Hoje Macau EventosLiteratura | Giorgio Sinedino vence 18ª edição do Special Book Award of China Giorgio Sinedino, tradutor e sinólogo radicado em Macau, venceu a 18ª edição do Special Book Award of China, um dos “mais importantes prémios da China oferecido a estrangeiros no campo das publicações”, destaca o Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM. Este prémio é atribuído há 20 anos Já é conhecido o vencedor do 18º prémio “Special Book Award of China”. Trata-se de Giorgio Sinedino, sinólogo e tradutor, e que foi assessor do antigo Chefe do Executivo, Chui Sai On. Autor de uma vasta obra de tradução de poesia e cultura chinesa, Giorgio Sinedino é docente no departamento de português da Universidade de Macau. Além disso, é também membro do Conselho Executivo da Associação Confuciana Internacional e vogal do Conselho Mundial de Sinólogos. Segundo um comunicado divulgado pelo Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, este é “o mais importante prémio da China oferecido a estrangeiros no campo das publicações”, sendo que em 20 anos foram destacados 219 tradutores, editores e autores oriundos de 63 países. O prémio atribuído a Giorgio Sinedino, pelas “suas importantes contribuições”, foi entregue ao visado na terça-feira, em Pequim. Na cerimónia, o tradutor destacou “as impressões sobre a sua trajectória no intercâmbio entre a China e os países de língua portuguesa”, reiterando “o empenho em dar continuidade a tal trabalho”. A mesma nota dá conta que Giorgio Sinedino, “nas diversas instituições por que passou, empenhou-se de forma consistente na divulgação da cultura chinesa tradicional, promovendo o conhecimento e compreensão desse legado no exterior”, além de fomentar “o diálogo e troca de experiências entre a China e outras civilizações”. O lugar da experiência A mesma nota dá conta do vasto currículo que Giorgio Sinedino apresenta na área de tradução e investigação de clássicos chineses, já que, desde 2012, começou a publicar no Brasil edições comentadas de escritos como “Os Analectos”, “Dao De Jing de Laozi com as Glosas do Senhor às Margens do Rio” e “O Imortal do Sul da China – Uma Leitura Cultural do Zhuangzi”. “Os Analectos” foram a “primeira edição comentada em língua portuguesa a ser traduzida directamente do chinês arcaico”, sendo que, “durante mais de dez anos, permaneceu a única do género disponível no mercado numa língua ocidental”. Além disso, é considerada “um novo clássico da tradução”, tendo já vendido 200 mil cópias. No ano passado, as três obras aqui referidas ganharam novas edições na China, tendo sido acrescentadas à colecção “Compreendendo a China”, da editora pública “Edições em Línguas Estrangeiras”. Na mesma nota é também referido que estes livros “afirmaram-se como realizações notáveis no campo dos intercâmbios culturais entre a China e os países de língua portuguesa, colmatando importantes lacunas no campo da publicação de clássicos chineses no mundo lusófono”. Estão em causa os “méritos singulares” do premiado, conquistados “na tradução de obras clássicas antigas”, sendo que os organizadores do prémio não esquecem o facto de Giorgio Sinedino ter vindo a “buscar novas direcções, expandido as suas especialidades para incluírem também a literatura moderna da China”. O trabalho de Lu Xun O Gabinete de Ligação destaca também o novo trabalho de Giorgio Sinedino publicado este mês, no Brasil, dedicado à poesia de Lu Xun, que se intitula “Grito de Lu Xun – Tradução dramatizada e estudos críticos de Giorgio Sinedino” e que tem a chancela da Editora 34. A obra resultou de “quatro anos de investigação e de experimentação”, e contou com o apoio do Ministério da Educação da China, do Museu Lu Xun de Pequim, da Fundação de Investigação sobre Lu Xun e Cultura Mundial, bem como da Fundação Feng Zikai. Destaca-se que “o texto final foi calibrado para corresponder ao perfil dos leitores de língua portuguesa”, sendo que, no processo de tradução, Giorgio Sinedino “seguiu certos padrões da literatura desse idioma e conjugou os hábitos de leitura e preferências estilísticas de seu público, produzindo uma recriação fiel do clássico de Lu Xun”. Esta “dramatização” exigiu o uso, por parte do autor premiado, de “um novo método de tradução literária, no qual se quebram as convenções habituais da tradução”. Houve, assim, o “reforço do texto original consoante o impacto das situações dramáticas e a tensão das caracterizações”, atribuindo “uma nova vitalidade às histórias já canonizadas daquele grande escritor chinês”. Nesse contexto, “Sinedino expressou sua confiança de que seu novo trabalho propiciará uma nova experiência de leitura para os aficcionados lusófonos da literatura chinesa”, destacou. Giorgio Sinedino também se tem destacado nas edições em Macau, tendo lançado, em 2022, na Fundação Rui Cunha, o livro “Confúcio – O Fundador da Tradição”, uma iniciativa do Centro de Ensino e Formação Bilingue Chinês-Português da Universidade de Macau (UM).
Hoje Macau Via do MeioGiorgio Sinedino: “O domínio do idioma e a experiência de vida na China são indispensáveis” Por Alessandra S. Brites, da agência Xinhua Nos últimos tempos, as relações entre China e Brasil têm sido desenvolvidas com foco na aproximação e entendimento mais aprofundado de ambas as partes, em diversas áreas. Mas, no que diz respeito ao sector cultural e, especificamente, o literário, muito ainda necessita ser explorado, melhorado e consolidado. O sinólogo, professor e tradutor brasileiro residente em Macau, Giorgio Sinedino, responsável pela tradução de clássicos directamente do chinês clássico para o português, como “Analectos” de Confúcio, “Dao De Jing” de Laozi e o “Imortal do Sul da China” de Zhuangzi, em entrevista exclusiva para a Xinhua, abordou alguns dos desafios que a literatura chinesa ainda enfrenta para ser mais conhecida no Brasil. “Acredito que existe um mercado, de nicho, que cresce em função do aumento da influência chinesa e de sua paulatinamente maior visibilidade. No entanto, tal como em outros países ocidentais, o nosso interesse pela literatura chinesa ainda é motivado pelo quadro político e geopolítico. Julgo importante tentarmos dar um valor autónomo para a literatura chinesa, deixando de lado outros problemas que não sejam o de simplesmente compreender a China e a sua civilização em si”, afirmou. Sinedino, que neste ano vai lançar uma tradução de “Grito”, de Lu Xun, pela Editora 34, e planeia uma tradução comentada da “Arte da Guerra” de Sunzi para o ano vindouro, pela Editora da Unesp, diz ainda que entre os empecilhos para a cooperação no sector literário está a tradição intelectual e artística da China que se destaca fundamentalmente do mundo ocidental, local onde também é incluída a literatura brasileira. “Alguns dos obstáculos são estruturais, difíceis de ultrapassar. Por exemplo, o facto de que a língua chinesa pertence a uma outra família, a sino-tibetana, sem parentesco algum com o nosso português. Na realidade, o chinês é uma colecção de dialectos. É uma família linguística que cresceu milenarmente para dentro, sem estar relacionada a qualquer outro idioma de qualquer outro país vizinho no mundo moderno”, argumentou o professor que enfatiza ser a tradução de obras clássicas chinesas, ainda que com os desafios apresentados, uma boa aposta para o mercado no Brasil. Uma lição da literatura coreana e japonesa Actualmente uma série de obras japonesas e sul-coreanas estão disponíveis em maior número no mercado literário brasileiro do que títulos de obras chinesas. Para o sinólogo Giorgio Sinedino esta questão ocorre não apenas em razão da presença de um maior número de imigrantes, no caso do Japão, mas também porque as culturas japonesa e coreana utilizaram meios de massa, a criação de estilos e de modas, para dar mais visibilidade ao que têm de característico em termos literários. “Ambos aproveitaram um mercado cultural internacional, mediado pelas indústrias dos EUA, para se enraizarem globalmente no sector cultural. Quanto à literatura, esta beneficia-se e cresce no empuxo da vanguarda da cultura de massa. Hoje em dia, o meio literário tem forças limitadas para se projetar independentemente das artes multimidiáticas, pelo menos no que se refere ao grande público”, salientou. A capacitação de futuros tradutores no Brasil De acordo com Sinedino, o Brasil necessita constituir uma base sólida na capacitação de profissionais que venham a trabalhar com literatura e artes chinesas. “O domínio do idioma chinês e a experiência de vida na China são indispensáveis, o que infelizmente se constitui numa barreira económica proibitiva para muitos. Esses profissionais de ponta teriam os meios para desenvolver o ‘nicho chinês’, não só oferecendo traduções de qualidade produzidas sem intermediários, mas, sobretudo, sendo qualificados para educar o público leitor.” Segundo o professor, antes de julgar as obras escritas em chinês antigo, é preciso conhecê-las e fazer as referências adequadas à língua e cultura das quais originaram-se, o que presume um certo conhecimento sistemático da literatura chinesa e das regras e padrões que segue. “À medida que aliviamos a influência desses gargalos, podemos pensar em como organizar equipes de tradutores. É preciso também destacar pontos de apoio em instituições de ensino ou associações civis para mantermos o momento dessas obras, quem sabe através de departamentos académicos especializados, de instituições de fomento, de iniciativas como prémios”, diz o académico. “Esse é o ponto de partida para falarmos sobre os desafios do tradutor de língua portuguesa. Ele não pode, não deveria, começar a trabalhar antes de enfrentar certas questões sobre a natureza do texto que tem diante de si. Por exemplo, o que é literatura, na trajectória do pensamento chinês? Qual a sua função social? Quais os critérios que separaram esta obra que está traduzindo das outras, como representativa do que há de melhor na tradição chinesa? O que os leitores originais apreciaram e apreciam nesse texto e como esses valores literários podem (se for o caso) ser reproduzidos numa tradução? A partir de um tal diagnóstico, o tradutor é capaz de planejar melhor o seu esforço de mediação cultural, demanda tão mais exigente, quanto mais antigo for o texto”, conclui. Quanto aos desafios de traduzir obras da literatura chinesa moderna, Sinedino acredita que a falta de experiência por parte do leitor de língua portuguesa sobre o que significa ser chinês, viver na China e escrever sobre ela é um obstáculo difícil ainda de ser superado. Porém, à medida que o conhecimento aprofundado sobre China vai sendo mais difundido ao longo dos anos no Brasil, tais dificuldades começam a ser menos preponderantes. Primeira parte do século XX: o encontro possível entre a literatura brasileira e chinesa Como explica Sinedino, a história literária de ambos os países diferencia-se e muito, pois a literatura brasileira é uma ramificação das literaturas em línguas românicas, provenientes da literatura em Latim, a qual conta cerca de 1500 anos de desenvolvimento. “Já a literatura chinesa cresceu em torno de um conjunto de obras, os ‘Jing’ – Clássicos Ortodoxos relacionados ao Confucionismo, escritos em chinês antigo, uma língua artificial muito diferente do idioma falado”, explicou. Contudo, a política de Abertura e Reforma impulsionou na China um grande movimento de tradução de literatura estrangeira, principalmente durante os anos 1990 e 2000, relatou Sinedino. “É possível encontrarmos pontos em comum desde as referências mútuas que os autores e leitores contemporâneos, brasileiros e chineses, fazem de suas influências. Falando um pouco mais especificamente sobre estilo e forma literária, a prosa chinesa do século XX é predominantemente de esquerda. Por tal motivo, aos nossos olhos, é uma contínua reiteração do realismo social. Não vejo erro em afirmarmos que há alguma margem de comparação entre essa literatura chinesa, crítica, sobre a vida no campo e a situação do campesinato, e a nossa literatura modernista regionalista de 1930-1945. No entanto, é sempre importante estarmos atentos para as diferenças, porque são elas que ensinam melhor sobre o que é a China e o que é a sua cultura. Creio que a leitura mais interessante de uma obra literária é a que dá destaque às diferentes experiências culturais e diferentes formas de pensar.”
Hoje Macau EventosLivro de Giorgio Sinedino apresentado esta sexta-feira Será lançado esta sexta-feira, a partir das 18h30, na Fundação Rui Cunha, o livro “Confúcio – O Fundador da Tradição”, da autoria de Giorgio Sinedino, académico e ex-assessor. Esta é uma iniciativa do Centro de Ensino e Formação Bilingue Chinês-Português da Universidade de Macau (UM) que, desde Janeiro de 2020, tem produzido um programa de rádio em português intitulado “Ideias Chinesas” (Temporada 1-4) em co-produção com a Radio China International (CRIpor). Com um vasto conteúdo que percorre alguns dos maiores clássicos chineses, “Confúcio e os Analectos”, “Laozhi e Dao de Jing”, “Meng Ke e o Livro de Mencius” e “Zhaungzhi e o seu Livro”, o programa visa descodificar e dar a conhecer a todo o público lusófono, o pensamento confucionista e as respectivas tradições intelectuais chinesas. Os 15 episódios que compõem cada temporada têm sido regularmente disponibilizados nos sítios web CRIpor e CPC, encontrando-se integralmente acessíveis a todos os interessados. Em Agosto deste ano, a primeira temporada foi integralmente convertida neste livro sobre Confúcio e a sua obra, como forma de promoção e divulgação, através da palavra escrita, do programa de rádio a todos quantos ainda dele não tivessem conhecimento. Paixão pela China A obra será apresentada por Yao Jing Ming, poeta e tradutor, além de professor do departamento de português da UM, bem como por João Veloso, director do mesmo departamento. Fluente em doze línguas, incluindo mandarim, cantonês e japonês, Giorgio Sinedino vive na China desde 2005. Com um doutoramento em Religião pela Universidade Renmin – China e um mestrado em Filosofia pela Universidade de Pequim, Giorgio Sinedino estudou Budismo no Templo da Fonte do Dharma e Daoísmo no Templo da Nuvem Branca, tendo também aprendido acerca das várias tradições chinesas com múltiplos mestres sem filiação institucional. O autor publica regularmente sobre o pensamento e literatura chineses, mantendo este podcast sobre os autores clássicos e suas obras na Radio China International. Pela estampa da Unesp, publicou os best-sellers Os Analectos (2012), Dao De Jing (2016) e Immortal do Sul da China (2022).