Tailândia | Resgatadas oito das doze crianças presas em gruta

No domingo, as equipas de resgate conseguiram retirar quatro dos 12 elementos da equipa de futebol Wild Boars que ficaram presos na gruta Tham Luang, situada na província de Chiang Rai, no Norte da Tailândia. Ontem, até à hora do fecho da edição, foram resgatadas mais quatro crianças, antes das operações voltarem a ser suspensas

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades tailandesas confirmaram ontem que foram retirados mais quatro rapazes da gruta na Tailândia, num momento em que foram suspensas as operações de resgate do grupo. Citado pela AP, um oficial da marinha tailandesa confirmou que são oito o total de crianças resgatadas com vida da gruta.

As autoridades tailandesas têm recusado prestar informações aos jornalistas, mas várias testemunhas indicam que pelo menos quatro ambulâncias saíram hoje do perímetro de segurança em torno da zona de entrada na gruta.

As oito crianças que foram resgatadas na Tailândia estão bem de saúde, disseram ontem as autoridades numa conferência de imprensa.

Poucas horas depois de ter começado a segunda fase da operação de resgate, as autoridades tailandesas disseram que a chuva que caiu durante a noite não mudou o nível da água na gruta, onde quatro crianças e o treinador ainda permanecem. No total, ontem foram salvas quatro crianças.

“A segunda operação começou pelas 11h locais [de ontem]”, disse à imprensa o chefe da unidade de crise. Narongsak Osottanakorn, líder da equipa de resgate que tentou ontem retirar o grupo preso na gruta inundada assegurou que anunciaria “boas notícias em poucas horas”.

“Em poucas horas teremos boas notícias” para anunciar, garantiu. Os quatro primeiros rapazes a sair da gruta no domingo, numa operação urgente e perigosa, tiveram de mergulhar e atravessar diversas passagens apertadas e tortuosas da caverna.

Os jovens estão ainda a ser submetidos a diversos exames médicos no hospital e ainda não estão autorizados a entrar em contacto directo com a família. Devido ao perigo de infecções, só puderam ver os familiares através de uma divisória de vidro.

Manhã sem chuva

Uma manhã sem chuvas fortes, depois de uma noite que fez justiça ao tempo das monções que se vive neste período no Sudeste Asiático, afastou os piores receios das autoridades tailandesas.

Manteve-se o silêncio sobre a missão de resgate das crianças e do treinador que se encontram ainda aprisionados numa gruta em Mae Sai, bem como sobre o nível da água em algumas das passagens subterrâneas, mas nas declarações da manhã de ontem, o ministro do Interior da Tailândia disse haver expectativas quanto ao sucesso da missão.

Anupong Paojinda não só informou que são os mesmos mergulhadores que estão a tentar executar a extracção, uma vez que conhecem já o caminho, as condições da gruta e o que fazer, mas também que as crianças estão saudáveis, embora estejam a ser realizados exames médicos mais detalhados.

A cerca de dois quilómetros da gruta, cuja aproximação está proibida desde domingo a cerca de uma centena de jornalistas de uma dezena de países que estão ‘acampados’ num centro de imprensa improvisado pelas autoridades, é possível observar que pelo menos um helicóptero está a ser utilizado na missão e assiste-se a um corrupio de elementos que integram a operação de salvamento, que se dirigem ao espaço que fornece apoio logístico.

O grupo encurralado é composto por jogadores, com idades entre os 11 e os 16 anos, e o treinador, de 25 anos. Os 12 rapazes e o treinador foram explorar a gruta depois de um jogo de futebol no dia 23 de Junho.

Na altura, as inundações resultantes das monções bloquearam-lhes a saída e impediram que as equipas de resgate os encontrassem durante nove dias, uma vez que o acesso ao local só é possível via mergulho através de túneis escuros e estreitos, cheios de água turva e correntes fortes.

Nas operações de socorro participam 90 mergulhadores, 40 tailandeses e 50 estrangeiros. O local onde os jovens ficaram presos situa-se a cerca de quatro quilómetros da entrada da gruta, num complexo de túneis com zonas muito estreitas e alagadas pelas chuvas da monção que afectam a zona, o que obriga a que parte do percurso tenha de ser feito debaixo de água e sem visibilidade.

Grupos de quatro

A ministra dos Negócios Estrangeiros australiana disse acreditar que os jovens retidos numa gruta na Tailândia vão ser retirados em grupos de quatro. Em declarações ao canal de televisão australiano Nine Network, Julie Bishop saudou o resgato de quatro das crianças, no domingo, referindo que quase 20 australianos estão a participar na complexa operação de resgate na gruta inundada de Tham Luang, no norte da Tailândia.

“É altamente perigoso, é muito precário e os nossos pensamentos estão não apenas com os meninos, mas também com as equipes de mergulho e resgate que estão a ajudar”, disse Bishop. A ministra disse que as lições da operação inicial seriam aplicadas nas operações subsequentes.

“É uma notícia maravilhosa e estamos muito aliviados que os quatro meninos tenham sido retirados. Mas o facto de ter levado tantas horas sublinha o quão precária é toda essa missão”, afirmou na governante antes do resgate de mais cinco crianças.

Mergulhadores da Polícia Federal Australiana e da Força de Defesa, juntamente com o anestesista e mergulhador de cavernas Richard Harris, fazem parte da equipa australiana que está envolvida no resgate. Bishop disse que Harris estave envolvido na avaliação médica que determinou que os quatro primeiros meninos estavam aptos o suficiente para nadar para a liberdade.

Déjà vu

O drama do resgate dos mineiros na Tasmânia, Austrália, e no Chile está ‘vivo’ na mente dos povos daqueles países, tornando inevitável a comparação durante a cobertura dos ‘media’ que acompanham na Tailândia o dramático resgate das crianças presas numa gruta, sublinham jornalistas no local.

Antes da conferência de imprensa das autoridades tailandesas para actualizar a informação sobre o estado das crianças e do treinador de futebol presos numa gruta em Mae Sai, na província a norte de Chiang Rai, a jornalista que faz a cobertura para o Canal 12, no Chile, faz questão de destacar, em directo, o que aproxima estes dois casos, apesar da distância geográfica.

À agência Lusa, Flávia Cordella disse que “este caso na Tailândia tem muitas semelhanças com o que se passou no Chile em 2010 com os mineiros”.

“No nosso país tivemos cerca de 70 dias com 33 pessoas debaixo de terra, e todos olharam para o norte do país para assistir à melhor forma de [executar] o resgate”, explicou, salientando que, então, “também se trabalhou arduamente para salvar e para encontrar o melhor caminho” para as operações de socorro.

“Com estas crianças, a [história] é-nos muito próxima”, concluiu a jornalista daquele canal de televisão.

Mesmo 12 anos depois, o repórter do Canal Dez australiano Daniel Sutton garantiu que o drama dos dois mineiros aprisionados após um sismo sentido na Tasmânia ainda está muito ‘vivo’ na mente da população daquele país.

As operações, que demoraram cerca de 15 dias, e o facto de no caso da Tailândia envolver crianças justificam toda a atenção noticiosa mundial, defendeu. “Na mente de todos os australianos, neste momento, está o que aconteceu na Tasmânia há 12 anos. (…) Houve um pequeno sismo e a mina ruiu sobre eles: 14 conseguiram escapar, um morreu, mas dois ficaram presos dentro da mina. E levou duas semanas para esses dois homens serem resgatados”, recordou Sutton.

“Por isso, muitos de nós [australianos] pensamos hoje no que se passou na Tasmânia quando olhamos para estes jovens rapazes na Tailândia. O desfecho foi positivo para esses dois homens na Tasmânia e esperamos que o mesmo suceda aqui, na Tailândia”, disse, confiante.

As idades das crianças reforçam o interesse, acrescentou. “O facto de ter criado o impacto nas pessoas um pouco por todo o mundo e na Austrália é porque estamos a falar de crianças. Todos os países adoram crianças e não interessa em que parte do mundo é que estes rapazes estão. São crianças e precisam de estar em casa com as suas famílias”, sentenciou.

Reportagem de João Carreira, da agência Lusa (com edição)

10 Jul 2018

Tailândia | Confirmado resgate de quatro crianças presas em gruta

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] líder das operações de resgate do grupo preso numa gruta na Tailândia confirmou ontem que quatro das 12 crianças foram resgatadas, afirmando que a operação estaria temporariamente suspensa até à manhã de hoje.

O responsável e governador da região de Chiang Rai (onde fica localizada a gruta), Narongsak Osottanakorn, falava numa conferência de imprensa realizada no hospital para onde foram transportados os menores salvos até ao momento.

Segundo o governador, as equipas de resgate precisavam de pelo menos dez horas para preparar a próxima etapa da operação. “Está a ser mais bem-sucedido do que eu esperava. Todas as pessoas estão felizes”, declarou o governador, citado pelos ‘media’ internacionais.

Cinquenta mergulhadores estrangeiros e 40 mergulhadores tailandeses estão envolvidos na operação de resgate. Cada criança está a ser escoltada por dois mergulhadores.

No interior da gruta, na localização original, ainda permanecem oito menores e o treinador de futebol das crianças. A operação de retirada dos 12 jovens, com idades entre os 11 e os 16 anos, e do seu treinador de futebol, de 25 anos, presos numa gruta inundada no norte da Tailândia há 15 dias, começou ontem.

9 Jul 2018

Tailândia | Retirar equipa de futebol de caverna pode levar semanas

Os responsáveis pelas operações de resgate da equipa de futebol encontrada numa gruta no norte da Tailândia têm agora de decidir como retirar os meninos e o treinador da caverna parcialmente inundada, uma tarefa que pode levar semanas

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esfigurados e famintos, os meninos (entre 11 e 16 anos) piscaram os olhos com a chegada do facho de luz transportado pela primeira equipa de mergulhadores a encontrá-los, depois de 10 dias nas profundezas escuras de uma caverna parcialmente inundada na Tailândia. A caverna Tham Luang Nang Non fica na província de Chiang Rai e estende-se sob uma montanha por cerca de 10 quilómetros. Grande parte dela tem uma série de passagens estreitas que levam a amplas câmaras. O solo rochoso e lamacento faz várias mudanças na elevação ao longo do caminho.

O vídeo da descoberta destes meninos e do seu treinador (de 25 anos) pelos socorristas já foi visto milhões de vezes na internet. Nele, os 12 meninos e o treinador trocam breves palavras com o mergulhador britânico que os encontrou na noite de segunda-feira. A troca começa com um obrigado em uníssono pelas crianças tailandesas em inglês e prossegue com o aparecimento das equipas de resgate, que emergem das águas turvas da caverna. “Quantos são vocês?”, pergunta o britânico em voz alta, com a luz varrendo a escarpa lamacenta onde o grupo encontrou refúgio, longe dos meandros da rede subterrânea. “Treze”, responde em inglês um dos pequenos tailandeses, ao mesmo tempo que a lâmpada ilumina os meninos um por um, como se o mergulhador os contasse.

Alguns dos “javalis selvagens”, como se chama a equipa de futebol, colocaram as suas camisas vermelhas nos joelhos para tentar proteger-se do frio. Parecem abatidos, mas aqueles que se expressam parecem lúcidos, apesar dos longos dias sem comida.

O vídeo publicado na noite de segunda-feira na página oficial do Facebook da Marinha da Tailândia já foi visto 14 milhões de vezes. A conversa continua com murmúrios em tailandês, pontuados pelas palavras do mergulhador que os quer tranquilizar.

Um dos garotos pergunta em inglês hesitante se eles vão “sair”. “Não, não hoje (…) Somos dois, temos de mergulhar (…) Estamos a chegar, há muita gente a chegar, muita gente, nós somos os primeiros”. O mergulhador levanta as mãos para dizer ao grupo que está no subsolo há dez dias, acrescentando: “vocês são muitos forte”. Então, dá uma lâmpada ao grupo. A câmara de filmar treme e o som desaparece, mas o vídeo estabiliza. “Estou muito feliz”, disse um dos adolescentes. “Estamos felizes também”, responde o elemento das equipas de resgate. “Muito obrigado”, respondem os garotos.

Nas profundezas

Os mergulhadores britânicos Robert Harper, Richard Stanton e John Volanthen chegaram às crianças antes dos especialistas da marinha tailandesa. O Conselho Britânico de Resgate de Cavernas, que tem membros envolvidos na operação, estima que os garotos tenham percorrido cerca de dois quilómetros de caverna e estejam entre 800 metros e um quilómetro abaixo da superfície. Outras estimativas colocam os meninos até quatro quilómetros para dentro da gruta.

As autoridades tailandesas dizem que estão comprometidas a 100 por cento com a segurança destas crianças na altura de decidir como as retirar. Os meninos não parecem precisar de sair urgentemente da gruta por razões médicas.

De acordo com o coordenador nacional da Comissão Nacional de Resgate em Cavernas nos EUA e editora do Manual das Técnicas de Salvamento em Cavernas, a principal decisão agora é retirar as crianças ou alimentá-las ainda no interior.

Depois de uma pausa nos últimos dias, mais chuvas estão a caminho nesta época de monções. A previsão do Departamento Meteorológico da Tailândia para Chiang Rai indica chuva leve até sexta-feira, seguida por fortes chuvas a partir de sábado e pelo menos até dia 10 de julho. Essas tempestades podem elevar os níveis de água na caverna novamente e complicar qualquer possibilidade de retirada dos meninos.

Junto com os esforços de busca dentro da caverna, equipas de resgate têm procurado na montanha por outros caminhos possíveis para as cavernas.

As autoridades disseram que estes esforços continuarão e que retroescavadoras e equipamentos de perfuração foram enviados para a montanha, adiantando que criar um eixo grande o suficiente para extrair os meninos seria extremamente complicado e poderia levar muito tempo. O Conselho Britânico de Resgate de Cavernas disse que os garotos estão “localizados num espaço relativamente pequeno” e que “isso tornaria qualquer potencial tentativa de perfuração como um meio de resgate muito difícil”.

Enquanto isso, na web tailandesa, é a explosão de alegria. “Estou quase a chorar, vocês são tão corajosos e persistentes”, dizem os comentários dos internautas tailandeses na página do Facebook da Marinha.

4 Jul 2018