4G | Instalação concluída em Macau, garante CTM

A CTM garante que dentro de dois meses os usuários já poderão aceder à rede 4G em pleno, com preços ainda mais em conta. Na outra face da moeda, está a MTEL que pede ao Governo maior rapidez. Em causa está a sua própria sobrevivência

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) anunciou, na sexta-feira, ter concluído a instalação da rede 4G no território e garante que o investimento equivalente a 600 milhões de patacas, irá permitir uma cobertura exterior de 98%.
A CTM – a par da China Telecom, Smartone e Hutchinson – foi uma das quatro empresas seleccionadas para instalar e explorar a rede 4G em Macau. A operadora avançou que o investimento serviu ainda para melhorar os serviços de 3G e 2G, redes que irão permanecer activas no território.
No exterior, a CTM refere que vai garantir uma velocidade de download de 112 Mbps contra os 42 Mbps possíveis na rede 3G.
De acordo com a Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações (DSRT), o arranque das operações das quatro operadoras terá de acontecer ainda este ano com, pelo menos, 50% de taxa de cobertura garantida, sendo que os restantes 50% terão de estar operacionais no início de 2016. A CTM garantiu que o serviço estará disponível dentro de dois meses, e será, adiantou, mais barato que o serviço antigo, ou seja, o de 3G.
A CTM explica ainda que a tecnologia 4G irá “permitir ampliar o conjunto de serviços possíveis no segmento das telecomunicações” garantido pela maior rapidez de transmissão de dados.
Instalada a rede 4G, a CTM mantém pontos de testes nas suas lojas e está a ultimar os testes de rede para lançar os novos produtos no mercado.

MTEL quer sobreviver

Ainda dentro do mundo das telecomunicações,  a operadora MTEL afirmou que já recebeu mais de cinco mil pedidos de serviço de internet, mas como o Governo só autorizou 10% das obras necessárias das estradas para se colocar a rede, a resposta tem sido muito aquém do que o próprio Governo definiu. O director da Companhia de Telecomunicações de Mtel, Michael Choi, referiu ao Jornal Ou Mun que o maior desafio, para corresponder aos cinco mil pedidos, é começar as obras nas estradas. “Actualmente foi aprovada menos de 10% da construção necessárias, nas nossas estradas, para colocar a rede, contudo, segundo os próprios regulamentos de licenças emitidos pelo Governo, a taxa de abrangência da rede devia atingir 40% em Macau, e no final do ano 50%. A realidade está desfasada com o plano original, porque o progresso das obras não está a corresponder à necessidade, não está a ser rápido. Michael Choi acrescentou ainda que este problema de rede traz limitações à operação da companhia, pois quando os clientes quiserem comprar os serviços não o vão poder fazer. O director não esconde a vontade de uma solução e acção rápida por parte do Executivo, esperando que este compreenda que para além da operadora em causa precisar de cumprir os regulamentos, precisa, principalmente, de sobreviver.

24 Ago 2015

Ciberespaço | Criado programa para “diminuir dependência da internet”

[dropcap style=’circe’]“[/dropcap]Weconnect” é o tema do novo programa piloto criado pelo Gabinete Coordenador dos Serviços Sociais Sheng Kung Hui, que conta com apoio do Instituto de Acção Social (IAS) para ajudar jovens viciados na internet a minorar esta dependência. A este grupo, o colectivo de trabalho chama de Jovens Anónimos.
Numa conferência de imprensa realizada ontem, a chefe do Gabinete, Hoi San Ieng e a assistente social Cabell Hoi apresentaram o programa. Também a chefe da Divisão de Infância e Juventude do Instituto de Acção Social, Lao Kit Im interveio, lembrando que o IAS realizou uma investigação, em 2010, sobre a situação dos jovens anónimos em Macau, sem esquecer uma outra sobre as razões que levam a esta dependência do mundo online, realizada em 2012. Os resultados mostram que os jovens que levam uma vida sedentária e são viciados na internet podem ver o desenvolvimento dos seus estados físicos e psicológico alterados. Também a carreira e o estudos podem ser fortemente afectados.

[quote_box_right]“Preferia jogar no computador e experienciei um ano inteiro sem sair de casa nem contactar com outras pessoas e outras vezes jogava durante dois dias seguidos sem dormir”, A Wa, jovem dependente da net[/quote_box_right]
“Para reforçar a atenção, prevenção e os serviços prestados aos jovens anónimos e viciados na internet, o IAS escolheu o Gabinete Coordenador dos Serviços Sociais Sheng Kung Hui para realizar o programa piloto, com o objectivo de aumentar não só a sensibilização para uma vida saudável, como também para uma maior atenção ao comportamento dos filhos”, referiu Lao. A responsável disse ainda que o IAS vai fazer a avaliação e o acompanhamento do programa para obter dados importantes que servirão de referência.
A chefe do gabinete Hoi San Ieng citou dados dos inquéritos do IAS, mostrando existir cerca de 70 Jovens Anónimos entre 12 a 24 anos, mas os mesmos avançam que outros 1700 “podem ou têm potencial de vir a pertencer a este grupo”. Quanto à dependência da internet, os números revelam que 22,6% dos jovens já estão viciados nas redes sociais. Segundo uma investigação feita pelo mesmo Gabinete em Fevereiro passado, já existem cerca de 25 a 37 mil jovens com este tipo de vício. Conferência Internet
Cabell Hoi assegura: caso cinco ou mais questões tenham resposta positiva, há potencial de se ser viciado na internet. A assistente social acrescentou que o programa destina-se a jovens entre os 10 e os 24 anos que ficam sozinhos em casa e não participam nas actividades sociais nem mantêm comunicação com terceiros. É que, explica, este tipo de vício influencia a emoção, estudo e trabalho. Os serviços principais que o programa piloto presta incluem visitas às famílias de Jovens Anónimos, oferecendo aconselhamento tanto aos viciados como aos seus familiares. Além disso, os assistentes sociais vão, também através da internet, contactar os jovens como forma de intervir directamente no problema. O Facebook, Wechat e Whatsapp são três das plataformas escolhidas.

Exemplo verdadeiro

A Wa foi convidado pelo Gabinete para partilhar a sua história enquanto Jovem Anónimo. Tem 23 anos e é croupier, mas quando tinha 14 anos envolveu-se numa série de conflitos com os colegas e desde aí não quis mais fazer amigos nem sair de Macau. “Preferia jogar no computador e experienciei um ano inteiro sem sair de casa nem contactar com outras pessoas e outras vezes jogava durante dois dias seguidos sem dormir”, contou. A Wa não tinha boas relações familiares e a mãe queria que ele tratasse a sua dependência, mas o jovem não queria.
“Só quando os assistentes sociais do Gabinete Coordenador dos Serviços Sociais Sheng Kung Hui me contactaram é que participei em actividades no exterior e, passo a passo, fui jogando cada vez menos no computador e arranjei um trabalho. Acho que o aconselhamento dos pais é muito importante porque deram-me motivação para deixar o vício, não fugindo aos problemas através da internet”, rematou.

19 Ago 2015

The Boys from Macau 2.0

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á duas semanas atrás aprendi que não devo abordar publicamente temas relativos à tutela onde outrora trabalhei, pois corro o sério risco de ser mal interpretado, conforme aconteceu com uma entrevista recente que dei. Tal foi a coisa que o Macau Concealers (*) até se deu ao trabalho de traduzir para chinês afirmações minhas tiradas fora do contexto e que, deste modo, se tornaram bombásticas e incoerentes com a minha pessoa. Conclusão: tive direito a uma valente sova no Facebook.

É pena, pois até gostava de abordar de uma forma construtiva a 3ª fase de auscultação pública do Plano Director dos Novos Aterros e dizer o que penso da proposta que é ora colocada para discussão.

Fica para outro dia. Mudemos de assunto.

Quando era miúdo, uma coisa que me dava particular prazer era acompanhar as histórias antigas de Macau contadas pelos amigos dos meus pais e avós. Uma que me despoletou particular interesse foi contada pelo tio Joca (**) no Solmar.

O tio Joca, tal como muitos macaenses nascidos na primeira metade do século XX, viveu e trabalhou uma temporada em Hong Kong.

[quote_box_left]A nossa hibridez cultural tanto pode beneficiar como prejudicar a nossa imagem e reputação, pelo que se torna fundamental sabermos onde nos queremos ou devemos posicionar do ponto de vista civilizacional[/quote_box_left]

Se o caríssimo leitor desconhecia esse fenómeno, fique então a saber que, nos tempos coloniais, chegou a existir uma forte presença portuguesa na vizinha cidade de Hong Kong. Sobre esse tema existe, inclusivamente, um livro muito interessante, da autoria de Luís Andrade de Sá, intitulado “The Boys from Macau” (***). Conforme se lê na contra-capa dessa publicação:

“ (…) Foi a Macau e aos seus portugueses que os britânicos recorreram para criar a administração pública e para montar as companhias comerciais quando foi fundada a nova colónia, em 1841. (…) Havia portugueses em todos os sectores – na justiça e na banca, na função pública, de armas na mão em defesa da colónia, no desporto, nos jornais e nas igrejas. (…) ”

O tio Joca trabalhou na banca em Hong Kong. No Solmar, enquanto tomava café com os meus pais e o meu avô Lourenço, contou-nos como na entrevista de trabalho foi posta à prova o seu domínio da língua inglesa; os calafrios que sentiu no primeiro dia de trabalho, quando engolido pelo grandioso lobby de entrada do banco; e, ainda, o bom relacionamento que conseguiu logo estabelecer com os executivos do banco, todos eles britânicos, de quem mereceu rapidamente a confiança, traduzindo-se em promoções sucessivas que inevitavelmente criaram inveja interna.

Assim termina a história do tio Joca? Não. As boas histórias têm sempre um final potente e essa não foge à regra. Mas já lá vamos.

Conforme é já sabido, recentemente desvinculei-me da função pública para aceitar um novo desafio numa das operadoras da indústria do jogo.

Tendo iniciado as novas funções há cerca de dois meses, algo que me surpreendeu desde logo foi o número de portugueses e de macaenses que trabalham na empresa. Foi para mim uma verdadeira e agradável surpresa.

Todos os dias falo português com alguns colegas meus e ouço falar português quando me cruzo nos corredores da empresa com funcionários portugueses e macaenses, sendo que alguns até conheço dos tempos do Liceu. Trata-se de um ambiente muito diferente do da função pública onde trabalhei nos últimos 12 anos.

Não pretende esta ser uma crítica ao Governo face ao reduzido número de portugueses que se tem vindo a contratar ou à falta de uso da língua portuguesa na administração pública. Nesse aspecto fui sempre muito frio e realista. Há coisas que temos de aceitar e essa é uma delas.

Com a excepção das áreas da justiça e do Direito, onde a presença da língua portuguesa é forte pelas razões óbvias que nem vou aqui mencionar, temos de aceitar que, com a transferência de poderes e a localização dos cargos de chefia, o chinês passou necessariamente a ser a língua veicular de trabalho. E com isso, naturalmente, a estratégia de contratação de pessoal tomou outro rumo e, acrescente-se, a cultura de trabalho passou também a ser outra. Para o bem e para o mal.

Precisamente por essa razão, pese embora tenha sido funcionário público ao longo de tantos anos, aos meus conterrâneos acabados de regressar do estrangeiro com um canudo na mão, sempre os aconselhei a procurarem alternativas na privada.

Sobretudo se não forem bilingues em pleno, com perfeito domínio oral e escrito da língua chinesa, pois actualmente o nível de exigência é outro. O chinês de rua, do tai má ti, chu tak ng chu tak, que antigamente servia para desembaraçar as chefias portuguesas, já hoje não serve.

Não tenho nada contra o Governo – que, aliás, foi para mim uma grande escola. Apenas me parece que está na altura de nós, portugueses em geral e macaenses em particular, abandonarmos a ideia de que na procura de emprego em Macau devemo-nos virar única e exclusivamente para o Governo.

E que o Governo tem a obrigação de nos contratar.

As coisas mudaram e temos de nos adaptar. A transferência de poderes e a abertura da indústria do jogo criaram um novo cenário. E se a função pública, antigamente, absorvia em grande quantidade a malta portuguesa e macaense, atrevo-me a dizer que, de certa forma, esse papel tem vindo a ser progressivamente desempenhado pela indústria do jogo, ainda que numa escala diferente.

Posso estar enganado pois ainda sou muito novo nessa área. No entanto, quer me parecer que poderão estar aqui novamente reunidas condições para demonstrarmos a nossa utilidade, embora num ambiente culturalmente mais diversificado e profissionalmente mais sofisticado e competitivo, onde o inglês é a língua principal de trabalho. Uma espécie de The Boys from Macau, versão 2.0.

Aparentemente, a nossa presença já se faz sentir. Ainda no outro dia fui apresentado da seguinte forma a um executivo da empresa: “This is Andre. He’s one of those locals who speaks all languages.”. Um reconhecimento dessa nossa particular qualidade e, simultaneamente, uma descrição simples e rápida do ser Macaense.

Voltando então à história do tio Joca. Num belo dia de trabalho, o tio Joca vê-se repentinamente confrontado pelos executivos do banco por terem recebido a seguinte queixa: alegadamente, terá ido jantar com alguns chineses a uma tasca onde se servia carne de cão.

Sentindo-se provocado e ofendido com a situação, por se ter apercebido do verdadeiro problema em questão, o tio Joca confirmou categoricamente essa ocorrência aos executivos, assumindo orgulhosamente a sua (outra) identidade cultural.

Eram tempos diferentes e os executivos, naturalmente, não ficaram bem impressionados com essa atitude. Calculo até que se tenham sentido de alguma forma traídos. O que é certo é que a partir desse dia as relações azedaram e não houve mais promoções.

Moral da história? A nossa hibridez cultural tanto pode beneficiar como prejudicar a nossa imagem e reputação, pelo que se torna fundamental sabermos onde nos queremos ou devemos posicionar do ponto de vista civilizacional.

Não me canso de afirmar que nós, Macaenses, somos uma grande contradição. Controlar a percepção que os outros têm de nós não é tarefa fácil. Contudo, é estrategicamente fundamental. Não existe uma fórmula universal para isso, pois trata-se de uma questão muito pessoal. Mas, antes de mais, somos nós próprios que temos de perceber quem somos e como queremos ser vistos pelos outros.

O problema é que tudo depende de que lado da cama acordamos.

Sorrindo Sempre

Tive duas semanas monocromáticas, nada de especial que mereça registo aqui neste espaço quinzenal. Assim, na ausência de uma história colorida para aqui contar, desta feita o Sorrindo Sempre assume um formato diferente, com rapidinhas curtas e boas:

Portanto, sorrindo sempre quando:

• Resisto à tentação de atropelar turistas que atravessam a rua de qualquer maneira;
• Mal as portas do elevador se abrem, pessoas cheias de pressa entram na cabine antes de me deixar sair;
• Sou tratado por “Sr. Engenheiro”, esclareço que sou arquitecto e respondem-me na tentativa absurda de remediar o embaraço: “mas engenheiro é melhor!”;
• Conterrâneos meus tentam convencer-me a tirar o wui heong cheng (****) afirmando com firmeza que ao portador desse documento não é atribuída a nacionalidade chinesa, pese embora na imigração fazerem fila para o guichet “chinese nationals”, e isto apenas para não mencionar o que vem contemplado nos diplomas legais aplicáveis que tive o cuidado de estudar;
• Deparo-me com ilustres que falam em termos absolutos e fazem acusações graves, quando na verdade não têm conhecimento de facto sobre o assunto em discussão;
• Estou carregado de compras e as chaves estão no bolso que dá menos jeito;
• …

Sorrindo sempre.

(*) 愛瞞日報 , espaço no Facebook onde são abordados temas locais de forma conspiradora e sensacionalista.
(**) Nome fictício.
(***) Edição da Fundação Oriente / Instituto Cultural de Macau. ISBN 972-9440-93-X.
(****) Salvo-conduto emitido pelas autoridades chinesas.

10 Jul 2015