Sofia Margarida Mota EventosExposição | ”Little Paradise” de James Wong inaugura dia 23 na Casa Garden “Little Paradise” é o trabalho que representa as memórias de infância de James Wong e que vai estar patente na Casa Garden a partir de dia 23. Para o artista, trata-se de uma exposição singular visto ser uma homenagem aos seus pais. Esta é também uma oportunidade de ver obras que nunca foram expostos no território [dropcap]É[/dropcap]a primeira vez que as obras da exposição “Little Paradise” de James Wong vão estar patentes em Macau. A mostra vai ser inaugurada no próximo dia 23 na Casa Garden pelas 17h30. “Little Paradise” foi criada, em primeiro lugar, para ser uma homenagem do artista aos pais. “Foi para honrar os meus pais e agradecer o apoio que me deram em apostar na carreira artística que reuni estas obras”, começa por dizer Wong ao HM. “Tenho agora o meu pai doente com Alzheimer, está de cama e não sorri, e poucas vezes se lembra de quem eu sou”, acrescenta. Esta condição do pai fez com que o artista reflectisse no ciclo da própria vida através do regresso às memórias de infância. “Provavelmente quando envelhecemos acabamos por regressar ao estado de infância e é como se voltássemos a um momento em que vivíamos numa espécie de céu para pequeninos”, aponta Wong, justificando a escolha do tema da exposição. Macau perdida Além de expressar a vertente afectiva ligadas aos seus parentes, James Wong quis ainda recordar uma Macau desaparecida, até porque foi ao longo da criação de “’Little Paradise’ que a ideia de que “o território está muito diferente do que era antigamente” se acentuou. Para trazer à tona as memórias que acompanharam o seu crescimento, James Wong foi buscar uma série de imagens antigas que fazem parte das suas colecções e “de coisas velhas” que teima em guardar, e procedeu à sua recriação. A elas juntou o que a memória e a imaginação lhe ditaram. “Pensei em brinquedos que tive e que imaginei ter, cenários reais e outros que fui recriando quando me isolo do stress do dia a dia e dos problemas da condição humana. Nestes momentos vou para um canto especial do meu cérebro onde imagino vários cenários”, referiu. Casa de estreia O facto de “Little Paradise” ser exibida na Casa Garden também tem um significado especial para o artista. “Foi ali que fiz a minhas primeiras duas exposições” conta. A segunda mostra da sua carreira teve um significado especial até porque foi o momento em que recebeu a aprovação da família pela escolha da carreira artística. “Foi a primeira vez que vi a minha mãe feliz com o meu trabalho porque até essa altura ela era a única que de alguma forma apoiava o que fazia. Este foi também o momento de reconhecimento pela minha família”, revela. Trinta anos depois da estreia no espaço da Fundação do Oriente, Wong regressa com uma terceira exposição àquele local em que vai apresentar 16 peças com imagens em metal, sete esculturas, quatro pinturas e 12 gravuras. James Wong representou Macau na 57ª Bienal de Arte de Veneza em 2017. O artista, que nasceu no território em 1960, foi assistente de investigação honorário da Escola de Belas Artes Slade, do University College of London. Em 2010, recebeu o Prémio “Sovereign Asian Art”, e no mesmo ano foi reconhecido como um dos 30 artistas de topo da Ásia. Além da criação artística, Wong tem estado envolvido na área da educação e actualmente é presidente do Centro de Pesquisa de Gravura de Macau Wong Cheng sendo ainda o fundador da Trienal de Gravura de Macau.
João Luz EventosBienal de Veneza | James Wong leva a Itália “O Bonsai dos Meus Sonhos” Foi apresentada uma mostra do trabalho de James Wong que vai representar Macau na 57.ª Exposição Internacional de Artes – Bienal de Veneza 2017. O artista plástico leva à reputada exposição um conjunto de trabalhos intitulados “O Bonsai dos Meus Sonhos” [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o sentido contrário da viagem de Marco Polo, James Wong vai do Oriente à conquista de Veneza. São hoje expedidas para Itália 17 peças do artista local a fim de representar Macau na 57.ª Bienal de Veneza. “Espero que todas as peças cheguem em segurança”, comentou à margem da apresentação de uma pequena amostra dos trabalhos que vai mostrar no prestigiado certame. As peças que leva a Itália são, sobretudo, tridimensionais. As esculturas dominam a colectânea, onde também pontificam fotografias, quadros e instalação. O título da exposição, “O Bonsai dos Meus Sonhos”, aponta para um cenário onírico que reflecte o desejo da vida ascética, simples e plena de elegância. A peça principal, que dá título à colecção, é a representação de uma cabeça cortada por um jardim numa das vistas emblemáticas da cidade. “É um reflexo da minha sensação pessoal de Macau, da sua evolução, do espaço onde nos movemos que está cada vez mais tenso e estreito”, desvenda James Wong. Assim sendo, o artista procurou mostrar nesta escultura o desejo de criar “um pequeno jardim, ou um bonsai, a crescer na cidade, um lugar” para onde se possa retirar, comenta. Esta peça surgiu naturalmente, uma vez que o criador gosta de subir à Colina da Penha, em especial à noite, e deixar que a inspiração lhe surja da vista da cidade. Do clássico ao moderno Uma das inspirações centrais para o conceito da colecção é o classicismo chinês, daí não ser de estranhar que um dos fios condutores transversais sejam as descrições no clássico chinês Shan Hai Jing (Clássico das Montanhas e dos Mares). James Wong retirou destes escritos ancestrais informação sobre religião, história e geografia da China Antiga de há dois milénios. Este foi o veio condutor, assim como a imaginação do autor influenciado pelas vistas e as vivências de Macau. O artista tinha esta exposição guardada no seu imaginário, a apurar, há anos. “Já tinha tido as ideias originais há muito tempo”, estavam espalhadas em livros de anotações, foi apenas uma questão de as escolher e torná-las físicas. Nesse aspecto, James não trabalhou com os materiais que queria, ferro, por exemplo, que levariam a que algumas peças pudessem chegar às duas toneladas. Dessa forma, a criação teve de respeitar todos os aspectos logísticos do local onde será exposta. James Wong passou dois meses a preparar esta exposição. O curador do Museu de Arte de Macau, Ng Fong Chao, revela que o artista é influenciado pela ambivalência da cidade, onde se podem encontrar “cultura ocidental e oriental”. “Podemos encontrar vestígios de clássicos asiáticos, assim como traços de catolicismo no seu trabalho, vistos, por exemplo, nas vestimentas das esculturas que se assemelham às dos missionários católicos”, explica o curador. A exposição que James Wong leva a Veneza expressa o seu ponto de vista destes dois mundos que se intersectam, filtrados pela visão e experiência do artista. O Pavilhão de Macau na Bienal estará aberto de 13 de Maio a 12 de Novembro.
João Luz Eventos MancheteJames Wong é o nome escolhido para representar Macau na Bienal de Veneza O multifacetado artista James Wong será o representante de Macau na próxima Bienal de Veneza, que abrirá a 13 de Maio de 2017. O anúncio oficial é feito hoje, ao meio-dia, no auditório do Museu de Arte de Macau [dropcap style≠’circle’]“C[/dropcap]laro que estou muito feliz, mas também preocupado com este interessante desafio”, confessa James Wong, o artista de Macau que marcará presença na 57.ª Bienal de Veneza. Esta será a primeira vez que expõe num local que desconhece, “tanto no tamanho do espaço, como na natureza do edifício”. Assim sendo, James abordará a especial exposição de uma forma experimentalista, porque “o palco é conceptualmente muito orientado para obras tridimensionais”. Estas circunstâncias favorecem a exposição de esculturas e pinturas, duas formas de expressão artística que James privilegiará na sua apresentação. Também haverá uma instalação, mas algo simples, estável, que não represente muito risco devido aos constrangimentos circunstanciais. O artista tem dirigido algumas das instituições artísticas de referência em Macau, como o Centro de Pesquisa de Gravuras de Macau, foi também curador no Museu Luís de Camões, entre outros. Mas considera-se, acima de tudo, um amante das artes. O padrinho Mais de um quarto de século a dar aulas de arte valeu-lhe a alcunha entre os alunos de “o padrinho do ensino artístico”, algo que diverte o professor, que continua a criar todos os dias. Dividido entre o ensino e a criação artística, James não se considera um artista muito prolífero, “tendo em conta o contexto de Macau, onde muitos artistas têm exposições quatro vezes por ano”. Portanto, “se me perguntar que tipo de artista eu sou, devo ser um preguiçoso”, graceja. Quanto à inspiração, Wong diz não saber de onde vem, preocupando-se principalmente com a rejeição de qualquer fórmula que restrinja a sua criatividade. Mas não nega que existem origens e uma base para o arranque dos seus trabalhos. “Gosto muito do conteúdo cultural japonês e chinês, sobretudo a estética da caligrafia, as cores e estruturas dos quadros antigos, e o feeling que se esconde por trás”. Estas são as fundações principais das suas esculturas, gravuras, pinturas a óleo, ilustrações e desenhos, que têm sido expostas em Portugal, Japão, Bélgica, Hong Kong, e um pouco por todo o mundo. Ganhou vários prémios, “o que não é nada de especial”, de acordo com o artista. Porém, a exposição na Bienal tem um peso forte, “é o realizar de um sonho de qualquer artista”. Apesar da felicidade que sente, partilhada pelos seus alunos, e que sabe que os seus pais também sentiriam, Wong já está preocupado com a forma como irá preparar esta tarefa, mas está certo de que será “uma saborosa jornada e que correrá bem. A horas de ser oficializado como o representante de Macau em Veneza, Wong encontra-se entre a elação e a dimensão do trabalho que o espera. Acha que os seus “amigos mais próximos ainda não tomaram consciência da dimensão do que se está a passar”. No entanto, James Wong não lhes irá adiantar nenhuma explicação porque prefere “que vejam através dos jornais”. O HM faz-lhe a vontade.