MNE | Pequim “nunca permitirá” o regresso do militarismo japonês

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, deixou bem claro em declarações durante a sua visita ao Tajiquistão que a China não permitirá qualquer ingerência do novo governo japonês de direita nas decisões sobre Taiwan

A China “nunca permitirá” o regresso do “militarismo” japonês, advertiu o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, numa reunião com o homólogo tajique, Sirojiddin Muhriddin, em plena escalada de tensões entre Pequim e Tóquio devido a Taiwan. Durante o encontro, realizado no sábado em Duchambé, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros expressou agradecimento ao Tajiquistão pelo “firme apoio” em questões que afectam os “interesses fundamentais da China”, entre as quais a situação de Taiwan.

“A China nunca permitirá que as forças de direita do Japão façam retroceder a roda da história, nem permitirá a ingerência de forças externas na região chinesa de Taiwan ou um ressurgimento do militarismo japonês”, afirmou Wang, de acordo com declarações recolhidas pela agência oficial Xinhua. O ministro sublinhou que Pequim “trabalhará com todas as partes para defender o consenso internacional” em torno do “princípio de uma só China” e faz questão de “salvaguardar conjuntamente as conquistas da vitória na Segunda Guerra Mundial”.

A China e o Japão estão envolvidos numa disputa diplomática tensa depois da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, que está no cargo há um mês, ter afirmado que um ataque da China a Taiwan poderia justificar a intervenção das Forças de Autodefesa japonesas.

Após as declarações de Takaichi, a China aconselhou os seus cidadãos a não viajarem para o Japão, o que provocou centenas de cancelamentos de voos, assim como vetou novamente a importação de marisco japonês, entre outras medidas.

Finca pé

A primeira-ministra japonesa, por sua vez, recusou-se na sexta-feira passada a retratar-se das sobre Taiwan no Parlamento nipónico, considerando que se trata de uma “posição coerente” do governo japonês, e reiterou o apelo ao diálogo com a China. Pequim considera a ilha de Taiwan, governada de forma autónoma desde 1949, como uma “parte inalienável” do seu território e não descarta o uso da força para assumir o seu controlo.

O Japão, que rompeu relações diplomáticas com Taipé para estabelecer relações com Pequim em 1972, mantém intercâmbios estreitos não-oficiais com a ilha, bem como um compromisso de segurança com os Estados Unidos.

Disputa na ONU

O Governo chinês levou a disputa diplomática com o Japão à ONU, acusando Tóquio de “lançar uma ameaça de uso da força” contra Pequim e advertindo que se defenderá de qualquer “acto de agressão” no estreito de Taiwan. Numa carta enviada sexta-feira ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o embaixador da China junto da organização, Fu Cong, afirmou que a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, “fez comentários provocadores sobre Taiwan de forma flagrante”.

O embaixador advertiu que, se o Japão se atrever a intervir militarmente no estreito de Taiwan, isso será considerado por Pequim um “acto de agressão”. “A China exercerá com determinação o seu direito à autodefesa ao abrigo da Carta da ONU e do direito internacional e defenderá firmemente a sua soberania e integridade territorial”, afirmou Fu.

“Como país derrotado na Segunda Guerra Mundial, o Japão deve reflectir profundamente sobre os seus crimes históricos, cumprir estritamente o seu compromisso político relativo à questão de Taiwan, cessar imediatamente provocações e ultrapassagens de linhas vermelhas, e retratar-se das suas declarações erróneas”, concluiu o diplomata chinês.

24 Nov 2025

Dili | MNE japonês de visita para analisar relações bilaterais

O chefe da diplomacia japonesa visita Timor-Leste esta semana e os temas centrais serão a cooperação bilateral nos setores de defesa e segurança, desenvolvimento económico e recursos humanos, disse anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros timorense.
Takei Shunsuke, que estará em Timor-Leste cerca de 24 horas, entre hoje e amanhã, é o primeiro governante a deslocar-se ao país desde a tomada de posse, no sábado passado, do novo Governo timorense.
A visita pretende “fortalecer a relação bilateral entre Timor-Leste e o Japão e continuar a explorar caminhos para impulsionar a cooperação bilateral nas áreas de defesa e segurança, desenvolvimento económico, desenvolvimento de recursos humanos e programa de formação de estagiários técnicos, bem como outras cooperações regionais e multilaterais”, divulgou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado.
Durante a visita, Takei Shunsuke tem encontros previstos com o Presidente da República, José Ramos-Horta, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, a presidente do Parlamento Nacional, Maria Fernanda Lay, e o seu homólogo timorense, Bendito dos Santos Freitas.
Na agenda está igualmente previsto um encontro com o ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Agio Pereira.
A visita ocorre quando o novo Governo está a analisar o programa do executivo para os próximos cinco anos, documento que começou ontem a ser debatido numa reunião alargada do executivo, e que continua hoje.
O executivo reuniu-se pela primeira vez na segunda-feira, com um encontro alargado para discutir os objectivos e metas para os primeiros 120 dias da governação.

6 Jul 2023

Sexo na distopia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] romance de Margaret Atwood, História de uma Serva, em inglês The Handmaid’s Tale, de repente lançou-se para fama porque alguém se lembrou de fazer uma adaptação televisiva. A autora diz-se encaixar no género de ficção especulativa, projectando futuros distópicos que podiam muito bem acontecer, e não discordo. Esta história soa à actualidade de alguma forma, mesmo que tenha sido escrita nos anos 80. O actual interesse por ideologias mais conservadoras no mundo ocidental parece encaixar que nem uma luva em alguns dos processos que levaram ao contexto político e social desta narrativa.

Vi a série e li o livro, e não pretendo de modo algum revelar spoilers. Esta é só uma reflexão a partir da ideia base em que esta história se desenvolve: no poder encontra-se um governo conservador altamente patriarcal. A narrativa gira à volta de uma mulher que é feita serva do sexo – para colmatar a necessidade de procriação. É uma espécie de concubina para trazer ao mundo os bebés que já são difíceis de produzir.

Como toda a ficção transporta-nos para futuros mais ou menos plausíveis, os nossos pobres neurónios são quase que obrigados a reflectir sobre as condições sociais, culturais e sexuais das nossas vidas. Remeteu-me para a existência particularmente feminina porque aborda o sexo e a maternidade de forma sufocante e urgente. Entrei nas realidades psicológicas das personagens e na de mim própria. A sexualidade feminina como conquista contrasta com a reinterpretação fictícia do sexo como objecto económico. Não é descabido – assustou-me – a fertilidade como bem estatal. Se algum dia virmos o mundo a padecer de uma taxa de natalidade decrescente, ao ponto dos humanos entrarem em vias de extinção, não serão absurdos os movimentos que instigam a mulheres a serem única e exclusivamente parideiras. Como os pandas em cativeiro.

Nesta história o sexo é atirado para o plano religioso e utilizado somente para procriar – com aquelas que ainda podem, com as mulheres que ainda são férteis. A ‘cerimónia’ acontece uma vez por mês de forma mecânica, impessoal, dolorosa ou não dolorosa, nem interessa. A gestação é uma formalidade para trazer alguém ao mundo. Sabemos como é a mente humana, a dor é silenciosa mas sabemos que a engenharia social magoa estas servas que não escolheram estar ali. Vê-se materializada a imposição ideológica que cobre formas de vida, e de sexo, sem grande reflexão. Já viram um mundo que em vez de entendê-lo, massacra-o?

A história é marcada pelo exagero patriarcal que se mascara na necessidade demográfica. O sexo carrega pudor social mas são permitidas manifestações clandestinas e violentas. Quem é que vive sem sexo? Quem é que vive sem carinho, ou amor? Quem é que vive sem sedução? Quem vive sem que lhe toquem? A história da Offred, personagem principal e narradora, torna saliente o desespero de não ter aquilo que o nosso corpo e mente precisa. Quando somos contrariados e tornamo-nos marionetas de uma ideia que não é nossa, e da qual não temos controlo algum. E o sexo assim torna-se, sem formas saudáveis e livres de expressão, num fruto envenenado que ninguém quer experimentar. A maternidade revela-se instrumental e sem espaço para afectos. A emoção que reina (e controla) é o medo, e assim se mantém a ordem social.

Reflectir sobre os significados do The Handmaid’s Tale é ter medo também – não necessariamente do possível tom profético – mas do extremismo ou autoritarismo que regem muitas vidas por esse mundo fora, no presente.

7 Nov 2017

Casual

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] sexo casual define-se pela inexistência de sentimentos românticos pelo parceiro, que pode ser de curto ou de longo-prazo. Quando é de curto-prazo, i.e., uma única noite de loucura com alguém que acabámos de conhecer, é mais vulgarmente e internacionalmente conhecido como ‘one night stand’. O sexo casual de longo-prazo, refere-se a um relacionamento que pressupõem encontros sexuais regulares mas que não pressupõem qualquer actividade romântica, ou amor entre os envolvidos. Edward Zwick About Last Night
O sexo casual parece ser uma prática comum no século em que vivemos, com alguns fervorosos adeptos e outros menos. Diz a Psicologia Evolutiva que os homens têm mais queda para estas coisas casuais, especialmente as de uma noite, porque, assim, podem plantar a sua semente por um maior número de corpos, ou seja, aumentar a sua possibilidade de transmissão genética. As mulheres, por seu turno, irão preferir estratégias de acasalamento de longo prazo porque, pronto, se de facto quiserem deixar parte da sua carga genética ao mundo, implica um investimento de pelo menos 9 meses e não é um decisão que se tome de ânimo leve.
Por isso, de uma forma muito geral, isto vem justificar as nossas escolhas relativamente à natureza dos encontros sexuais que pretendemos com base no nosso passado animalesco que era, de facto, muito orientado para a procriação. Diria eu que agora, a dinâmica não segue tão estrita explicação porque, bem, acho que não víamos sexo a acontecer de todo. Há homens que escolhem ter mais encontros casuais porque há mulheres que os querem, e vice-versa. Diz a minha ingenuidade que há de haver gostos para tudo, entre homens e mulheres, para satisfazer a diversidade sexual de cada um.
Sócio-sexualidade é o conceito desenvolvido na comunidade científica para descrever uma maior queda para sexo casual regular. Não sei o porquê da escolha de vocábulo, talvez porque é preciso ser-se sociável, um ser extrovertido, para o sexo. Por isso, o sexo casual é para quem é socialmente aberto, e diga-se que é preciso muita lábia e técnica de engate para conseguir chegar à loucura que uma noite pode proporcionar. Percebemos, por isso, que sexo casual de curto-prazo é o resultado de uma atracção estritamente física que se quer ver satisfeita – na hora.[quote_box_right]“O cliché avisa-nos, contudo, que relações que duram no tempo e que se descrevem como exclusivamente sexuais são impossíveis de ser alcançáveis. Acabarão quando um dos dois se apaixonar”[/quote_box_right]
Entende-se de forma diferente os amigos coloridos, amigos com benefícios ou os ‘fuck buddies’, neste caso tratam-se de encontros entre dois conhecidos, amigos ou não, com o único propósito aliviar as gónadas, desenferrujar as dobradiças, lubrificar a máquina sexual. Trata-se de não só satisfazer desejo mas de manter a sexualidade aberta em actividade.
Esta é a visão puramente instrumental do sexo, i.e., eu quero, tu queres e por isso devemos aliviarmo-nos juntos. Sem complicações e sem o problemático amor envolvido, sexo parece ser muito simples de ser solucionado. As complicações que aparecem são de outra natureza, caem nos mal-afamados estereótipos e expectativas que põem os homens numa categoria de reis e as mulheres em categorias várias (mas que não são de rainha).
O cliché avisa-nos, contudo, que relações que duram no tempo e que se descrevem como exclusivamente sexuais são impossíveis de ser alcançáveis. Acabarão quando um dos dois se apaixonar. Alcançando, assim, o prólogo que eu pretendia com a reflexão que se impõe: como é que o amor se relaciona com sexo ou de que forma podem ser tratadas como exclusivas ou emparelhadas?
A casualidade, muitas vezes entendida como aleatória, oferece ao imaginário sexual uma novidade, uma excitação que depende do desconhecido e do desejo em alcançar mares nunca dantes navegados (apelando ao português que há em nós). Numa noite explora-se o que se pode, em encontros que se repetem no tempo talvez se explore um pouquinho mais, até porque o gradual à vontade vai permitir formas de comunicação sexuais cada vez mais sofisticadas.

3 Nov 2015

Macau e Portugal aprofundam cooperação na formação de quadros

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, recebeu ontem o Secretário de Estado da Justiça português, António Costa Moura, para debater uma cooperação mais profunda na formação de quadros. No final do encontro, o Secretário explicou que Sónia Chan se mostrou muito interessada nas reformas que estão em curso em Portugal.

“Assumi com a Secretária da Justiça o compromisso de enviar toda a documentação relevante produzida em Portugal sobre esta matéria e a Secretária mostrou muito interesse também no aprofundamento das relações a nível da formação”, disse à Rádio Macau. “Principalmente em matérias que dizem respeito ao registos e notariado com os códigos fundamentais sobre matriz portuguesa.” António Costa Moura mostrou ainda muito orgulho e confiança quanto ao futuro.

“Tivemos abertura para que continue a ser assim e concordámos com estas autoridades que, de facto, a área da formação é estratégica neste domínio. Dentro do quadro de competências de cada umas da entidades, que respeitamos e prezamos muito, levarei para Portugal a mensagem do empenhamento das autoridades locais”, declarou. Sobre a vinda de magistrados de Portugal para Macau, o Secretário de Estado da Justiça sublinhou que o país está também com falta de pessoas nesta área, mas vai continuar a respeitar a política de facilitação de contactos.

12 Jun 2015

Nobel da Paz Aung San Suu Kyi em visita histórica

A líder da oposição da Birmânia e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi chegou ontem à China, numa visita histórica que decorre num momento de alguma tensão entre ambos os países

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ung San Suu Kyi partiu ontem do aeroporto de Rangun com destino à China, para uma visita até domingo, durante a qual terá reuniões com o Presidente chinês, Xi Jinping, com o primeiro-ministro, Li Keqiang, e com um grupo de empresários do país.

Trata-se de uma visita histórica, a primeira de Suu Kyi à China, através da qual Pequim vai tentar reforçar a relação com o Governo reformista birmanês e com a oposição.

Segundo informação do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, esta é uma viagem de “intercâmbios” entre o Partido Comunista da China e a Liga Nacional para a Democracia, presidida por Suu Kyi, uma formação que se estima ter bons resultados nas próximas eleições birmanesas previstas para o final do ano.

Desconfianças

A chegada da Nobel da Paz, um prémio atribuído em 1991 pela sua luta pacífica a favor da liberdade no seu país, acontece num momento de alguma tensão entre ambas as nações.

Por um lado, a aproximação dos Estados Unidos à Birmânia, que durante os anos de governo da Junta Militar – entre o final da década de 1960 até 2011 – praticamente só teve a China como único aliado mundial, gerou desconfiança por parte de Pequim.

Além disso, refere a agência Efe, Pequim encontra-se numa situação delicada em relação à Birmânia, devido ao conflito entre a minoria kokang e o exército birmanês no norte do país, ao longo da fronteira com o sudoeste da China (província de Yunnan).

Em Abril, uma bomba lançada por um caça birmanês causou a morte de cinco chineses e uma dezena de feridos, o que motivou a condenação da China, que desde o início do conflito acolheu milhares de refugiados birmaneses.

A Birmânia denunciou em várias ocasiões que os kokang, dos quais cerca de 90% são da etnia han, tal como a maioria dos cidadãos na China, recebem ajuda da China, que dominou o território até o ceder ao Reino Unido no final do século XIX. Pequim tem, no entanto, negado estas denúncias.

Suu Kyi visita a China pouco tempo depois de ter sido alvo de críticas pelo seu aparente silêncio perante a crise dos migrantes da minoria muçulmana rohingya e numa altura em que outro Prémio Nobel da Paz, o escritor chinês Liu Xiaobo, continua na prisão.
 

11 Jun 2015