Sara F. Costa Artes, Letras e IdeiasGinásio Mental Li num artigo que a geração Z vai mais ao ginásio. Alcançar uma aparência física desejável beneficia a auto-estima e outra coisa que faz muito bem também é produzir mais likes no Instagram. Conseguir bons ângulos para posar em frente a um telemóvel. Possuir determinados objetos que fazem de nós seres civilizados. Alcançar objetivos que nos atribuam valor, mas, acima de tudo, que sejam visíveis. Passamos de um período a que Walter Benjamin definia como “o culto da arte” para “a arte exibicionista”. Em “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” ele vai mais longe, chegando mesmo a concluir que qualquer forma de exibição é necessariamente ideológica. Distraidamente ideológica. Afinal, que tipo de pensamento político se consegue expor num post do twitter para além de ideologia pura e dura sem qualquer nuance? E esta personagem que criamos de nós mesmos, o que é que estamos exatamente a vender ao reproduzir mensagens simplificadas até ao tutano? É este o nosso novo produto artístico, nós mesmos, num post? Porque eu quando penso em arte penso no “Quadrado Negro” de Kazimir Malevich. É uma obra que é uma provocação. É pensar a arte enquanto ausência. Ponderar sobre esta nossa existência tão livre que pode até ser tanto que não é nada. Um quadrado negro. É este nível de reflexão que exige algo que está a cair em desuso – a concentração e a deliberação . Num sistema onde um artista tem que se adaptar à forma mais eficaz de produção massiva, perde uma grande parte da sua autoridade enquanto criador. Já não é a arte que nos absorve, nós absorvemos a arte. O artista já não se consegue impor com autoridade porque esse esforço de ir ter com a arte torna-se impraticável. A nossa condição num sistema sócio-político obcecado com a produção material não nos permite parar. Ler ou ir a uma galeria de arte é um ato isolado que requer concentração e disponibilidade mental para que as formulações de ideias tenham densidade. Contudo, se essas várias facetas da vida produtiva nos deixam demasiado ocupados para deixarmos de percepcionar a arte a um nível individual (a arte visual, o livro) e a consumimos passivamente a um nível colectivo como o é o cinema Blockbuster, mas também o é o Instagram e o YouTube, onde vamos enfiar esta coisa massiva que é a subjetividade da experiência humana? Sentir a chuva a cair na pele não é a mesma coisa que ver uma foto da chuva a cair e também não é o mesmo que ver um vídeo da chuva a cair. A chuva a cair na pele só se pode viver, não se pode exibir. Todo este bem-estar físico e bem-estar mental não passa exclusivamente por uma cultura do exibicionismo. Não encontro a autenticidade de alguém numa selfie. Não compreendo em que altura deixamos de ser capazes de expressar a nossa mais profunda individualidade e começámos a criar, não como quem desafia, mas como quem devolve a todos a sua própria imagem. Ir ao ginásio faz bem mas não nos esqueçamos de treinar também os músculos da mente porque enquanto nos tornamos espectadores passivos de ideias, alguém está, certamente, muito ativo a criar todo o nosso pensamento por nós.
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteInstagram | Encontro no território pretende promover turismo internacional Macau no Instagram e fotografado pelos “melhores”. Foi a ideia do Turismo para trazer à região os melhores “iggers” de Portugal e juntá-los com os da terra, para que as imagens, para além dos casinos, possam circular pelo mundo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro “Instameet Macau” aconteceu no passado sábado. O encontro que normalmente convida os mais prestigiados “iggers” foi agora aberto ao público numa iniciativa do Turismo de Macau em Lisboa. No total, a iniciativa contou com 15 participantes entre locais, oriundos da China continental, portugueses e até de Marrocos que, com o seu olhar, contribuíram para dar a conhecer a terra além dos casinos. Em época de “diversificação do turismo da região, este foi um encontro que, aliado às novas tecnologias e tendências, pretendeu dar a conhecer a RAEM ao mundo”, afirma o organizador e representante dos escritórios do Turismo de Macau em Lisboa, Gonçalo Magalhães. Neste sentido, convidou duas referências portuguesas para uma semana no território de modo a que este fosse documentado de “outra forma”. A estadia de Ana Morais e Kitato, os “iggers” convidados, terminou com aquele encontro aberto que deixou nos participantes a sensação de “acontecimento a repetir”. Recepção ventosa Da semana que recebeu os instagrammers de Portugal, Gonçalo Magalhães faz um balanço “muito positivo”. “Apesar das adversidades que encontraram à chegada de Portugal, porque não só apanharam um, mas sim dois tufões, considero que não parámos de fotografar, de descobrir sítios e de procurar sempre mais coisas em Macau”. O encontro que marca o final da viagem, ao contrário do que tem sido feito pelo mundo fora, foi pela primeira vez, aberto a todos, o que resultou numa mistura de culturas que “não se esquece”. “O Turismo de Macau deu-nos a oportunidade de trazer aqui este encontro de “iggers” que, aliado ao P3 através do Luís Octávio Costa, proporcionou um bonito encontro cultural” descreve Ana Morais, convidada e representante da associação Gerador, ao HM, ainda profundamente impressionada com Macau. “Esta é a minha primeira experiência na Ásia e acho tudo maravilhoso”, explicou enquanto comentou que não se sentiu num país estranho. Outro ponto que a responsável pelos encontros refere é “forma simpática das pessoas acolherem os que vêm de fora”. Já Luís Octávio Costa vai de regresso a casa com a sensação de que Macau é a verdadeira terra de misturas e contrastes. “Vim, enquanto Kitato, e fui convidado pelo Turismo de Macau para fazer o que faço no instagram, ou seja, mostrar a minha perspectiva dos sítios por onde passo e não fazer os postais que normalmente se fazem das cidades” sendo esta a característica “mais interessante deste tipo de iniciativas”. Como também é editor do P3, as coisas acabam por se confundir e acaba por mostrar as galerias dentro da publicação. Para o “igger” um dos motivos a explorar na RAEM “são os prédios e os seus recortes e há muitas pessoas que vêm aqui para fotografar isso mesmo”. Por outro lado, “o que atrai em Macau a nível visual, e para o instagram, é a vida nas ruas e as suas pessoas, sendo que a plataforma obriga a descobrir estas coisas”. Ligados à cidade No encontro participou também o arquitecto residente Nuno Assis, já reconhecido pela actividade no instagram. “Este tipo de eventos é importante para a promoção das cidades”, diz. Apesar de não serem muito conhecidas na China, as promoções das cidades através do instagram, na Europa, já começam a ser uma opção tomada por muitas cidades”. Nuno Assis considera que “é importante a cidade e o Governo entenderem que este tipo de eventos são fundamentais para a promoção da cidade e para a aproximação com as pessoas”. Já Sam, vem da China continental a convite dos colegas que conhece via instagram. Ao saber do evento, não hesitou e juntou-se ao grupo . Para o “igger”, “é um evento muito positivo, não só como promoção do presente mas como “memória para o futuro porque Macau está a mudar muito e é bom ir registando os momentos para que fiquem nas recordações”, considera. As fotografias e os vídeos resultantes do encontro podem ser acompanhados no Instagram a partir das “hastags” #osfabulososinstameetsgerador, #gerador, #experiencemacaoyourownstyle, #wowmacau e #macau.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteFotografia | Macau participa no projecto mundial “A Nossa Língua” Pedro Santos é arquitecto e é um dos curadores do projecto online “A Nossa Língua”, que pretende recolher as melhores imagens da cultura portuguesa nos países lusófonos. O objectivo é recolher cem fotografias, que serão compiladas num livro e documentário [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]rrancou a 13 de Julho e é mais um projecto que pretende mostrar a presença da cultura portuguesa pelo mundo. Chama-se “A Nossa Língua” – no Instagram “@ nossa língua” – e teve origem no Brasil. Vai buscar ao Instagram as melhores imagens que mostram o lado português dos lugares onde ainda se fala a língua de Camões. Há sete curadores, um por região lusófona, responsável por seleccionar as fotografias e enviá-las para a curadoria geral, no Brasil. Em Macau, o arquitecto Pedro Santos, que no Instagram tem a conta @pedrosmithson, é o nome por detrás da recolha das imagens a Oriente, tendo sido convidado pela equipa principal no Brasil. “O que mais fotografo cá é o espaço urbano, fico fascinado pela dimensão e intensidade da cidade, o rendilhado dos edifícios. Mas eu estou apenas como curador, a servir de júri para as fotografias. Qualquer pessoa de Macau pode participar no projecto, basta seguir o projecto no Instagram e eu depois escolho as fotografias, através da hashtag. Depois mando as fotos para a curadoria geral, no Brasil, sendo que cada curador tem direito entre dez a 20 fotografias”, diz ao HM. Pedro Santos confessa que, por enquanto, a participação de Macau tem sido pouca. “O que eu procuro são fotografias de Macau que sejam próprias da minha linguagem, que me sejam apelativas. Tenho encontrado algumas fotografias bastante interessantes, embora de Macau ainda sejam poucas.” Fotografia de Pedro Santos Os temas vão sendo lançados, sendo que a Missão Terra acabou há dois dias e agora os participantes terão de responder ao apelo da Missão Casa, o qual dura até ao dia 26 de Julho. “Quanto mais for divulgado e quanto mais pessoas conseguirmos captar tanto melhor, porque mais rico fica o catálogo.” Pelo lado global do projecto, Pedro Santos diz que ainda não é possível saber mais detalhes do livro e documentário. “Vai ser feito um livro com fotografias e será feito um documentário, embora não saiba ainda em que moldes será feito. Um projecto desta dimensão é sempre difícil, é a nível mundial, e por isso o documentário ainda estamos a ver o que é que podemos fazer.” Com cerca de oito mil seguidores, um “número absurdo”, Pedro Santos diz que não há outro lugar onde a arquitectura espelhe tanto uma cultura. “Aquilo que mais procurarei é a herança portuguesa e, se possível, o contraste ou a forma como se enquadra no panorama geral de Macau e como funciona bem com toda a arquitectura chinesa. É importante um projecto como este, porque acho que em termos de cultura e imagem uma das coisas mais importantes que Macau tem é a arquitectura. Tinha esperança de encontrar mais costumes portugueses, mas tenho vindo a perceber que a arquitectura é mais fácil.”