Hoje Macau China / ÁsiaPaulo Duarte defende inclusão de Sines na iniciativa Uma Faixa, Uma Rota [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] académico português Paulo Duarte defendeu que Portugal deve persuadir a China a incluir o porto de Sines na “Nova Rota da Seda”, um gigantesco projecto de infra-estruturas inspirado nas antigas vias comerciais entre Ásia e Europa. “Devemos mostrar à China que na faixa e rota os comboios não terminam em Madrid, mas em Lisboa ou Sines”, disse o autor do primeiro livro em português sobre a iniciativa “Nova Rota da Seda”. Doutorado em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade Católica de Louvaina, Paulo Duarte desenvolveu em Taiwan, Ásia Central e República Popular da China a investigação que deu origem à obra “Faixa e Rota Chinesa – A Convergência entre Terra e Mar”. Lançada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a “Nova Rota da Seda” inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos, centrais eléctricas e zonas de comércio livre, visando ressuscitar vias comercias que remontam ao Império romano, e então percorridas por caravanas. Um dos principais objectivos é criar uma ligação ferroviária de alta velocidade entre Pequim e Londres, que demoraria 48 horas a percorrer. Gao Zhikai, antigo intérprete do líder chinês Deng Xiaoping e mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Yale, considerou a “Nova Rota da Seda” uma “nova forma de pensar o desenvolvimento” e “combater a pobreza”, ao “complementar a falta de conectividade entre países”. “Mesmo na Europa, os problemas de pobreza estão ligados à falta de desenvolvimento ou a um desenvolvimento que não foi estruturado de forma racional”, comentou à Lusa. No conjunto, o Banco de Desenvolvimento da China estima um investimento total de 900 mil milhões de dólares, distribuído por 900 projectos. A ligação ferroviária mais longa e já em funcionamento vai desde Yiwu, um ‘hub’ comercial na costa leste da China, até Madrid, e atravessa o Cazaquistão, Rússia, Bielorrússia e Polónia, entrando na Europa central através da Alemanha. Lisboa tem insistido na inclusão de uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria a Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao Oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá. “Em Sines, os comboios podem descarregar os contentores, que daí seguiriam para as Américas. Temos aqui uma grande potencialidade para desenvolver Sines”, apontou Paulo Duarte. Para o académico português, a iniciativa chinesa visa projectar o país asiático como um actor internacional inclusivo e responsável, “credibilizar o regime chinês” e “dar trabalho às empresas e trabalhadores chineses”. Surge também numa altura em que os Estados Unidos de Donald Trump rasgam compromissos internacionais sobre o clima, comércio ou migração, impelindo a China a assumir a vontade de liderar em questões internacionais. “É uma mudança histórica na posição da China no mundo”, disse He Yafei, antigo vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros. “A Nova Rota da Seda combaterá a onda antiglobalização”, acrescentou, durante um fórum dedicado à iniciativa, realizado no mês passado em Zhuhai, no extremo sudeste da China. Críticos do projecto chinês apontam, no entanto, os perigos para os Direitos Humanos e para o ambiente associados à exportação do modelo de desenvolvimento da China, e a contradição entre a retórica globalista de Pequim e a sua política interna. Sob a direção de Xi, a China reforçou o combate à influência estrangeira na sociedade civil, meios académicos ou Internet, apontam organizações de defesa dos Direitos Humanos, enquanto Bruxelas e Washington criticam o país asiático pelas barreiras que impõe ao investimento estrangeiro em vários sectores. No ‘ranking’ da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que avalia a abertura ao investimento directo estrangeiro, a segunda maior economia mundial ocupa o 59.º lugar, entre 62 países.
Hoje Macau China / ÁsiaPortugal | Governo diz que “é possível diversificar o investimento” chinês [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, afirmou segunda-feira que “é possível diversificar o investimento da República Popular da China em Portugal”, salientando que o país é um “parceiro económico incontornável”. O governante falava no seminário “Cooperação no comércio, investimento e capacidade produtiva”, organizado pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Fórum Macau e o IPIM – Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, que decorreu em Lisboa. “A República Popular da China é um parceiro económico incontornável”, afirmou Eurico Brilhante Dias, salientando que a organização deste evento, onde a vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, esteve presente, “é mais um passo no aprofundamento das relações entre os dois países”. “Não temos uma visão de curto prazo, acreditamos em parcerias de investimento a longo prazo, de longa duração e cremos que é possível diversificar o investimento na República Popular da China em Portugal”, não só em sectores de inovação como as tecnologias de informação e comunicação (TIC), como também na área das infra-estruturas. “Portugal apresenta, no caso por exemplo do Porto de Sines, boas e novas oportunidades de investimento que o Governo português” sinalizou no mês passado na República Popular da China, prosseguiu o secretário de Estado da Internacionalização. Destacou o voo directo Portugal-China, que arrancou este ano e que representou “um passo fundamental para o aprofundamento” do relacionamento económico entre os dois países. Dois focos Eurico Brilhante Dias sublinhou que “há duas áreas” que o Governo português considera importante “aprofundar de forma prioritária”. A primeira diz respeito “à identificação e à eliminação de barreiras de acesso aos mercados e, no nosso caso, no acesso ao mercado da República Popular da China, com acento particular na área do agro-alimentar”, sublinhou. “Acreditamos no desenvolvimento de plataformas logísticas de produtos portugueses na República Popular da China, é um passo importante”, acrescentou. O governante destacou “os esforços continuados” no âmbito do quadro de políticas de eliminação de barreiras fitossanitárias, apontando que esta é uma área que deve ser melhorada e em que Portugal “já manifestou absoluta disponibilidade” para o efeito. A segunda área assenta no financiamento. Brilhante Dias sublinhou que o Governo português, junto das autoridades da Região Administrativa Especial de Macau, “manifestou a sua vontade para poder construir um instrumento de co-financiamento entre Portugal”, o qual deverá estar “prioritariamente focado no comércio e no desenvolvimento de projectos de pequenas e médias empresas”. Por sua vez, a vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, disse que há uma “forte complementaridade” para “potenciar a cooperação” entre Portugal e a China e recordou os vários sectores onde o país investiu no mercado português, desde a energia, passando pelo sector financeiro, saúde, entre outros. Disse ainda que Macau tem “o papel de ponte insubstituível entre a China e Portugal”. Gao Yan sublinhou que a China tem manifestado uma “atitude de querer ser mais aberta ao mundo” e convidou o Governo português e os empresários portugueses a estarem presentes na exposição internacional de importação que o país vai realizar.
Hoje Macau China / ÁsiaAntónio Costa sugere à China incluir porto de Sines na nova Rota da Seda Foi ontem a inauguração da rota Lisboa-Pequim. O primeiro-ministro falou da vocação portuguesa e tentou convencer os chineses a incluir Sines no projecto Uma Faixa, Uma rota. [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro português, António Costa, insistiu ontem na “posição capital” do porto de Sines, Setúbal, para ser incluído na Nova Rota da Seda, um projecto internacional de infra-estruturas proposto pela China. “Não ignoramos como o porto de Sines tem uma posição capital para poder vir a ser, ao nível das rotas marítimas, uma peça fundamental desta iniciativa”, afirmou durante a cerimónia, num hotel de Lisboa, de inauguração dos voos directos Lisboa-Pequim, com a presença do presidente do parlamento da China, Zhang Dejiang, de visita a Portugal desde segunda-feira. “Uma Faixa, Uma Rota” – versão simplificada de “Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda para o Século XXI” – diz respeito ao projecto de investimentos em infra-estruturas liderado pela China, que ambiciona reavivar simbolicamente o corredor económico que uniu o Oriente o Ocidente. Esta iniciativa abrange mais de 60 países e regiões da Ásia, passando pela Europa Oriental e Médio Oriente até África. Divulgado em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a Nova Rota da Seda visa reactivar a antiga via comercial entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático. O projecto inclui uma malha ferroviária, portos e auto-estradas, abrangendo 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas, cerca de 60% da população mundial. Em Maio, o secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, agora demissionário, esteve em Pequim para propor às autoridades chinesas “uma rota marítima até Sines e que a rota da seda terrestre ferroviária, que já vai de Chongqing até Madrid, vá um pouco mais e chegue a Sines”. António Costa disse ontem esperar que os voos directos Lisboa-Pequim, a partir de 26 de Julho, sejam um reforço de Portugal como “grande ‘hub’ intercontinental” (centro de operações). Costa destacou que a rota vai ser operada pela Beijing Capital Airlines (BCA), do grupo Hainan Airlines (HNA), que é “hoje indirectamente accionista da TAP”. “Isto significa que, com a abertura desta linha, nós reforçamos a dimensão de Portugal como grande ‘hub’ intercontinuental. Já somos o grande ‘hub’ para o Brasil, o grande ‘hub’ para África”, recordou. “Com a abertura destas rotas para Oriente”, afirmou ainda, Portugal pode transformar-se num ‘hub’ estratégico para fazer aquilo que, ao longo da História, Portugal e os portugueses sempre fizeram, unir povos, unir culturas, abrir rotas, abrir portas”. Para António Costa, a abertura desta rota Lisboa-Pequim tem um “enorme simbolismo” e “é a nova rota da seda do século XXI”. O chefe do executivo sublinhou o contributo da comunidade chinesa residente para o desenvolvimento do país e lembrou o “investimento activo” da China em Portugal. Com esta rota, noves meses depois de ter sido acordada durante uma visita de Costa a Pequim, o Governo espera que o actual número de frequências (três) venha a aumentar e que haja uma diversificação de destinos em Portugal, designadamente para o Porto.