Espionagem | Li Keqiang nega pressão sobre empresas para cooperarem

[dropcap]O[/dropcap]primeiro-ministro da China negou sexta-feira que Pequim peça às empresas de tecnologia que cooperem com a espionagem do país, e prometeu tratamento igual para firmas estrangeiras e domésticas, numa altura de disputas comerciais com Washington.

“Não é esse o comportamento da China”, afirmou Li Keqiang, quando questionado se Pequim pede às empresas do país para espiarem países estrangeiros.

“Nós não fazemos isso e não o faremos no futuro”, garantiu.

Washington considera que a Huawei representa riscos em termos de segurança, estando por lei sujeita a cooperar com o Estado chinês.

Os EUA têm pressionado vários países, incluindo Portugal, a excluírem a gigante chinesa das telecomunicações Huawei na construção de infraestruturas para redes de Quinta Geração (5G), a Internet do futuro, acusando a empresa de estar sujeita a cooperar com os serviços de inteligência chineses.

Austrália, Nova Zelândia e Japão aderiram já aos apelos de Washington e restringiram a participação da Huawei.

Pequim enfrenta ainda crescentes fricções comerciais com os Estados Unidos, que criticam frequentemente a China por transferência forçada de tecnologia, atribuição de subsídios a empresas domésticas e obstáculos regulatórios que protegem os grupos chineses da competição externa.

18 Mar 2019

Li Keqiang apela a Washington que aja racionalmente em disputas comerciais

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, apelou ontem a Washington que “actue racionalmente” e evite perturbar o comércio nos sectores do aço, tecnologia e outros, prometendo que Pequim se “abrirá ainda mais” às importações e investimento

“Ninguém sairá vencedor de uma guerra comercial”, afirmou Li, na conferência de imprensa que encerrou a sessão anual da Assembleia Popular Nacional. Li não mencionou possíveis retaliações por parte da China caso o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, imponha mais barreiras sobre as importações oriundas do país asiático, mas outros funcionários garantiram já que Pequim está preparado para agir.

O governo de Trump subiu já as importações sobre máquinas de lavar roupa e outros bens oriundos da China, para travar o que considera apoios inapropriados das autoridades chinesas a alguns sectores industriais.

Trump lançou ainda uma investigação para averiguar se Pequim exige indevidamente que as empresas estrangeiras transfiram tecnologia, em troca de acesso ao mercado, o que poderá resultar em mais penalizações sobre produtos chineses.

“O que esperamos é que ambos os lados ajam racionalmente, em vez de se deixarem levar pelas emoções”, afirmou Li Keqiang. “Nós não queremos uma guerra comercial”, vincou.

O ministro chinês do Comércio disse este mês que a China irá “defender firmemente” os seus interesses, sem avançar com mais detalhes.

Associações empresariais dizem que Pequim talvez tente atingir as exportações norte-americanas de aviões, soja e outros bens que têm na China o seu maior mercado.

Questionado se Pequim considera usar os títulos de tesouro norte-americanos que detém, no valor de biliões de dólares, para exercer influência nas negociações, Li afirmou que os investimentos chineses têm como base os princípio do mercado e que “a China é um investidor responsável e a longo prazo”.

 

Reformas lentas

Li Keqiang prometeu que a China abrirá mais o seu mercado, numa altura em que as autoridades chinesas estão a encetar uma reforma do sector estatal, visando aumentar a sua produtividade.

O primeiro-ministro chinês afirmou que Pequim facilitará o processo para registo de empresas e abrirá mais indústrias à competição do sector privado e de firmas estrangeiras.

Em 2013, o Partido Comunista Chinês prometeu atribuir um maior papel às forças do mercado e aos empresários, que geram a maioria dos novos empregos e riqueza do país, a segunda maior economia do mundo. Mas críticos apontam que as reformas estão a decorrer muito lentamente, e dizem ter agora esperança que Xi Jinping, que ascendeu ao poder em 2012, acelere o processo, depois de ter focados os primeiros cinco anos a reforçar os seus poderes.

“Se há algo que será diferente do passado, será que a China se abrirá ainda mais”, afirmou Li.

Pequim planeia reduzir os impostos sobre as importações, e “isentar totalmente fármacos, sobretudo aqueles mais necessários, como os anticancerígenos”, disse.

E repetiu a promessa feita no início do mês, de que abrirá “completamente o sector manufatureiro” a competidores estrangeiros. “Não existirão requisitos obrigatórios para transferência de tecnologia e os direitos de propriedade intelectual terão melhor protecção”, afirmou.

Num sinal da perda de estatuto de Li Keqiang, à medida que Xi acumula poderes, o primeiro-ministro surgiu ontem na conferência de imprensa acompanhado de oito altos-funcionários recentemente promovidos, em contraste com os anos anteriores, em que surgia só. Um dos funcionários é Liu He, que tem servido como um dos principais assessores de Xi Jinping, e ascendeu esta semana a vice-primeiro-ministro encarregue da economia e finanças do país.

21 Mar 2018