José Luís Peixoto, escritor: “A literatura tem que dialogar com a sua história”

José Luís Peixoto era professor de Inglês. O prémio José Saramago trouxe-lhe o nome para a ribalta e os livros passaram a ser a sua vida. Da poesia à prosa, já conta com títulos publicados em várias línguas e está em Macau para apresentar hoje o seu último romance. “No Teu Ventre” é um livro que vai às aparições de Fátima sem as contar e que reflecte um Portugal ainda rural e de fé. É apresentado hoje, às 18h30 na Livraria Portuguesa

Começou por estudar Literatura Moderna. Como foi o caminho até ser escritor?
Os estudos que fiz foram sempre um pretexto para me aproximar da escrita que sempre foi a área em que me senti bem. A partir de meados da adolescência tornou-se uma vocação muito evidente para mim. Nunca imaginei quando estava a estudar que poderia vir a viver da escrita. Os estudos eram o que me iria permitir ter uma vida profissional. A escrita seria de outro âmbito, algo que faria enquanto hobby, que é o que acontece com muitos escritores em Portugal e noutros lugares.

Como é que se deu a passagem para escritor a tempo inteiro?
Aconteceu tudo muito rapidamente. Publiquei o meu primeiro livro numa edição de autor em Maio de 2000, mas poucos meses depois publiquei o meu primeiro romance, que no ano seguinte ganhou o Prémio Saramago. Na altura teve um impacto enorme na minha vida. Fez com que as pessoas procurassem o meu nome.

Poesia e prosa. O que é que nasceu primeiro?
A poesia foi o género que comecei a escrever ainda na adolescência e que teve uma grande importância. Penso que tem a haver com o facto de ser uma poesia, em muitos aspectos, confessional. Quando a prosa surgiu, incorporou essa experiência e desenvolveu-se a partir dela. Ainda hoje, apesar da poesia ser um género que não publico com tanta frequência, olho para muito daquilo que escrevo na prosa e reconheço alguns critérios que me chegam directamente da poesia: no que diz respeito à linguagem, à concepção e estrutura do texto, à forma como vejo o todo. Em Portugal, a poesia é muito presente na literatura. Há autores que são incontornáveis. Escrever em Português sem os tomar em consideração é impensável. É impossível, por exemplo, não pensar em Fernando Pessoa e os seus heterónimos. Por outro lado, agrada-me muito um lado mais experimentalista da poesia, que cria novas maneiras de dizer. A prosa, em última análise, aspira sempre a essa inovação. Mas, confesso, ao longo do tempo tenho tentado encontrar outras maneiras de escrever e, nalguns casos, também me afastei da linguagem poética. Estou-me a lembrar do livro que fiz depois de uma viagem à Coreia do Norte, que se aproxima mais da crónica jornalística ou do texto documental.

Também é conhecido pelos projectos multidisciplinares em que se envolve. Quais as mais valias que daí advêm?
Penso que uma das grandes vantagens é o contacto com o outro e a vida que se gera a partir daí. Criam-se amizades que são muito importantes e que são presenças que mantenho na vida e que têm um valor difícil de avaliar. Enquanto se está a fazer um trabalho, o contacto tem uma certa profundidade e permite uma partilha especial. Por outro lado trata-se também de aprender com os outros, porque tenho-me apercebido que a grande maioria das questões que são colocadas em outras áreas de trabalho, por mais que tenham contornos específicos, quando mais aprofundadas, são realmente as mesmas questões. Isso passa a ser muito interessante enquanto debate para quem também anda à procura de soluções. Ao mesmo tempo, também é interessante assistir à forma como diferentes artes, em diferentes trabalhos, se complementam. Outros aspectos que me são agradáveis também dizem respeito à partilha das diversas dimensões na construção de um objecto artístico. Há, com as colaborações, um acompanhamento, alguém para dar um outro olhar. Quando isso é harmonioso, é muito bom.

Ultimamente também é conhecido no mundo das viagens. Como é que surgiu?
Quando olho para a minha experiência identifico o interesse pelas viagens logo pela minha infância. Nasci num lugar pequeno e com um certo nível de isolamento. Mas, ao mesmo tempo, sempre com um incentivo por parte dos meus pais, pela descoberta. As viagens que fazia na infância com os meus pais eram mais próximas do que as que tenho feito ultimamente, mas foi aí que esse gosto começou a ser alimentado. A partir do momento em que comecei a ser adulto aproveitei todas as oportunidades que tinha para viajar e, quando não surgiam, inventava-as. A primeira vez que viajei de avião foi por ter ganho um concurso televisivo. A primeira viagem a Cabo Verde – onde vim a dar aulas – foi num Hércules C130 que é um avião de carga. Quando comecei a escrever livros, um aspecto que também me deu um prazer muito especial foi ver os livros a viajar e, quando isso aconteceu, também comecei a ter oportunidade de viajar com eles.

E entre livros e viagens foi à Coreia do Norte, de onde saiu mais uma obra…
As viagens geram viagens e depois da primeira ida à Coreia do Norte para escrever o livro surgiram mais três convites. Já lá fui quatro vezes e essas idas têm transformado a minha relação com aquele lugar e com aquelas pessoas. Ainda assim, ir ali é sempre uma emoção. Mais do que qualquer outro lugar, por muito excêntricas que sejam as características, a Coreia do Norte é muito própria. É um lugar que quanto mais conheço mais dúvidas tenho e é sempre um grande mistério.

Quais são as suas convicções acerca dessa realidade?
É muito difícil. É um país com circunstâncias que para nós são inaceitáveis. Mesmo assim, o ser humano acaba sempre por encontrar formas de sobreviver e de alcançar as suas necessidades básicas que não são só comer, dormir e beber, mas também alguma necessidade de liberdade e realização dos afectos ou algumas formas de expressão. Mesmo ali, as pessoas também vão encontrando as suas formas de viver estes aspectos. Coisas que para nós, com o nosso olhar e os nosso hábitos, são coisas muito curtas visto a liberdade ser muito restrita. Mas para quem lá vive com todos aqueles condicionalismos enquanto única alternativa, torna-se uma questão de sobrevivência. Os seres humanos nunca deixam de ser e ter as suas características enquanto tal, mesmo numa sociedade daquelas. Em contraste com a nossa, há muitos aspectos que nos chocam. Mas se nos despirmos de preconceito também encontramos alguns que deveríamos ter na nossa realidade. Outra coisa, e se calhar o mais importante, é o impacto que as pessoas têm em nós. Estabelecemos alguma relação com algumas e deixa de ser uma abstracção. Por muito que a comunidade internacional se queixe da Coreia [do Norte], quem realmente sofre com aquele regime é o seu povo. Enquanto que em outros lados muita gente é vítima de ameaças, ali as pessoas são vítimas de uma prática permanente de opressão.

Da Coreia a Fátima. Como surgiu a ideia para abordar o milagre de Fátima num romance?
É curioso que, tanto no caso do livro “Dentro do segredo”, que fala da Coreia do Norte, e deste “Em teu ventre”, sinto que quando anunciei estes trabalhos houve uma surpresa por parte das pessoas que se assemelhava. No caso da Coreia eu compreendo, mas no caso de Fátima foi mais surpreendente para mim porque este livro até faz um certo sentido dentro de outros temas que escrevi. Fátima realmente é um tema em relação ao qual, em Portugal, não existe um consenso. É um tema que tem determinadas formas de ser tratado e em que cada uma delas caracteriza rapidamente quem se está a pronunciar sobre isso. Mas sinto que nenhuma das duas formas são algo redutoras. Sinto que são também fruto de um certo tabu que existe à volta do tema, o que no fundo tem a haver com o medo social que o próprio assunto provoca.

Porque é que isso acontece?
Acho que o motivo essencial para que isso aconteça tem a ver com a importância deste acontecimento e da forma com tem sido vivenciado na sociedade portuguesa. É algo que, a meu ver, sintetiza pontos importantes daquilo que é a religiosidade em Portugal e isso faz com que seja um tema muito sensível. As pessoas evocam Fátima em situações muito sensíveis na sua vida, o que faz com que exista uma relação muito pessoal com este fenómeno que para muitos é intocável. Por outro lado, existe uma outra dimensão social e política que, ao longo das décadas, tem tido diversos significados e que em muitos aspectos simboliza um certo Portugal do passado e que é rejeitado pela modernidade. Há ainda um outro aspecto que tem a haver com a dimensão popular do fenómeno que, em muitas circunstâncias e desde o seu início, provoca uma certa resistência para circuitos mais elitistas. Todas estas dificuldades foram muito relevantes para a escolha desse tema.

Como o queria tratar?
Queria tratá-lo de uma forma que fosse exterior às formas anteriormente tratadas. A literatura tem que estar em diálogo com a sua própria história. Olhando para a história recente da literatura portuguesa nós vemos um caso muito marcante de relação entre a literatura e a igreja católica, por exemplo nalguns textos do José Saramago. Nesse caso tratava-se de uma postura de confronto. Também não era essa a minha intenção. Seria muito fácil chocar as pessoas com um tema como este. Bastava uma frase para conseguir ditar esse tom. O meu grande desafio era justamente criar uma terceira narrativa. De qualquer forma, quando anuncio às pessoas que o livro trata desse tema vejo que elas começam logo a tentar identificar se se trata de uma posição contra ou a favor.

E do resultado do livro? Conseguiu isentar-se?
Estou muito contente com o resultado porque efectivamente o livro acaba por se centrar em aspectos que são aceites por todos, porque são históricos e têm a ver com aquelas pessoas que existiram. Não é um livro que entra em descrições das aparições porque descrevê-las já seria tomar uma posição. No livro há um apagão nesses momentos, em que a narrativa se interrompe e se volta a retomar logo a seguir. Mas também acaba por se falar de outras coisas que já tinha falado noutros livros e que se calhar são aspectos que mais me atraíram para este tema.

Quais?
Falo da questão da ruralidade e desse Portugal ligado à terra. Foi um dos aspectos que simbolicamente mais me interessou. A devoção de Fátima sintetiza muito aquilo que acredito como sendo traços próprios da espiritualidade em Portugal, com características particulares como a da promessa ou do sacrifício, ou mesmo da mãe.

É a terceira vez em Macau. Como vê a região?
Até cá vir tinha uma perspectiva como os outros portugueses. A de um lugar misterioso. Acho que por mais que se explique é difícil realmente compreender como existe um lugar assim nesta região, com esta ligação a Portugal. Depois de cá vir pela primeira vez, e na altura já tinha ido a Pequim e Xangai, senti que para um português é realmente um lugar especial. Acaba por ser mais confortável para nós.

Há alguma identificação, é isso?
Sim. Come-se comida portuguesa, ouve-se a nossa língua. É um lugar que me traz uma certa admiração por aqueles que contribuíram para que essa marca ainda seja de cá e que inclusivamente seja entendida como algo de positivo.

18 Jul 2016

Relatos de sem abrigo na Livraria Portuguesa

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] Pomar” de Rodrigo Barros, o livro que reúne quarenta narrativas na primeira pessoas sem abrigo de Lisboa, tem apresentação marcada para hoje, na Livraria Portuguesa às 18h30.
Segundo a apresentação do evento na página do facebook da Livraria Portuguesa, “O Pomar” reúne o testemunho de quatro dezenas de sem-abrigo. O suficiente, segundo o poeta José Tolentino Mendonça, para traçar “um retrato desarmante do Portugal contemporâneo”. Tolentino alerta ainda para a importância em olhar para estes relatos “do ponto de vista da política e da vida civil, da cultura e da qualidade da coesão humana que as nossas sociedades fomentam.” As histórias são de sobreviventes do dia a dia “numa infelicidade e num (anti) heroísmo que ignoramos.” Ilustrativamente José Tolentino Mendonça refere a criação por um dos sem abrigo de uma história de ficção: Nasci no planeta XKL 23 Omnipotentis. Sou um chimita. Foi por acidente que a minha nave veio parar aqui à Terra. Foi depois de passarmos por Andrómeda que os problemas começaram… Lá em cima parece tão bonita a Terra. Cá em baixo é uma confusão. Não me adapto. Construí um emissor para enviar mensagens de socorro a XKL Omnipotentis. Até agora não houve resposta’.”
A apresentação levada a cabo pelo jornalista, escritor e editor Carlos Morais José e será seguida pela projecção do documentário “Nocturnos” e conta com entrada livre.

23 Jun 2016

Livraria Portuguesa | Pedido maior dinamismo e preços mais baixos

Renovada a concessão da Livraria Portuguesa à Praia Grande Edições por mais cinco anos, o que esperar deste espaço único da língua de Camões em Macau? Amélia António, Carlos André e Miguel de Senna Fernandes pedem preços mais baixos, maior articulação com entidades educativas e culturais e dinamismo no espaço

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) apostou na estabilidade da continuação da Praia Grande Edições à frente dos destinos da Livraria Portuguesa, após o polémico período, em 2009, em que chegou a ser equacionada a venda do edifício.
Cinco anos depois, e com mais cinco anos de gestão pela frente, o que deseja a comunidade portuguesa de um espaço que não é apenas seu, mas de todo o território? As vozes com quem o HM falou dão os parabéns à gestão de Ricardo Pinto, director da Praia Grande Edições (ver texto secundário), mas deixam sugestões.
Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, disse ao HM que deve ser feita uma diminuição dos preços praticados. “Poderia ser feito algum esforço para que haja mais livros em português e os que são encomendados deveriam chegar cá mais baratos, com menos recursos ao transporte de avião, é uma parte importante. Tem de haver um esforço na programação de encomendas para que se consiga que os livros cheguem cá a um preço mais acessível. Os livros continuam a chegar caros a Macau”, defendeu.
Amélia António disse ainda que o espaço “pode ser mais aproveitado para que aconteçam mais coisas naquela casa, de maneira a que leve mais pessoas lá, para que haja um bocadinho mais de dinâmica”.

Outras ligações

Carlos André, director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), pede uma maior ligação com entidades académicas e culturais.
“Poderia haver um maior envolvimento entre a livraria e várias entidades e iniciativas na versão escrita. Falo logo do IPM onde trabalho, mas se calhar a culpa até é do IPM e não tanto da livraria. Falo também do IPOR e das instituições de ensino e cultura, e deveria haver uma maior articulação, porque permitiria apelar a outro tipo de livros. Mas penso que a Livraria portuguesa está bem”, referiu.
O advogado Miguel de Senna Fernandes não quer que a Livraria Portuguesa saia do lugar onde está, mas pede mais iniciativas. “Tem sido um espaço importantíssimo para a manutenção de uma certa cultura, é um sustentáculo importante da comunidade portuguesa. É um espaço muito pequeno, mas não digo para a livraria sair dali, porque já houve uma altura em que se pensou numa alternativa. A livraria portuguesa poderia expandir para outros espaços, para cativar ainda mais outra população. Não tem que ser só livros em português, mas que seja também um espaço onde possa albergar outro tipo de literatura”, disse ao HM.
“A gerência da livraria portuguesa está de parabéns, pois há uma renovação dos livros e grande diversidade de autores, com novos autores de Portugal. Cumpre perfeitamente o seu papel no contexto de Macau. Inevitavelmente falta espaço, é claro que a Livraria tem uma galeria para outras actividades, mas não chega. O que lhe falta é essa visibilidade”, rematou o advogado.
Carlos André defende que, apesar da reduzida galeria, a importância permanece enorme. “A livraria cumpre um papel importantíssimo da afirmação da cultura e língua portuguesa em Macau. O que me parece é que este projecto, numa cidade onde os leitores de português são de poucos milhares, é muito interessante. Se tivermos em conta que a livraria se tem associado a várias iniciativas que ultrapassam um pouco o âmbito dos livros”, concluiu.
O HM tentou obter mais esclarecimentos junto do João Laurentino Neves, director do IPOR, mas este não quis prestar mais declarações sobre o assunto, nem sobre o cumprimento do anterior contrato, por defender que esta foi uma decisão dos associados. Também não foi possível obter comentários dos associados sobre este dossier.
“Não considero que os preços sejam elevados”

Ricardo Pinto, director da Praia Grande Edições

“Não considero que os preços sejam elevados”

Com a concessão da Livraria Portuguesa renovada por mais cinco anos, Ricardo Pinto deixa a promessa de dinamizar a galeria que, confessa, já perdeu algum dinamismo com a abertura da Fundação Rui Cunha (FRC).
“Procuramos ter produtos cada vez mais variados. Algumas das novidades vão surgindo com o tempo e são decorrentes daquilo que é a normal gestão de um espaço comercial. Mas em relação aos últimos cinco anos vamos ter um aproveitamento mais intensivo do espaço da galeria. Nos primeiros dois ou três anos tivemos eventos muito significativos, e temos lá os eventos do Festival Literário todos os anos. A regularidade nos últimos dois anos desceu um pouco dado o aparecimento de uma instituição que tem vindo a fazer um excelente trabalho, a FRC. Neste momento o nosso espaço deixou de ser único nesta perspectiva e há muitas pessoas que utilizam a FRC”, contou ao HM.
O projecto de abrir um café na Livraria tem sido adiado. “A questão do café é um projecto que tem vindo a ser adiado e tem a ver com questões relacionadas com a licença e de instalações que precisam de alguma intervenção devido à humidade. Não achamos que seja absolutamente necessária a existência de um café. Não sabemos se a ideia captaria muito interesse das pessoas.” ricardo pinto
No geral, Ricardo Pinto espera fazer “melhor” nos próximos cinco anos, “mas não temos ideias muito diferentes daquelas que têm vindo a ser desenvolvidas”. “Queremos gerir a Livraria à semelhança do que tem vindo a ser feito, procurando ter uma oferta tão vasta quanto possível de livros em português”.
Olhando para os últimos cinco anos, Ricardo Pinto acredita que cumpriu o acordo feito com o IPOR. “Tínhamos de aumentar a oferta de autores e títulos e trouxemos novos autores portugueses pela primeira vez para Macau. Queríamos baixar os preços e fizemos isso, tínhamos de alargar o horário de funcionamento da livraria e passou a estar aberta aos domingos. O festival literário (Rota das Letras) acabou por dar outra visibilidade à livraria portuguesa.”

Sem descidas

Questionado sobre os preços que são actualmente praticados pela Livraria Portuguesa, Ricardo Pinto garante que não há margem de manobra para mais descidas.
“Não considero que os preços sejam elevados. Há o preço do transporte e temos de lidar com o regime de consignação que existe no negócio das livrarias. As editoras colocam os livros nas livrarias, os que não são vendidos são devolvidos às editoras. Dado que temos de encomendar os livros a Portugal e não querendo as editoras fazer acordos de consignação com Macau por causa do transporte, temos de comprar os livros todos. Isto acaba por nos obrigar a ter uma prudência muito grande. Nós baixamos os preços relativamente ao que tínhamos antes e baixar mais considero impossível”, rematou.

7 Jun 2016

Pintura | Filipe Miguel das Dores é premiado em Inglaterra e recorda Luís Amorim

Filipe Miguel das Dores, jovem pintor de Macau, ficou em segundo lugar num prémio atribuído pelo Royal Institute of Painters in Water Colours, no Reino Unido, com uma pintura da Livraria Portuguesa. Com outra obra – “The September after 18 years” – o jovem chamou a atenção para a morte de Luís Amorim

Working-Alone[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]inta com aguarelas e está a fazer sucesso no Reino Unido. É assim o jovem Filipe Miguel das Dores, que participou pela segunda vez com duas obras na exposição anual do Royal Institute of Painters in Water Colours. De entre mais de duas mil obras provenientes de todo o mundo, a obra de Filipe Miguel das Dores, intitulada “Working Alone”, acabou por ficar em segundo lugar no “Leatherseller’s Award”.

A obra premiada apresenta a Livraria Portuguesa como pano de fundo. “Numa noite escura, num canto do edifício, revelou-se um pouco de luz onde se trabalhou sozinho. Numa rua sem ninguém, mostrou-se um pouco dos traços pelos quais os humanos passaram”, descreveu o artista na sua página do Facebook. “É bastante difícil pintar a proporção de centenas de azulejos nas paredes do edifício com tanta precisão”, descreveu.

Filipe Miguel das Dores “gosta muito” de mostrar a sua visão do mundo e do espaço através dos desenhos de edifícios. Nesta obra, o jovem levou mais de 300 horas para concluir sozinho a pintura em aguarelas, feita com papéis grossos pintados com múltiplas camadas.

Ao HM, o artista explicou que estava muito nervoso antes da atribuição do prémio, porque já tinha ganho o “The John Purcell Paper Prize” o ano passado, com a obra “A noite de Mário”. “Muitos amigos pressionaram-me, de certa forma, porque já ganhei uma vez. Acho que tive a sorte de ganhar novamente, foi uma espécie de bónus para mim.”
Filipe Miguel das Dores confessou que outra das surpresas foi ter artistas estrangeiros e o próprio público a observar a sua obra e a tecer comentários positivos.

Lágrimas por Luís

Outra obra de Filipe Miguel das Dores chama-se “The September after 18 years”. A pintura mostra a parte de baixo da ponte Governador Nobre de Carvalho e, ainda que não tenha ganho qualquer prémio, revela um outro sentido, referindo-se ao aniversário de Luís Amorim, jovem que apareceu morto em Macau.

Working-Alone1“Quantas lágrimas se podem esconder num céu escuro? Criei esta obra por causa do meu amigo Luís Amorim, que morreu em 2007. As autoridades de Macau defenderam que ele se suicidou e decidiram acabar com a investigação, mas os pais não acreditaram. Afinal a autópsia em Portugal revelou que o Luís morreu por ter sido espancado. Mas Macau não quis voltar a investigar o caso. Então nós passamos todos os dias naquele lugar como de costume, mas os pais dele perderam o mundo a partir daquele dia”, contou ao HM.

A morte de Luís Amorim e a criação desta obra levou Filipe Miguel das Dores a participar em competições internacionais para que mais pessoas lá fora tenham conhecimento do caso. “Sendo cidadãos de Macau acreditamos que todos têm o direito de exigir uma nova investigação ao caso, para que voltemos a acreditar nos órgãos judiciais e numa sociedade de Direito”, rematou.

12 Abr 2016

Livraria Portuguesa acolhe debate político com figuras locais

Um debate apartidário sobre a Esquerda no contexto político acontece amanhã na Livraria Portuguesa. Para onde caminha a Esquerda depois do trilho percorrido nas últimas décadas será o ponto de partida para a tertúlia

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Livraria Portuguesa abre amanhã as portas para um debate político. Subordinado ao tema “A Esquerda no Contexto Político Actual”, e de organização apartidária, o evento surgiu de uma ideia de Rui Simões, advogado, e Tiago Pereira, secretário-geral do Partido Socialista de Macau.
“É um debate apartidário, foi organizado por mim e pelo Rui Simões. Não queríamos que isto estivesse associado a nenhum partido em particular, porque não se deseja que esteja associado a nenhuma visão política particular”, explicou o político ao HM.
São cinco os temas em cima da mesa: a Esquerda na pós-Guerra Fria e a Terceira Via, Desafios da Globalização – Um novo Socialismo Democrático, Identificação Esquerda – Direita versus Identificação Partidária – Crise de Representatividade?, Polarização Política na Europa e, por fim, o Cenário Político em Portugal.
Carlos Morais José, antropólogo, Frederico Rato e Sérgio Almeida Correia, advogados, constituirão a mesa de intervenções, que vai ser moderada pelo jornalista Rogério Beltrão Coelho. Os intervenientes “são pessoas de posições políticas conhecidas e que ocupam diferentes lugares no espectro político da esquerda”, indica Tiago Pereira.
O debate tem como objectivo principal perceber o que se chama de Esquerda, actualmente. “O mundo mudou muito nas últimas décadas. A globalização desenvolveu-se, a par com avanços tecnológicos, destacando-se aqui a internet. O Bloco Soviético desapareceu e a crise no Médio Oriente transformou-se com a ameaça terrorista. Conflitos propagaram-se em África e a catástrofe Síria alarga-se. O Iraque foi invadido e o regime anterior aniquilado. Os chamados mercados emergentes desenvolveram-se, destacando-se a China e a Índia”, argumentou o organizador.
O contexto histórico produziu “repercussões enormes” a nível económico, geopolítico, e “até mesmo das próprias sociedades”.
“Os padrões mudaram. Os desafios são outros. E a Europa vive actualmente uma crise que resulta desses factores e de uma deficiente arquitectura da União Europeia”.
O debate irá permitir assim, “explorar em que posição isto deixa a Esquerda, enquanto alternativa às políticas falhadas que têm sido levadas a cabo”.
A tertúlia política é aberta à sociedade e começará às 18h15, nas instalações da Livraria Portuguesa.

3 Dez 2015

Trabalhos artísticos da ARTM expostos na Livraria Portuguesa

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma vez mais, a Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM) organiza uma mostra de todos os trabalhos desenvolvidos no último ano pelos pacientes dos programas de reabilitação. O espaço escolhido é a Livraria Portuguesa que, de segunda a quarta-feiras da próxima semana, vai acolher algumas dezenas de trabalhos de vários tipos.
“Os trabalhos que irão estar expostos são trabalhos artísticos do último ano, feitos com aguarela, óleo, feltragem, quilling, entre outros”, explica o presidente da ARTM, Augusto Nogueira, ao HM.
A exposição é o resultado de uma terapia que utiliza a arte como “mecanismo efectivo de suporte à expressão de sentimentos e percepções do mundo”.
“É a forma que eles [pacientes] têm para se expressar”, aponta. Este tipo de terapia de arte permite ao paciente acreditar e reconhecer nas suas capacidades individuais e nos seus modos de expressão, através dos quais podem promover o crescimento físico, psíquico, emocional e espiritual, durante o seu processo de evolução, defende a Associação.
Os workshops artísticos, organizados pela ARTM, são orientados por especialistas e dirigidos aos pacientes dos centros de tratamento masculino e feminino.
“Estas actividades, integradas no programa de reabilitação, promoveram com êxito a expressão artística dos clientes e a descoberta de novas capacidades individuais”, aponta a ARTM.
As peças, conforme indica o presidente, podem ser compradas.

20 Nov 2015