Filipa Araújo Entrevista MancheteLiliana Inverno: “IPOR é mais do que a sua oferta formativa” Depois de três anos, Liliana Inverno está de partida. Deixa o centro de língua portuguesa do IPOR com a sensação de dever cumprido. Instituto que é, aponta, muito mais do que números, turmas e alunos. Atrás da cortina existe muito trabalho e projectos [dropcap dtyle=’circle’]O[/dropcap]Instituto Português do Oriente (IPOR) publicou uma Manifestação de Interesse para as funções de Coordenador do Centro de Língua Portuguesa, lugar ocupado por si. De saída, qual o balanço que faz do trabalho realizado? Efectivamente, confirmei recentemente à Direcção a minha intenção de, cumpridos os três anos de contrato inicialmente previstos e atingidos os principais objectivos definidos para esse período, querer regressar à vida académica, em particular à investigação e à orientação de trabalhos académicos. Com a excepção de actividades pontuais de arbitragem científica e o acompanhamento de projectos já iniciados, esta foi uma dimensão da qual, por opção, me desliguei durante os últimos três anos, para poder centrar-me exclusivamente nos compromissos que com gosto assumi com a Direcção do IPOR em 2013. Não é possível assumir as duas funções? A minha avaliação é a de que, nem o meu método de trabalho, nem as regras das universidades – que impõem, por exemplo, que apenas doutorados com ligação a instituições universitárias possam orientar teses – nem o nível de exigência que hoje a diversidade de esferas de intervenção do CLP impõe permitem essa conciliação. É neste contexto que surge a Manifestação de Interesse. Gostaria que fosse possível conciliar as actuais funções, que me proporcionaram uma das mais ricas e desafiantes experiências profissionais até hoje, com uma carreira académica. Como olha o trabalho desenvolvido até aqui? Foram três anos de um trabalho colectivo muito exigente, mas acima de tudo, muito enriquecedor, de implementação da visão e estratégia que a actual Direcção, em boa hora, definiu para a acção do CLP e na qual Coordenação e corpo docente se empenharam por levar a bom porto. Creio que o conseguimos. Mas mais importante que o meu balanço, que sou parte interessada, é o balanço que a instituição faz desse trabalho. É, por isso, para mim motivo de grande satisfação que esse balanço também seja positivo, como de resto já o exprimiu publicamente o director da instituição, João Laurentino Neves. O Curso Geral do IPOR foi alvo de uma reestruturação curricular quando assumiu funções. Pode explicar esse processo e quais as metas atingidas? A reestruturação curricular de que foi objecto o Curso Geral do IPOR, em 2013, passando de um sistema de organização próprio por módulos para o sistema de organização por níveis definido no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR), é a face mais visível de um processo que se estendeu a toda a oferta formativa da instituição e que visou o seu alinhamento com as orientações dos documentos de referência internacional para o ensino e certificação de línguas estrangeiras e do Português língua estrangeira, em particular. O objectivo foi atingido? Sim, esse objectivo, no essencial, está hoje cumprido, não só no Curso Geral, mas também no Curso de Crianças, nos cursos intensivos de iniciativa própria da instituição e nas formações para fins específicos solicitadas por instituições parceiras. Creio que conseguimos desenvolver um conjunto de ferramentas que oferecem a formandos e instituições parceiras uma garantia de elevada qualidade na formação e certificação disponibilizadas pelo IPOR: programas alinhados com os descritores do QECR para todas as formações, distinguindo entre programas globais, modulares, ponderados e parciais em função da natureza, público e objectivo de cada formação; instrumentos e critérios de avaliação de diferentes tipologias (colocação de nível, diagnóstico e avaliação de desempenho); exames próprios de certificação, reconhecidos pelas instituições oficiais de Macau, em consonância com a estrutura e objectivos dos exames do sistema de certificação CAPLE. Antes dessa reestruturação, este curso não conseguia atribuir ao alunos uma certificação que respeitava o conjunto de competências comunicativas definidas no QECR? Na análise que fizemos com a direcção, o que sentimos é que a organização modular não respondia às necessidades actuais e criava fragilidades que importava corrigir. O que fizemos foi precisamente assegurar que elas seriam reduzidas ao máximo, o que passava por adoptar o Quadro como referência quer para a elaboração dos programas, quer para a organização curricular das formações, quer para todas as certificações correspondentes. Qual a oferta que neste momento o IPOR tem para quem queira aprender a Língua Portuguesa? Embora o Curso Geral seja, de facto, o curso mais antigo e também aquele que reúne o maior número de alunos, a oferta formativa da instituição alargou-se de forma substancial nos últimos três anos, ajustando-se ao alargamento que igualmente se verificou ao nível das instituições com as quais o IPOR coopera actualmente. Para além do Curso Geral, o IPOR oferece ainda o Curso de Português Língua Não Materna para Crianças e Jovens (nível A1 a B1), cursos gerais intensivos de nível A1 e B1 e cursos intensivos de conversação. Para além deste núcleo central de formações, o IPOR desenha e coordena ainda um número crescente de formações, gerais e específicas, promovidas por mais de uma dezena de instituições parceiras, entre elas três instituições de ensino superior. Relativamente às cooperações, há pouco tempo a Liliana deslocou-se à Austrália. Em que consistem estes acordos? Porque são uma mais valia? A direcção do IPOR tem desenvolvido vários contactos no sentido de dar corpo a recomendações que têm vindo a ser formuladas em Assembleias Gerais pelos Associados da instituição, que, por norma, partilha com os diferentes coordenadores das unidades orgânicas da instituição. Entre essas recomendações figurava a de conferir uma vertente regional à acção do IPOR. Desses contactos resultou a orientação conferida ao CLP de preparar e orientar uma formação na Austrália, que me coube a mim executar. Quando iniciou funções disse que um dos objectivos era reforçar a “interligação e da cooperação com as instituições da RAEM ao nível do ensino do Português enquanto língua estrangeira”. Conseguiu? O que se fez, ou está a fazer para que isto aconteça? O CLP participou, ao lado da direcção, no reforço, da interligação e da cooperação com as instituições da RAEM ao nível do ensino do Português língua estrangeira. Fizemo-lo, antes de mais, ouvindo as necessidades dessas instituições e alargando em conformidade a nossa oferta formativa para fins específicos. Dessa abordagem resultou um aumento muito significativo do número de formações prestadas. Veja, só para 2016 temos já confirmadas cerca de 40 formações. Foram ainda criadas novas parcerias e reforçadas as existentes. Por exemplo? O recente desenvolvimento de um programa de iniciação à Língua Portuguesa, em regime intensivo, para os funcionários públicos, por via do renovado protocolo com os Serviços de Administração e Função Pública. Iniciámos também uma colaboração com o BNU, desenvolvendo um programa de formação linguística especificamente destinado aos seus trabalhadores. No Instituto de Formação Turística, para além das cinco disciplinas curriculares de Língua Portuguesa que já assegurávamos, passaremos brevemente a assegurar duas outras disciplinas curriculares e iniciámos este mês o primeiro de um conjunto de três cursos para a área do turismo, sendo que, em ambos os casos, a certificação será conjunta. Ou seja, pela primeira vez teremos uma certificação conjunta com uma instituição de ensino superior. O IPOR tem ganho ou perdido alunos? Qual é o crescimento dos dados relativamente às matrículas? Tenho sempre alguma dificuldade em compreender esta obsessão com os números porque não consigo deixar de sentir que a ela está subjacente a ideia de que o balanço a fazer sobre a intervenção do CLP deve assentar exclusivamente no aumento ou diminuição do número de alunos na sua oferta própria. É óbvio que este é um dado importante e, felizmente, os números têm-nos sido favoráveis. Mas como acabei de explicar, o contributo desta unidade orgânica do IPOR para o cumprimento da missão da instituição vai muito além daquilo que é a sua oferta formativa. Compreende, também, o desenvolvimento de projectos de formação dirigidos aos docentes do IPOR e de instituições do sistema educativo da RAEM e da região Ásia-Pacífico. É nesse contexto que surgem, por exemplo, as formações para docentes que temos desenvolvido no âmbito do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo sobre a preparação de candidatos para a certificação CAPLE. Na esfera de acção do CLP recai também, em estreita articulação com a direcção, a supervisão de projectos editoriais de suporte às formações de PLE e de acções de promoção da língua portuguesa. O IPOR lançou já o Guia de Conversação Chinês-Português e tem em fase de conclusão três outros projectos editoriais de grande significado. Em 2015, foi realizado também um Encontro de Pontos de Rede na Ásia, para o qual contámos com a participação de leitores de sete países e o contributo de colegas de instituições de ensino superior locais. Tem-se feito muita coisa, mas como é que o IPOR se pode tornar atraente para novos e mais alunos? Creio que o IPOR já é atraente para quem, na RAEM, deseja aprender português. De qualquer forma, a capacidade de qualquer instituição depende sempre da sua capacidade de se manter atenta àquelas que são as expectativas e as motivações de quem as procura. No IPOR, uma dos mecanismos que encontrámos de manter essa atenção passa, por exemplo, pelo inquérito de avaliação pelos formandos de todas as formações que assegura. Quais os planos futuros para o IPOR? Há a possibilidade de se expandir em termos e infra-estruturas? Como compreenderá, não me pronunciarei sobre matérias que são da exclusiva competência da direcção do IPOR e da sua Assembleia Geral. O que posso dizer, é que foi para mim um privilégio ter tido a oportunidade fazer parte do presente desta Instituição. Quanto ao futuro, enquanto se mantiver a orientação estratégica seguida nos últimos quatro anos, estarei sempre disponível para dar os contributos que me sejam solicitados, ainda que à distância. Considera que é dada a devida importância à nossa língua na RAEM? As pessoas estão sensibilizadas para a oportunidade que têm em aprender esta língua? A língua é de todos os que a falam e o espaço que ocupa nas suas vidas depende muito daquela que é a sua motivação de base para exercer cidadania nesse espaço linguístico e cultural. Deu aulas em África, agora está na Ásia. Como é ensinar a mesma língua mas em culturas tão diferentes? O processo de aquisição e aprendizagem de uma língua, diz-nos toda a literatura disponível, é o mesmo em todos os continentes. O que muda é o estatuto que a língua assume em cada contexto – tipicamente língua segunda nos PALOP e língua estrangeira na Ásia – e, consequentemente, a relação que o aprende estabelece com ela. Sai com a sensação de dever cumprido? Sim, e a isso não é alheio, nem o apoio que sempre tive da direcção, nem o empenho com que sempre contei por parte do corpo docente do IPOR e pessoal administrativo. Mas saio, acima de tudo, com a absoluta convicção de que a viagem é a recompensa do caminho.
Hoje Macau SociedadePortuguês | IPOR quer afirmar Macau como centro de promoção [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) quer contribuir para a afirmação de Macau como centro de promoção do Português na Ásia, voltando a assumir um papel na coordenação de projectos de promoção da língua na região. Em declarações aos jornalistas, João Neves, director do IPOR, salientou o posicionamento estratégico da Macau na região Ásia-Pacífico para a consolidação do ensino da Língua Portuguesa e, por outro, como centro de desenvolvimento de conhecimento e de materiais de apoio, áreas nas quais o Instituto está igualmente empenhado. O director do IPOR falava à margem do Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Português Língua Estrangeira na Ásia, que ontem teve início nas instalações do Consulado Geral de Portugal em Macau com a participação de docentes radicados em Goa, Pequim, Seul, Banguecoque, Hanói, Xangai e Jacarta. “Queremos contar com estes leitores, e, por via deles, estreitar, no futuro, também as ligações às universidades de onde provêm e a outros agentes de promoção do Português nesses países”, explicou. Para João Neves é fundamental “convocar estes saberes que estão disseminados por estes países na região (…) para projectos em conjunto que cumpram objectivos comuns, por exemplo, de elaboração de materiais para as novas plataformas tecnológicas ou para os fins específicos que estão na base da procura do Português na região”. A estes oito leitores, que integram a rede do Camões I.P., João Neves acrescentou os 11 docentes do IPOR (e a colaboração de professores de escolas oficiais de Macau e de universidades locais), referindo tratar-se de um núcleo de enorme qualidade, “cujas experiências queremos pôr em partilha e potenciar”. Difícil e em Inglês Ensinar Português na Ásia nem sempre é tarefa fácil como salientou Pedro Sebastião, destacado na Universidade de Hanói, onde a licenciatura de Português “é recente e tem a nota mais baixa para entrada na universidade”. Apesar dos 200 alunos, Pedro Sebastião, que é acompanhado por seis professores vietnamitas, reconhece um interesse económico no Português já que o Brasil, Angola ou Moçambique possuem embaixadas no Vietname e pretende encontrar estratégias que motivem alunos “pouco trabalhadores” e com “receio de enfrentarem dificuldades”. Em Jacarta, a João Soares faltam professores já que, sendo o único, tem entre cem a 150 alunos por semestre, mas vinca que “há um grande potencial de crescimento” num país onde a grande dificuldade é colocar em prática o que se aprende na aula. Por outro lado, acrescentou, a estratégia de divulgação “teria a ganhar” se, pelo menos no nível de iniciação, os manuais estivessem em Inglês, a primeira língua de contacto entre professor e aluno. Com maior implantação, o ensino do Português em Goa continua em desenvolvimento e tem anualmente cerca de 1500 alunos a aprender, dos quais 200 na universidade e 700 nas escolas secundárias. Apesar do número de professores ser superior a 25, Delfim Correia da Silva salienta que encontros como o de Macau e a partilha de experiências entre os docentes de vários países “são fundamentais para o desenvolvimento da língua” e para que os professores trabalhem de frente e não de costas voltadas.
Hoje Macau EventosIPOR | Encontro sobre Português na próxima semana [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) é palco, este mês, do Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Língua Portuguesa na Ásia, “uma acção estratégica” na promoção do Português na região, defendeu o director do IPOR, João Neves. “O IPOR volta a conferir, por recomendação dos seus associados, uma dimensão regional à sua acção, na coordenação de projectos de promoção da Língua Portuguesa e vamos, nesse sentido, reunir em Macau representantes da rede de Ensino de Português no Estrangeiro da Coreia do Sul, Índia, Indonésia, China, Tailândia e Vietname”, explicou João Neves. Definir estratégias Para o director do IPOR, este encontro, que decorre entre 10 e 12 de Setembro, é, desde logo, “extremamente importante para uma partilha de experiências e de abordagens ao ensino da língua e da cultura” e, por outro lado, uma “forma de conhecimento das realidades de cada contexto que é fundamental para a definição de uma estratégia colaborativa em torno da formação em Língua Portuguesa”. O encontro de Macau tem, assim, como principais objectivos “partilhar reflexões e experiências de ensino de Português como língua estrangeira nos diferentes contextos e, sobretudo, promover a criação de uma rede que coloque em interacção agentes de promoção do Português nestes países, focada no desenvolvimento de projectos e actividades colaborativas”, disse. João Neves acrescentou também que esta intervenção do IPOR, que conta com a colaboração do Instituto Camões, se insere no “compromisso assumido pela instituição e os seus associados de procurar fornecer contributos ao reforço do papel de Macau como plataforma para o ensino do Português na região Ásia-Pacífico e âncora para redes de colaboração envolvendo diferentes actores regionais”.