, que não tem que passar pelas dificuldades de relacionamento com as pequenas economias e produções. Deve-se dialogar de forma quase bilateral entre o bloco dos PLP e a China. Há documentos chineses que falam nesta relação bilateral e não multilateral. Ainda não se pensa em bloco? Pensa-se ainda muito pouco, e é preciso que organizações como esta nova câmara de comércio venham a conseguir com que os PLP se articulem. Isso não invalida que haja situações em que países com especificidades não tenham de articular com os outros, como é o caso do Brasil que exporta soja em grandes quantidades para a China e tem um mercado e comércio externo com o país muitíssimo desenvolvido, e com um peso significativo para a própria China. Na questão do petróleo temos Angola. Mas na maioria das situações há vantagens em trabalhar em conjunto. São Tomé e Príncipe já foi um dos seis maiores produtos mundiais de cacau, mas Angola ou a Guiné Equatorial, por exemplo, também produzem e podem exportar. Se houver um desenvolvimento destas indústrias, a sua posição face a mercados como o chinês seria vantajosa. Macau consegue responder aos desígnios da China na prestação de serviços para a plataforma comercial? Há, por exemplo, muitos entraves para a contratação de pessoas de fora. Macau tem ainda muito trabalho a fazer para poder cumprir cabalmente os desígnios que lhe são estabelecidos no âmbito da Grande Baía, e que são orientações de Pequim. Estou certo que os responsáveis sabem ainda o longo caminho que têm de percorrer, e é importante que o façam rapidamente e com dinamismo. Em Novembro do ano passado, nas comemorações do Fórum Macau, fiz algumas sugestões, tendo falado na possibilidade de contratações de técnicos ou talentos, como se diz em Macau, dos PLP, sem receios de que haja uma avalanche de gente a ir para Macau. Falamos de não haver qualquer receio em aceitar dezenas de especialistas, alguns com formação feita até em universidades de Macau, mas que sendo dos PLP podem mais facilmente fazer a ponte e acelerar a dinâmica de relacionamento entre a China e os PLP. Falamos de nove países, se forem dezenas de cada país, são umas meras centenas de pessoas. Que bom seria para Macau se tivéssemos umas 200 ou 300 pessoas qualificadas no território. Isso não causava qualquer perturbação ao mercado laboral local. Os próprios delegados do Fórum Macau perderam a residência, por exemplo. Isso é posterior ao meu tempo no Fórum, li notícias sobre o caso, e foi encontrada uma solução. Não foi sei exactamente o que aconteceu. No meu caso, entro sem problema porque sou residente permanente. Esteve em Macau nos anos 90, nomeadamente no Parque Industrial da Concórdia, além de ter trabalhado com o secretário adjunto para a Economia e Finanças. O futuro passava já pela integração regional. O projecto da Sociedade do Parque Industrial da Concórdia, que já sofreu alterações, era muito anterior à minha presidência da entidade. Quando assumi a presidência do parque não estavam sequer as infra-estruturas completas, não passava de um aterro em Coloane, com uma componente industrial e imobiliária, sendo esta maior. Eram 13 hectares que ainda lá estão. O parque correspondia a um terço da dimensão desse aterro destinado à zona industrial. Quando saí tinha contratualizado todos os lotes do parque industrial e respectivas infra-estruturas. Essas indústrias ainda lá estão, não sei se estão operacionais. Mas o sector industrial poderia ter mantido alguma expressão na economia? Não é fácil. Já no tempo da Administração portuguesa a diversificação era palavra de ordem. É evidente que a dimensão que o jogo tomou, especialmente após 2006, absolutamente espectacular, tornou esta concentração mais agradável do que no tempo da Administração portuguesa. O jogo nesse tempo tinha sempre cerca de 50 por cento de peso no que diz respeito aos impostos recolhidos aos casinos. Se já havia a pressão com a diversificação, maior é agora, contando que Macau venha a ter também uma economia virada para o turismo de conferências e realização de eventos. Continuará a ser necessário apostar na diversificação e até em termos de serviços, articulado com o projecto da Grande Baía. Que comentário faz a propósito da VI Conferência Ministerial do Fórum Macau? É importante que tenha sido relançada a actividade que o fórum vinha desenvolvendo nos últimos anos de forma crescente. Houve naturalmente uma repercussão dos anos de paragem devido à pandemia, acrescido do facto de que houve um adiamento na realização da conferência e definição de novas medidas. Mas estas são muito importantes especialmente se tivermos em conta que essas medidas são sempre para cumprir. Com maior ou menor impacto, até à realização da próxima Conferência Ministerial, essas medidas estarão implementadas e é importante que empresas e países analisem e aproveitem as oportunidades que são transmitidas através dessas medidas.
Hoje Macau SociedadeNova câmara de comércio quer ajudar empresas a entrar na China Uma nova câmara de comércio e indústria com sede em Macau quer ajudar as empresas dos países de língua portuguesa a ultrapassar os obstáculos no acesso ao mercado da China, disse o presidente à Lusa. A Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa na Grande Baía de Guangdong, Hong Kong e Macau (China) é a primeira associação que pretende reunir empresas de todos os mercados lusófonos, afirmou Rodrigo Brum. As exportações dos países de língua portuguesa para a China atingiram 147,5 mil milhões de dólares em 2023, num novo recorde histórico. O Brasil é o maior parceiro lusófono (82,2 por cento) chinês, seguido por Angola (10,4 por cento). Quanto aos outros países, incluindo Portugal, são “muito pequeninos e, portanto”, podem e deveriam “já estar a beneficiar de uma actuação e de uma posição conjuntas” na relação com a China, defendeu Brum. O objectivo da câmara, disse o dirigente português, é ajudar os empresários a ultrapassar “a falta de escala” para entrar na segunda maior economia do mundo e “o pouco conhecimento ou até indefinição às vezes sobre os regulamentos e a legislação chinesa”. Brum sublinhou também a barreira linguística, as diferenças na “forma como se fazem negócios” e “as dificuldades conhecidas de exportação de produtos alimentares” para o mercado chinês. Carne barrada A carne de vaca portuguesa ainda não consegue entrar no Interior, apesar de, em 2019, Lisboa ter assinado um acordo para simplificar os procedimentos de exportação de produtos alimentares para a China, incluindo a carne de ovino e de bovino. Brum disse acreditar que “a posição coordenada das empresas dos nove países [de língua portuguesa] determina uma posição activa nas estruturas que já estão criadas e que há que aproveitar”. A China estabeleceu a RAEM como plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003. Nesse mesmo ano, a China criou também o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido como Fórum de Macau, do qual Brum foi secretário-geral adjunto. “A ambição máxima da câmara é ganhar a massa crítica para ser ouvida junto das autoridades que determinam as regras do jogo” e explicar as sugestões e dificuldades sentidas pelos empresários lusófonos, disse o dirigente.
Hoje Macau PolíticaPortugal | Fórum Macau quer ajudar a captar mais investimento chinês [dropcap]O[/dropcap] secretário-geral adjunto do Fórum de Macau defendeu que os países de língua portuguesa, nomeadamente Portugal, devem aproveitar mais esta organização para captar investimento externo chinês, num debate virtual em que defendeu as oportunidades para as empresas. “É evidente que Portugal tem todo o interesse, como qualquer dos países de língua portuguesa, em ter mais investimento chinês de raiz”, disse Rodrigo Brum durante um seminário virtual (‘webinar’) sobre “Macau e o futuro das relações económicas e comerciais entre Portugal e China”. “O Fórum Macau é uma ponte evidente que pode ser explorada para os contactos com a China, e não é segredo que Portugal gostaria de atrair investimento no sector automóvel ou das baterias, e esses contactos podem ser feitos através do Fórum, que recentemente visitou instalações nesse ramo, maiores do que a Autoeuropa”, acrescentou o secretário-geral adjunto do Fórum Macau. “Na região em que Macau está inserido, da nossa janela vemos o território do lado, é uma região imensa com um potencial enorme; tem dificuldades, sim, às vezes até de entendimento, mas é nesses casos que se pode usar Macau, não como uma plataforma logística, mas como um intermediário favorável”, salientou o responsável, concluindo que “há inúmeras hipóteses de negócios, não é fácil, mas os resultados compensam”. No ‘webinar’, Rodrigo Brum mostrou-se ainda favorável, respondendo a uma questão do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), João Marques da Cruz, à criação de mais fundos para fomentar a relação entre a China e os países de língua portuguesa.
Hoje Macau SociedadeSão Tomé e Príncipe enfrenta um longo caminho no comércio com a China, diz Rodrigo Brum [dropcap]O[/dropcap] secretário-geral adjunto do Fórum de Macau, Rodrigo Brum, considerou ontem que São Tomé e Príncipe “tem muito caminho a fazer” para atingir um nível satisfatório no contexto do comércio e do investimento com a China. “São Tomé e Príncipe é um parceiro recente que tem certamente muito caminho para fazer. As condições não são fáceis, o caminho não é fácil, certamente, mas faz-se caminhando”, disse Rodrigo Brum, em declarações à Lusa. São Tomé e Príncipe foi o último membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), à excepção da Guiné Equatorial, a entrar para o Fórum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de língua portuguesa (Fórum de Macau), em Março de 2017. Brum tem estado na capital são-tomense para participar na 14.ª edição do Encontro dos Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, cujo programa terminou ontem com uma visita ao norte do país. Trabalho a ser feito Rodrigo Brum considerou que os países da CPLP “pretendem acompanhar” a “evolução muito intensa” do crescimento económico chinês. O economista considerou, contudo, que os países de língua portuguesa têm que “fazer muito trabalho de casa”. “Não basta cedermos ao mais fácil que é vender as matérias-primas, vender as madeiras, vender produtos agrícolas ou outros minerais que são não trabalhados, que não têm qualquer mais-valia”, referiu Rodrigo Brum. “É preciso criarmos as condições para convencer ao investimento chinês que nos ajude a transformar, no local de origem, nos países de língua portuguesa, alguns desses produtos que depois serão exportados, naturalmente, em grande quantidade para a China, mas com mais-valias acrescidas deixadas nos países de origem”, acrescentou. Em relação particularmente a São Tomé e Príncipe, o responsável garantiu que a China vai investir no país, particularmente no sector das pescas. “A China vai investir garantidamente no sector das pescas. Há já contactos nesse sentido e digo com alguma segurança que vai investir”, adiantou. No entanto, advertiu: “Tem que haver um plano da parte de São Tomé e Príncipe para que algum desse pescado, desse produto no investimento das pescas que venha a ser feito, seja aqui transformado”.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteRodrigo Brum, Secretário-Geral Adjunto do Fórum de Macau: “Dar a conhecer esta imensa China” Rodrigo Brum assumiu o cargo de Secretário-Geral Adjunto do Secretariado Permanente do Fórum de Macau no passado dia 1 de Setembro. A prioridade do economista é ter as representação dos oito países de língua portuguesa dentro do organismo. Para já, estão a ser dados os primeiros passos para a apresentação dos representantes de empresas oriundas de países de língua portuguesa a potenciais parceiros da China Assumiu funções em Setembro, quais os maiores desafios com que se tem deparado no Fórum Macau? Cumprir com o meu primeiro objectivo que já foi anunciado, ou seja, assegurar a participação efectiva de todos os países de língua portuguesa. O que falta para conseguir esse objectivo? Já conseguimos a representação do Brasil. O Brasil era uma falha óbvia muitas vezes apontada ao Fórum por todos, inclusivamente jornalistas. É um país com uma dimensão e uma relação com a China que não pode estar alheado do Fórum Macau. É com muito gosto que vimos nesta última reunião anual, a declaração do embaixador do Brasil, que chefiou a delegação do país, a referir que iria existir, dentro de pouco tempo, a nomeação de um delegado, baseado em Hong Kong para acompanhar os trabalhos do Fórum Macau. Isso aconteceu já na prática com a deslocação que terminou no passado sábado, em que o delegado do Brasil junto do Fórum também participou. Trata-se do Rafael Rodrigues Paulino, segundo secretário do consulado geral do Brasil em Hong Kong. Conseguindo a representação dos oito países de língua portuguesa no Fórum Macau, o que pode vir a fazer com isso efectivamente? Posso passar para o segundo objectivo que tenho: a organização para uma actuação consertada destes oito países dentro do objectivo principal e declarado do Fórum: a divulgação, promoção e o incremento das relações económicas, comerciais e de investimento entre a China e os países de língua portuguesa. FOTO: Sofia Mota Tem sido apontada ao Fórum alguma falta de acção no estabelecimento dessas relações. O que é que está a ser feito para realmente concretizar acções de cooperação efectiva entre a China e os países de língua portuguesa? Em concreto, posso referir esta última viagem à China que aconteceu na semana passada e que diz respeito à vertente de actuação do Fórum que tem que ver com a divulgação dos países de língua portuguesa junto dos municípios e províncias chinesas. Trata-se de abrir oportunidades a estes países, porque passam a ter um maior conhecimento desta imensa China que tem uma dimensão económica e geográfica muito grande. Mas há uma outra vertente que foi menos desenvolvida que tem que ver com a divulgação da China junto dos países de língua portuguesa, bem como dos mecanismos de funcionamento do próprio Fórum Macau. Essa parte tinha sido menos desenvolvida e na última reunião ordinária anual, em finais de Março, foi já deliberado que visitaremos todos os oito países a partir deste ano, e com um carácter regular e anual. Esta é uma mudança significativa e importantíssima para os países de língua portuguesa: darmo-nos a conhecer e criarmos oportunidades junto dos países. Não de forma ocasional, mas de forma regular. Teremos missões a todos os países a partir deste ano. Estão já marcadas as missões ao Brasil e a Cabo Verde e estamos a tratar das seguintes. Ou seja, ainda estamos numa fase de apresentações mútuas? Estamos agora no início de construção de uma relação com os países envolvidos, é isso? É uma nova fase. Mas isso não deveria ter acontecido desde o início das actividades do Fórum? Cheguei há seis meses. Relativamente à agenda que teve na semana passada, que actividades considera, de um ponto de vista de utilidade, as mais eficazes? Não gostaria de me fixar só na semana passada, porque a viagem que fizemos começou na semana anterior com o encontro em Pequim, comemorativo do dia da língua e cultura da comunidade dos países de língua portuguesa apoiado, pela segunda vez, pelo Fórum Macau e que foi organizado pelas embaixadas dos países de língua portuguesa. Desta vez teve a coordenação da embaixada de Cabo Verde. E qual é o papel do Fórum nesta questão da língua portuguesa e da sua divulgação? Tem certamente. Consideramos que também a cultura tem influência ou pode proporcionar oportunidades em termos comerciais nas relações entre a China e os países de língua portuguesa, ou seja, é uma base de partida para a actividade económica. Relativamente à semana passada em concreto, há talvez três tipos de visitas e de contactos que são feitos durante estas deslocações. Há a divulgação dos países junto de entidades, empresários e associações chinesas e isso consubstancia-se em reuniões que são tipicamente apresentações por cada um dos delegados do seu próprio país, seguido de uma interacção entre os participantes. Há alguma questão que apareça nessa fase de interacção entre os participantes? Algumas curiosidades em particular? Generalizar uma experiência de dois ou três contactos na semana passada não é correcto. De facto, existe uma necessidade de conhecimento que só perante as respostas concretas dos delegados é que faz sentido. É uma acção de divulgação pura e muito necessária porque, como já disse estamos perante uma China imensa para quem destrinçar estes países também não é fácil. Essa acção existe e tem que ver com a divulgação junto das entidades oficiais ao mais alto nível, bem como de empresas e associações comerciais e empresariais destas cidades e províncias que visitamos. Depois temos a segunda vertente em que existem as visitas que fazemos a empresas e a outros organismos para conhecimento do que existe na China por parte dos próprios países para saberem o que é que existe e o que, porventura, pode vir a ser o próximo destino de relações comerciais com estas empresas que visitámos. Ao fazermos estas visitas estamos a permitir que os países se posicionem junto das entidades em questão e em que poderão ter mais interesse, quer como investidores quer como meros fornecedores de serviços ou de produtos. E a terceira vertente destas visitas diz respeito a quê? Há outro aspecto que pode parecer secundário e, talvez por isso possa ser por vezes descurado, mas que também está incluído na nossa agenda e em especial nesta em que estivemos envolvidos na semana passada. Tem que ver com uma parte mais cultural e talvez mais lúdica em que conhecemos os ambientes destas cidades e municípios que visitámos, ou seja, não basta ter reuniões em salas fechadas de hotel. É preciso sair e ver o que se passa. Uma ida a um mercado, a um centro comercial ou a um centro histórico pode ser tão importante como qualquer contacto comercial. Estamos a falar de trocas comerciais entre culturas muito diferentes mesmo no que respeita a protocolos de negócio. O Fórum Macau pode ter um papel na divulgação de conhecimento acerca deste assunto? É importantíssimo. Em todas as relações comerciais entre sociedades diferentes há sempre uma necessidade de alguma aproximação e de “tradução” de conhecimentos e de critérios e procedimentos entre as várias sociedades. É sabido que em relação à China e aos países de língua portuguesa esta necessidade é grande porque as diferenças culturais são muitas. É evidente que o conhecimento mútuo entre as partes envolvidas é útil em qualquer circunstância, neste caso este trabalho desenvolvido pelo Fórum Macau é de extrema importância. A Grande Baía é um projecto inter-regional que inclui Macau. No entanto, a livre circulação prevista entre as partes é aplicada apenas a chineses. O Fórum Macau poderia ter interesse em fomentar relações comerciais dentro da Grande Baía? Está a fazer alguma coisa neste sentido tendo em conta os interesses dos países de língua portuguesa? A pujança desta região que envolve Macau e a província de Guangdong sempre foi importantíssima no desenvolvimento da China. Esta zona é uma zona riquíssima com a integração das regiões administrativas especiais de Macau e de Hong Kong complementadas pelas posições e pelo peso das cidades vizinhas de Zhuhai e de Shenzhen. Tudo isto faz desta região uma zona, por excelência, de entrada no mercado chinês e isso não é de agora. Esse conceito, às vezes esgotado, de Macau ser uma plataforma não é só para os discursos, é uma realidade no acesso a esta região. Como é que isso se insere na Grande Baía? Estamos numa posição privilegiada para aceder a estes mercados que agora estão a ser agregados nesta iniciativa da Grande Baía. O Fórum Macau já fez alguma coisa tendo em conta esta iniciativa? Esta iniciativa está a ser construída. O Governo de Macau participa activamente e não o Fórum de Macau. Não me compete concorrer com o Governo. Agora posso-lhe dizer que ainda no ano passado, e já na minha presença, estivemos numa importantíssima reunião em Zhuhai, do Fórum, entre a China e os países latino-americanos. São formas de interagir e de ligar este Fórum, os países que o constituem e os nossos vizinhos. A presença de Pequim no Fórum tem sido mais acentuada, nomeadamente nos cargos de direcção. O que é que quer isto dizer? Não falo por Pequim, mas factos são factos. O envolvimento concreto que a China e a parte chinesa no Fórum tem junto deste organismo é do conhecimento público. No ano passado, o Fórum Macau passou a contar, além da secretária-geral indicada estatutariamente por Pequim, com um secretário-geral adjunto também estatutariamente previsto e indicado por Pequim. Há um óbvio e objectivo envolvimento de Pequim e isso temos todos de ter consciência de que tem significado. Como é que gostaria de ver o Fórum Macau no final do seu mandato? Gostaria de ver concretizados os primeiros objectivos que mencionei no início. Já seria muito bom.