Hoje Macau SociedadeCarlos Morais José e Alice Kok na direcção do Rota das Letras [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] jornalista e escritor Carlos Morais José e a artista plástica Alice Kok vão integrar a direcção do Festival Literário de Macau já a partir da próxima edição, a oitava do Rota das Letras. Carlos Morais José, director do jornal Hoje Macau, assume as funções de director de programação do Festival, e Alice Kok, presidente da Associação Arts For All, passa a ocupar o cargo de directora executiva. O Festival Literário de Macau é organizado desde 2011 pelo jornal Ponto Final. No final da sua última edição, o jornalista Hélder Beja, um dos fundadores do evento, deixou o cargo de director de programação. A direcção do Festival continuará a ser liderada pelo jornalista Ricardo Pinto, proprietário do jornal Ponto Final e coordenador do evento, e a contar com o poeta Yao Jingming, chefe do Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de Macau, no cargo de subdirector. A próxima edição do Festival Literário de Macau terá lugar de 15 a 24 de Março de 2019.
Diana do Mar Manchete SociedadeRota das Letras | Cancelamentos de presença de autores depois de pressão do Gabinete de Ligação [vc_row][vc_column][vc_column_text] A indicação de que a vinda de três escritores convidados para Festival Literário de Macau não seria “oportuna” veio do Gabinete de Ligação, afirma Ricardo Pinto, director do evento. A organização do Rota das Letras vai reflectir sobre a continuidade do festival após os recentes acontecimentos que levaram, entretanto, o director de programação a anunciar a sua saída [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] dias do início, o Festival Literário de Macau “Rota das Letras” cancelou a presença de três escritores após ter sido informado “oficiosamente” de que a vinda de Jung Chang, James Church e Suki Kim “não era considerada oportuna” e que, por conseguinte, “não estava garantida a sua entrada no território”. Desconhecia-se, no entanto, a fonte da informação, depois de os secretários para os Assuntos Sociais e Cultura e da Segurança, Alexis Tam e Wong Sio Chak, garantirem não ter conhecimento sobre o caso. Ricardo Pinto confirmou que a referida indicação não veio do Governo de Macau, mas antes “da parte do Gabinete de Ligação”. Contudo, em declarações reproduzidas pela TDM no mesmo dia, sábado, feitas a partir de Pequim, o director do Gabinete de Ligação, Zheng Xiaosong, afirmou desconhecer o caso em torno da Rota das Letras. “Obviamente não íamos colocar os autores convidados na situação de chegarem aqui a Macau e não poderem entrar”, uma vez que havia “grande” a probabilidade de tal suceder, reiterou Ricardo Pinto. Para o director do Festival Literário, esta situação foi uma “surpresa”, atendendo a que “foi a primeira vez” que sucedeu algo do género desde que o Rota das Letras nasceu em 2012. “Para nós foi especialmente desconcertante porque não acho que se justifique em circunstância nenhuma, mas em relação a estes autores ainda menos”, sublinhou. Continuidade na mesa O cancelamento da presença de três escritores por não estar garantida a sua entrada em Macau vai levar o Rota das Letras a reflectir sobre a continuidade de um evento que conquistou um lugar no calendário cultural. “Depois do que aconteceu, obviamente tudo terá que ser reflectido, repensado e discutido” mais tarde para “ver até que ponto faz sentido continuar com o festival, em que termos, em que circunstâncias, em que condições”, afirmou o director, Ricardo Pinto, à margem da cerimónia de abertura do Rota das Letras, que arrancou no Sábado e decorre até ao próximo dia 26. “Não há nada que eu possa dizer [sobre o futuro]. Acho que o importante, neste momento, para nós, é que este festival possa ser bem organizado” e ter o “menor ruído possível depois de todo o que já houve”. Os três escritores em causa são Jung Chang, conhecida principalmente por “Cisnes Selvagens – Três Filhas da China” (1991) e pela controversa biografia “Mao: A História Desconhecida”; James Church, um ex-agente da CIA, autor da série “Inspector O”, uma história de detectives passada na Coreia do Norte; e Suki Kim, sul-coreana conhecida por trabalhar infiltrada, autora de “Without You, There Is No Us” (2014), livro no qual converteu a experiência de ensinar inglês às crianças das elites da Coreia do Norte. DSEJ retira participação Uma das partes importantes do Festival Literário de Macau é o “Rota das Escolas”, uma iniciativa que tem contado com a coordenação da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Na edição anterior, por exemplo, incluiu cerca de 30 sessões em instituições de ensino oficiais e privadas. No entanto, este ano, segundo revelou o próprio organismo à Rádio Macau, “não consideraram participar nos trabalhos do Festival Literário”, para “evitar afectar as actividades regulares de ensino nas escolas”, atendendo a que a data do Rota das Letras (que se tem realizado quase sempre em Março) se sobrepõe ao período de exames. “O que nos foi informado é que a DSEJ não estava com disponibilidade para fazer a habitual coordenação que, “obviamente, nos facilitava imenso”, comentou Ricardo Pinto. “O nosso contacto com as escolas começou por ser sempre feito directamente – julgo que só há duas edições passou a ser coordenado pela DSEJ”. No entanto, “o facto de a DSEJ não ter, este ano, querido ou podido (…) não impediu que nós tivéssemos feito esse trabalho. Aliás, várias dirigiram-se ao festival no sentido em que pudéssemos levar lá os autores e é isso que vai acontecer”, sublinhou. Apesar dos recentes acontecimentos, Ricardo Pinto tem confiança de que a adesão ao Rota das Letras não vai ser beliscada. “Por uma razão: independentemente de nós termos querido muito que os autores que não vão estar presentes estivessem, também acho que obviamente aqueles que vêm têm muita qualidade e seguramente muito a dar ao festival. Julgo que seria mau para eles sobretudo, mas mau também para o público não agarrar esta possibilidade de poder contactar com eles”, sublinhou. Normalmente, o Festival Literário acaba por reunir, em torno das múltiplas iniciativas, entre 10 e 20 mil pessoas ao longo de 15 dias. “Não me parece que esse número seja muito diferente”, disse Ricardo Pinto. “Temos dezenas de autores, incluindo muitos locais também, que em si mesmo são um excelente cartaz para o festival e uma garantia para as pessoas que aqui se dirigirem de que não se arrependerão”, rematou. [/vc_column_text][vc_column_text css=”.vc_custom_1520871558252{margin-top: 15px !important;margin-right: 0px !important;margin-left: 0px !important;padding-top: 10px !important;padding-right: 15px !important;padding-bottom: 18px !important;padding-left: 15px !important;background-color: #3f3f3f !important;border-radius: 1px !important;}”] Hélder Beja abandona direcção Hélder Beja está demissionário [foto de arquivo] Este episódio teve outra consequência: o anúncio de Hélder Beja de que vai abandonar o cargo de director de programação do Festival Literário de Macau imediatamente depois do final da sétima edição, ou seja, no dia 26. “Na qualidade de co-fundador e membro da direcção da Rota das Letras desde a primeira hora, e na sequência dos eventos noticiados nos últimos dias, que culminaram com o cancelamento da presença de alguns autores que se preparavam para participar no festival, considero que na presente conjuntura não tenho condições para continuar”, escreveu num breve comunicado enviado na sexta-feira às redacções. “Foi um prazer e um desafio ajudar a criar e a desenvolver a Rota das Letras”, concluiu. Ricardo Pinto tentou demovê-lo no sentido em que, “a ter que tomar essa decisão, o fizesse “o mais tarde possível”, dado que o festival se encontra em curso, mas compreende a decisão. “Também lhe disse que percebo perfeitamente as razões dele. Percebo a frustração que ele sente, comungo dessa frustração e acho que essa frustração sentem-na todas as pessoas que estão envolvidas na organização do festival”, argumentou. “Obviamente irei ter ainda uma conversa com o Hélder depois do festival. Gostaria muito que continuasse”, realçou. Wong Sio Chak desconhece “rumor” Instado a comentar a notícia sobre o cancelamento da participação de três autores do Festival Rota das Letras, o secretário para Segurança afirmou não ter conhecimento sobre a situação. Wong Sio Chak adiantou ainda que contactou com o Corpo de Polícia de Segurança Pública que também afirma não ter informação sobre o assunto. De acordo com comunicado, o secretário para a Segurança frisou que a entrada e a saída do território de qualquer indivíduo é uma questão do foro privado da própria pessoa, pelo que as autoridades policiais nunca divulgam informação sobre a mesma. Por fim, afirmou não saber o motivo para o surgimento de “esse rumor”. [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
Andreia Sofia Silva MancheteLivraria Portuguesa | Pedido maior dinamismo e preços mais baixos Renovada a concessão da Livraria Portuguesa à Praia Grande Edições por mais cinco anos, o que esperar deste espaço único da língua de Camões em Macau? Amélia António, Carlos André e Miguel de Senna Fernandes pedem preços mais baixos, maior articulação com entidades educativas e culturais e dinamismo no espaço [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) apostou na estabilidade da continuação da Praia Grande Edições à frente dos destinos da Livraria Portuguesa, após o polémico período, em 2009, em que chegou a ser equacionada a venda do edifício. Cinco anos depois, e com mais cinco anos de gestão pela frente, o que deseja a comunidade portuguesa de um espaço que não é apenas seu, mas de todo o território? As vozes com quem o HM falou dão os parabéns à gestão de Ricardo Pinto, director da Praia Grande Edições (ver texto secundário), mas deixam sugestões. Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, disse ao HM que deve ser feita uma diminuição dos preços praticados. “Poderia ser feito algum esforço para que haja mais livros em português e os que são encomendados deveriam chegar cá mais baratos, com menos recursos ao transporte de avião, é uma parte importante. Tem de haver um esforço na programação de encomendas para que se consiga que os livros cheguem cá a um preço mais acessível. Os livros continuam a chegar caros a Macau”, defendeu. Amélia António disse ainda que o espaço “pode ser mais aproveitado para que aconteçam mais coisas naquela casa, de maneira a que leve mais pessoas lá, para que haja um bocadinho mais de dinâmica”. Outras ligações Carlos André, director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), pede uma maior ligação com entidades académicas e culturais. “Poderia haver um maior envolvimento entre a livraria e várias entidades e iniciativas na versão escrita. Falo logo do IPM onde trabalho, mas se calhar a culpa até é do IPM e não tanto da livraria. Falo também do IPOR e das instituições de ensino e cultura, e deveria haver uma maior articulação, porque permitiria apelar a outro tipo de livros. Mas penso que a Livraria portuguesa está bem”, referiu. O advogado Miguel de Senna Fernandes não quer que a Livraria Portuguesa saia do lugar onde está, mas pede mais iniciativas. “Tem sido um espaço importantíssimo para a manutenção de uma certa cultura, é um sustentáculo importante da comunidade portuguesa. É um espaço muito pequeno, mas não digo para a livraria sair dali, porque já houve uma altura em que se pensou numa alternativa. A livraria portuguesa poderia expandir para outros espaços, para cativar ainda mais outra população. Não tem que ser só livros em português, mas que seja também um espaço onde possa albergar outro tipo de literatura”, disse ao HM. “A gerência da livraria portuguesa está de parabéns, pois há uma renovação dos livros e grande diversidade de autores, com novos autores de Portugal. Cumpre perfeitamente o seu papel no contexto de Macau. Inevitavelmente falta espaço, é claro que a Livraria tem uma galeria para outras actividades, mas não chega. O que lhe falta é essa visibilidade”, rematou o advogado. Carlos André defende que, apesar da reduzida galeria, a importância permanece enorme. “A livraria cumpre um papel importantíssimo da afirmação da cultura e língua portuguesa em Macau. O que me parece é que este projecto, numa cidade onde os leitores de português são de poucos milhares, é muito interessante. Se tivermos em conta que a livraria se tem associado a várias iniciativas que ultrapassam um pouco o âmbito dos livros”, concluiu. O HM tentou obter mais esclarecimentos junto do João Laurentino Neves, director do IPOR, mas este não quis prestar mais declarações sobre o assunto, nem sobre o cumprimento do anterior contrato, por defender que esta foi uma decisão dos associados. Também não foi possível obter comentários dos associados sobre este dossier. “Não considero que os preços sejam elevados” Ricardo Pinto, director da Praia Grande Edições “Não considero que os preços sejam elevados” Com a concessão da Livraria Portuguesa renovada por mais cinco anos, Ricardo Pinto deixa a promessa de dinamizar a galeria que, confessa, já perdeu algum dinamismo com a abertura da Fundação Rui Cunha (FRC). “Procuramos ter produtos cada vez mais variados. Algumas das novidades vão surgindo com o tempo e são decorrentes daquilo que é a normal gestão de um espaço comercial. Mas em relação aos últimos cinco anos vamos ter um aproveitamento mais intensivo do espaço da galeria. Nos primeiros dois ou três anos tivemos eventos muito significativos, e temos lá os eventos do Festival Literário todos os anos. A regularidade nos últimos dois anos desceu um pouco dado o aparecimento de uma instituição que tem vindo a fazer um excelente trabalho, a FRC. Neste momento o nosso espaço deixou de ser único nesta perspectiva e há muitas pessoas que utilizam a FRC”, contou ao HM. O projecto de abrir um café na Livraria tem sido adiado. “A questão do café é um projecto que tem vindo a ser adiado e tem a ver com questões relacionadas com a licença e de instalações que precisam de alguma intervenção devido à humidade. Não achamos que seja absolutamente necessária a existência de um café. Não sabemos se a ideia captaria muito interesse das pessoas.” No geral, Ricardo Pinto espera fazer “melhor” nos próximos cinco anos, “mas não temos ideias muito diferentes daquelas que têm vindo a ser desenvolvidas”. “Queremos gerir a Livraria à semelhança do que tem vindo a ser feito, procurando ter uma oferta tão vasta quanto possível de livros em português”. Olhando para os últimos cinco anos, Ricardo Pinto acredita que cumpriu o acordo feito com o IPOR. “Tínhamos de aumentar a oferta de autores e títulos e trouxemos novos autores portugueses pela primeira vez para Macau. Queríamos baixar os preços e fizemos isso, tínhamos de alargar o horário de funcionamento da livraria e passou a estar aberta aos domingos. O festival literário (Rota das Letras) acabou por dar outra visibilidade à livraria portuguesa.” Sem descidas Questionado sobre os preços que são actualmente praticados pela Livraria Portuguesa, Ricardo Pinto garante que não há margem de manobra para mais descidas. “Não considero que os preços sejam elevados. Há o preço do transporte e temos de lidar com o regime de consignação que existe no negócio das livrarias. As editoras colocam os livros nas livrarias, os que não são vendidos são devolvidos às editoras. Dado que temos de encomendar os livros a Portugal e não querendo as editoras fazer acordos de consignação com Macau por causa do transporte, temos de comprar os livros todos. Isto acaba por nos obrigar a ter uma prudência muito grande. Nós baixamos os preços relativamente ao que tínhamos antes e baixar mais considero impossível”, rematou.