10 de Junho | Joaquim Franco apresenta “Sem Título” na Casa Garden

“Sem Título” [Untitled] é o nome da nova exposição do artista Joaquim Franco patente na Casa Garden, da Fundação Oriente, até ao dia 2 de Julho. Inserida no programa comemorativo do 10 de Junho, esta é uma mostra que apresenta novas obras do artista português, onde o abstracionismo é um ponto de partida

 

Afastado das lides expositivas há alguns anos, Joaquim Franco embrenhou-se nas aulas de pintura, gravura e desenho que tem dado na Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau (CPM). Até que surgiu agora um convite para expor na Casa Garden, sede da Fundação Oriente (FO) em Macau, no âmbito do programa de comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas.

“Sem Título” [Untitled] é o nome da mostra que pode ser visitada até ao dia 2 de Julho e que constitui a oportunidade de ver novos trabalhos do artista português, radicado em Macau há vários anos. Ao HM, Joaquim Franco explicou que título da exposição “não poderia ser outro”, por pretender potenciar a liberdade de compreensão e imaginação do observador sobre cada trabalho seu.

“Trata-se de uma mostra de arte abstracta. É interessante constatar que existe arte abstracta na história de arte há cerca de 100 anos e continuamos a assistir à incapacidade da leitura do abstracto. Não faz sentido hoje fazer o figurativo, pois vivemos na época das ‘selfies’. O título influencia a leitura, pelo que quis deixar o observador livre sem ser influenciado [externamente] ou influenciado por mim.”

Em “Sem Título” há, no entanto, “duas ou três obras mais antigas” escolhidas por Joaquim Franco para quem se deparar, pela primeira vez, com o seu trabalho. Isso obrigou também ao artista a olhar para dentro, a tentar compreender-se.

“Deste estudo começou o que chamaria de ‘nova fase’. Digamos que não existe uma temática, mas sim um redescobrir e uma evolução do que vinha fazendo. Esta exposição integra gravuras, homotipias, que são provas únicas, e pinturas em acrílico, óleo e colagem de papel de arroz.”

Experiências na tela

“Uma honra”. É desta forma que Joaquim Franco expressa o convite que lhe foi endereçado pela FO, primeiro na pessoa de Ana Paula Cleto, ex-dirigente, e depois no apoio dado por Catarina Cottinelli da Costa, actual delegada da FO no território.

O facto de ser professor na CPM influencia o seu trabalho, mas Joaquim Franco assume que tudo o que lhe é exterior acaba por reflectir-se na tela. “Não me considero um professor, serei mais um artista que partilha a sua experiência e conhecimentos com as pessoas que frequentam os ateliers. Se isso influencia o meu trabalho, diria que toda a minha vivência o influencia.”

“Color / Shape / Love” [Cor / Forma / Amor] foi uma das últimas mostras em nome individual que o artista apresentou em Macau, desta vez na AFA – Art for All Society, com curadoria de James Chu. Também aí a cor foi um ponto de partida, tal como o abstracionismo.

“Ele [James Chu] escolheu este nome porque, na realidade, o meu trabalho está muito ligado com a cor. Falo muito do amor e da paz, e é essa a primeira leitura dos meus trabalhos”, disse na altura.

6 Jun 2023

Pintura | Joaquim Franco apresenta “The wave and other poems” em Hong Kong

Joaquim Franco dedica grande parte da mostra “The wave and other poems” a trabalhos que têm como foco o mar e a sua importância. A exposição está patente na Galeria Nido, em Hong Kong, até dia 23 de Setembro

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]he Wave and other poems” é nome da exposição do artista local Joaquim Franco que está patente na Galeria Nido em Hong Kong até ao próximo dia 23 de Setembro.
A mostra divide-se em dois momentos. Um primeiro constituído pela instalação “The Wave” seguido pela exibição quadros sob o tema “Other Poems”.

A primeira parte dos trabalhos apresentados por Joaquim Franco é uma instalação, “uma grande onda”, segundo a descrição do próprio. Mas não é uma onda qualquer, é uma instalação que tem uma mensagem de alerta para o problema do plástico e da crescente poluição que afecta, nomeadamente, os oceanos. “Esta instalação é uma onda de plástico que invade a galeria e que pretende representar metaforicamente a forma como o plástico está a invadir os oceanos”, apontou o artista ao HM.

Esta preocupação com o ambiente, em especial com a poluição das águas do mar, é um assunto que diz pessoalmente respeito ao artista e que tem origem na sua infância. “Sou da Ericeira, que fica mesmo virada para o mar, e por isso tenho esta ligação profunda ao oceano”, explicou.

Por outro lado, “é importante alertar as pessoas para o que se impõe que é um menor uso do plástico e a modificação do nosso comportamento em relação e este material para irmos acabando por o deixar de usar com esta intensidade”, sublinhou.

A ideia para a instalação partiu de um quadro produzido para uma exposição na Casa Garden, que se chamava “Oceano”, em que a presença do plástico apareceu pela primeira vez. “Mais tarde, entrei no atelier e encontrei uma série de sacos no chão. Foi quando me lembrei que este material tanto invade os oceanos como o estúdio onde trabalho, como os quadros que faço”, apontou.

Ainda dentro deste primeiro momento expositivo estão integradas duas pinturas: “O Oceano Atlântico” e o “Oceano Pacífico”, “numa onda que traz o plástico ao longo do espaço e passa por estes dois quadros”, referiu.

Homenagem a Cousteau

O segundo momento expositivo é referente “aos outros poemas” e é preenchido por vários quadros do artista. Também aqui se nota a presença do oceano, nomeadamente em três obras inspiradas em Jacques Cousteau. Um deles intitulado “O mundo do silêncio”, nome inspirado no livro homónimo do explorador francês. “Faço uma homenagem à sua vida porque foi alguém que se dedicou aos oceanos. Fez um estudo sobre a Antártida e conseguiu junto das Nações Unidas que aquela zona não fosse explorada”, revela o artista quanto às referências que recolheu para o trabalho. Um segundo quadro, “Calypso”, é o nome do barco do cientista.

A mostra patente na região vizinha tem ainda outra obra de inspiração oceânica, mas também ligada à infância do artista e que tem que ver com castelos de areia. “Aqui, a metáfora tem de ver com a ilusão que é associada a este tipo de construção”, referiu.
Para o artista, a presença de Cousteau nestas obras não foi um acaso. “Todos os sábados, quando era miúdo, havia na televisão um programa dele e o facto de o ver acabou por se tornar uma rotina tão importante para mim como a de ir à praia”, acrescentou.

As restantes obras são quadros que retratam “outros poemas como o amor ou as relações entre as pessoas.”

12 Set 2018

“Colour / Shape / Love” | Exposição de Joaquim Franco inaugurada esta sexta-feira

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hama-se “Colour / Shape / Love” e é a nova exposição de Joaquim Franco com apoio da AFA – Art for All Society. A mostra de trabalhos do pintor português radicado em Macau é inaugurada esta sexta-feira no edifício Macau Art Garden.

“As pessoas podem esperar uma série de novos trabalhos que tenho vindo a desenvolver de há uns anos para cá. Na realidade, estes trabalhos são todos do final do ano passado e princípios deste ano. São coisas novas, que ainda não foram vistas cá em Macau. Acho que o público pode esperar coisas interessantes”, disse Joaquim Franco ao HM.

A escolha do nome da exposição acabou por partir de James Chu, presidente da AFA e curador da mostra. “Ele escolheu este nome porque, na realidade, o meu trabalho está muito ligado com a cor. Falo muito do amor e da paz, e é essa a primeira leitura dos meus trabalhos.”

Encuentros – Pintura de Joaquim Franco

Joaquim Franco assume não querer transmitir uma mensagem específica com os seus quadros, pois prefere que as pessoas “façam a sua viagem”. Contudo, se há uma mensagem a passar aos outros, é a de necessidade de maior compreensão.

“Cada pessoa deve ter a sua liberdade. Mas, no catálogo da exposição coloquei uma frase de um antigo professor meu, o Rui Mário Gonçalves, em que ele dizia ‘ver é compreender. Compreender é ver. Dar a ver é instaurar a compreensão entre os homens’. Se tenho alguma veleidade em passar alguma mensagem é esta: instaurar a compreensão entre os homens.”

Há, inclusivamente, um quadro intitulado “Who you think you are”, que transmite esta ideia. “Nos tempos que correm assistimos todos os dias a atentados e a violência, penso que a sociedade tem uma crise humana muito grande. Se tivesse uma mensagem a passar, seria de paz e amor”, apontou o artista.

O apoio AFA

Joaquim Franco já expôs os seus trabalhos em parceria com a AFA em diversas exposições colectivas, mas esta é a primeira vez que expõe a título individual. “Colour / Shape / Love” é, de certa forma, o resultado de um apoio que o artista obteve da AFA, que lhe cedeu um novo estúdio para trabalhar.

“Há dois ou três anos, tive de fechar o meu atelier porque a renda era impossível de manter. Não vendemos quadros todos os dias, não temos trabalho, porque na realidade não nos dão trabalho, e o Governo não dá trabalho aos artistas. James Chu soube que não tinha estúdio e ligou-me a perguntar se não queria ficar com este estúdio aqui no Art Garden”, contou o artista.

Apesar de ter uma exposição individual no horizonte, depois de ter exposto recentemente em Idanha-a-Nova, Portugal, Joaquim Franco não se mostra optimista em relação ao panorama artístico local.

“Em Macau não se vende, pura e simplesmente. Simplesmente vêm quatro ou cinco pessoas à inauguração e depois não aparecem pessoas. Não vêm para ver, quanto mais para comprar. A questão económica pesa”, concluiu.

13 Jun 2017

Joaquim Franco, artista plástico: “Quero muito internacionalizar o meu trabalho”

Deixou a gravura no estúdio que um dia teve e que o preço das rendas já não lhe permite suportar. Agora só pinta. E pinta quadros com outras cores, influência das viagens, de paragens diferentes. Joaquim Franco tem um ateliê no Macau Art Garden, na Avenida Rodrigo Rodrigues. No quarto andar de um espaço cheio de luz e de silêncio encontramos um artista que se fechou no trabalho para um dia destes chegar lá fora, a outros destinos

[dropcap]H[/dropcap]á dez anos dizia que o ambiente artístico em Macau é sempre muito individual. Continua a ser assim?
Sim, embora as coisas tenham mudado bastante nestes últimos dez anos. Julgo que a mentalidade local abriu um bocadinho, até por influência do exterior, porque há mais estrangeiros. Mas, de facto, ainda continua a ser muito cada um no seu quintalzinho, cada um no seu cantinho.

Mas hoje partilha um espaço com outros artistas plásticos.
Sim, tive esta hipótese fabulosa que foi o James Chu ter-me ligado um dia destes a convidar-me para eu vir para aqui, porque sabia que eu não tinha estúdio, que está muito complicado ter um em Macau por causa do preço das rendas. Arranjei então este espaço. É pequenino, mas é simpático, estou concentrado no trabalho que estou a fazer e é muito bom.

O facto de estar num ambiente com outras pessoas – e, claro está, ter um estúdio – veio dar outra dinâmica ao seu trabalho?
Talvez possa considerar que sim. O que se passa é o seguinte: os artistas que estão aqui instalados neste edifício são, quase todos eles, jovens. São jovens que acabaram os cursos aqui de Macau, no Politécnico, há um ou outro que estudou fora na China, sobretudo –, mas são jovens. É engraçado e interessante conversar com eles sobre arte, sobre pintura. Não falam muito, porque a maior parte não domina o inglês, mas é interessante e simpático falar com eles, sobretudo porque são jovens e estão a começar.

Está cá há 26 anos. Como é que se faz, no caso de um artista plástico, para não ficar naquilo que estava a fazer quando chegou cá, dada a dimensão do meio?
É preciso ter a cabeça muito arrumada, na realidade. É preciso um grande esforço, muito trabalho e tenho lutado muito para chegar ao nível mais alto possível.

Veio para Macau fazer um trabalho completamente diferente daquele que tem hoje: arqueologia nas Ruínas de São Paulo.
A ideia era ficar 10 meses em Macau e já cá estou há 26 anos.

Como é que olha para estes 26 anos?
Olho bem, são simpáticos. Podiam ser melhores, podiam ser piores. É sempre uma questão à qual não conseguimos responder, porque se não tivesse sido aqui, teria sido noutro sítio e as coisas teriam sido com certeza diferentes. Agora, há uma coisa muito interessante, que gostava de focar nesta conversa: estes 26 anos não me transformaram num chinês ou num oriental, mas influenciaram muito o meu trabalho. Digamos que me aculturei e essa aculturação é extremamente importante perceber e digerir. Julgo que o meu trabalho foi muito influenciado pela arte chinesa e pela arte oriental.

E como é que essa influência se traduz?
Quando se olha para um quadro meu, à primeira vista, provavelmente as pessoas não se apercebem mas, na realidade, em termos de composição… Por exemplo, a composição da arte tradicional chinesa é vertical, da direita para a esquerda. Porquê? Porque tradicionalmente os chineses escreviam – e escrevem – de cima para baixo e da direita para a esquerda. Nós, no Ocidente, escrevemos horizontalmente e da esquerda para a direita, de cima para baixo. Resultado: a composição da pintura abstracta ocidental é normalmente muito horizontal, por essa influência, e, na minha pintura e no meu trabalho, a influência oriental existe, sinto-a e isso é interessante.

Esta aculturação não foi um processo deliberado…
Todos nós somos influenciados pelo meio, seria uma cobardia dizer que não, ninguém me influencia, eu sou o maior – isso não existe. No jornalismo, em todas as profissões, as pessoas são influenciadas pelo meio que as rodeia. É evidente que um artista plástico também sofre influências do meio. De repente, um dia acorda de manhã para um quadro e diz assim: ‘olha, afinal, que interessante, não tinha reparado nisto, mas isto é oriental’. É um pouco isto, é assim que acontece, não é ir à procura da influência. É um processo natural.

Nesta nova série em que está a trabalhar sente essa influência?
Sinto bastante. O mais interessante foi quando estive na Colômbia, no ano passado, em que aí se notou muito porque, na América Latina – apesar de terem a sua própria cultura –, a cultura deles é muito mais próxima da europeia do que a cultura asiática. Foi muito interessante porque, nos meus trabalhos, essa influência existia e nas conversas que tive com artistas lá discutiu-se muito isso, o que foi, de facto, interessante. Foi das coisas mais interessantes de verificar.

Tem uma nova série de trabalhos. O que é esta nova série?
Vem no seguimento do trabalho que já faço há dez anos – não parece, mas é verdade que já passaram dez anos e continuo a fazer mais ou menos a mesma coisa. Agora, a realidade, a influência da minha estadia na Colômbia – ainda foram quatro meses e meio em Medellín – ajudou a abrir outras portas, provavelmente. Ainda não estou muito certo disto mas penso que ajudou, talvez em termos de outras cores. A cor latino-americana é muito viva, muito brilhante, e eu usava muito laranjas e azuis, uns azuis muito escuros. Ainda uso, mas penso que, nesse aspecto, ajudou, influenciou.

Há quadros de grande dimensão?
Não, neste momento não tenho espaço suficiente para quadros de grande dimensão. Tenho uns quadros muito pequeninos, com 20 centímetros, 30 centímetros, e depois tenho uns maiores, com um metro por um metro, um metro e oito por oitenta. Gostaria de fazer coisas de grande dimensão, mas não é possível neste momento.

Está mais focado na pintura.
Só trabalho em pintura neste momento.

Onde é que ficou a gravura?
A gravura ficou no tinteiro, porque não é possível fazer gravura sem ter um ateliê. Eu tinha um ateliê montado, com prensa de gravura, com sala de ácidos, com tudo isso, mas é impossível manter, porque as rendas são muito caras e infelizmente não vendemos trabalho todos os meses. Do ponto de vista económico, a gravura é muito interessante, porque é a democratização da arte. Quando faço uma pintura é uma única; com uma gravura faço 30 provas e são 30 provas da mesma imagem. Todas elas têm o mesmo valor, mas o leque de pessoas que vão usufruir dessa imagem é muito maior. Por isso é que os artistas dizem que a gravura e a serigrafia são a democratização da arte. Mas infelizmente não é possível fazer gravura sem um ateliê, uma oficina, e neste momento não tenho espaço.

O que tem que ver com as mudanças também destes últimos anos. Dizia ainda há dez anos que o Governo e as instituições públicas não encomendam trabalho aos artistas.
Sim, isso continua mais ou menos na mesma. É pena – estão a fazer, por exemplo, o metro de Macau, podiam convidar os artistas para fazerem a decoração das estações de metro. Há uma questão em Macau que não existe: equipas interdisciplinares. Fazem-se casinos, fazem-se estações de metro, faz-se tudo, mas não se inclui um artista plástico numa equipa de engenheiros, arquitectos e, no caso dos casinos, designers de interiores. E é pena, porque poderia acontecer um trabalho muito mais interessante, mas não há essa tradição.

Algumas operadoras do sector do jogo têm trazido até Macau trabalhos de artistas de renome. Outras têm chamado para a curadoria de iniciativas um ou outro artista local, mas não há um investimento claro dos casinos nos artistas que vivem no território.
Tive a sorte, por exemplo, de fazer quatro painéis para um casino, em 2015, mas foi só isso. Fiz os painéis e pronto, não aconteceu mais nada. Conheço um casino que tem uma sala enorme cheia de quadros que foram comprados na China e na Tailândia mas que não podem ser usados, porque não estão de acordo com o ‘feng shui’, porque são quadros a óleo quando deviam ser a acrílico, por causa da questão da segurança, etc. Se convidassem artistas locais, provavelmente não teriam este tipo de problemas, mas é esta a realidade. De qualquer forma, tudo bem. Estou sempre aberto a propostas – venham elas.

Uma das áreas em que tem trabalhado é a formação. É uma vertente que continua a interessar-lhe?
Muito. Fiz arte-terapia por causa do tufão em Taclóban e da guerra em Zamboanga [nas Filipinas]. Fiz durante quase toda a minha vida, quando tinha um ateliê grande, workshops de formação. Há 20 anos – quando conheci este meu amigo colombiano com quem estive no ano passado – fiz um projecto exactamente ligado à educação, de intercâmbio internacional de artistas. Trazia artistas de fora a Macau, que fariam workshops e exposições, que trabalhariam em residência, e esse contacto com outros artistas, numa altura em que não havia escola de artes – hoje em dia já há o Politécnico, mas não há uma universidade de artes em Macau –, seria interessante. Talvez tenha sido muito cedo para as pessoas entenderem a dimensão de um projecto deste tipo e, portanto, acabou por não ser apoiado e desisti, porque lutei durante quase 15 anos e os resultados foram um bocadinho desastrosos. Não tive capacidade económica para continuar a custear o projecto.

Ainda assim, nomeadamente na Casa de Portugal, desenvolveu muito trabalho na área da formação.
Sim, sim. Dei aulas, fui o primeiro artista a dar aulas para a Casa de Portugal, a abrir os workshops, e durante uns anos dei aulas lá.

Sente que aquilo que foi passando durante estes anos a quem foi tendo contacto consigo deu frutos? Não digo necessariamente na formação de artistas, mas na sensibilização para a arte, na formação de público.
Acho que sim. Sempre que dou workshops não tenho na ideia que estou a formar artistas plásticos e que todos os meus alunos vão ser artistas plásticos. Por exemplo, durante 18 anos dei aulas no curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Macau e é evidente que tive milhares de alunos durante esses anos, porque cada ano eram 60, 70, e julgo que não andei a formar artistas. Mas sensibilizá-los para as técnicas, para a arte em geral, isso sim, acho que foi um trabalho que fica sempre.

Projectos para o futuro?
A internacionalização do meu trabalho. Neste momento, à revelia de tudo, fechei-me a pintar e estou muito concentrado no meu trabalho. Quero muito internacionalizar o meu trabalho.

Sente que se estão a abrir portas para que isso possa acontecer?
Acho que sim. Por exemplo, estive na Colômbia numa cidade que era considerada, há uns anos, a mais perigosa do mundo: Medellín. Depois da captura do grande chefe da máfia colombiana, as coisas apaziguaram bastante, o Governo colombiano entrou em conversações com as FARC para estabelecer a paz no país, porque a guerra civil já dura há imenso tempo. Medellín, em 2014, foi considerada a cidade com maior desenvolvimento cultural do mundo. Porquê? O alcaide de Medellín – e o Governo da Colômbia também – apercebeu-se de que pela educação é que vai conseguir apaziguar a situação. Estão a investir imenso na cultura e na educação, porque perceberam que a cultura pode influenciar e abrir portas para que a paz se estabeleça no país. Foi bastante interessante ver isso. Por exemplo, a Feira de Artes de Medellín, na qual tive dois trabalhos expostos, é neste momento uma das maiores feiras internacionais da América Latina. Não vendi, mas saiu um artigo sobre o meu trabalho numa revista, o meu trabalho entrou nas exposições, fiz também enquanto lá estive uma pintura mural num complexo de restaurantes onde uma fundação tinha uma grande exposição de arte. Convidou-me para fazer um painel e ofereci-o a essa fundação. Fiz imensos contactos, fiz imensos amigos e vamos ver os resultados disto tudo. É preciso semear para depois colher.

24 Out 2016