Índia re-autoriza financiamento estrangeiro a organização criada por Madre Teresa de Calcutá

A Índia re-autorizou o financiamento estrangeiro a uma instituição de caridade fundada por Madre Teresa, depois de uma interrupção de várias semanas, vista por críticos como sendo mais uma prova de perseguição aos cristãos sob o governo nacionalista hindu.

No dia 25 de dezembro de 2021, a instituição Missionárias da Caridade viu recusada, pelo Ministério do Interior indiano, a renovação da licença que lhe permitia receber financiamento estrangeiro.

Esta decisão indicava apenas que as Missionárias da Caridade já não preenchiam as condições de elegibilidade, escusando-se a dar mais detalhes.

De acordo com Sunita Kumar, colaboradora próxima de Madre Teresa, a licença foi agora finalmente renovada.

As Missionárias da Caridade é uma congregação religiosa católica fundada em 1950 por Madre Teresa, uma religiosa católica romana que viveu e trabalhou na Índia durante a maior parte de sua vida, ajudando os pobres da cidade de Calcutá.

Madre Teresa recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1979, sendo declarada santa pouco depois.

Esta congregação atua criando abrigos para os desfavorecidos em toda a Índia e, de acordo com o jornal Hindu, no ano fiscal de 2020-2021 obteve cerca de 662 milhões de euros em financiamento estrangeiro.

O Governo de Narendra Modi foi acusado de bloquear o acesso a financiamento estrangeiro para instituições de caridade e organizações de defesa dos direitos humanos que trabalham na Índia.

Na semana passada, a filial indiana da ONG Oxfam disse ter visto bloqueado o acesso a fundos estrangeiros, alertando para as graves consequências que tal provoca na sua atividade humanitária.

Também a Amnistia Internacional anunciou, em 2020, que encerraria as operações na Índia, depois de o Governo congelar suas contas bancárias.

Os ativistas dos direitos humanos também estão preocupados com o aumento da discriminação e da violência contra as minorias religiosas, desde que Narendra Modi chegou ao poder em 2014.

O governo nega qualquer projeto de hegemonia hindu e insiste na igualdade de direitos entre todas as religiões.

9 Jan 2022

Índia restringe financiamento estrangeiro de organização criada por Madre Teresa

A Índia cortou o financiamento estrangeiro a uma instituição de caridade fundada por Madre Teresa, numa medida que críticos disseram mostrar o assédio que os cristãos enfrentam sob o Governo nacionalista hindu.

No sábado, foi recusada à instituição de caridade a renovação da licença para receber financiamento estrangeiro, de acordo com o Ministério do Interior indiano. Na decisão é declarado que as Missionárias da Caridade já não preenchem os requisitos de elegibilidade, sem qualquer pormenor.

As Missionárias da Caridade é uma ordem católica fundada em 1950 por Madre Teresa, uma freira católica que viveu e trabalhou na Índia durante a maior parte da vida, ajudando os pobres de Calcutá. Madre Teresa foi Prémio Nobel da Paz em 1979 e declarada santa pouco tempo depois.

A organização gere abrigos em toda a Índia. De acordo com o diário Hindu, obteve cerca de 750 milhões de dólares em financiamento estrangeiro no ano financeiro de 2020-21. O vigário-geral da Arquidiocese de Calcutá, Dominic Gomes, disse que o anúncio era “um cruel presente de Natal para os mais pobres”.

As Missionárias da Caridade garantiram já, numa declaração, que não vão usar moeda estrangeira “até que a questão esteja resolvida”.

O anúncio chega duas semanas depois de a polícia de Gujarat, estado natal do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ter começado a investigar missões de caridade por “conversões forçadas” de hindus ao cristianismo, uma acusação recorrente de membros da “linha dura” da religião maioritária da Índia.

Ativistas dos direitos humanos tem manifestado preocupações relativamente ao aumento de discriminação e violência contra minorias religiosas, desde que Modi chegou ao poder, em 2014, depois de terem registado mais de 300 incidentes anticristãos este ano.

Pela primeira vez desde 2004, a Comissão sobre Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos listou, no ano passado, a Índia como um “país de particular preocupação”.

O Governo de Modi nega qualquer “Hindutva”, um projeto de hegemonia hindu, e insiste na igualdade de direitos para todas as religiões.

28 Dez 2021

Índia | Governo ordena inspecção a centros da congregação da Madre Teresa de Calcutá

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo da Índia ordenou uma inspecção a todos os centros para crianças geridos pela congregação católica da Madre Teresa no país, após a detenção de uma das suas freiras por alegadamente vender bebés.

A ministra das Mulheres e do Desenvolvimento da Criança, Maneka Gandhi, instou as autoridades locais “a inspeccionarem imediatamente os centros para crianças geridos pelas Missionárias da Caridade”, a congregação fundada por Madre Teresa de Calcutá, indica um comunicado divulgado na segunda-feira à noite.

No início do mês, a polícia indiana deteve uma freira e um empregado de um daqueles centros, que dava assistência a grávidas e mães solteiras em Ranchi, capital do estado de Jharkhand (leste), e que teriam vendido crianças.

A adopção ilegal é um negócio importante na Índia, onde perto de 90.000 crianças desaparecem anualmente, segundo os dados oficiais. Algumas são dadas por pais pobres, outras são raptadas no hospital ou em estações de comboios.

A superiora geral da ordem, irmã Mary Prema, lamentou o assunto e dissociou a congregação das acções de uma pessoa. “Cooperamos com as investigações e estamos abertos a qualquer inquérito livre e justo”, declarou num comunicado.

As Missionárias da Caridade foram fundadas em Calcutá em 1950 pela Madre Teresa, uma religiosa albanesa que se tornou um ícone mundial da compaixão. Recebeu o prémio Nobel da Paz em 1979 e morreu em 1997, tendo sido declarada santa pela Igreja católica em 2016. A congregação conta com mais de 5.000 religiosas em 130 países.

 

18 Jul 2018

Madre Teresa de Calcutá | Figuras de Macau recordam missionária antes da canonização

Falecida há 20 anos, a Madre Teresa de Calcutá será canonizada pela Igreja Católica no próximo domingo, dia 4. Peter Stilwell, seu tradutor numa viagem em Portugal, e o Padre Luís Sequeira, amigo próximo, recordam o trabalho em prol dos mais pobres entre os pobres

[dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]stou convencidíssimo que, se estou vivo, é por obra e graça da Madre Teresa.” A confissão cai, assim, com profunda convicção do Padre Luís Sequeira. Amigo pessoal da Madre Teresa de Calcutá, Luís Sequeira, director do colégio Mateus Ricci, afirma que a sua cura de um grave Acidente Vascular Cerebral (AVC) se deve à figura da Madre Teresa.
“Tive um AVC fortíssimo, que ninguém esperava que ficasse vivo, nem os médicos. Na minha angústia, rezei e gritei à Madre Teresa que fizesse algo por mim. Gritei: ‘eu, amigo pessoal, com trabalho pelo mundo fora, gritei: e eu, não tenho nada?’”
As preces terão sido ouvidas e hoje o padre Luís Sequeira diz-se um homem curado, sem grandes mazelas na fala ou no pensamento. Como ele, outras pessoas pelo mundo dizem-se curadas pela Madre Teresa de Calcutá, que será canonizada no próximo dia 4 de Setembro, quase 20 anos após a sua morte, em 1997.
Tendo estado em Macau três vezes para visitar a obra das Irmãs Missionárias da Caridade, na Ilha Verde, a Madre Teresa de Calcutá manteve sempre uma relação próxima com o padre Luís Sequeira, que dirigiu várias obras das Irmãs Missionárias em todo o mundo, como em Calcutá, na Índia.
“Era uma senhora dedicada a Deus e a relação com Deus era algo a que ela dava uma importância especial na sua vida. Só nessa linha se pode entender o dom que ela teve para ser chamada a fundar uma congregação com um carisma muito especial. Tenho de agradecer a experiência que me deu como sacerdote, de ajudar as pessoas. Ajudei também um pouco com os retiros que dei. Isso não posso esquecer”, contou Luís Sequeira ao HM.
Madre Teresa de Calcutá, lembrada pelo padre jesuíta como uma “pessoa com uma extrema delicadeza e sensibilidade à dor e dificuldade dos outros”, não o ajudou apenas na doença, mas em vida.
“Como director de um colégio, tive em Macau uma situação pública muito violenta de difamação e calúnia, durante três anos. A Madre Teresa acompanhou e deu apoio, ligou-me de Calcutá e de Banguecoque, para ver como eu estava e disse-me sempre: ‘não ponha o seu irmão no tribunal’, acreditando que Deus viria no momento certo. Três anos depois foi declarada a minha inocência”, recorda Luís Sequeira.

O anjo falecido

Também Peter Stilwell, reitor da Universidade de São José (USJ), privou de perto com Madre Teresa de Calcutá quando ainda era um jovem padre e estudava em Roma. Mais tarde, foi o seu tradutor aquando de uma viagem oficial a Portugal, quando Madre Teresa foi conhecer a obra das Irmãs Missionárias da Caridade.
“O que me marcou nesta viagem que a Madre Teresa fez a Portugal foi a ida a Fátima, com três irmãs. Ela ia conversando connosco: eu era um jovem padre e ela ia-me pedindo opiniões e conselhos, com a simplicidade de quem pergunta algo a uma pessoa. Isso sensibilizou-me muito, porque não tinha muita experiência e ela já estava com uma idade bastante avançada. Ao mesmo tempo ia distribuindo a fruta e dando às irmãs, como se fosse uma avó”, contou Peter Stilwell ao HM.
O reitor da USJ recorda o “ar cansado” de Madre Teresa, que estava com uma agenda preenchida mas que, ainda assim, “estava disponível para falar com as pessoas”.
A sua apresentação era muito simples e falava sobre Deus, conta, e “sobre a necessidade de nos amarmos, de ‘nos amarmos até doer’”. E dava alguns exemplos de casos de pessoas que ela tinha ajudado, frisa ainda reitor, que recorda casos especiais de pobres que ela ajudou.
“Lembro-me de um caso que me tocou bastante. Ela contava que numa dessas primeiras viagens ou caminhadas pelas ruas de Calcutá encontrou um homem moribundo, na sarjeta, e [levaram-no] para um abrigo que lhes tinha sido cedido por um templo hindu. Ela trabalhava com pessoas de qualquer religião. Esse senhor, dias depois, estava prestes a morrer e no momento da sua morte vira-se para a Madre Teresa e diz: ‘eu vivi como um cão, mas morro como um anjo’. Isso para ela tinha sido um dos pontos marcantes da sua compreensão de dar um pouco de humanidade à vida das pessoas.”

Uma pessoa disciplinada

Peter Stilwell referiu ainda um episódio que mostra como a Madre Teresa geria a sua própria congregação.
“Numa das assembleias em que servi de tradutor ela disse que precisava de uma casa para albergar as irmãs. Perguntou quanto custava, disseram um valor e ela disse: ‘agora irei a Fátima e daqui a uma semana espero que me apresente uma nova proposta por metade do preço’. Isso mostra que não era uma pessoa menos perspicaz na questão dos dinheiros e explica um pouco o sucesso da sua congregação”, afirmou o reitor da USJ. “Era uma pessoa disciplinada, com uma missão muito clara, a de servir os mais pobres dos pobres, com indicações que não deviam ter nenhum tipo de conforto ou bem estar que fosse superior às pessoas que serviam”, disse ainda Peter Stilwell, que defende que a canonização da Madre Teresa não vai fazer com que a sua obra seja ainda mais conhecida, por ser algo que ainda não foi apagado da memória das pessoas.
“Não vejo que seja uma grande questão, a devoção à Madre Teresa vem desde a vida dela e quando morreu deixou a sua marca. A adoração que as pessoas têm por ela e à obra dela vai continuar, independentemente de ser canonizada. Pelo menos nesta fase, em que ainda há uma memória viva da Madre Teresa”, concluiu.
O HM tentou chegar à fala com as Irmãs Missionárias da Caridade em Macau, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.

Investigações dão perspectiva negativa sobre Madre Teresa

Foi próxima de chefes de Estado e amiga pessoal da princesa Diana, sendo que serão poucos aqueles que não reconhecem a pequena figura vestida de branco. Nascida na Albânia, Madre Teresa de Calcutá abandonou a vida confortável que tinha como professora de um colégio de classe média em Calcutá para apoiar os que viviam na rua de forma miserável, mas a sua obra foi contestada por muitos.
Duda Martins, editor de internacional da revista brasileira Veja, recorda isso mesmo, num artigo publicado em Março deste ano. Madre Teresa de Calcutá manteria os doentes terminais nos centros com parcas condições de higiene e o mínimo dos mínimos de equipamentos. “O que Madre Teresa de Calcutá não tinha de santa?” é a interrogação que faz o artigo, que faz referência à “negligência com doentes terminais, sadismo, conversões disfarçadas e amizades tenebrosas”, as quais “sujam o manto da freira que será canonizada”.

Outros olhos

Geneviéve Chenard, investigadora da Universidade de Montreal, no Canadá, possui um extenso trabalho sobre a obra da Madre Teresa de Calcutá e afirmou, num artigo de 2013 da revista “Isto é”, que “nem todos vêem Madre Teresa e a sua história com bons olhos”.
Geneviéve analisou um total de 287 documentos que mostram que a congregação recebia milhões de dólares em doações mas que esse dinheiro só servia para expandir os centros de tratamento, mas não para melhorar as suas condições. Doenças terminais seriam tratadas de forma superficial, sem medicamentos apropriados, sendo que as seringas eram usadas em vários doentes, lavadas apenas com água da torneira. Os doentes dormiam em colchões e nem sempre tinham direito a visitas médicas.
Madre Teresa de Calcutá terá ainda aceite dinheiro oriundo de fontes duvidosas, nomeadamente Jean-Claude Duvalier, ditador do Haiti, ou James Keating, investidor norte-americano na área do investimento imobiliário.
“O mais curioso é que, mesmo com tanto dinheiro, as condições dos doentes nas sedes era terrível”, disse académica à “Isto é”.
Segundo Geneviéve Chenard, tal facto pode ser explicado com o facto da Madre Teresa de Calcutá considerar que o sofrimento aproximava as pessoas de Deus. “Talvez esse descaso fosse parte da ética da religiosa, que via o sofrimento dos outros como algo que os aproximava de Cristo”, disse a investigadora à revista brasileira. “O mundo ganha com esse sentimento”, terá dito Madre Teresa de Calcutá várias vezes.

1 Set 2016