Andreia Sofia Silva EventosDoca dos Pescadores | Exposição de PIBG e MCZ para ver até Maio Intitula-se “Screw in the Land” e é a exposição que, desde sábado e até ao dia 30 de Maio, poderá ser vista na Galeria Lisboa, na Doca dos Pescadores. O destaque vai para o trabalho dos artistas locais Pat Lam, que assina as suas obras como PIBG, e Thomas Lo, que assina como MCZ. Ambos fazem graffiti, mas não só “Screw in the Land” é a nova exposição organizada pela Sociedade dos Artistas de Macau e que pode ser visitada até ao dia 30 de Maio na Galeria Lisboa, na Doca dos Pescadores. Esta é uma mostra marcada pelos trabalhos de arte visual, instalação e graffiti dos artistas locais Pat Lam (PIBG) e Thomas Lo (MCZ), com curadoria de Cassidy A. Segundo um texto assinado pela curadora, os dois artistas “mostram as suas próprias especificidades através da arte visual, criando dois pontos de contraste em torno da unificação de uma só ideia”. Nesta mostra, os dois artistas são convidados a despirem a sua pele habitual como elementos criativos e a explorarem novas dimensões artísticas, “apresentando as suas próprias experiências e pensamentos através de instalação e obras de arte”. Os trabalhos são construídos em torno das ideias do “regresso à natureza, como permanecer no chão”, sempre com o contraste como ponto de partida, entre o “sombrio e o brilhante” e “a simplicidade e a diversidade”. Na Galeria Lisboa podem, assim, ser vistas duas instalações de arte de grandes dimensões, cada uma explorada pelo artista conforme o seu estilo de criação. No caso de PIBG, foi criada uma espécie de parque de diversões, enquanto que MCZ, através de materiais como o aço inoxidável, entre outros, criou quatro quadros e oito peças. Desta forma, “o público será levado a começar a visita no espaço de instalação de MCZ, de uma zona mais escura até chegar ao palco mais brilhante com as criações de PIBG. “Independentemente do meio e do método aplicado, o ponto principal é a expressão de uma essência. Vivemos, experimentamos e sentimos. As experiências do passado são parte de uma etapa e razões daquilo que nós somos”, lê-se no texto da curadora desta exposição. Nova vaga PIBG e MCZ fazem parte da vaga de novos artistas de Macau e têm revelado o seu trabalho não apenas em salas de exposições ou galerias de arte, como também em espaços artísticos de rua. No caso de PIBG, este tem trabalhado essencialmente com graffiti, sendo que o seu trabalho se caracteriza por “figuras estilizadas e animais que parecem absurdos e divertidos, em contraste com as cores vivas que revelam vitalidade”. Produzindo obras deste género desde os anos 90, PIBG também fez formação na área da escultura, caligrafia, pintura moderna e design gráfico. Desde o ano 2000 que viaja pela China, Austrália, França e Japão, entre outros países, para revelar ao público as suas criações de graffiti, nomeadamente o trabalho intitulado “Color way of Love”, exposto em Xangai. Como designer, foi convidado para colaborar com marcas como Balenciaga, Swatch, MIU MIU e DIOR. MCZ também faz do graffiti o seu foco criativo, trabalhando também com projectos multimédia. MCZ é, desde 2004, membro da Macao Graffitied Team – GANTZ5, tendo realizado exposições em diversos países. MCZ é autor de uma instalação de arte na Torre de Macau e no Outloud Art Festival, além de ter criado a loja conceptual “SCREWIN” em 2020. MCZ possui também uma loja pop up no The Parisian.
João Luz EventosGraffiti | Arte de rua dá passos tímidos em Macau Macau é uma cidade limpa. É raro ver-se um graffiti, um tag, um stencil, ou qualquer outra manifestação de street art. Não há muitas pessoas a agitar latas de spray, ou a fazer colagens na rua. Daí, a relativa solidão de Pibg nas lides da arte de rua [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]or todo o mundo se pintam murais, paredes vazias, vagões de comboios, bancos de autocarros, tags assinados em todo o lado. Há cidades onde não há um centímetro quadrado de parede que escape ao graffiti. A arte de rua, que anteriormente era considerada vandalismo, saiu da obscuridade e chegou às galerias através de nomes que ganharam notoriedade mundial como Banksy ou Obey. Hoje em dia o graffiti foi acolhido em algumas das cidades mais cosmopolitas e acolhedoras de espírito artístico. Porém, Macau mantém-se limpa, muros brancos, paragens de autocarro imaculadas, sem vestígio deste tipo de expressão que procura emprestar arte aos locais públicos. Neste domínio, Pat Lam é um dos poucos que agita latas de spray e arrisca emprestar alguma cor à cidade. O jovem de 22 anos assina como Pibg, sigla para “Pat is bombing graffiti”, uma frase que dispensa tradução. Como acontece com muitos artistas, a vontade de criar nasceu em Pat a partir de uma noite de tédio. “Tinha 14 anos e estava aborrecido”, revela. Então, decidiu pegar no skate e sair à rua. Acabou por encontrar uns rapazes portugueses que estavam a fazer um graffiti numa parede. Não sabia muito bem o que era aquilo, mas agradou-lhe. Roubou uma das latas e a sua vida mudou. Além de ter feito amigos aprofundou a cultura de rua, que já tinha, juntando o elemento gráfico ao gosto pelo skate e breakdance. No entanto, Pat não tem muita companhia nas lides das latas de spray numa cidade limpa de graffitis. “Aqui não há pessoas que se interessem por isto, e os miúdos que gostam não querem pintar, é mais uma moda”, revela. Algo que o entristece. O jovem que assina paredes como Pibg, gostaria que Macau tivesse uma cultura que valorizasse e incentivasse o graffiti, como acontece noutras cidades como, por exemplo, Lisboa. Chamem a polícia Mesmo grandes nomes da graffiti já tiveram os seus dias de fugir da polícia, de pintar em sítios escuros e inacessíveis, longe dos olhares da autoridades. É uma ocupação que exige alguma agilidade a escapar à lei, mas já foi mais assim. Pat Lam não foi excepção a esta regra, tendo arranjado sarilhos bem maiores que as suas possibilidades. Na altura, com 16 anos, Pat pintava em todo o lado com um amigo oriundo do Interior da China. Uma noite meteram-se numa alhada de proporções difíceis de enfrentar. Estavam num edifício em construção, onde já costumavam pintar quando foram apanhados pela polícia. Foram agredidos e passaram dois dias na prisão. “Fomos a tribunal e deram-me uma multa impossível de pagar, só tinha 16 anos, e o meu amigo ficou proibido de voltar a entrar em Macau”. O problema só se resolveu quando os pais de Pat chegaram a acordo com o construtor da obra. Como resultado, foi obrigado a limpar o edifício durante uma semana. Este foi o mais grave de muitos episódios que teve enquanto graffiter. Mas a situação melhorou nos últimos anos. “Hoje em dia ninguém se importa, posso desenhar de dia, as pessoas passam por mim e não dizem nada”, conta. Riscos com mensagem Pat é um amante dos animais e as relações que se estabelecem entre humanos e a bicharada, são para o graffiter uma fonte de inspiração. Daí, ter graffitis de corpos humanos com cabeças de raposa, pássaros, além dos tradicionais bombings – palavras escritas com o design mais tradicional da arte de rua. Porém, hoje em dia, a maior fonte de inspiração é o seu filho, não só mudou-lhe a vida, como alterou a forma como pinta. Mas o significado mantém-se. “O amor é a minha inspiração, gosto de o pintar, a minha mensagem é muito aberta, não gosto de segredos, se aprecio alguém também gosto de o dizer”, explica o graffiter. Seguindo esse mantra de abertura e comunhão, Pat Lam fala de Macau com alguma emoção. “Sinto-me em casa aqui, adoro as pessoas e a forma aberta como se relacionam”, conta. O artista revê-se no trato fácil, na forma orgânica como faz amigos de forma natural. “Quando ando pelas ruas sinto-me mesmo em casa”, confessa. Uma abertura que não sente noutras cidades que visitou. Recentemente, Pat abriu um loja muito especial e multi-facetada ao lado da Igreja de São Francisco Xavier. Chama-se Roomage 30. O espaço conjuga um café, uma loja dedicada ao “lifestyle” e uma galeria. Pegando no mantra que lhe serve de inspiração, dos lucros feitos pela loja 30 por cento revertem para instituições de protecção animal e instituições que apoiam crianças desfavorecidas. Um amor que o inspira a pintar e que é devolvido.