FRC | Académico José Manuel Simões lança romance “A Chave”

É hoje lançado na Fundação Rui Cunha o novo romance do académico José Manuel Simões, responsável pelo curso de comunicação na Universidade de São José. “A Chave”, com a chancela da editora Media XXI, traz personagens de outros livros do mesmo autor, com novas vivências, em que se abrem portas à literatura de viagens

 

José Manuel Simões, ex-jornalista e actual coordenador do curso de Comunicação e Media da Universidade de São José (USJ), lança hoje na Fundação Rui Cunha (FRC) o seu novo romance, intitulado “A Chave” e editado pela Media XXI. Trata-se, segundo um comunicado, de um romance que “mistura a realidade de lugares exóticos com romanceadas relações à distância e surpreendentes teias construídas de incisivos diálogos”. É uma obra descrita como “actual, vibrante e com uma arrebatadora linguagem”, que “abre fascinantes portas à literatura de viagens”.

A sessão de apresentação começa hoje às 19h e conta com a presença do editor, Paulo Faustino, Jerusa Antunes, relações públicas, e ainda João Francisco Pinto, jornalista.

“A Chave” vai buscar personagens ao último livro de José Manuel Simões, intitulado “O Sétimo Sentido”, que conta com Glória, médica, como protagonista da história. No novo livro, Glória chega mais cedo a casa, na cidade de Frankfurt, e encontra o companheiro com Mia.

No dia seguinte, a médica deixa um bilhete com a mensagem “Adeus, vou para a Índia”, partindo e deixando de comunicar com o companheiro. “Para aliviar a perda, Marcos Corte Real decide ir de férias para Marrocos. Durante o périplo magrebino até ao deserto do Saara, o professor de Belas-Artes, via redes sociais, envolve-se com quatro mulheres: Mia, sedutora; Babel, excêntrica artista sueca que mora em Rabat com o marido jornalista; a obsessiva Ana, anos antes colega de turma em Lisboa; e Isabela, carioca, sonhadora, esposa do seu melhor amigo que, com 33 anos, morre subitamente de covid”, destaca ainda o comunicado sobre a história do livro.

O “Sétimo Sentido” relata, por sua vez, a “fascinante viagem espiritual de uma médica em busca de um sentido para a sua vida pela Índia”, neste caso Glória.

Vida de escrita

Este é o 12.º livro de José Manuel Simões, que já escreveu, nos anos 90, as biografias de Cesária Évora, David Byrne, Delfins e Júlio Iglésias, assim como os livros “HC”. Nos anos mais recentes lançou o livro “Índios Potiguara – Memória, Asilo e Poder”, trabalho que resulta da sua tese de doutoramento que, metodologicamente, é uma típica investigação transdisciplinar em que as metódicas da História Cultural, da Antropologia e da Teoria da Comunicação se combinam num “tríplice itinerário transdisciplinar raro”.

José Manuel Simões lançou também “Ponto de Luz”, livro de viagens que percorre todas as capitais de estado do Brasil, relatando “as insólitas aventuras de Duarte Camões”.

“Deus Tupã”, outro livro do autor, desta vez dentro do género do romance histórico, é um livro que “penetra no seio das vivências da civilização aborígene”, enquanto “Jornalismo Multicultural em Português – Estudo de Caso em Macau” é já uma obra mais académica fruto do pós-doutoramento do autor.

Trata-se de uma obra focada “nos fenómenos da comunicação social, contribuindo para a complexificação do pensamento sobre o jornalismo e para uma sociedade mais participada, esclarecida e inclusiva”.

Destaque ainda para o lançamento, em parceria com o cartunista Rodrigo de Matos, de “IE – Na intimidade com as estrelas da música”, lançado em Macau, e uma obra onde o autor “expõe crónicas íntimas com músicos com quem privou ao longo de 17 anos enquanto jornalista de música”.

José Manuel Simões é pós-doutorado em Ciências da Comunicação na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, tendo já publicado diversos artigos académicos. Actualmente é coordenador de programas académicos e director do departamento de “Media, Art & Technology” na USJ. É licenciado em Jornalismo Jornalismo Internacional na Escola Superior de Jornalismo do Porto e foi jornalista em Portugal e Macau durante alguns anos.

12 Jun 2024

Livro | Relatos e cartoons sobre grandes cantores apresentado hoje

José Manuel Simões escreveu durante anos sobre músicos e música e, desta vez, resolveu lançar um livro sobre nomes bem conhecidos como Cesária Évora, Céline Dion, Arnaldo Antunes ou Adolfo Luxúria Canibal, entre outros. A obra, intitulada “IE!! Na intimidade com as estrelas da música”, é baseada em crónicas jornalísticas, inclui cartoons de Rodrigo de Matos

 

Cesária Évora, a grande diva da música de Cabo Verde, actuava descalça em palco e era conhecida por beber e fumar muito. Um dia, nos bastidores do Coliseu do Porto, antes de actuar, despejou uma garrafa de aguardente velha, que fez acompanhar com café e cerveja. Na hora de pedir a segunda garrafa, deixou o jornalista que a observava atónito: como é que ela ia cantar depois de beber tanto álcool? José Manuel Simões era esse jornalista e acabou por perguntar: “Dona Cesária, não me oferece um copinho?”. “Estabeleceu-se ali uma relação que foi até ao fim da vida dela”, recordou, ao HM, o então jornalista, hoje académico da Universidade de São José e autor do livro de crónicas “IE!! Na intimidade com as estrelas da música”.

A obra, que conta com textos sobre músicos portugueses e internacionais bem conhecidos de todos, baseia-se em crónicas jornalísticas do mesmo autor e inclui cartoons de Rodrigo de Matos. A apresentação acontece hoje no bar Roadhouse, a partir das 17h30, com moderação do jornalista José Carlos Matias, mas a obra será também apresentada no Porto, em Portugal, em Dezembro. José Manuel Simões espera ainda editar um segundo volume do livro.

As crónicas de música de José Manuel Simões foram publicadas na imprensa portuguesa entre os anos 90 e 2000, nomeadamente no Jornal de Notícias e Correio da Manhã. Nelas se revelam pormenores curiosos, interessantes ou engraçados sobre a relação que o autor foi estabelecendo com muitos dos músicos que entrevistou, e que deram origem a este livro.

“Entre 2018 e 2019 comecei a compor [as crónicas] quase como um exercício de memória e um lugar de afecto”, disse o autor ao HM. “Tinha saudades das minhas relações com os músicos e com a música, pois Macau não é propriamente um lugar de música, muito menos de pop rock. As crónicas têm um aspecto insólito, que são as particularidades das relações que fui construindo ao longo dos anos. Como jornalista, quando entrevistamos a mesma pessoa várias vezes criamos laços. Conto histórias a que assisti, nos bastidores, essas intimidades fazem parte do livro”, descreveu ainda.

O livro, editado pela Media XXI, retrata pedaços das vidas de músicos como os brasileiros Arnaldo Antunes, Ana Carolina e Daniela Mercury, ou ainda Debby Harry, vocalista dos Blondie, ou Ben Harper, entre outros.

Numa nota, José Manuel Simões acrescenta que “alguns dos episódios aqui revelados baseiam-se nessas crónicas que davam a conhecer aos fãs, sempre ávidos de saber algo mais sobre quem admiram, momentos inesquecíveis que tive a felicidade de viver e que hoje, volvidas duas décadas, estão aqui expostos”.

José Manuel Simões, que escreveu as biografias de Cesária Évora e Júlio Iglésias, contou ainda uma história particular que viveu com o músico espanhol, ainda que não esteja retratado em “Na intimidade com as estrelas”.

“É um cantor que não aprecio particularmente, mas estive na casa dele em Miami, em Madrid, conheci o pai dele, a família. Ele não gostou do livro e disse que não me autorizava a publicá-lo, mas eu fi-lo na mesma. Perdi uma fonte e um amigo, mas achei que era do interesse público [contar a história].”

O traço de Rodrigo

Rodrigo de Matos foi desafiado a criar desenhos de personalidades bem conhecidas do mundo da música e não hesitou. “Tentei fazer caricaturas mais ou menos originais baseando-me nas coisas escritas nas crónicas. O desafio passou por fazer isso de forma pertinente e engraçada ao mesmo tempo. Já conhecia os artistas e alguns eram-me mais próximos. Mas tentei fazer o trabalho sempre da mesma forma.”

O cartoonista confessou que fazer o desenho de Céline Dion revelou-se mais difícil. “As crónicas variam um pouco em termos de capacidade de visualização de uma cena. A de Celine Dion era bastante introspectiva e baseava-se numa relação pessoal que ele escreveu com ela, e não teve nenhum episódio muito rocambolesco. Tive uma certa dificuldade nesse desenho.”

Acima de tudo, Rodrigo de Matos quis que o seu trabalho “fosse ilustrativo dos próprios textos, mas sem ser algo redundante”. “Isso consegue-se com uma introdução humorística, de um determinado aspecto do texto, sem fazer o retrato literal de uma cena”, acrescentou.

29 Set 2022

José Manuel Simões, director de comunicação da Universidade de São José

“O Sétimo Sentido”, romance de José Manuel Simões vai ser apresentado no próximo dia 21 no Porto e marca um passo do autor rumo a uma escrita desvinculada do jornalismo. O lançamento do livro em Macau está agendado para Setembro

[dropcap]E[/dropcap]ste é o seu primeiro romance?
O livro “Deus Tupã” já é um romance histórico. Foi lançado em 2016 e é um livro que tem características de romance porque a visão que os indígenas têm da realidade, do seu modus vivendi, do habitat e das relações com as divindades são romanceadas com dados a partir das minhas vivências no seio daquela tribo. Confesso que fiquei admirado quando a editora considerou este livro um romance. É, mas é um romance que tem uma ligação à realidade.

Em que sentido?
As vivências da Glória Meireles, a personagem central deste livro. Ela vive uma experiência muito marcante na Índia. É uma vivência que tem por base uma viagem que fiz por aquele país em 2002, uma viagem extensa de quase seis meses. Aí, recolhi imensa informação, ou seja há um trabalho de pesquisa meu que depois é absorvido por esta personagem à sua maneira. Sim, é um romance neste sentido, embora tenha esta ligação com dois lugares que existem efectivamente. Um é a Índia, e depois um outro que é Xai Xai, em Moçambique, onde Glória é médica e vive com outras pessoas, poetas, artistas, colegas e pacientes. Pessoas que existem também na realidade.

Podemos dizer que é um livro que, à semelhança de anteriores, tem um cariz biográfico?
Não. Tem um ponto de partida onde recorri às minhas experiências pessoais. Mas, neste caso, não tem nada a ver comigo. Eu diria que a Glória vai muito mais além da minha experiência. Vai mais além do que o próprio autor. Acho que a Glória é uma pessoa maravilhosa e admirável. É uma pessoa que vive profundos silêncios e momentos de meditação, e que fala muito pouco, ou seja, particularidades que são completamente antagónicas às minhas. Diria mesmo que a Glória vai mais além de mim em vários níveis, nomeadamente comportamentais porque é, de facto, uma pessoa incrível. Um exemplo para todas as sociedades enquanto modelo de respeito, de responsabilidade, de valores, de integridade que coloca ao serviço da medicina. A Glória, às tantas, estava-me a ditar situações que nunca me tinha deparado na escrita, com uma voz fora de mim que quase me ditava passagens. Eu fico fascinado com a beleza desta pessoa e com o seu exemplo de vida, com a forma como trata os pacientes, com tudo.

A Glória parece ser uma pessoa real.
Sim, eu imagino-a fisicamente. Ela é pequena, magra. Na narração ela aparece como uma figura concreta e tem toda uma componente física e psicológica muito vincada. Tem características de personalidade muito fortes e, de facto, parece muito real. É uma pessoa que não conheço.

Mas que gostava de conhecer?
Muito. Há uma passagem em que eu vou a Xai Xai, em Moçambique, no ano passado convidado pelo festival de poesia onde participei nalgumas palestras. Antes de ir apercebi-me que era lá que a Glória iria colocar a acção ao serviço da medicina. Às tantas, nesta passagem do livro, eu estou no festival de poesia e a Glória está lá também e interage com o José Manuel Simões. Fala com ele ao jeito dela. Há uma questão entre os dois, quase início de romance, em que ela coloca os pontos muito bem vincados da impossibilidade de relação e em que eu saio a perder claramente nesta tentativa de relação. Havia ali indícios que pareciam, da parte dos dois, que havia um envolvimento, mas ela disse que não, que é uma confusão e quando se fala de transcendência, de karmas e de chacras é uma coisa, mas quando se fala de coisas mais íntimas, ela não concebe essa possibilidade entre os dois.

Estamos a falar de um livro ligado a aspectos mais transcendentes e espirituais?
Sim. A Glória vai para a Índia depois de ser traída pelo Marcos, com quem tinha uma relação desde os tempos da universidade. Ela vai para a Índia para tentar compreender a transcendência e a passagem para outros mundos, até porque lhe tinha morrido uma criança com leucemia nos braços, a Ophélia. Este acontecimento foi muito perturbante. Vai para a Índia e tem uma viagem muito difícil e cheia de revelações nomeadamente em contextos de insalubridade, de pobreza extrema que a magoam. Ela não encontrou essa espiritualidade que procurava, sobretudo nos primeiros tempos. Até que há um momento em que conhece um grupo de raparigas que estão num templo e que a convidam a lá ir. Ela vai e passa lá 23 dias. É aí que descobre, de facto, como se aproximar dessa transcendência. Descobre um lado ecuménico que passa por vária religiões. Há uma personagem que ali está e que lhe diz que ela tem uma missão nesta vida e que, mais cedo ou mais tarde, a vai encontrar até pelo seu papel enquanto médica, pela sua bondade e pelo comportamento. Aliás, o primeiro titulo do livro até era “A Missionária”. Mas depois achei que tinha um cariz demasiado religioso. Ela tem uma ligação à transcendência, às divindades mas também tem o lado da medicina com o seu contacto com as curandeiras, com a homeopatia. Descobre uma lado holístico na sua acção que é extremamente útil enquanto médica.

Está a escrever no feminino. Porquê?
Não sei.

Onde é que descobriu a Glória?
Também não sei dizer. Por vezes, os livros pedem coisas. Fui jornalista e enquanto tal tenho uma ligação à realidade e aos factos muito forte e talvez por isso ainda não me consiga totalmente desvincular da minha escrita nessa perspectiva. Este livro é uma tentativa nesse sentido. Quero assumir-me como escritor. Já escrevi dez livros e é altura de me assumir como escritor. A Glória já é um passo muito grande nesse sentido. Não é ainda total porque tem essa ligação à Índia onde vivi, sendo que ela vê essa realidade à maneira dela. Mas as personagens pedem-nos comportamentos e acções que são muito inesperadas, que são quase ditadas pela voz delas. Ela começa a ter uma vida própria. Foi vindo, foi aparecendo e criando uma atmosfera real sem o ser. É um ser vivo, mas que não existe. O nome, curiosamente, acho que é muito apropriado e surgiu logo. Não podia ser outro porque o comportamento dela é de Glória. Lembra-me o tema da Patti Smith.

Quando é que o livro vai ser apresentado em Macau?
Em Setembro, não tem ainda dia definido mas vai ser nesse mês.

13 Jul 2018

Académico e ex-jornalista elogia independência da imprensa local

José Manuel Simões considera que financiamento público dos jornais não condiciona a liberdade de imprensa nos meios de comunicação social em língua portuguesa de Macau. No entanto, apela a uma maior abertura para as comunidades falantes de português, que não a portuguesa

 

 

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]ma imprensa com coragem para assumir publicamente as suas posições num Território onde as pessoas muitas vezes não o fazem. Foi desta forma que o académico e ex-jornalista José Manuel Simões abordou o Estado dos jornais em língua portuguesa de Macau e a relação com os subsídios públicos.

“Curiosamente os jornais em língua portuguesa de Macau, onde as pessoas não dizem muito abertamente aquilo que pensam, têm essa capacidade e virtude de assumirem posições. Isso é de louvar”, disse, ontem, José Manuel Simões ao HM.

“Nota-se nos órgãos de comunicação social em língua portuguesa uma independência face ao poder político por vezes arrojada, uma liberdade de dizer as coisas que podem, à partida, ser surpreendentes, sabendo dessa aparente condicionante”, sublinhou.

O académico da Universidade de São José escreveu no ano passado, em conjunto com o também académico Paulo Faustino, um artigo, em inglês, sobre o impacto dos apoios públicos para nos jornais de Macau com o título “Impactos do Apoio Público e do Pluralismo de Vozes nos Jornais de Macau”. Entre as conclusões considera-se que existe uma grande liberdade e pluralidade entre os órgãos de comunicação social em língua portuguesa, apesar do financiamento directo do Governo.

“Na prática os subsídios não se reflectem em termos de censura ou controlo editorial. Podemos falar de liberdade de expressão. Isto é em relação à imprensa em língua portuguesa”, explicou José Manuel Simões, ao HM.

“Não me parece, e tendo em conta os trabalhos dos meus alunos na cadeira de jornalismo e no mestrado de comunicação e media, que esta mesma não ingerência do Governo não exista nos órgãos em chinês. Neste caso podemos falar de censura ou, pelo menos, de autocensura”, frisou.

Os apoios são encarados como o garante da pluralidade de vozes na comunicação social, sendo escrito no artigo que a leitura da imprensa em língua portuguesa permite ter acesso a opiniões neutras, contra e a favor das posições do Executivo.

“Os apoios à imprensa portuguesa e chinesa mantêm-se desde a Administração Portuguesa, o que também nos mostra que estamos a falar de um mercado reduzido. É um factor que permitem manutenção e continuidade da diversidade dos média em Macau”, apontou José Manuel Simões.

 

Abertura a outras comunidades

Por outro lado, o académico considera que sem o financiamento público seria muito difícil que a imprensa em língua portuguesa se mantivesse em Macau. No entanto, considerou que pelo menos existe espaço para a existência de um jornal.

“Num universo em que há três diários e dois semanários, acho que seria possível sobreviver um. Os jornais não sobrevivem nem com as tiragens nem com publicidade, portanto à partida se não houvesse os apoios seria muito difícil. O universo de leitores é muito escasso”, comentou.

“Mas se existisse apenas um dos cinco, acho que seria exequível a sobrevivência até na tarefa de angariar publicidade”, completou.

José Manuel Simões defendeu ainda que os jornais deveriam centrar-se mais nas comunidades portuguesas, e menos na comunidade portuguesa de Macau: “Por vezes os jornais deveriam ter a preocupação de trazer para as suas páginas as outras comunidades de língua portuguesa, e não só a comunidade portuguesa para quem são mais virados. Era uma tarefa que não seria propriamente complicada”, indicou.

O artigo escrito por José Manuel Simões foi publicado em Abril do ano passado na revista Journalism and Mass Communication.

5 Jan 2018

Livro | Tribo na Amazónia dá mote para obra de José Manuel Simões

“Deus Tupã” é o mais recente livro de José Manuel Simões. Uma história onde a ficção e a realidade se entrelaçam num misto de simbolismo e misticismo, que vem da vivência com uma tribo da Amazónia. Dois anos com os pitiguares culminam nesta obra, lançada no dia 22, às 18h30, no Consulado de Portugal

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Manuel Simões, professor na Universidade de São José, apresenta na próxima semana o seu oitavo livro, “Deus Tupã”. Uma história que mistura realidade e ficção ao longo de cerca de 200 páginas. Aqui podemos “encontrar a história do Brasil, de Portugal e do mundo”, como revela o autor ao HM.
O livro nasceu depois de, em 2001, José Manuel Simões ter vivido durante dois anos com uma tribo brasileira, os pitiguares. Já antes havia tentado uma aproximação com esta e outras tribos da Amazónia, mas as coisas não tinham resultado bem. Quis o destino mudar-lhe o rumo da história.
“O episódio que aconteceu de seguida mudou tudo, inclusivamente o rumo da minha vida”, conta. Quando andava a rodear a tribo, na tentativa de se aproximar, caiu uma avioneta naquela zona. Fui prestar auxílio aos dois ocupantes, que teriam morrido se não estivesse lá naquela altura. Depois deste episódio, os índios passaram a olhar-me de maneira diferente, como se eu fosse um mensageiro enviado por Deus.”
Foi então que José Manuel Simões decidiu pôr tudo para trás das costas e ir viver a “aventura da sua vida” no meio da selva, com os índios. Foi desta experiência que resultou o seu mais recente livro, “Deus Tupã”. “O nome surge porque é desta forma que a tribo dos pitiguares se referem a Deus, à entidade divina. Tupã quer dizer trovão e foi o Padre António Vieira que fez esta analogia, para lhes explicar a dimensão da divindade.”
Durante dois anos partilhou os seus dias com esta comunidade e garante que pouco mudou em 500 anos. Até à modernidade.
“Depois da chegada da televisão, pouco depois de eu lá estar, a vida mudou completamente”, explica o professor que viveu com lá numa altura em que o então Presidente do Brasil Lula Da Silva lançou os programas “fome zero” e “electricidade para todos”. Aí, o autor presenciou como é que a caixinha mágica pode influenciar a vida de uma comunidade. “Viam televisão e passaram a querer ter mais coisas: arroz, massa, sapatos e roupa. Mudaram mais em três anos que em 500 de existência.” O livro demorou cerca de um ano a escrever. “Neste momento já estou a acabar um outro livro, que irá sair no próximo ano”, indica ainda José Manuel Simões.

Outros caminhos

A apresentação de “Deus Tapuã” acontece na quinta-feira, dia 22, no Consulado Geral de Portugal em Macau, pelas 18h30. O académico escreveu várias biografias, entre elas uma que não foi autorizada pelo cantor espanhol Julio Iglésias.
“Falei com ele, fui ter com ele à sua casa em Miami e as coisas correram bem, mas não deu autorização para que eu publicasse a biografia, porque não queria assumir a paternidade de um rapaz que é a cara chapada dele”, indica, referindo-se a uma história antiga entre o cantor e uma bailarina portuguesa. Escreveu a biografia de David Byrne dos Talking Heads, de quem é fã. “Fiquei muito satisfeito porque soube que ele pediu para traduzirem o livro e sei que gostou.”
A biografia dos Delfins é outra da qual se orgulha, “porque acabou por criar com Miguel Ângelo uma relação muito próxima”, conclui.

14 Set 2016